Eu olhei para frente e vi Rafael segurando uma garrafa de alguma bebida e Caleb colocando três copos na mesinha de centro. Eu encarei os dois esperando alguma explicação.

— A Kate não vai vir, ela teve que ficar de plantão no hospital e só vai umas 5h da manha. - Caleb começou.

— Aí nós decidimos jogar "eu nunca" - E Rafael completou levantando a garrafa. Eu ri e olhei para os dois.

— Vocês sabem que se ela ver a gente bêbado na sala dela, ela vai nos matar. - eles concordaram.

— É por isso que ela não precisa saber. - Caleb disse como se fosse óbvio.

— Claro! - fui irônica. Mesmo achando uma péssima ideia, seria divertido, melhor do que ficar sem fazer nada nessa escuridão.

•••

Já fazia um tempinho que Estavamos jogando, sempre falando coisas ridículas como "nunca fui a París" "nunca fiz um cruzeiro" E estava ficando chato porque a gente demorava pra beber, nunca alguém pensava antes de falar, aí eu decidi apelar, eles decidiram jogar essa merda, então agora eles vão ter que beber tudo que tem naquela garrafa.

— Eu nunca... - pensei um pouquinho e lembrei que Rafael tinha falado que havia repetido de ano e Caleb fez a mesma merda no nono ano então... Abri um sorriso cínico. - repeti de ano. - eles me olharam e depois beberam. Confesso que a bebida me ajudou a começar a falar essas verdades.

— Já que é assim deixa eu ver. - era vez de Rafael e ele passou a mão no queixo fingindo pensar. - eu nunca tive um apagão na minha casa com uma visita. - ele abriu um sorriso mais cínico do que o meu enquanto via eu e Caleb beber da garrafa, revirando os olhos.

— Agora é minha vez, hum... - ele olhou para o teto. - Eu nunca fiquei sério com alguém. - eu abri a boca, não estava ficando sério com o Peter, o problema era Ryan... Eu vou contar a história de nós dois.

No ano passado eu e ele começamos a ficar e depois de uns 3 meses a gente começou a namorar e... Bem... Depois que a gente começou namorar ele começou a ter umas crises de ciúmes com qualquer um, até com as minhas amigas, por causa disso a gente brigou muito feio e eu terminei com ele, Porem no dia seguinte ele tava pegando a Amber, tá eu não liguei muito, só que eu tinha acabado de terminar com ele, um pouco de consideração seria bom né, por causa disso eu briguei com ele denovo e agora ele acha que ainda tem alguma chance comigo, mas eu não confio mais nele, ainda mais com ele envolvido no que o Will tentou fazer comigo.

Eu fiz uma cara para Caleb de desapontada.

— O que foi? Nesse jogo é cada um por si.

— Aé?! Então é assim, okay. - eu bebi mais um pouco e tentei pensar, eu não tinha muito como fazer Caleb cair sem cair junto, afinal nós éramos bem parecidos, eram poucas as coisa que ele tinha feito e eu não.

— Anda logo!

— Calma! Eu nunca... - lembrei de quando ele olhava para Iris todo apaixonado e sempre quando eu perguntava sobre ela ele mudava de assunto. - eu nunca fiquei escondendo que eu gosto de um garoto, garota no caso de vocês, pro meu primo. - ele bufou e bebeu. E quando chegou na vez de Caleb de novo, ele atingiu lá embaixo.

— Eu nunca presenciei alguém invadindo a minha casa. - A bebida com certeza ajudou quando eu joguei o que estava no meu copo na cara dele. Pelo visto tinha bastante, pois senti o copo bem mais leve.

Me levantei peguei uma das velas e fui para o meu quarto, quando cheguei foi que percebi que estava bêbada, o quarto estava girando e eu mal conseguia ficar de pé, me deitei na cama e fechei os olhos. Odiava quando alguém me lembrava da invasão a minha casa.

P.O.V. Rafael

Ela tinha acabado de sair da sala pisando forte, olhei para Caleb que estava emburrado.

