Uma, duas e três, paixões de uma vez escrita por Yennefer de V


Capítulo 2
Flertes de trinta e três minutos




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Dominique decidiu por trinta e três minutos. Era o tempo (múltiplo de três) que ela olharia para cada uma de suas três paixões a fim de conhecê-las melhor. Ela dispunha de um par de Orelhas Extensíveis para possivelmente ouvi-los de longe e um velho Onióculos do pai.

Não era possível simplesmente escolher pela beleza. Ela sabia que era uma receita fadada ao fracasso. Tinha visto isso pessoalmente: sua mãe era bonita demais e seu pai... Tinha sido “estragado” (por falta de palavra melhor) por algumas mordidinhas de lobisomem. E mesmo cheio de cicatrizes ele era feliz com Fleur-linda-demais.

Beleza não era certeza de felicidade amorosa. Era possível ter um bom relacionamento com pessoas de qualquer aparência.

Ela própria não era a garota mais linda da Corvinal mesmo com a descendência veela. E ela nem tentava ser a mais linda.

Para Dominique, ser bonita demais para os outros dava um trabalho desnecessário na vida. Seus cabelos estavam freqüentemente embaraçados, seu rosto sempre estava bronzeado e cheio de manchas por freqüente exposição ao sol e ela era cheia de cicatrizes pela atuação no quadribol. Seu nariz era torto porque ela já o tinha quebrado três vezes (caiu da vassoura, tomou um balaço no rosto e brigou com seu irmão caçula, Louis – seu próprio feitiço ricocheteou na parede de volta no seu nariz) (ela não tinha orgulho desse último evento).

 Naquela noite, Dominique se preparou bem. Passou o dia todo analisando seu plano, e na última aula antes do jantar, acabou com uma meleca cor de piche e grudenta em vez do líquido de espessura fina e amarronzado que devia ter sido sua Poção de Envelhecimento na aula de Poções, de tanto que se distraiu.

Apesar de gostar bastante de Poções, nem a matéria nem o professor Slughorn lhe eram favoráveis. Pela presença de tantos Weasleys no castelo, o professor facilmente confundia Dominique com praticamente todos. Era comum o professor saudá-la ao entrar na sala:

— Boa tarde Lucy.

Ou, como naquela aula, criticá-la pela falta de atenção, fazendo uma careta com o nariz pelo cheiro e abanando o ar com uma das mãos:

 - Tente mexer nos intervalos corretos da próxima vez, Roxanne.

A única Weasley que ele reconhecia era Molly, que era insuportavelmente boa em Poções e estava no Clube do Slugue.

Depois de jantar e tomar banho, Dominique voltou do dormitório feminino para o Salão Comunal.

Lorcan e Lysander estavam em uma das várias mesas com livros abertos, aparentemente estudando para os N.O.M.s ou fazendo algum dever. Mas Dominique não era boba e já aprendera a não subestimar os dois. Quando estavam muito perto, aparentando extrema concentração, os gêmeos estavam na verdade conversando de uma forma que ninguém mais conseguia fazer. Lysander explicou que conseguia ouvir a voz de Lorcan em sua cabeça se ele quisesse. Havia algumas regras para essa comunicação peculiar, mas Dominique sempre as esquecia.

Ela chegou barulhenta ao lado de Lys. Lorcan estava do outro lado da mesa, à frente do gêmeo.

Com certeza Dominique tinha interrompido uma “conversa”. Os dois olharam para ela ao mesmo tempo, como se saídos de um transe.

— Quer ajuda com seu dever extra sobre a Poção de Envelhecimento? – perguntou Lysander, fechando seu livro. Lorcan faiscou um sorriso para ela e voltou sua atenção ao pergaminho à sua frente, molhando a pena no tinteiro.

Ela balançou a cabeça negativamente, fazendo os cabelos molhados espirrarem água nos dois.

— Estou com dor de cabeça. Acho que vou me deitar.

— Você está bem? - Lys pareceu preocupado.

— Preciso dormir. Não aguento mais estudar fora das aulas. - tentou Dominique como desculpa para sumir de vista.

— Você não estuda fora das aulas. – argumentou Lysander fazendo cara de deboche.

— Está bem. – ela se deu por vencida. – Estou trabalhando em um projeto pessoal.

— Está tentando inventar um feitiço de novo? – perguntou Lys inquisidor. – Não vá parar na Ala Hospitalar sem as sobrancelhas novamente.

— Você tem bastante confiança em mim. – reclamou Dominique. – Não, estou canalizando minha energia em projetos mais produtivos.

— Me conte. – pediu ele com vontade de rir. – Adoro suas idéias.

— Dessa vez não.

— Por favoor! Eu sempre te ajudo.

— Dessa vez não dá! – rebateu ela. – Se eu te der só uma informação o projeto será afetado.

— Tá bem. – resmungou Lys. – Qualquer hora dessas você explode alguém ou alguma coisa e eu descubro o que é.

Dominique girou os olhos e o corpo para longe dele. Ia ser difícil, muito difícil escutar algum diálogo secreto de Lys com Lorcan. Ela se sentou no chão, um pouco atrás da estatua de Rowena, o que era um desconforto, porque era também a passagem para o dormitório feminino. Dominique ficou munida com as Orelhas Extensíveis e o Onióculos.

