Pandora escrita por larissmp


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e obrigada por ler.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697425/chapter/1

Ele simplesmente tinha aparecido no meio da noite de um dia qualquer da semana passada, encharcado da cabeça aos pés, com o nariz sangrando e trazendo nada além de uma mochila surrada. Pelo menos foi isso que a Sra. Keaton fez questão de espalhar para o resto dos vizinhos desocupados na manhã seguinte antes de levar seu casal de poodles demoníacos para o passeio matinal no bairro.

E, como já era esperado, minha colega de apartamento naturalmente paranoica e cheia de tempo livre havia bolado mil e uma teorias estranhas sobre o novo morador antissocial do apartamento 507.

— Talvez ele faça parte de uma gangue. – Abby exclamou e eu imediatamente engasguei com o suco, tossindo em seguida.

— Você precisa parar de assistir aquele noticiário da madrugada. – resmungo, tentando ignorar o olhar assustado que vinha do casal de idosos almoçando na mesa ao lado.

— O cara passa a noite toda fora e o resto do dia trancado em casa. – ela argumentou, colocando em prática o seu melhor tom acusador. – Ele sequer desce para buscar as correspondências ou abre a porta quando alguém aparece de boa vontade para entregar.

— E?

— Faz sentindo! – Abby jogou as mãos para cima, exasperada.

— Claro que faz. – revirei os olhos enquanto procurava pela minha carteira dentro da bolsa lotada. – Já pensou em marcar uma consulta com a Dra. Lowe? Aposto que ela vai adorar passar um tempão ouvindo todas essas suas teorias doidas.

— A psicóloga daquela sua priminha perturbada? – confirmei e Abigail arregalou os olhos escuros, claramente ofendida pela minha brilhante ideia. Mas se Beatrice Lowe conseguia passar duas horas trancada em uma sala com uma pequena ditadora de oito anos e sair sem nenhum ferimento fatal, ela com certeza seria capaz de dar um jeito nas paranoias de Abby. – Muito engraçado, Bonnie.

— Eu tinha que tentar. – dei de ombros ao mesmo tempo em que depositava a minha parte da conta do nosso almoço semanal no Joe's sobre a mesa. – Te vejo mais tarde? – perguntei. Abigail andava dividindo suas tão esperadas férias entre chorar pelo ex-namorado no sofá enquanto detonava qualquer coisa com açúcar que estivesse na geladeira, espiar constantemente os vizinhos e, de vez em quando, beber até o sol nascer em alguma boate barata.

Recebi um aceno positivo acompanhado de um suspiro derrotado como resposta antes de sair porta afora. A chuva fina e o vento frio me atingiram em cheio, embaçando meus óculos e molhando as roupas que eu cuidadosamente tinha escolhido para a maldita reunião de hoje. As ruas estavam abarrotadas de pessoas indo e vindo como em qualquer outro dia, lojas de todos os tipos e letreiros tão luminosos que sempre me deixavam com uma dor de cabeça absurda.

Boa parte da equipe de funcionários da revista ainda estava fora na hora em que eu cheguei, deixando um rastro de água sobre o carpete caro e com o corpo estremecendo de frio. O estado deplorável das minhas peças imediatamente tornando-se um objeto de estudo interessantíssimo da ruiva que ocupava a estação de trabalho ao lado da minha.

Minha supervisora comprimiu os lábios vermelhos sem desviar o olhar atento.

— Achei que você quisesse ser promovida. – Sara comentou logo que eu desabei sobre a cadeira desconfortável. – Causar uma boa impressão hoje era o primeiro passo, lembra? – adicionou. Suspirei, correndo os dedos pelo cabelo em uma tentativa miserável de tirar o excesso de água.

— Infelizmente. – respondi.

Seis meses. Esse era o tempo exato que eu tinha para convencer o Sr. Ashford, um homenzinho desprezível e barrigudo que dizia ser o nosso editor-chefe, que era uma funcionária completa e totalmente preparada para assumir um cargo de verdade na revista assim que me formasse na faculdade.

Sara já estava discursando sobre as pautas importantes do dia que haviam sido passadas a ela e minhas obrigações intermináveis como reles estagiária quando uma monstruosidade de vestido tubinho cor-de-rosa e saltos barulhentos entrou no nosso campo de visão.

Enquanto caminhava em direção à própria mesa, Erin fazia questão de distribuir sorrisos e acenos aos pobres coitados presentes, exibindo de forma orgulhosa sua mais nova e bem-sucedida intervenção cirúrgica, o preenchimento labial.

— Adorei o visual, querida. – a loira comentou irônica com seu tom meloso, parando à nossa frente por um instante para uma rápida inspeção na desgraça alheia. – Ainda bem que não preciso ensinar ao Cody como usar um guarda-chuva. – acrescentou, referindo-se ao outro estagiário que, de acordo com a ruiva, deveria ser considerado meu atual inimigo número um.

— E eu aqui achando que seu único talento era seduzir homens casados. – Sara respondeu antes que eu tivesse a chance de abrir a boca, obrigando Erin a desmanchar aquela expressão de triunfo irritante. – Já terminamos?

Erin bufou uma última vez, soando mais como uma adolescente contrariada de quinze anos, antes de dar meia-volta e sair a passos largos.

— Cópias. Agora. – Sara ordenou ao mesmo tempo em que despejava uma nova pilha de papéis sobre a minha mesa, voltando ao seu modo tirano. – Você ainda me deve dois leads e um café.

— Preto e sem açúcar. – completei, ganhando como recompensa o esboço de um sorriso.

Eu ainda estava lutando uma árdua batalha contra a nossa copiadora velha quando Alton Ashford finalmente chegou. Erin e seu pupilo foram os primeiros a cumprimentar o homem envolto em fumaça de cigarros e vestido com um terno cinza ridiculamente apertado.

Com seus cabelos castanhos bem peteados e aquele suéter coral, Cody parecia o protótipo perfeito de um típico jogador de golfe bem-sucedido dos Hamptons, enquanto eu estava mais para uma universitária sem expectativas de conseguir um emprego sério.

De repente, toda aquela conversa de inimigos começou realmente a fazer sentido na minha cabeça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Elogios, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindos. Se chegou até aqui por favor não saia sem deixar um comentário, é muito importante para mim saber o que vocês acharam e a história depende disso.