A Seleção de Apolo escrita por CarolFonseca


Capítulo 34
• 2° - A Marca de Apolo


Notas iniciais do capítulo

Vocês lembram de A Marca de Atena? Conheçam agora A Marca de Apolo!



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Cammy

Assim que entramos no intervalo, bebo um generoso gole de champanhe. Que tipo de idiotice foi essa? Ele por acaso queria me dar uma espécie de susto?

— Obrigada - agradeci a ninfa que passava com uma bandeja cheia de taças por entre as selecionadas (as que não foram expulsas). Um bando delas caminhava meio sem rumo, chorando ou xingando de raiva. - Posso pegar mais um?

— Camille! - disse Hefesto, surgindo atrás de mim de súbito. Coloquei a mão sobre o peito, assustada. - Poderia ficar mais um pouquinho? As outras podem ir. Tenham uma boa noite de descanso!

Ai caraca, pensei quase engasgando com a champanhe, lá vem.

— Quando voltarmos, vou falar das notícias. teremos outro intervalo, e aí gostaria que você retornasse.

— Só eu?

Ele abriu um sorriso simpático.

— É, só você. Recebemos uma porção de mensagens de pessoas preocupadas devido ao acidente com a corrida de bigas. Precisamos mostrar a eles que você está bem.

Abri um sorriso gelado. Então bebi outro gole de champanhe, já que era a única coisa que eu podia fazer. Só queria ir para o meu quarto… poxa.

— Ótimo. Vamos, então.

Sem muita escolha,  entreguei minha taça pra Emmy com a minha melhor cara de sofrida, seguindo Hefesto novamente até o estúdio. Lá, foi-me orientado a sentar em uma poltrona de veludo vermelho - cor que contrastou horrendamente com o meu vestido rosa pálido -, enquanto um sátiro que saiu do nada e começou a retocar a minha maquiagem.

Hefesto, que até então estava conversando com o carinha da câmera enquanto apontava pra mim, veio e se sentou ao meu lado, em uma cadeira idêntica a minha, antes de o programa voltar ao ar.

Após uma introdução onde eu não prestei a mínima atenção, Hefesto virou a poltrona em minha direção.

— Então Camille, como você se sente?

Um microfone apareceu magicamente em minha frente, minhas sobrancelhas arqueadas sendo o único indício do susto que levei.

— Uh… Bem?

Hefesto soltou uma risada.

— Isso me parece mais uma pergunta do que uma resposta. - Então, provavelmente vendo o quão desconfortável eu estava, se virou para a platéia. - Vocês não concordam pessoal?

Uma sucessão de concordâncias se seguiram, os sátiros sendo os mais empolgados, mas os semideuses que estavam ali não ficavam muito atrás. Pelo canto do olho, percebi Emmy meio de surdina, me observando com um sorriso meio de lado. Aquilo de alguma forma me relaxou. Emmy estava ali, mesmo que fosse para me ver pagar mico, e a platéia, composta com uma maioria visível de meio-sangues, começou a me parecer mais familiar. Olhando mais atentamente, percebi o cabelo verde de Nicholas, um filho de Deméter que frequentava o acampamento todo verão desde os sete, e July, uma morena com traços chineses filha de Nice, que costumava brincar comigo quando éramos crianças. E com um estalo, percebi da forma mais estranha possível que aqueles semideuses eram de alguma forma minha família. Por mais disfuncional e inacreditável que isso soasse.

 

Apolo

A cama de Cammy na verdade era, e posso dizer com propriedade, extremamente macia e confortável. Se eu pulei nela? Pode-se dizer que sim. Se eu estou nela agora? Também pode-se dizer que sim.

Cruzei os braços por sob a cabeça, satisfeito. Será que ela ia gostar da minha cama? Não a do meu quarto na casa do meu pai, onde atualmente sou obrigado a dormir, mas a minha verdadeira cama, no meu próprio palácio. Comecei a imaginar Camille deitada nela, mas me distraí com o toque de seu notebook, que se iluminara com a notificação de um novo email. Hesitei. Olhei ao redor. Qual é, ninguém jamais saberia… Só uma olhadinhazinha….