Durante os trinta e três minutos em que observou Lys, as Orelhas foram inúteis. Ele e Lorcan, se estivessem conversando, estavam fazendo daquele jeito maluco de gêmeos deles.

Depois de um tempo, Dominique começou a se irritar. Estava levando vários olhares feios e xingos por estar no caminho do dormitório. Também ficou cansada de olhar as cabeças dos gêmeos se mexerem um pouco, um deles fungar o nariz ou estalar o pescoço, ambos virando páginas de livros, molhando penas em tinteiros e rabiscando pergaminhos. Finalmente, Lys se levantou e foi até a mochila, pegou um envelope e um pergaminho de carta.

— Vou escrever para o papai. Quer que eu diga alguma coisa? – perguntou ele ao irmão (graças a Merlin em voz alta).

Lorcan fez que não com a cabeça. Ele se dava bem melhor com sua mãe, Dominique sabia.

Ela se apoderou do Onióculos e observou Lys se endireitar sobre a mesa. Conseguiu ler com dificuldade enquanto Lys escrevia em sua letra cursiva e caprichada:

Pai,

Eu e Lorcan estamos bem. Estudando bastante para os N.O.M.s, por isso estamos bem ocupados. Além disso, Lorcan tem as tarefas de monitor, então acho que não lhe sobra tempo para escrever tanto pra vocês.

Não há nenhuma novidade espetacular. Aprendemos sobre Tronquilhos recentemente na aula de Trato de Criaturas Mágicas e são animais tão entediantes que eu gostaria que o professor Hagrid fosse como a mamãe conta que ele era na época dela. Talvez ele tenha “aprendido a ser professor”, mas particularmente eu ainda prefiro nossas viagens. Vocês terão terminado sua expedição pela Grécia até as férias de natal? Eu gostaria de passar uns dias com Dominique.

Ela está um pouco misteriosa. Tenho notado o comportamento de Tiago Potter quando está perto dela. Isso me deixa... (Dominique não conseguiu ler o restante da frase).

(...) e Dominique falou que está trabalhando em algum tipo de projeto e não quer a minha ajuda. Talvez eu esteja certo sobre... (ela não conseguiu ler).

Eu só queria que ela... (o Onióculos não focalizou decentemente para a leitura).

Talvez seja melhor eu simplesmente... (pareceu apenas um borrão indecifrável).

Mande beijos para a mamãe.

Saudades,

Lysander

Dominique praguejou alto pelas partes da carta que não conseguiu ler. Lys se levantou e foi selar o envelope em uma das velas. Nesse momento, uma sextanista esbarrou em Dominique e berrou para que ela saísse do caminho. Derrotada, ela foi para o dormitório, não sem antes berrar de volta que a garota fedia igual Severo Snape.

[...]

Dominique não foi com Lysander para Hogsmeade no final de semana. O amigo aparentemente não estava aceitando bem ser deixado de lado. Infelizmente, ela tinha que ser firme se quisesse ter algum resultado concreto.

Lysander acabou indo com Lorcan, Lily Potter e Lucy Weasley, a amiga de Lily. Dominique não os seguiu. Ela foi até o Três Vassouras, onde sabia que ia encontrar Tiago Potter e pelo menos metade de sua equipe de quadribol.

Tanto o capitão quanto um dos batedores e a apanhadora estavam sentados em cadeiras altas no balcão, ao invés de ocuparem uma mesa. O sino fez barulho quando Dominique entrou, mas ninguém prestou atenção. Os alunos de Hogwarts lotavam a estalagem, além das figuras viajantes, moradores e outros tipos sinistros.

Dominique ocupou uma mesa no canto, bem escondida, e pediu uma soda com xarope de cereja. Enquanto bebia no copo caneca de estanho, Dominique colocou suas Orelhas a postos. Aparentemente, os três jogadores já tinham passado na Dedosdemel – estavam cheios de embalagens de doces.

Previsivelmente, estavam falando de quadribol. Ela tinha trinta e três minutos.

— Não entendo como só você joga quadribol na sua família, cara. Sua mãe foi capitã do Harpias de Holyhead. – comentou a apanhadora.

— Alvo nem se envergonha por não jogar. – riu Tiago.

— Também, ele namora o Malfoy. – o batedor fingiu tremelicar de medo ao dizer “Malfoy”.

— Também não se envergonha por isso. – Tiago e os outros desataram a rir.

— Ele podia arrumar alguém melhor para namorar. Mas acho que sonserinos só aguentam sonserinos. – o batedor finalizou.

Tiago concordou com a cabeça. Ele achava que Alvo tinha um gosto péssimo para namorados (mesmo que Escórpio fosse o primeiro). 

Dominique começou a analisar Tiago Potter. Ele tinha olhos castanhos e cabelos totalmente desgrenhados e negros. Seu rosto era risonho, como se não levasse nada a sério, e a postura e o tom de voz também indicavam isso. Quando estava relaxado (e não brigando com ela) ele parecia ser uma pessoa legal de se conviver. Os três amigos gargalhavam bastante juntos. Dominique e Lys mais debatiam assuntos e tinham conversas aleatórias sobre assuntos diversificados. Eles não riam tão facilmente quanto aqueles três, nem com tanto barulho.

