A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 26
As relíquias do Imperador


Notas iniciais do capítulo

Oi! Cheguei mais tarde hoje porque estava com um pouco de receio com relação à esse capítulo. Não lembro do que escrevi e, se virem algo errado, me avisem.



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Kalin quase caiu da cadeira ao ser despertado de uma forma nada convencional. Ele piscou e olhou em volta, um pouco desorientado, sentindo seu rosto molhado e o cheiro forte de álcool. Suspendeu os olhos e deu de cara com uma moça que o encarava com os braços cruzados e um olhar severo. A moça usava uma grossa couraça que lhe protegia o tronco, uma longa espada pendurada na cintura e o capacete sobre a mesa de Kalin, provavelmente, era dela.

— Endoidou, Asami?! – ele se levantou de mau humor – Isso são maneiras de acordar o líder do clã e futuro rei de Xing?!

— Se ele for um preguiçoso vagabundo, sim – Asami rebateu com arrogância – Principalmente, se o líder do clã fica enchendo a cara enquanto seus soldados morrem como moscas.

— Toda glória cobra seus sacrifícios – Kalin devolveu, cinicamente.

— Você não percebeu que essa guerra está perdida? – Asami perguntou – Não sabe das últimas notícias, não é? Claro que não. Já que estava bebendo ao invés de fazer algo útil – ela cuspiu as palavras – Os amestrinos retomaram o vilarejo e estão nos empurrando de volta pelo outro lado. Eles mataram os dois comandantes que estavam supervisionando a operação na cidade. E o pior, acabaram de chegar os reforços do Exército Real – Asami suspirou e falou para si mesmo – Deveríamos ter feito um acordo com Ling Yao desde o começo para unificarmos o país. Iria poupar muitas mortes desnecessárias.

— Um acordo para quê?! – Kalin explodiu – Para que ele fosse o rei?! Nem pensar!! Eu que devo ser o rei!! Ele roubou o lugar do trono com a desculpa de que tinha o segredo da imortalidade, não foi? Então, ele que faça os soldados dele imortais!!

Asami suspirou fundo e fechou os olhos com uma expressão raivosa.

— Como você pode ser tão burro? – ela perguntou, ainda com os olhos fechados.

Kalin andou até ela em um rompante, uma das mãos suspensa acima da cabeça, pronto para desferir uma bofetada em Asami.

— Você não ousaria... – ela disse em desafio.

Os dois se encararam com raiva e as respirações descompassadas. Depois de alguns breves segundos tensos, Kalin suspirou longamente, abaixou a mão e se afastou da moça.

— Você tem sorte de ser mulher – ele disse – E de ser minha irmã mais velha.

— E você tem sorte de existir essa regra idiota de que o líder do clã só pode ser um homem – Asami devolveu – Se não você estaria lambendo as minhas botas.

— Você só está liderando um regimento porque eu deixei – Kalin deu uma gargalhada debochada – Você realmente acha que alguém seguiria você?

— Talvez, não no começo – Asami concordou com a cabeça – Mas eles mudariam de ideia quando vissem que você está os levando para a beira de um abismo.

— Ria enquanto pode – Kalin deu meia volta e sentou novamente em sua cadeira – Você é igual aos nossos tolos antepassados que estavam mais preocupados em serem bonzinhos com os inimigos, enquanto os amestrinos desenvolveram a Alquimia deles para a guerra. Poderíamos ser o reino mais poderoso de todos! Poderíamos dominar o mundo, mas não...

— Você não continua mexendo nessa magia oculta dos amestrinos, não é? – Asami levantou um dedo acusador – Isso pode ser muito perigoso. Nossos antepassados foram bem mais sensatos que você quando preferiram não mexer nisso. E, a propósito, você não tem que se preocupar apenas com os Alquimistas Federais de Amestris. Temos outra grande ameaça.

— Eu já ouvi que o Exército Real está aí – Kalin bufou, contrariado – Grande coisa.

