A Linhagem Bennet escrita por Wondy


Capítulo 5
Sobre infância e amizades improváveis


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeey!!!!! Estou atrasada, eu sei e sinto muitissimo, mas a escola está puxada e meu tempo curto, mas o importante é que o cap está aqui, novinho em folha!
Entããão, esse cap vai deixar uma pulguinha atrás da orelha de vocês, como eu adoro sempre fazer, hehehehe...
Boa leitura!
Enjoyyyy



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Veneza, 5 de maio de 1937

Ela o fascinava. Sempre quieta, observando tudo à sua volta e documentando tudo em seu caderno de desenhos. Ela era muito talentosa, ele nunca pensara que uma garota tão nova conseguisse desenhar como uma adulta.

Sua mãe não era muito gentil. Não gostava de visitantes e ele ouvia a voz dela brigando com a filha todas as noites. E todas as noites ele observava pela janela do seu quarto a garotinha chorar, a mãozinha pequena apertada contra a própria boca para abafar os soluços, temendo que alguém a ouvisse. Mas, ele ouvia. Não ouvia seus soluços ou suas lágrimas. Ouvia seu sofrimento, ouvia o quanto aquela pequena garotinha sufocava com solidão e dor.

Ela era nova demais para ser tão infeliz.

Naquele dia, ele fez uma promessa: ele iria ajuda-la.

A missão não era fácil. Todas as vezes que ele tentava se aproximar, ela se fechava em uma bolha, fugindo da sua própria existência. Até o dia em que ele a encontrou no jardim. No seu jardim. Ela estava ajoelhada em frente às papoilas vermelhas que sua tia tanto amava. Ela mantinha os olhos fechados, a brisa fazia com que as ondas de seus cabelos platinados dançassem. O caderno do qual ela nunca largava, estava intocado ao seu lado na grama verde.

O garoto avançou um passo, hesitante. Então avançou mais um. Não queria que ela fugisse, então ponderou por alguns segundos se deveria, de fato, falar com ela. Mas, antes que seu debate mental acabasse, se pegou perguntando:

— O que está fazendo?

Ele esperava que ela se assustasse e corresse para casa, ou simplesmente o ignorasse e se afastasse como se ele nunca tivesse se manifestado. Mas ela não fez isso. Ela não mexeu um músculo, não mudou nem um pouco a sua expressão: seus olhos continuaram fechados e a boca continuou imóvel. Ele chegou a se perguntar se ela realmente teria o escutado.

— Ouvindo – disse ela. Ele se assustou ao ouvir a voz dela. Era a primeira vez que a ouvia, mas ele nunca esperava que sua voz fosse tão... profunda.

— O que está ouvindo? – ariscou-se a perguntar.

Um pequeno sorriso se abriu no rosto dela.

— As flores – murmurou ela. – elas estão cantando.

Ele franziu a testa, confuso.

— Acho que as flores não conseguem cantar – disse ele, hesitante.

Ela finalmente olhou para ele, fazendo com que o garoto se surpreendesse novamente ao ver seus olhos. Não era um tom de verde comum, eles pareciam um tanto azulados. Ele nunca havia visto olhos tão bonitos antes.

— É claro que conseguem -  disse ela. – É só ouvir aqui – disse ela, apontando para o próprio peito. Ela o observou por alguns segundos antes de estender a mão. – Venha, posso te mostrar.

Ele olhou para a mão estendida dela, levando apenas alguns segundos para aceitar e se ajoelhar ao lado da garota.

— Feche os olhos – instruiu ela. – e esqueça os sons à sua volta.

— Como vou ouvir as flores se eu esquecer os sons à minha volta? – perguntou ele, arqueando as sobrancelhas com os olhos fechados. Ele ouviu a risada baixa e contida dela e subitamente sentiu vontade de sorrir também.

— Aqui – disse ela, cutucando-o o peito magrelo. – Ouça por aqui.

