VIOLETTA

 Devia ser meia noite quando eu saí da minha cabana, eu não conseguia dormir, minha cabeça estava cheia e eu não conseguia ficar quieta. Eu estava andando pelo acampamento para tentar esquecer a vida, tentar esquecer ELE, mas parecia impossível, por que eu não consigo esquecer dele? O vento frio balançou meus cabelos e eu senti alguém puxar um mecha dos meus cabelos, olhei para trás e vi León com um rosto inexpressivo.

 -O que faz aqui?-perguntei curiosa, cruzei os braços pelo frio que estava sentindo e ele se moveu para tentar me dar a sua jaqueta.-Não, não tire a jaqueta.

 -Bom, a Ludmila pediu para eu falar com você.-respondeu pondo as mãos nos bolsos da jaqueta.

 -De madrugada?-perguntei arqueando uma das sobrancelhas.

 -Na verdade, ela falou comigo ás cinco da tarde, aí eu fiquei pensando, pensando e só resolvi falar com você agora.-explicou e eu franzi o cenho.

 -Então... quer dizer que você ia me incomodar uma hora dessas?-perguntei incrédula e ele cruzou os braços.

 -É.-respondeu simples e eu balancei a cabeça.

 -Idiota.-murmurei, ele pegou minha mão e me puxou, nós começamos a andar na dirção do lago.

 -O que aconteceu com a gente?-perguntou passando a mão pela nunca.

 -Como assim?-perguntei enquanto andavamos, ele respirou fundo e parou de andar.

 -Por que nos odiamos tanto?-perguntou e eu parei de andar.-Desde que nos conhecemos foi assim, você era irritante...-eu o interrompi.

 -Nossa! Obrigada pela sinceridade!-exclamei irônica e ele riu.

 -É, eu quero ser totalmente sincero com você.

 -Isso soou meio gay.-falei e ele bufou, irritado.

 -Será que pode parar um pouco e me escutar?-perguntou voltando a andar e eu o segui.

 -Tudo bem.-respondi sem encará-lo.

 -Eu só era ignorante com você, porque você era ignorante comigo.-falou e eu arqueei as sobrancelhas, ele estava mesmo dizendo aquilo?

 -León, na primeira vez que nos vimos você me empurrou para a piscina, e eu nem sabia nadar ainda, fiquei irritada, como queria que eu te tratasse? Queria que eu te beijasse, te trouxesse flores e fizesse sua comida?-perguntei sarcástica, ele parou e eu fiz o mesmo.

 -Espera, você não sabia?-perguntou e eu fiquei confusa, do quê ele estava falando?

 -Se eu sabia? Do quê?-perguntei curiosa.

 -Violetta, quando nos conhecemos, eu descobri que nossos pais planejaram um casamento, eles queriam que nós nos casassemos.-respondeu e eu fiquei surpresa, eu nunca soube dessa história.-Aí, eu escutei meu pai dizendo que seu pai faria de tudo para te ver feliz... eu pensei que... se eu fosse ruim com você, você passaria a me odiar e diria para o seu pai que não ia querer se casar comigo, pensei que ele te escutaria.-completou voltando a andar, nós ficamos em silêncio até chegar no lago.

 -A história toda foi essa?-perguntei encarando ele, que tinha se abaixado, eu me sentei numa rocha e fiquei observando ele pegar várias pedrinhas para jogá-las no lago.-Fala alguma coisa.-pedi e ele se aproximou com algumas pedrinhas nas mãos.

 -O que quer que eu diga?-perguntou jogando mais algumas pedrinhas no lago.-Que eu devia ter dito isso tudo antes? Que se eu tivesse falado não estariamos aqui? Que você, provavelmente, estaria feliz em uma casa de praia, curtindo suas férias com suas amigas?-perguntou levantando os braços e eu cravei meus olhos nos deles.

 -Não, León, quero que me diga o que vai acontecer agora. O que vai acontecer conosco?-perguntei me aproximando e ele sorriu de banda.

 -Eu já tentei ficar com você, mas você não me dá chances, então... é melhor esquecermos esses 5 anos de rivalidades e... sermos só... só amigos.-respondeu e foi minha vez de sorrir, ele deu um passo a frente e eu dei um para trás, acabei batendo as costas na rocha e ele me encurralou, usando seus braços para me prender.

 -Só amigos é?-perguntei em um sussurro e ele assentiu colando nossas testas, engoli seco e suas mãos foram em direção ao meu rosto.

 -Só amigos.-afirmou acariciando meu rosto com seu nariz, suspirei e ele selou nossos lábios em um beijo cálido, suas mãos foram em direção a minha cintura e eu pus os meus braços ao redor do seu pescoço. Eu senti algo diferente enquanto nos beijávamos, era como se tudo fosse começar a ser diferente a partir daquela noite, seus braços rodearam a minha cintura e me puxaram para mais perto dele, como se fosse possível estarmos mais perto, só nos separamos quando o ar fez falta, nós estavamos ofegantes e o sorriso malicioso estampado no rosto dele não queria ir embora.