Me levantei, e na ponta dos pés caminhei até sua escrivaninha. O notebook estava fechado, mas eu o abri. Será que eu devia… Ah, isso não é muito bem visto nos dias de hoje. Posso imaginar todas as palavras feias das quais Camille me chamaria se soubesse. Mas bem, ela não precisava saber… Talvez o papel de parede dela fosse eu! Bom, mas ela ficaria furiosa… Não que eu tenha medo dela ou coisa assim. Fala sério, eu sou Apolo. Então me lembrei de Dafne, e de como ela odiava que eu a espiasse e ficava dizendo que era invasão de privacidade. Não queria que o passado se repetisse. Dei um passo pra trás e estava prestes a me afastar do notebook quando a porta se abriu e Cammy apareceu em seu lindo vestido cor-de-rosa, me olhando como se eu fosse o próprio Minotauro.

— Que porra é essa?!

— Eu… hã...

— Você… hã? — disse ela em tom de deboche.

— Eu ia, tipo assim - hesitei - ver... as horas.

Camille cruzou os braços. - Sei…

— Juro que não ia espiar nada. Chegou até um e-mail pra você, mas eu nem ia abrir.

O mais estranho de tudo é que eu estava dizendo a verdade. Franzi a testa, irritado. Se eu mentia, aplaudiam, mas se dizia a verdade…

— Tudo bem - disse Cammy. - Surpreendentemente, eu acredito em você.

Então, descruzou os braços e se sentou de frente para o notebook, ligando-o. Observei-a a em silêncio, constrangido. Como é que ela sabia que eu dizia a verdade? Queria perguntar, mas estava distraído com seu papel de parede.

— O que Hefesto queria com você? - indaguei, me atirando em sua cama aconchegante. - Juro que é só curiosidade, não é nenhum lance obsessivo nem nada.

De costas para mim, Cammy deu de ombros. Aliás, que belos ombros, bronzeados, sem marcas, com uma só pontinha... dava vontade de morder!

— Não é da sua conta.

— Mas… - entreabri a boca, chocado. Ela sabia bem como broxar um homem. Ou um deus. Semideus? Sei lá o que eu sou. - Estamos falando do meu programa, é claro que é da minha conta!

Ela deu de ombros de novo.

— O programa é de Hefesto. Você é no máximo um coadjuvante lá dentro.

Tentei não ficar de boca aberta. Como aquela garota era irritante! E ousada! Deuses!

— Ah é? - falei ofendido.

— É.

— Bom, então eu não vou te beijar hoje.

Camille deu de ombros. De repente, perdi toda a vontade de mordê-los.

— Como quiser - disse ela.

Bufei. Quando eu acho que estamos melhorando, ela volta a me tratar mal. Eu devia desistir. Devia sair daquele quarto e beijar a próxima selecionada que aparecesse na minha frente… Ah, queria só ver a cara da Cammy! Cammy…

— Por que você tá pesquisando parques de diversões?

— O aniversário da Emmy está chegando, e ela adora parques de diversões. Pensei em levá-la num.

— Hã, Cammy… - me sentei na cama, coçando a nuca, incomodado. - Sinto muito dizer isso, mas vocês não podem sair. E antes que você me bata, não fui eu que bolei essa norma.

Ela se virou para mim, sua boca em um biquinho.

— Achei que haveria um desconto no dia do aniversário dela.

— Sinto muito - fiz uma careta. - Mesmo. Se eu pudesse… - hesitei, sentindo meu rosto se acender subitamente. - E eu posso!

— Sério? - Cammy arqueou as sobrancelhas castanhas, desconfiada. - Você está podendo muitas coisas pra um deus rebaixado pra segunda ordem… sem ofensas.

— Não, eu posso! Claro, não posso levar vocês pra fora… estou sem meus totais poderes. Mas eu posso trazer pra dentro!

O rosto dela se acendeu também, um enorme sorriso luminoso. - Você faria isso?