— Meu coração tem ouvidos? – indagou ele, abrindo os olhos. – Legal!

— É claro que não! – exclamou ela, rindo. – É uma metáfora, stronzo!

— Ah – murmurou ele, decepcionado. – Que pena. Seria legal se meu coração tivesse ouvidos.

Ela ria abertamente agora, sem conseguir se conter.

— Eu nunca ouvi algo tão idiota em toda a minha vida! – disse ela, em meio às risadas.

Ele não se sentiu ofendido como provavelmente se sentiria se outra pessoa tivesse proferido aquelas palavras. Na verdade, ele até riu. Ele bem que iria responde-la, quando um grito o fez se calar:

— Filha!

O rosto da garota foi predominado rapidamente pelo medo, os olhos, que antes brilhavam, de repente pareciam mais acinzentados e sem vida. Ela olhou para trás, encarando a própria mãe que a observava com a expressão dura pela janela da casa. A garota rapidamente se levantou e começou a se dirigir à sua moradia.

— Quando posso ver você de novo? – perguntou ele, fazendo com que ela parasse de caminhar.

A garota apenas o encarou com a expressão em uma mistura de medo e confusão. Ela olhou para a entrada de casa e então voltou a encarar o garoto.

— Desculpe. – disse antes de correr para dentro da casa.

O garoto, confuso, olhou para a porta da casa por alguns segundos, tentando entender as palavras da vizinha. Notou que estava sendo observado, e desviou o olhar para a janela de madeira onde a mãe da sua nova amiga o estudava. Os olhos azuis escuros cheios de ódio, desaparecendo rapidamente atrás das cortinas de seda. Mas, o que ele poderia ter feito para que ela o encarasse com tanto desgosto?

Inconformado, o garotinho olhou para o chão. E foi quando ele percebeu um pequeno caderno, com a capa de couro. Quando o pegou, examinou-o por algum tempo até que encontrou, na parte inferior da contracapa, marcado em dourado, um nome. Ele sorriu, fechando os olhos.

E podia jurar que naquele momento ele havia ouvido as flores cantarem.

*****

Nico di Angelo

Bem, digamos que a noite não foi muito boa.

Após o “incidente” com Aracne, consegui – com muito esforço – fazer com que Hayley percorresse o caminho à beira do Rio Flegetonte. É claro que ela fazia de tudo para evitar olhar para o rio de fogo líquido, além de caminhar o mais longe possível das águas. Algumas pedras despencavam do teto da caverna, caindo ruidosamente nas “águas” (se é que eu posso chamar assim), fazendo com que ela, na maioria das vezes, se agarrasse ao pelo de Art, como se estivesse procurado abrigo. Era estranho vê-la daquele jeito. Sinceramente, eu ás vezes esqueço que Hayley tem vulnerabilidades. Ela é sempre tão forte.

Durante o caminho, ouvimos algumas empousas, então diminuímos o passo, fazendo de tudo para evita-las. Digamos que eu não estava no humor para combater monstros, nem um pouco. Depois de algum tempinho, como era de se esperar, elas notaram a nossa presença e nos atacaram. Mas, antes que algum de nós pudéssemos fazer algo, Art avançou sobre uma delas, transformando-a em pó. As outras duas se distraíram por alguns segundos com a “morte” da amiga, o que fez com que a tarefa de atravessar minha espada pelo estomago de uma delas se tornasse muito fácil. Hayley demorou menos de segundos para partir a outra ao meio com seu chicote.

Bem, pelo menos a luta melhorou um pouquinho o humor dela.

— Era isso o que eu precisava – disse ela, enrolando o chicote envolta do pulso marcado. – Nada como uma boa luta para aumentar o meu ânimo.

Rolei os olhos, mas não falei nada. Hayley me observou.

— Você é realmente incapaz de se divertir, não é? – indagou ela.