— O que você fez? - foi aí que me dei conta, naquele dia ela estava escondida no armário enquanto tudo acontecia e provavelmente ela se lembra.

— Eu falei merda só isso. - ele levantou e começou a subir.

— Tem certeza? Acho que agora ela não vai querer falar com você.

— E o que você sabe sobre isso? - merda, falei muito.

— Eu ví ela bem brava saindo daqui e normalmente quando uma garota está brava desse jeito é melhor deixa-la sozinha. - Ele estava cambaleando um pouco para ficar de pé. - pra esfriar a cabeça.

— Ela é minha prima deixa que eu resolvo isso. - ele saiu e quase caiu quando chegou no pé da escada, só não caiu por causa do corrimão.

— Okay então.

•••

Eu acordei com alguém me chacoalhando e gritando.

— RAFAEL ACORDA.

— Ai! Só... mais cinco minutos... Meu despertador nem tocou ainda.

— É porque talvez você não esteja na sua linda cama.

— O que? - me levantei e logo me arrependi, minha cabeça parecia que ia explodir e a luz do sol que vinha da janela me cegou. Foi aí que percebi, estava num quarto que não era meu e Alicia estava do meu lado gritando no meu ouvido.

— Rafael!

— Fala porra!

— O que você tá fazendo aqui?

— Eu? Eu sei lá, eu nem sei onde que eu to.

— Você tá no meu quarto.

— O que? Mas eu dormi na sala, não espera... Não lembro.

— Tá, mas agora sai da minha cama, já são 7h20

— 7h20? Mas a aula não é 7h10?

— Não, a aula é 7h, mas eles não ligam se você atrasar 10 minutos. agora sai da minha cama.

— Por que? Ta tão bom aqui. - peguei o travesseiro dela abracei e me enrolei nas cobertas. Não podia negar estava muito bom mesmo.

— Porque era pra gente estar na escola e minha tia tá muito puta, porque quando ela chegou tinha uma garrafa na sala vazia e um garoto dormindo na minha cama.

— Ela me viu?

— Sim, agora pela milésima vez sai do meu quarto eu preciso me trocar. - foi aí que eu me dei conta, ela estava só de toalha na frente do guarda roupa me olhando impaciente.

— Uau - dei uma bela olhada nem um pouco discreta pelo corpo dela. - Já entendi por que o Ryan não larga do seu pé. - Ela revirou os olhos.

— Vai, sai logo! - dessa vez ela puxou o coberto que eu estava usando e foi me empurrando primeiro pra fora da cama e depois pra fora do quarto.

— Mas como eu vou pra escola com essa roupa?

— Pede pro meu primo te emprestar alguma coisa.

— Okay - andei pela casa a procura de Caleb e acabei esbarrando em uma mulher alta de cabelos pretos até os ombros ela era até que um pouco parecida com Alicia.

— Oi, você deve ser a Kate, certo?

— Sim - ela estava muito puta e chegava até a ser assustador ficar na mesma casa que ela. - E você deve ser o cara que embebedou a minha sobrinha pra usar ela.

— O que? Não, eu não embebedei ela, nós somos amigos e não transamos se é o que você está pensando. - ela estava me olhando com ema cara de que não sabia se havia acreditado, mas ai ela começou a rir.

— Desculpa é que eu não pude evitar, você tá com uma cara de que acabou de ver um fantasma. - ela mal conseguia falar entre os risos e eu fiquei olhando sem entender nada.

— Espera, o que?

— Eu sei que vocês não transaram.

— Mas a Alicia disse...

— Ela disse que eu vi você na cama dela, mas não junto com ela. - ela tem razão, Alicia só falou que ela me viu na cama dela. - Ela estava no quarto de Caleb quando eu cheguei.

— Ah... - ela voltou a rir da minha cara e saiu andando me deixando sem graça sozinho.

•••

P.O.V. Peter

Estava esperando por Alicia no final da aula sair da sala e quando saiu a arrastei pela escola até encontrar uma das salas que não estão sendo usadas.

— O que foi? - Ela perguntou.

— O que tá acontecendo entre você e o Rafael?