— Você vai dobrar a língua quando vê-los – Asami continuou – Principalmente, quando ver quem veio com eles. Eles trouxeram aliados poderosos. Aliados vindos do Extremo Oriente.

— E quem seriam esses? – Kalin perguntou, com desinteresse.

— Não faça essa cara de pouco caso como se as vidas dos nossos soldados não fossem importantes – Asami espalmou as mãos na mesa com violência e debruçou-se sobre ela para encarar o irmão – Eu estou falando sério! As nossas suspeitas se confirmaram. Aqueles dois que estavam massacrando nossos soldados são realmente usuários de Teigus!! E eles não são os únicos agora!! Ling trouxe mais usuários de Teigus junto com ele!!

— Como é?!! Que maluquice é essa agora?!! – Kalin levantou-se de um pulo – Você não sabe do que está falando!!

— Venha ver você mesmo – Asami fez um sinal para que ele a seguisse.

Kalin saiu da sua tenda, meio contrariado, mas seu queixo caiu quando ele olhou para o horizonte. Uma gigantesca massa avançava de forma acelerada na direção dos seus soldados posicionados logo abaixo do rio, em uma planície fértil, na principal área de batalha. Kalin percebeu imediatamente que aquela imensa massa eram soldados do Exército Real, milhares deles, que vinham correndo e atropelando tudo pela frente. Ling conseguira reunir mais de cinquenta mil soldados xingueses e, misturados entre eles, algumas centenas de soldados do Império, inclusive usuários de Teigus. Juntando esse reforço com os subordinados da general Armstrong e com os soldados trazidos pelo general Mustang, eles contabilizavam mais de cento e quinze mil soldados contra os quase noventa mil guerreiros rebeldes.

Mas, a atual superioridade numérica do inimigo deixou de ser a principal preocupação para Kalin quando ele viu Run e Wave cortando os céus em suas Teigus e o brilho do machado Belvaac destacar-se no meio da luta. Kalin conhecia as histórias das Teigus. Ouviu muitas delas quando era garoto, principalmente porque sua família era nômade e vivia em constante contato com mercadores vindo do deserto. Sabia do poder destruidor das armas e soube de muitos feitos dos usuários de Teigu, especialmente na guerra civil do Império.

— Mas... mas... – ele gaguejou – Isso não é possível! As relíquias do Imperador do Leste... Elas não haviam se perdido na guerra civil?

— Para a nossa sorte, algumas delas, sim – Asami concordou com a cabeça – Para nosso azar, as que eles conseguiram trazer já provocam muitos estragos. Não temos mais como resistir. Precisamos recuar e perder todo o território que conquistamos recentemente.

— Perder nosso território?! – Kalin virou-se para Asami como o rosto vermelho de raiva – Você está louca?!

— Você não tem outra escolha – ela respondeu, duramente.

— Isso ainda não acabou – Kalin deu as costas para ela – QUON!! YIN!! APAREÇAM!!

Os dois conselheiros vieram correndo, atendendo aos chamados histéricos de seu líder.

— O que está acontecendo?! – Kalin perguntou, exaltado – Como a situação chegou a esse ponto?

— A culpa é toda dos amestrinos, senhor – Yin apressou-se em dar desculpas – Eles jogaram sujo. Nos atacaram dos dois lados e o vilarejo já está praticamente dominado por eles. Se o senhor tivesse autorizado o envio de reforços na área...

— Está dizendo que a culpa é minha? – Kalin encarou o conselheiro.

— Não, senhor – Yin desviou o olhar.

— Já conseguiu desvendar os segredos da Alquimia de Amestris, Quon? – Kalin virou-se para o outro, ignorando Yin.

— Os manuscritos estão em uma linguagem antiga – Quon gesticulava e encolhia os ombros – e as fórmulas estão escritas de uma maneira hermética...

— Não quero ouvir desculpas – Kalin o cortou – Se não pudemos usar a arma deles, então mande todos atacarem. Eu quero um ataque direto agora mesmo.

Quon e Yin trocaram olhares nervosos.

