Angeline PDV

Por sorte, graças a Deus, Charles não invadiu meu quarto na noite passada. Por isso eu estou contente e sorrio.

Mas eu sei que eu não vou conseguir evitá-lo para sempre. É inevitável. Um dia ele vai consumar o casamento resta a mim me preparar psicologicamente e emocionalmente se possível. O quanto for possível.

Retomo a rotina e às 7:00 da manhã eu acordo com o toque do sino da igreja, todos os dias faço a mesma coisa. Levanto e abro a janela para deixar a luz do sol entrar em meu quarto. Depois eu saio do quarto e desço as escadas para ir até a cozinha fazer o café-da-manhã.

Quando estou terminando de coar o café, Charles vem descendo as escadas. O cumprimento:

— Bom dia, Charles – digo alegremente e tão ingenuamente quanto consigo. Realmente eu estou muito grata por ele não ter entrado no meu quarto ontem.

Eu até tive um sonho em que eu fazia amor com um homem desconhecido. Eu não conseguia ver seu rosto. Mas quando eu acordei, eu sei que o sonho foi causado pelo meu medo de que Charles entrasse no meu quarto e me possuísse. A relação do sonho com a realidade era evidente.

— Porquê essa alegria toda, Charlotte? Você não me engana, está com medo de mim que eu sei. Gosto que esteja, quero que esteja. Gosto de ver a expressão de medo em seu rosto.

— Charles... – pega de surpresa pelo que ele disse, eu não sei o que dizer.

Ele senta diante de mim e eu lhe sirvo a bebida matinal. Ele toma e eu fico na expectativa do que ele vai dizer.

— Hoje parece que você acertou, Charlotte. Esse café está muito bom.

Oh! Finalmente depois de tantos anos eu consegui fazer alguma coisa que o agradasse. Ou será que o café está tão ruim, mas ele está dizendo que está bom mesmo assim porque tem segundas intenções?

Seja como for eu suspiro aliviada.

Mas não consigo deixar de pensar que ele está querendo me deixar mais tranquila para mais tarde quando ele vier para cima de mim.

Charles está me ajudando? Não, não acredito; ele está fazendo isso por si mesmo. Nas próximas vezes ele não vai ser tão gentil e avisar antes, ele não vai fazer isso comigo e me preparar antes. Vou ter de estar sempre às ordens dele.

— Hoje não virei almoçar – Charles avisa.

Me surpreende novamente. Arregalo os olhos de espanto. O que houve? Será que algum bicho mordeu ele? Ele não costumava avisar o que iria fazer. Eu cozinhava esperando que ele viesse para casa, até que era tarde e eu percebia que ele não voltaria.

Várias noites ele não vinha para casa e ficava na rua. Só aparecia no dia seguinte de manhã. Bêbado geralmente.

Então eu fazia um café forte para ele e o deixava dormir no sofá.

...XXX...