Helena escrita por Patty89
Que Helena está morta. Isto é fato. Sem boa noite dessa vez. E eu achei que poderia sobreviver sem desabar-me, sem render-me. Grande engano meu.
Foi num dia desses quando a melancólica a encontrou e tomou-a de mim. O seu coração repleto de felicidade em cores tornou-se preto e branco. Perguntava-lhe todos os dias “estás bem?" e ela simplesmente fitava-me inexpressiva. Eu já devia estar sabendo, mesmo respirando não havia ar dentro de seus pulmões. Mesmo enxergando não havia visão para a realidade. Mesmo falando palavras desapareciam ao vento. Mesmo vivendo não se podia dizer se estava sentindo.
Helena não sente nada. Nem um pouco.
Ela agora é só um reflexo do qual já foi um dia. Seu corpo inerte insiste em me chamar. Ele diz: “Machuque-se, dobre-se, esqueças que eu já fui sua um dia”. “Isso doí” eu respondi. Ela sorriu tristemente e rebateu “Tudo nessa vida doí. Desde o momento em que nascemos até a morte. Só se estar vivo quando sentimos dor, no dia em que parar de doer não vai ter mais nada para ansiar. Você só verá a escuridão”.
O que mais eu poderia dizer? Apenas uma alma fadada a solidão eterna.
Pego-a gentilmente e levo seu corpo até o caixão. Helena é leve como uma pena e tão linda, tão pálida e eu posso sentir o veludo do seu vestido negro em meus dedos. A pele dela é fria e seus olhos ainda estão manchados daquela maquiagem escura que ela usava na noite em que se fora. Tudo bem. Continua bela como no momento o qual nos conhecemos. Foi o melhor dia da minha vida.
Na sala de espera de um psicólogo. Há um ano; eu fui diagnosticado com transtorno de personalidade esquiva e Helena depressão profunda. Éramos perfeitos um para o outro, ela se aproximou de mim lentamente até que eu parei de ter medo dela. Eu nunca conseguiria me relacionar com nenhuma pessoa profundamente pela minha “doença” e insegurança. Mas Helena era diferente. Ela ajudou-me, e mostramos para o mundo inteiro toda a nossa estranheza e crise existencialista. Sentia-me completo ao seu lado sabendo que dormiria feliz ao ter consciência de alguém igual a mim.
Mas o sonho acabara e com ele Helena ia junto. Ajeitando seu cabelo eu me despeço de minha amada suicida. Por que foi tomar aqueles comprimidos, querida? Meu amor não foi o suficiente?
Nada é o bastante para Helena.
Não se permitiu ser feliz e por esse maldito motivo esqueceu-se de mim que tanto a amou, dei meu coração puro para ela. Entreguei-me sem hipocrisias. Disse apenas verdade sobre minha pessoa. E o que eu ganho com isso? Morte.
A morte é o que há de melhor em Helena.
Talvez ela seja boa para mim também. Quando o funeral acabar queimarei todas as coisas que Helena gostava. Incluindo eu.
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