— Seu exército está praticamente derrotado – Asami disse em suas costas – Seus soldados estão todos morrendo, isto se já não estão mortos. Quem você vai mandar para atacar os amestrinos e o Exército Real? Velhos e crianças?

— Se for preciso – Kalin voltou e falou próximo do rosto da irmã, em tom de desafio – O povo deve morrer junto dos seus comandantes. Eu fui escolhido para ser o líder do clã – ele fez uma cara de desprezo – Se eles não conseguem derrotar nossos inimigos, então devem morrer. Não há lugar para fracos no mundo.

***************************

Akame avançava velozmente entre as ruínas do pequeno vilarejo. O batalhão do major conseguiu progredir muito em poucas horas e, praticamente, eles já dominavam a área. Faltavam ainda alguns poucos inimigos que resistiam bravamente, apesar de terem poucas chances de vencer. Porém, devido às circunstâncias, logo eles se renderiam e Akame tinha esperanças de terminar a missão a tempo de não atrasar o horário do almoço.

Precisava tomar cuidado porque os prédios parcialmente destruídos estavam cheios de atiradores inimigos escondidos. Ela corria se ocultando nas sombras, observando atentamente o ambiente para encontrar algum sinal, algum indício, de pessoas nas proximidades.

Quando estava descansando atrás de uma casa velha de pedra, ouviu um barulho perto de um antigo depósito de lenha e resolveu verificar. Akame aproximou-se sorrateiramente, esperando por encontrar soldados escondidos, mas encontrou apenas duas meninas bem pequenas, abraçadas uma a outra e tremendo da cabeça aos pés, meio escondidas sob um monte palha e restos de madeira podre. Talvez, elas pensassem que Akame faria algo contra elas e se encolheram ainda mais. A menor escondeu o rosto nas mãos e a mais alta encarava a invasora com os olhos arregalados. Akame olhou para as duas por um tempo e, ao perceber que a menina continuava olhando-a, levou um dedo aos lábios como um pedido mudo para que as duas ficassem em silêncio. A garota pareceu ter entendido o recado e fez uma cara mais confiante.

Akame preferiu sair logo dali e continuou correndo em direção ao centro da cidade. Não demorou muito para ver ao longe os soldados do major e os rebeldes em um confronto dramático. E a situação parecia ficar mais intensa porque ela viu mais soldados chegando para lutar ao lado dos amestrinos. Deveria ser os reforços prometidos pelo major. Com certeza, antes do horário do almoço, essa cidade seria novamente dos amestrinos.

Aliás, alguns desses soldados de reforço pareciam estranhamente familiares. Ou melhor, terrivelmente familiares. Mas, Akame parou de reparar nos novos soldados quando sua atenção foi atraída para um deles em especial. Quer dizer, uma deles. Uma menina magricela de cabelos curtos e pretos balançava uma katana com graciosidade enquanto as vítimas de seus golpes caíam feridas fatalmente aos seus pés. E não era uma katana qualquer, era a Yatsufusa. Era totalmente impossível ela estar ali na sua frente, mas ela estava.

***************************

— Que bom ver você outra vez, Run – Wave planou no ar e acenou para o colega.

— Bom ver você também, Wave – Run cumprimentou de volta com um sorriso – Apesar de que, sempre quando o encontro, você está metido em encrencas.

— O que posso fazer se as encrencas vêm atrás de mim? – Wave deu um mergulho para atacar um dos canhões inimigos e voltou no mesmo embalo para a posição anterior – Já você parece ótimo. Espero que as coisas tenham melhorado em nosso país.

— Estamos tentando – Run gritou enquanto disparava mais uma rajada de penas pontiagudas – A propósito, voltei a ensinar. E não é porque eu sou o professor, não, mas os meus novos alunos são os mais inteligentes que eu já vi.

— Com certeza, devem ser – Wave sorriu, mas não terminou de falar porque viu uma pequena confusão próxima ao vilarejo e ao rio – O que é aquilo ali?