Bem, levando em conta o fato de que eu sempre gostava do tempo em que eu fiquei na Resistencia, acredito que sou capaz sim.

— Acho que a sua ideia de diversão é diferente da minha, Bionda -  murmurei.

Ela sorriu, rolando os olhos, descrente.

— É, desculpe – disse ela. -  Eu esqueci que você é um cara antissocial que odeia todo mundo.   

Senti meu rosto se contorcer em uma careta.

— Você sabe que isso não é verdade – peguei-me dizendo.

Hayley apenas desviou o olhar, comprimindo os lábios em uma linha fina.

— É, eu sei – murmurou ela, provavelmente não percebendo que eu conseguia ouvi-la. Lutei contra um sorriso que ameaçou se abrir em meu rosto e continuamos andando em silêncio. 

Depois de alguns segundos, Art começou a latir e apontar com o focinho para uma abertura estreita nas paredes de pedra. Era uma espécie de santuário – Hayley disse alguma coisa sobre as ruínas terem provavelmente afundado durante um terremoto na Grécia, ou algo assim, mas eu, sinceramente, não estava prestando atenção -, e decidimos passar a noite ali.

O ar quente do Tártaro era terrível e fazia com que a nossa pele ficasse com bolhas, obrigando-nos a beber fogo líquido toda hora. Art era o único que não parecia ter efeito colateral algum do clima do Tártaro. Ele, inclusive, parara de rosnar para mim logo depois que eu reduzi Aracne a pó.

 - Eu fico com a primeira vigia – falei à Hayley, lutando contra o cansaço.

Ela me lançou um olhar teimoso.

— Nem pensar – disse ela. – Fogo líquido pode curar ferimentos, não cansaço. Você dorme e eu vigio.

Rolo os olhos. Desde que Dante – o encarregado dos curandeiros da Resistência – disse que se eu não começasse a dormir e a comer mais, eu acabaria tendo sérios problemas de saúde, Hayley, Lindy e Chris não saíam do meu pé.

— Eu estou bem, okay? – falei, mesmo sabendo que precisaria de muito mais para convencê-la. Senti-me suspirar pesadamente sob o olhar de completa descrença de Hayley. – Eu vou tentar falar com alguma alma, sabe? Para informar Hazel sobre o que está por vir.

Hayley abriu uma careta.

— Como você vai fazer isso? – indagou ela. – Estamos aqui embaixo. Ela está lá encima.

Desviei o olhar.

— É só uma coisa que eu consigo fazer – falei, dando de ombros. – Assim como Semideuses podem sonhar com o futuro, ou até com coisas que estão realmente acontecendo, podemos entrar nos sonhos das pessoas também.

Hayley arqueou as sobrancelhas.

— Essa não era a Teoria dos Sonhos do Freddie? – indagou ela.

Rolei os olhos, dando de ombros.

— É, decidi testar.

— Você disse que era ridícula.

— É, mas quis só ter certeza se era tão ridícula como eu pensava.

— Ah, é claro! – exclamou ela, sarcasticamente.

Rolei os olhos, começando a ficar irritado.

— Eu esqueci o quanto você pode ser irritante.  

Ela abriu um sorriso, acariciando o pelo de Art. Passou-se um tempo até que seu sorriso esmoreceu-se.

Hayley mordeu o lábio.

— Você poderia ter me contado, sabe? – disse ela, após alguns segundos em silencio profundo. – Que é um filho de Hades, quero dizer.

Fiquei com medo de você me odiar.

— E você confiaria em mim se eu te contasse? – perguntei retoricamente, soltando uma risada sarcástica.

Hayley, porém, franziu a testa, encarando-me tão profundamente que tive a impressão que ela conseguia ver minha alma.

— É claro que eu confiaria – sussurrou ela, como se não encontrasse sua voz para proferir tal declaração.

Não, não, não. Não faça isso, por favor. 