 -Eu te odeio.-sussurrei e ele assentiu.

 -É, eu sei.-falou me dando um selinho, depois mais outro, e outro, e outro, o último foi duradouro, calmo e doce.-Eu não estou cansado, quer fazer alguma coisa?-perguntou se afastando um pouco e eu assenti.

 -O que quer fazer?-perguntei e ele olhou para algo atrás de mim.

 -Que tal se sairmos daqui? Estamos com uma plateia, literalmente, indesejada.-murmurou e eu olhei para trás, um pouco longe de nós, estava Tomás, de braços cruzados, voltei meu olhar para León e sorri.

 -Eu não te agradeci por ter feito aquilo no refeitório, me defendeu, obrigada.-agradeci e ele segurou minhas mãos.

 -Eu ia fazer pior, a raiva me consumiu por inteiro quando eu ouvi ele falar o seu nome.-falou encarando nossas mãos.-Vem, quero te levar até a pedreira.-chamou me puxando para a pedreira, a qual ele pulou e a Ludmila deu um chilique. Lá em cima era muito bonito, a luz da lua iluminava tudo, só que era mais frio que o normal. Acho que León percebeu que eu estava com frio e me abraçou, o calor do seu corpo me aquecia e seus braços me acolhiam de uma maneira confortante, ele depositou um beijo na minha testa e respirou fundo.

 -Aqui é alto.-falei e senti seu peito mexer, como uma risada sem som.

 -Nem tanto.-respondeu e eu levantei a cabeça para encará-lo.

 -Para quem já pulou daqui de cima, não é.-rebati e ele sorriu.-Você gosta de se arriscar, não é?-perguntei e ele assentiu.-León, a Ludmila estava certa naquele dia, precisa tomar cuidado, sua vida é mais importante que uma aposta.-balbuciei brincando com a gola de sua camisa.

 -Nossa! Em alguns beijos eu te converti no ser humano mais preocupado da fasse da Terra!-exclamou divertido e eu o lancei um olhar mortal.

 -Eu estou falando sério, Vargas!-rebati dando um tapa no seu ombro.

 -É, eu sei, você me adora e não consegue viver sem mim.-murmurou divertido e eu ri.

 -Não sei não, hein.-repliquei e ele sorriu, colando nossas testas, mas logo sua expressão mudou e eu fiquei preocupada.

 -Vilu...-murmurou encarando o chão, levantei seu rosto e olhei nos seus olhos.

 -O que foi? Você está bem?-perguntei e ele acariciou meu rosto com delicadeza, como se tivesse medo de me quebrar.

 -Estou bem, é só que... eu quero que... quero que fique longe dele... fica longe do Tomás, Violetta.

 -Eu sei me cuidar, León.-falei e ele balançou a cabeça.

 -Sei que sabe, mas todo cuidado é pouco e não posso imaginar o que eu faria se algo acontecesse com você.-explicou voltando a me abraçar.-Promete para mim, que não vai ficar sozinha perto dele.

 -Eu prometo, Lê.-falei e senti seus lábios pousarem na minha testa.

 Descemos da pedreira em silêncio e permanecemos assim até chegarmos na frente da minha cabana, ficamos de frente um para o outro sem dizer nenhuma palavra, León sorriu para mim e me abraçou.

 -Eu te odeio.-sussurrei com os olhos fechados.

 -É, eu sei.-murmurou e eu levantei a cabeça.-Que tal um beijinho de boa noite?-sorri e beijei o canto de sua boca.

 -Contente, Vargas?-perguntei com um sorriso pendendo nos lábios.

 -Não, eu não estou contente.-respondeu segurando minha mão e depositando um beijo nela.

 -Vocês sabiam que são 2 horas da manhã? Tem gente tentando dormir!-nós olhamos para a porta da cabana e vimos uma Camila irritada e uma Francesca sonolenta, nós rimos delas e Francesca sorriu, parecia não ter muita noção do que estava acontecendo.-Deixem para se comerem depois!-continuou Camila ainda irritada, eu me virei para León ainda rindo.

 -É melhor eu ir dormir.-falei e ele assentiu.

 -Boa noite, Violetta.

 -Boa noite, León.-com um aceno para Camila, León foi embora e nós entramos na cabana. Me joguei na cama e sorri, hoje foi tudo diferente e amanhã tudo vai mudar, eu espero, respirei fundo e senti um travesseiro ser jogado no meu rosto.-Camila!-gritei e ela estirou língua para mim.-Muito maduro, Dona Camila, muito maduro.-resmunguei irritada.

  [...]