— Eu e ele? Nada somos só amigos.

— Sua tia não deixa garotos dormirem na sua casa a não ser que sejam amigos do seu irmão.

— E?

— E que ele dormiu na sua casa e você disse que ele iria embora.

— Eu disse que ele iria quando a chuva passasse mas não passou ai quando eu vi ele já tava dormindo lá.

— Então ele dormiu mesmo?

— Espera como você soube disso?

— Não foi difícil descobrir, vocês chegam juntos ele estava na sua casa ontem...

— A Amber também gosta de ajudar você a descobrir esse tipo de coisa né?!

— Ela não falou nada.

— Claro que não! Nunca é ela! Peter por favor, tá na cara que ela ta manipulando a sua cabeça pra você ficar contra mim! Você sabe que ela me odeia! Todo mundo sabe!

— Talvez ela esteja conseguindo! Afinal você fica dando mole para aquele Rafael.

— O que? Peter não sei se você percebeu mas nós somos só amigos.

— Dá pra ver que ele tá dando em cima de você!

— Quer saber? Vai se fuder - ela começou a ir em direção da porta pra sair. - você não precisa acreditar em mim, vai perguntar pra Amber, afinal ela sabe mais do que eu.

— Alicia! - ela mostrou o dedo do meio e eu segurei o braço dela.

— Me larga! - ela ficou batendo em mim, mas eu não soltei.

— O que aconteceu na sua casa?

— Nada. Mas você não acredita em mim. Então de que adianta?

— Eu acredito em você! O problema é que ele fica em cima de você o tempo todo.

— Isso se chama ciúmes. Mas eu já disse pra você que não tem nada entre eu e ele. - a encarei por alguns instantes e a soltei. - não precisa ficar com ciúmes dele.

— Se eu precisar, sinto pela cara dele. - ela sorriu revirando os olhos e eu ri.

— Não vai precisar quebrar a cara dele.

— É uma pena. Iria ser divertido.

Ela riu e eu a abracei depois dei um selinho, que foi se aprofundando, mas foi interrompido pelo barulho de alguém entrando na sala.

P.O.V. Alicia

Me virei e olhei pro ser que estava na porta. Se você está pensando que era o Rafael, acertou, ele olhou pra nós dois.

— Ops. - fechou a porta de novo e pude ouvir ele rindo.

— Eu vou matar ele!

— Por que?

— Porque... - revirei os olhos.

— Ai Peter, relaxa aí, vai. - dei um tapinha no peito dele.

— Eu sei mas é que ele... - levantei as sobrancelhas.

— Vamos. - chamei ele saindo da sala.

•••

Já tinha passado quase duas semanas que eu e Peter fizemos as pazes, a festa do Ryan seria amanhã e estavam todos falando dela, principalmente Kylie e Elisa.

— Vai Alicia, você tem que ir.

— Eu já disse, não quero ficar bêbada na mesma festa que o Will ou qualquer um dos amigos dele.

— Mas eu e a Kylie vamos estar lá e se não estivermos com você é porque o você está com o Peter. Sinto muito, mas o Will não chega nem perto quando você está com o Peter.

— A Elisa tem razão. Também, você não vai deixar de ir numa festa por causa do Will.

— Não é só por causa dele, eu não estou muito afim de ir.

— Que pena porque você vai. - Kylie falou e se virou, Elisa fez o mesmo indo atrás dela.

Eu suspirei e voltei a mexer no meu armário. Eu devia ter falado que não iria pra elas hoje, assim menos tempo para aguentar elas insistindo que eu vá na festa, realmente eu não estava muito afim de ir e boa parte do meu desanimo era pelo o que tinha acontecido com Will.

Quando aconteceu eu não fiquei traumatizada, talvez porque todos ao meu redor ficavam fazendo eu não ter tempo para pensar nisso, mas uma semana atrás eu comecei a relembrar e agora eu diria que tudo parece ter acabado de acontecer.

— Eai? - disse Rafael me tirando do mundo da lua.

— Oi. - disse fechando o armário e o observando.

— Você vai na festa? - Revirei os olhos e bufei. - o que foi?