— Fala sério, Bionda – pedi. – Eu sou o filho do maior inimigo da Resistência. E você está me dizendo que, mesmo sabendo disso, iria confiar em mim e não desconfiar nem um pouco da minha confiança?

— É exatamente o que estou dizendo.

— Mas, você achava que eu era um espião – observei, tentando disfarçar a dor em minhas palavras. – Na verdade, você ainda pensa isso.

Hayley apenas desviou o olhar.

— Bem, eu não teria acreditado se você tivesse me contado que é um filho de Hades. Na verdade, isso foi só mais um fator para me fazer acreditar mais no Freddie e menos em você – comentou ela, passando o dedo distraidamente sobre um cicatriz profunda e saltada do seu braço direito. – Mas, eu não acredito mais nisso.

Graças aos deuses.

— Então, eu meio que acordei a parte racional da sua cabeça? – indaguei sarcasticamente.

Ela rolou os olhos, abrindo um sorriso descrente.

— Você continua usando o sarcasmo para disfarçar as emoções – observou ela.

— Hilária. 

Hayley balança a cabeça, mas não fala nada.

— Bem, acho que me sinto bem melhor agora que eu sei que não vou morrer aqui embaixo com você ainda me odiando – comentei sarcasticamente.

Ela franze a testa.

— Por que você é tão pessimista? – indagou ela. Seu tom de voz não era acusador ou raivoso, mas sim curioso a até um pouco desapontado. Acho que foi por isso que não mudei de assunto.  

Suspirei, girando meu anel.

— Por que quando você é otimista, você cria expectativas e quando essas expectativas desmoronam, você desmorona com elas. – respondi. – Estou cansado de desmoronar. 

Hayley apenas me encara, sem palavras.

— Bem – começo, ficando de pé. -, acho que vou tentar fazer contato com alguma alma. Isso se alguma tiver sobrado no Mundo Inferior.

Hay solta uma risada contida.

— Boa sorte.

Rolo os olhos novamente, dirigindo-me para algum lugar que tenha alguma canalização de energia negativa. Quanto maior a energia negativa, maior é a chance de dar certo. Eu estava checando algumas rochas quando ouvi um bufo atrás de mim.

Virei-me com a espada em punho. Art me olhou com tédio, voltando a andar lentamente como se eu nunca tivesse me mexido.

— O que está fazendo aqui? – indaguei. – Achei que ficaria com Hayley.

Art apenas bufou, lançando-me um olhar de tédio.

Arqueei as sobrancelhas.

— Ela te mandou vir aqui, não é? – perguntei, recebendo um bufo como resposta do qual eu interpretei como um “sim”.  – Ela disse que pode se defender sozinha, não disse?

Art emitiu um rosnado do fundo da garganta, como se suspirasse irritado.

— Típico Bennet.

Ele latiu, concordando.

Suspirei.  

— Vamos lá, então. Você deve ter um sensor de energia negativa muito melhor que o meu.

E ele realmente tinha. Em menos de dez minutos, Art conseguiu achar o lugar perfeito. Em menos de meia hora, já havíamos conseguido contatar o fantasma de um viajante romano que nos contou sobre a Casa de Hades. Voltamos para o santuário e tivemos uma surpresa: estava cheio de comida.

— Como..?

— São oferendas! – exclamou Hayley. – Estudei as ruínas e descobri que esse é um santuário de Hermes. Embora, eu não faça a menor idéia de onde toda essa comida venha...

— Do Acampamento Meio-Sangue – murmurei, observando um pacote de M&Ms que estava em meio à comida. Eu tinha a vaga lembrança de que um dos irmãos Stoll sempre queimava um pacote para o pai. Por mais que fizéssemos isso em todos os jantares, eu nunca havia parado para pensar para onde exatamente aquela comida toda vinha.

Art foi o primeiro a atacar um pedaço gigante de carne. Seu rabo peludo balançava sem parar e seus olhos ficaram num tom de vermelho vivo quando mordeu a carne.

