Lys só queria ser ele escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Inteiramente eu


Notas iniciais do capítulo

- Apenas minhas visões sobre os aces pouco e mal representados na literatura...

— Escutem "I'll never fall in love again" durante a leitura ♥



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Lysander Scamander era único.

Desde que éramos crianças, lembro-me de quando ele corria pela casa com uma fralda na cabeça, dizendo ser o rei do pedaço.

Papai achava uma loucura.

Mamãe ria de prazer.

Lys costumava puxar minha mão para me arrastar consigo em suas inúmeras brincadeiras. Sua imaginação desconhecia limites, sempre percorrendo os altos e baixos da sanidade mental.

Lysander sempre foi muito barulhento, espalhando água quando íamos à praia, ou gritando ao queimar a mão no fogão antes que mamãe tirasse o pudim de lá.

Eu passei boa parte de minha vida atrás dele, preocupado, como se dois minutos fizessem de mim um irmão mais velho. Mas a verdade é que a calma é parte minha, como a ansiedade ilustra Lysander.

Aos onze anos, fomos sorteados para casas diferentes em Hogwarts. Enquanto me juntei aos inteligentes e quietos, Lys ficou entre os extrovertidos e leais.

Arrancava olhares por onde passava, e isto se repetia durante toda a sua jornada escolar.

Eu costumava ouvir pelos corredores o quanto meu irmão era popular entre os lufanos. Garotas e garotos se interessavam por ele. Mas Lys nada dizia, fingia nem saber. Apenas sorria para todos, amava a todos de uma vez só.

— Quem você chamará para a formatura? — ouvia alguns dos Weasley lhe perguntarem durante as aulas.

— Por que deveria chamar? — ele respondia, como sempre.

— Qualquer pessoa aceitaria, Lys. Não falta opção — dessa vez, quem disse foi Lily Luna, sua melhor amiga.

Mas Lys apenas teria dado de ombros e voltado à sua poção de visgo de sapo. Ele só não sabia o quanto seus olhos brilhavam ou seu sorriso contagiava. Apenas não sabia.

Quando Lysander fez dezessete anos, ele não pediu uma viagem à Romênia ou uma nova Firebolt. Lys simplesmente implorou de joelhos para uma câmera fotográfica, onde pudesse registrar toda a vida ao redor dele.

— Tem certeza disso, meu querido? — mamãe respondeu-o.

— Por favor, por favor. Prometo me comportar para sempre!

— E no ano que vem, meu menino? — continuou a mamãe — Vai no abandonar, não é?

— Mas lhe disse que voltaria. Não disse, Lorc? Você não acredita em mim? Lorcan está de prova.

Mamãe olhou em minha direção e eu hesitei antes de desviar o olhar. Balancei a cabeça afirmativamente, para alívio de Lys.

— Tenha orgulho de mim, mamãe — ele sussurrou, colocando a cabeça no colo dela. Ao receber cafuné, completou: — Nunca vou deixar vocês eternamente. Confie em mim.

E então ela comprara a tal câmera.

Lys não poderia estar mais feliz.

Tirava fotografia de nós todos, revelava em seu estúdio improvisado no sótão e fazia montagens em seus pequenos álbuns. Havia de tudo lá: férias, aulas, amigos, família... Então, certa vez, perguntei-lhe sobre o amor:

— Quem você gosta mais nessa foto?

Lys pareceu pensar muito antes de responder. Encarou o Nada por alguns instantes, até apontar para uma imagem dele mesmo em mais uma de suas peripécias.

— Tinha que ser narcisista esse meu irmão, não é? — gargalhei, encarando-o com doçura.

— Não sou.

— Ah, não?

— É só que... bem...

Lys deitou de barriga para cima no gramado de casa, com as mãos apoiadas atrás da cabeça. Parecia confuso e receoso, mas incentivei-o a se expressar:

— Sou seu irmão. Seu irmão-gêmeo, Lys. Estou aqui para isso, não?

Lys sorriu meio torto, e então virou-se para mim:

— Gosto de mim mesmo, Lorcan.

Ele encarou meus olhos, com uma seriedade realmente estranha.

— Não preciso encontrar nos outros uma metade quebrada.

— Eu sei... — comentei, hesitando ao lembrar-me do quanto gostaria de ser igual a ele — Você já nasceu inteiro.

Lys alargou o sorriso e tirou uma fotografia minha.

Eu não estava feliz. Sabia que logo voltaria a ficar sozinho durante a longa viagem de meu irmão.

E enquanto ele se aventuraria inteiramente, eu ficaria aqui, sofrendo dores de outro amor. Mas Lys não entenderia, ele nunca saberia. Não poderia dizê-lo estar apaixonado pelo namorado de sua melhor amiga, Lys me acharia um tonto. Alguém inteiro nunca sentiria este tipo de dor.

Quando Lysander retornou à nossa casa, já havia se passado três anos. Eu cursava medi-bruxaria e ele voltava com uma quantia imensa por suas milhares de fotos.

— O que te motiva tanto a fotografar, querido? — mamãe quis saber, ao reencontrá-lo.

— O amor das pessoas. A alegria em seus rostos.

— Encontrou-o em alguém finalmente, então? — foi a vez de papai.

Mas Lysander apenas riu de canto e sentou com as pernas entrelaçadas no chão, como as de um índio.

— Oh, teve a Angie, a Lizzie, a Minnie, o Mike e o Rich...

Papai arregalara os olhos, evidentemente surpreso. Mas eu não havia me convencido. Ele certamente completaria:

— Meus modelos, minha alegria, papai.

E então, como todas as vezes, Lysander abriu o melhor dos sorrisos e soltou um beijo no ar, para nós.

Lys era inteiramente único.

Eu nunca saberia, eu nunca entenderia.

Uma pessoa quebrada, assim como eu, nunca sentiria a liberdade de não se prender a alguém para ser inteiramente feliz.


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