— Nada, é que Kylie e Elisa ficaram a semana toda falando para eu ir, só estou enjoada de ouvir essa pergunta. Foi mal.

— Não, tudo bem, devem ter me perguntado umas cem vezes só ontem. - eu ri.

— São só pessoas ansiosas que não sabem falar nada além dessa maldita festa. - dessa vez ele riu. - não que você seja uma dessas pessoas. - ele levantou uma sobrancelha sarcasticamente.

— O que você está insinuando? Que eu sou chato? - ele falou irônico.

— Talvez...

— Aé? - ele pegou na minha cintura e começou a fazer cócegas. Ele tem feito muito isso depois do dia que ele dormiu lá em casa, provavelmente porque ele descobriu o meu ponto fraco.
— Para! PARA RAFAEL. - comecei a gritar que nem uma louca e algumas pessoas que passavam no corredor nos lançaram alguns olhares.
— Você que pediu. - ele parou e eu segurei os pulsos dele. - essa é a punição por me chamar de chato.

É claro que se ele decidisse se soltar conseguiria, eu sou muito mais fraca que ele. Tive que descobrir isso da pior forma possível. Tentando fazer ele parar de fazer cócegas é claro.

•••

Quando chegamos no refeitório Kylie já estava falando de novo que eu deveria ir na festa e blá blá blá.

— Mas porque você não quer ir? - Rafael perguntou.

— Por causa do Will - Elisa respondeu por mim.

— Ah... Só faz três semanas ele não vai tentar nada agora.

— Por que não? - nós três falamos em uníssono.

— Porque ele sabe que você vai estar preparada, assim como todos os seus amigos. - eu pensei um pouco e até que era um raciocínio lógico, mas...

— Mas mesmo preparada eu ainda sou mais fraca que ele. - respondi.

— Como eu disse, os seus amigos também vão estar preparados.

— Ele tem razão. - Dig brotou do meu lado.

— Você sabe?

— Bem... Mais ou menos, mas sei que Will é um babaca. - voltei a olhar pra Rafael que estava com um olhar "você não tem saída"

— Tá bom. - falei olhando para a minha comida.

Pude ouvir Kylie e Elisa comemorando antes de Peter chegar.

— Eai? Por que vocês duas estão comemorando?

— Porque a Alicia finalmente vai na festa.

— Você vai? - assenti com a cabeça.

— E quando ia me contar?

— Agora. - ele sentou na minha frente.

— Ah...

— O que foi?

— Nada.

— Hm... - tá bom então né.

O intervalo acabou e cada um foi para a sua sala. Na gora que cheguei na sala, percebi que o professor era substituto e... Meu Deus, ele era muito gato, parecia ser apenas alguns anos mais velho, seus cabelos eram loiros e ele tinha olhos azuis escuros, usava uma camiseta branca que marcava seus músculos e a cada movimento que fazia, provocava alguns suspiros pela sala.

— Bom dia classe! - ele falou e todos que estavam de pé foram se sentando. - Meu nome é Jonathan e eu sou o estagiário que vai substituir o professor de matemática de vocês. - uma garota levantou a mão.

— E quantos anos você tem? - Pelo amor de Deus, o cara mal chegou e essas vadias já estão tentando ser comidas por ele. Não mereço.

— Eu tenho 20. - alguns gritinhos vieram da sala e eu revirei os olhos. - Bom, vamos começar a aula...

Foi a primeira aula de matemática que eu consegui entender o que significava aquele vagabundo do x que sempre confundia a minha cabeça.

Depois da aula dele veio de espanhol, mas nem foi considerada uma aula, afinal, os meninos ficaram fazendo tumulto e só deu pra ouvir a professora gritando com eles a aula toda, na ultima aula a mesma coisa, mas foi uma discussão entre umas garotas sobre o estagiário, uma dizia que ele queria ficar com ela e a outra a contrariava dizendo que ele não queria nada com a rival e sim com ela mesma. Eu como sempre, coloquei meus fones e fiquei desenhando no meu caderno até acabar a aula.