Hayley decidiu pegar apenas um hambúrguer, enquanto eu optei por não comer nada. Não estava com fome.

— Eu fico com a primeira vigia – aviso após um tempo.

— Eu não estou com sono – disse ela, porém seus olhos a traíam.

Arqueei as sobrancelhas.

— É claro que não está – comentei sarcasticamente.

Hayley rolou os olhos, e suspirou, vencida.

— Não tente bancar o herói.

— Isso não faz muito o meu estilo, Bionda.

Hayley sorriu encostando-se à parede do santuário, fechando os olhos logo em seguida. Como sempre, ela caiu no sono tão rápido quanto o vento.

Como sempre, eu não tinha um resquício de sono em meu corpo.

Rolei os olhos, encostando a cabeça contra à parede fria. O Tártaro não estava sendo tão ruim quanto eu pensava que seria. Pelo menos, não como a última vez. Ponderei alguns segundos sobre o assunto quando percebi que estava observando Hayley. Bem, acho que é inegável que a presença dela influenciou muito no fato de que a “jornada” estar sendo muito mais suportável.

Um bufo alto me pescou de meus pensamentos. Eu poderia jurar que Art me encarava com uma expressão divertida. Cães podem ter expressões?

— Está olhando o quê? – indaguei rudemente. – Vá arrumar o que fazer.

Art emitiu um rosnado que mais parecia uma risada.

— O que foi? – perguntei.

Ele olhou diretamente para Hayley e então voltou os olhos vermelhos e curiosos para mim. Suspirei, entendendo o que ele tentava perguntar.

— Bem, basicamente, ela me odeia no momento – respondo.

Art balança a cabeça. Franzo a testa.

— Você acha que não?

Art bufa em concordância.

Dou de ombros.

— Como sempre, eu não tenho idéia se somos amigos ou sabe-se lá o quê – comento, girando o anel de caveira em meu dedo. – É complicado.

Art rosna, dando a impressão de que está rindo.

— Sabe, você não me parece um filhote – comento, observando seu porte de um cavalo adulto. – É muito grande para isso.

Ele me lança um olhar de gratidão. Ouço uma risada e levo um tempo para perceber que ela veio de mim.

— É, eu sei como é ruim te tratarem como se fosse criança quando, na verdade, você está bem longe disso.

Art parece, de alguma forma, tentar franzir a testa.

— É, bem, a história é um pouco longa – falo. – Tecnicamente, eu tenho oitenta e sete anos de idade.

Ele emite um som estranho, como uma espécie de exclamação surpresa.

— E você tem quantos anos? – indago. – Dois? – Art faz uma careta. – Três? – ele bufa animado. – Três anos, então? É, as pessoas esquecem que idade canina é bem diferente da humana, não é?

Art lança um olhar entediado, como se isso acontecesse regularmente.

— Cara – murmuro, abrindo uma careta – Eu estou falando com um cachorro.

Art rosna, como se estivesse ofendido. O encarei por um tempo até que dei de ombros e continuei a falar com o cão infernal. Bem, não teria sido a coisa mais esquisita do meu dia mesmo.

*****

Annabeth Chase

Tudo o que eu queria era uma boa noite de sono após ter lutado contra todas aquelas malditas pedras. Pelo visto, ficaria para a próxima vez.

Era uma espécie de cômodo muito parecido com uma biblioteca. Eu lembrava de ter entrado uma vez, sem querer, na biblioteca de meu tio que mora em Boston, e, tirando as espadas e armaduras decorando as paredes, parecia ser muito parecida com aquela sala. Em volta de uma mesa, estavam Octavian e outros centuriões de alto escalão. Reyna não estava presente. O Mapa de Nova York estava aberto em frente à eles. Um círculo vermelho marcava a localização do Acampamento Meio-Sangue.     

— Se virmos por aqui, as defesas deles... – falava um romano alto de cabelos escuros.