Tiago jogava todo o peso do corpo nos ombros, o que o fazia parecer mais baixo do que era. Ele tomava cerveja amanteigada com prazer. Várias pessoas o cumprimentavam ao passar.

O tempo de Dominique estava passando, então ela decidiu fazer com que eles percebessem sua presença para que ela se tornasse o assunto da conversa. Deixou o copo cair propositalmente no chão fazendo um estardalhaço. Quando Tiago e outras pessoas se viraram para ver o estrago, ela deu um aceno para ele. Tiago acenou de volta e virou a cabeça.

— Desculpe. – sussurrou para Madame Rosmerta que foi até ela encher o copo de novo.

— Acontece mais de cinco vezes por dia. – a mulher deu de ombros. – Reparo.

Novamente bebendo soda com xarope de cereja, Dominique se preparou para ouvir a conversa de Tiago Potter.

— Você devia convidá-la pra sair. – disse o batedor.

— Já passou da hora. – concordou a apanhadora.

Os ombros de Tiago Potter murcharam.

— É estranho. Até mês passado a gente vivia se azarando.

— Porque você é um babaca e ela é uma maluca. – comentou o batedor. – Mas você fica falando dela há meses, por Merlin.

A apanhadora assentiu com a cabeça.

— Eu sou um babaca. – Tiago riu de si mesmo. – Não sou?

— Sim. – a apanhadora concordou. – Domy, esse roxo novo na sua bochecha é o que? Bateu com o cabo da sua própria vassoura na cara? Está preparada para perder para Lufa-Lufa? Que vergonha, Domy! Você é muito magrela para ser batedora! Não tem nem força para segurar o bastão! – a jovem tentou imitar os insultos de Tiago para Dominique.

— Eu sou insuportável. – Tiago estava gargalhando com as imitações. – Como é que ela vai aceitar sair comigo? – perguntou ainda rindo.

— Não vou aguentar mais um mês de Domy pra cá e Domy pra lá. – reclamou o batedor, também se recuperando de um ataque de riso.

— Ela odeia os apelidos. – lembrou a apanhadora. – Já falei pra não diminuir meu nome, Potter, que maldição! Por que você adora me irritar?! Você quer que eu te azare de novo na frente do seu time de merda?! — a apanhadora imitou Dominique.

Dominique teve que esconder um risinho lá de sua mesa.

— Está bem, pessoal. Vou lá bancar o babaca de novo. – anunciou Tiago.

Tiago Potter se levantou do balcão e foi até Dominique com relativa rapidez. Seus olhos não despregaram da mesa dela nem por um instante.

Dominique escondeu rapidamente as Orelhas.

— Ei Dominique. – ele a cumprimentou.

— Oi Potter. – ela respondeu sem graça, por saber o que ia vir.

Tiago passou as mãos pelos cabelos, deixando-os mais despenteados. Estalou os dedos das mãos e deu um meio sorriso:

— Você quer... Fazer alguma coisa comigo algum dia desses?

Ela ficou em silencio só para perturbá-lo.

— Então... – ele continuou, seu rosto perdendo o sorriso.

— Podemos sair com a sua irmã junto?

Tiago pareceu intrigado.

— A Lily?

— Sim.

Ele pareceu compreender (errado).

— Ah, um encontro duplo com seu amigo Scamander? Qual deles é mesmo?

— Lysander. E não... – ela não conseguia explicar que tinha que passar trinta e três minutos com Lily para definir sua situação amorosa. – Bom, creio que sim.

— Achei que ela gostasse do Lorcan. – Tiago arqueou as sobrancelhas, mas deu de ombros. – Acho que me confundi.

— Pois é. – Dominique estava se enfiando em uma enrascada, enfiando Lys junto com ela e arrastando Lily Potter.

— Amanhã depois do jantar? Podemos rebater umas bolas no estádio. – Tiago deu aquele sorriso relaxado pra ela.

— Está bem. – ela concordou.

Tiago foi andando de volta aos amigos, fazendo um sinal de positivo com o dedo, e os dois o receberam com aplausos. Dominique não pode deixar de sorrir.

Só que agora ela tinha um encontro com ... Uma, duas e três pessoas. Ao mesmo tempo.


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Notas finais do capítulo

Aê õ/ caracas, eu tinha planejado colocar bem mais coisa nesse capítulo, mas as situações e os diálogos vão saindo e não consigo cortar! Quando passa de 2 mil palavras já finalizo, ninguém merece.

Primeiro quero dizer que: ao começar a fic, tinha CERTEZA que eu ia terminar a Dominique com o Lys.
Agora que escrevi uma cena com o Tiago, tenho certeza que vou terminar Dominique e Tiago.
Provavelmente, na cena da Lily Luna, terei a mesma certeza com as duas ... então, não sei o que fazer!

Até agora a torcida maior é por Lily/Dominique, então REALMENTE não sei o que fazer.



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