Ele se aproximou mais e avistou o major Armstrong encurralando os rebeldes contra a margem do rio, fazendo aquela magia esquisita que ele viu sendo feita pela primeira vez por Alphonse. Contudo, Wave percebeu algo de estranho no major. Seus movimentos frenéticos e acelerados sugeriam que o major estava à beira de um colapso nervoso.

— Espera um pouco aí, Run. Vou ter de ajudar uma pessoa – Wave voou para longe de Run – Depois nos falamos.

Como Wave pretendia ajudar o major, nem ele saberia dizer.

— Major Armstrong – ele arriscou chamar, porém o major não estava ouvindo. Ele não estava ouvindo absolutamente nada. Continuava a fazer suas transmutações e os rebeldes estavam quase se rendendo diante do poder de fogo de um Alquimista Federal poderoso e descontrolado.

Wave pousou alguns metros de distância e observou o major. Cogitou se deveria mesmo impedi-lo de fazer o que estava fazendo. Afinal, estava funcionando.

Wave ainda não havia conseguido se decidir quando os reforços do Exército Real chegaram invadindo o vilarejo minutos depois. Ele pôde reconhecer algumas Teigus entre os combatentes. Viu um soldado empunhando a grande tesoura Êxtase e um outro exibindo toda a habilidade do sabre Shamshir. No entanto, entre tantos combatentes, algo inusitado o intrigou. Ele viu Akame há uns poucos metros de distância. Não apenas por isso, e sim, porque Akame estava completamente parada, apesar de estar rolando uma guerra ao redor deles.

— Akame – Wave voou até onde a garota estava e a segurou pelo braço – O que faz aí parada?

Akame olhou para Wave como se ele fosse um monstro muito feio e não respondeu de imediato.

— Ali – ela puxou o braço dele e apontou para um ponto – Está vendo?

— Vendo o quê? – Wave perguntou, confuso e em alerta. Akame apontava para o grupo de soldados que expulsavam os últimos rebeldes.

— Não vê? – Akame perguntou – É ela.

— Ela quem? – Wave já havia até removido o capacete da armadura e apertava os olhos para onde Akame indicava.

— Kurome... – Akame respondeu em um fiapo de voz. Como Wave não poderia reconhecer? Ela estava bem ali. Magra, cabelos negros e empunhando com maestria a Yatsufusa...

— Você endoidou, Akame?! – Wave gritou ao lado dela, batendo na própria testa – Desde quando a Kurome era ruiva?!!

Akame parecia ter caído das nuvens com o comentário de Wave. E agora, olhando bem, ele até que tinha razão. A outra garota era ruiva! E pior, ela não se parecia em nada com Kurome. Aparentava ser mais velha, mais alta e mais robusta que sua irmã caçula. Porém, a outra estava realmente com a Yatsufusa.

Akame não voltou os olhos para encarar Wave. Permaneceu olhando para o mesmo lugar.

— Akame – Wave segurou o ombro dela e falou com uma voz suave – Kurome morreu. Nós dois a vimos morrer. Não foi?

Ela não respondeu. Nem ao menos olhou para Wave.

— Vou levar você de volta ao hospital para descansar um pouco – Wave disse – Acho que o major Armstrong e os outros não precisarão da nossa ajuda por agora...

E, antes que ela recusasse, Wave a conduziu de volta para o hospital.

***************************

— Ora, vejam só – Mustang deu um meio sorriso – Parece que o rei de Xing gosta de uma entrada dramática.

— Vocês acham que eu perderia essa oportunidade? Eu estou surfando em cima de um peixe voador – Ling sorriu de cima da arraia e abriu os braços – Olhem para mim! Eu sou o rei do mundo! – mas, logo em seguida, fechou os braços e coçou a nuca com uma expressão envergonhada – Acho que eu fui mal influenciado pelo Ganância.

Riza abanou a cabeça com um sorriso discreto enquanto Alphonse dava gargalhadas.

— E vejo que a senhorita atendeu ao meu chamado – Mustang se dirigiu a Najenda.