— É claro! Gosto da Emily, e além do mais, adoro uma festa.

Camille revirou os olhos, mas estava sorrindo. Voltou-se para o computador e começou a digitar qualquer coisa que não tentei ler. Não queria ser bisbilhoteiro.

— O que você acha de sairmos? - perguntei animado. - Eu estava mesmo a fim de ir ao cinema com você.

— Cinema, Apolo? - Cammy riu. - Sério? Pra quê, pra você me agarrar?

— Tudo bem - dei de ombros, imitando seu repetido gesto, e levantei da cama. - Então vou convidar outra selecionada. Uma que realmente queira ficar comigo. Sabe, que aprecie minha companhia.

Dei o primeiro passo em direção a porta. Não tinha pretensão nenhuma de convidar outra selecionada, na verdade, esperava que A) Cammy me mandasse parar de drama e voltar para cama, B) ela declarasse seu amor por mim e suplicasse que eu não fosse atrás de outra, e C) caso nada disso acontecesse, eu iria para o meu quarto tocar um pouco e comer alguma coisa gostosa, e então assistiria alguma série engraçada dos mortais.

Porém, o que sucedeu foi que  ela se virou para mim com o rosto sério e disse:

— Você ficou com alguém Apolo?

O rumo da conversa foi tão do nada que eu me vi gaguejando:

— O que?

— Eu perguntei - ela levantou da cadeira, apoiando o corpo na mesa atrás dela - se você ficou com alguém depois de ter ficado comigo. - Cruzou os braços, um olhar muito parecido com o que Afrodite dava a Ares quando ele fazia merda.

— Eu… O que?... Não… Porque?

— Você tem certeza? - arqueou uma das sobrancelhas. Foi naquele momento, meros mortais, que eu percebi o quão aterrorizante que Cammile podia ser.

— Tenho! Posso saber o porquê disso?

Ela se aproximou lentamente, um passo de cada vez, até ficar cara a cara comigo. Engoli em seco.

— É melhor você escutar bem Apolo, porque eu só vou falar isso uma vez. Filhos de Afrodite são possessivos. Não dividem o que são deles. E acredite Apolo, eu sou possessiva com o que é meu. - Ela se afastou rapidamente, me dando as costas enquanto ia em direção a sua penteadeira, começando a tirar as bugigangas de seu cabelo. - Dito isso, não tenho tempo pra blefes e joguinhos. Se você está comigo, entao voce nao esta com mais ninguém. - Se virou para mim. - Você entendeu, Apolo?

Demorei um pouco pra entender, extasiado demais com tudo aquilo, mas quando finalmente caiu a ficha, não contive meu sorriso presunçoso, caminhando a passos largos e prendendo Cammile pelo entre meu corpo e penteadeira.

— Então quer dizer que eu sou seu?

A safada passou seus braços por meu pescoço, mordendo seus lábios cheios e totalmente beijáveis.

— Você poderia até ser, Apolo. - Inverteu nossas posições, me virando para ficar de frente a penteadeira no processo. E então, ficando na ponta dos pés, enquanto passava seus dentes por minha bochecha e finalmente (finalmente!) meu ouvido, ela sussurrou:

— Você poderia até ser… Se não já estivesse marcado por outra. - E então, como um passe de mágica, ela voltou ao seu estado de rígida indiferença, segurando a bainha de minha camiseta para baixo, deixando meu pescoço em evidência no espelho. Onde tinha um maldito chupão.

Encarando o reflexo de seus olhos, soube que estava fudido.

— Cammy…

— Você é um bom ator, Apolo. Tenho que dar isso pra você!

Desesperado, agarrei sua mão. Droga, não era assim que eu pensei que a noite terminaria!

— Cammy, eu posso explicar!

Senti que poderia literalmente congelar só com o seu olhar.

— As coisas já parecem bem claras pra mim Apolo, mas obrigada por se oferecer - me deu o sorriso mais irônico, se virando e abrindo a porta.

 - Sai. Agora. - E então me encarou com tanta fúria, julgamento e decepção, que eu saí.


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