— Estava curiosa em conhecer o novo Führer de Amestris – Najenda assentiu – Mas não esperava encontrar um rapaz tão jovem e simpático.

— Bondade sua – Mustang estufou o peito, cheio de si – Eu que, se soubesse que a nova primeira-ministra do Império fosse uma dama tão bonita e distinta, teria ido visitar o país imediatamente.

Falman riu pelo nariz e Riza revirou os olhos.

— Espero que os meus soldados sejam úteis – Najenda deu um pulo e aterrissou em frente aos seus interlocutores. Ling a seguiu – O governo de meu país tem profundo interesse em estabelecer uma aliança com o novo governo de Amestris. Além de, é claro – ela se voltou para Ling – permanecer com um bom relacionamento com o Reino de Xing.

— Tenho certeza que nos daremos muito bem – Mustang sorriu.

Najenda fez um aceno com uma mão e o peixe-arraia-voador deslizou para longe, sumindo entre as nuvens.

— Que animal estranho – Alphonse olhou, admirado – Nunca vi nada igual.

— O que não faltam são animais estranhos de onde eu venho – Najenda deu um meio sorriso.

— FÜHRER MUSTANG – um soldado veio correndo até onde eles estavam.

— O que foi, soldado? – Mustang se virou para ele e esperou o soldado recuperar o fôlego.

— O tenente Breda mandou avisar que conseguimos retomar o vilarejo – o soldado disse, rapidamente – Os últimos rebeldes se renderam.

— Isso é uma boa notícia – Riza respondeu – Agora, podemos nos concentrar apenas na frente principal da batalha.

— Chame o major Armstrong, soldado – Mustang disse – Vamos todos nos reunir com a general Armstrong – e olhou para Ling e Najenda – Com o reforço dos nossos amigos, podemos reorganizar nossas defesas e terminar logo com isso.

— Esse é o problema, senhor – o soldado arregalou os olhos – O major Armstrong está fora de controle! Ele teve um surto e saiu levando tudo pela frente como um rolo compressor. Ninguém sabe como, mas ele passou para o lado onde os soldados da general Armstrong estão lutando. Por um lado, foi bom porque ele derrotou os últimos rebeldes da vila. Mas, por outro, temos receio que ele provoque danos irreparáveis dos dois lados!

— Então, vamos ter que ir “pescar” o major – Mustang coçou o queixo e se virou para Riza – Capitã Hawkeye, venha comigo. Capitão Falman, leve o rei Ling e a ministra Najenda para o nosso QG temporário dentro do hospital. Nós voltamos logo – ele cumprimentou brevemente os dois aliados e saiu apressado na companhia do soldado e de Riza.

Falman conduziu os dois estrangeiros para dentro do hospital, juntamente com Alphonse.

— Antes de tudo – Ling falou – queria ver como a minha irmã May está, Alphonse Elric. As últimas notícias não foram nada animadoras.

— Certo – Alphonse concordou com a cabeça – Eu levo você até ela – e os dois saíram, deixando Falman com Najenda.

— Parece que chegamos em uma boa hora, não é capitão? – Najenda observava os feridos amontoados nas camas.

— No momento certo, senhora – Falman completou – Estávamos em uma situação difícil.

— Pensei nisso. Por isso, achei que seria necessário trazer usuários de Teigus e... – Najenda parou de falar repentinamente.

Ela não completou a frase porque reconheceu uma pessoa no meio daquela confusão. Akame estava sentada na beirada de uma das muitas camas da enfermaria enquanto Wave estava parado na frente dela.

— Apenas tente relaxar – Wave se esforçava para convencer Akame, mas ela continuava com o corpo ereto como se estivesse em um estado de constante alerta. Wave deu um longo suspiro – Eu vou trazer algo para você comer.

Akame não respondeu e nem ao menos olhou para Wave. E isso era preocupante porque Wave esperava que ela tivesse alguma reação com a sua frase. Akame indiferente para a comida? Ele a olhou mais uma vez antes de se afastar. Ela só voltou a se mexeu quando a sombra de alguém a encobriu e Akame ergueu os olhos para saber quem era. Sabia que não era Wave.

— Akame – Najenda sorriu discretamente para ela.

— Chefa – Akame levantou da cama de um pulo.

— Capitão Falman – Najenda chamou – Posso pedir para conversar alguns minutos a sós com minha ex-subordinada?

— Como quiser, senhora – Falman fez uma reverência e saiu.

Najenda fez sinal para que Akame a seguisse e elas foram para um canto mais afastado da enfermaria.

— O principal motivo de eu ter vindo foi que me disseram que você estava por aqui. Fico feliz em revê-la, Akame – Najenda começou – Mas, infelizmente, parece que só nos encontramos em momentos de guerra.

— A maldição me persegue – Akame deu de ombros – Isso é inevitável.

— Não resolveu o seu problema? – Najenda inclinou-se para ela – Às vezes, eu acho que seria melhor você apenas se desfazer da Murasame.

— Não posso permitir que ela caia em mãos erradas – Akame automaticamente levou a mão ao punho da espada – E isso não resolveria o problema. Ela voltaria de alguma forma para mim, a senhora sabe.

— Mas o que pode acontecer com você, Akame? O tempo está passando – Najenda esperou que a garota falasse algo, mas Akame apenas suspirou – Sabe – ela recomeçou lentamente – Eu fiquei feliz por você ter sobrevivido e, ao mesmo tempo, arrasada porque você foi a única dos meus subordinados a sobreviver...

Akame deu um novo suspiro e olhou para os lados.

— Seria devastador se eu perdesse você também – Najenda disse.

— Eu entrei na Night Raid ciente que poderia morrer como qualquer um dos meus amigos – Akame falou, séria.

— A guerra civil acabou, Akame. Agora é hora de colher os frutos de nossa luta. Seria bom que você também pudesse desfrutar disso já que lutou tanto para tal – ela apertou os olhos na direção da garota – Você não está arrependida de ser a única a sobreviver, não é, Akame?

— Não. É só... – Akame deu um longo suspiro – Remorso...

— Ao menos, você conseguiu achar uma pista para a cura? – Najenda perguntou em um sussurro.

— Acho que sim – Akame acenou – Achei uma pessoa que pode ser útil para mim. Mas aí me envolvi nessa guerra e... – ela não concluiu a frase.

— Eu tenho certeza que você vai conseguir sobreviver a isso – Najenda sorriu triste – Você sempre faz o impossível.

— Obrigada, chefa – Akame fez uma breve reverência.

— Agora, preciso falar com aquele capitão – Najenda sorriu ternamente para ela – Quando tudo isso acabar e você estiver bem de novo, gostaria que você viesse falar comigo. Talvez, ainda não seja bom para você voltar para casa, mas eu vou precisar de um representante de confiança para cuidar das nossas relações com os figurões de Amestris.

— Eles também me odeiam – Akame comentou para si mesmo porque Najenda havia se afastado e não a ouviu.

Mas, antes de Akame voltar para o seu lugar, uma mão segurou firme o seu braço e a impediu de prosseguir.

— O que vocês estavam falando, Akame?

Wave estava com o rosto vermelho e uma expressão determinada no rosto.

— O que vocês estavam falando? – repetiu – Você está... você está morrendo?

Akame o encarou, sem dizer nada.

— Responda, Akame! – insistiu – Que história é essa de maldição?

— Eu acho que você deveria cuidar mais de si mesmo – Akame deu um puxão e libertou seu braço da mão de Wave. Logo em seguida, ela virou as costas e saiu sem olhar para trás.

O tom que Akame usou deixou Wave em dúvida se ela estava apenas dando um conselho ou fazendo uma ameaça. E, em se tratando de Akame, poderia muito bem ser as duas coisas.


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Notas finais do capítulo

Estou cansada demais para comentar alguma coisa.
Até a próxima.



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