— Nem conhecemos as defesas deles – lamuriou um deles – Será um tiro no escuro. 

Octavian pigarreou.

— É por isso que eu sugeri que capturássemos um dos gregos do Argo II e o interrogássemos.

— Ou seja, torturá-los.— corrigiu o mais velho, repreendedor.

O mais forte cruzou os braços.

— Bem, não será nada mais do que eles merecem após atirar contra o Acampamento Júpiter, Ross – disse ele, rolando os olhos. – Na verdade, é até pouco.

— Estamos aqui sem o consentimento de Reyna, Gregory! – exclamou Ross. – Se ela descobrir o que estamos fazendo...

— Ela não irá descobrir – interrompeu Octavian. – E se descobrir, não terá como nos impedir.

— Como pode ter tanta certeza? – indagou Ross. – Se você acha que o resto dos centuriões passarão para o seu lado, Octavian, sinto em lhe dizer que isso pode não acontecer.

Octavian lançou-o um olhar desconfiado.

— Se não está gostando, então sugiro que saia.

Ross o lançou um olhar ofendido e, levantando o queixo, saiu da biblioteca. Assim que a porta se fechou, Octavian olhou para Gregory.

— Siga-o – mandou ele. – Para termos certeza de que ele não irá direto à Reyna.

— Octavian, ele tem um pouco de razão no que disse – murmurou Gregory. – O que o faz ter tanta certeza de que os romanos irão ir contra Reyna?

Octavian abriu um sorriso macabro.

— O desejo de vingança, meu amigo, pode fazer qualquer coisa.

*****

Hazel Levesque

Faz exatamente duas semanas que Nico e Hayley estão no Tártaro. Eu tento o máximo possível não pensar na possibilidade de que eles possam estar mortos neste momento. Ah, olha só, eu nitidamente estou apenas tentando mesmo, pois não consigo ficar mais de dois minutos sem a idéia passar pela minha cabeça.

Bem, não posso deixar isso me abalar. Preciso ser forte e controlada. Mas, todas as vezes que eu tento eu só consigo me sentir cada vez pior. Pelos deuses, é o meu irmão e a minha melhor amiga que estão lá embaixo!

É incrível como você pode perder alguém que você acabou de recuperar em tão pouco tempo.

Nunca na minha vida eu quis tanto estar enjoada. Pelo menos com o estômago doendo eu paro de pensar naquilo. Olho-me no pequeno espelho da minha cabine. O que Hayley faria nessa situação?  Bem, ela provavelmente levantaria a cabeça e seguiria em frente. Deuses, ela sempre foi tão boa em lidar com as coisas. É como se ela tivesse uma espécie de cofre em sua mente do qual ela trancava tudo que poderia interferir em suas emoções e pensamentos. Como ela conseguia controlar suas emoções tão bem? Lembro-me de sua resposta no dia em que perguntei à ela no Alasca. 

“Como eu consigo controlar as minhas emoções? Eu as ignoro, finjo que não existem.”  Respondeu ela. “Mas, ás vezes isso é tão difícil que apenas uma boa atuação pode disfarçar a guerra travada em sua mente.”

A última parte sempre me parecera sarcástica, mas, nos últimos dias, eu estava começando a duvidar se era uma brincadeira ou não.

Decidida a afastar esses pensamentos, saí para o corredor. Eu estava indo em direção ao refeitório quando uma coisa me chamou a atenção. A porta do antigo dormitório de Hayley estava aberta. Ninguém entrava ali desde que ela se foi.

Aproximei-me, buscando fazer o mínimo de barulho possível. No batente da porta encontrava-se escrito: “Dormitório da Hayley. Dê o fora se não quiser morrer afogado”. Fofo.

 Empurrei fracamente a porta de madeira, fazendo-a abrir-se totalmente com um rangido. Eu nunca havia entrado naquele dormitório antes, mas, por conhecer Hayley, não me surpreendi ao ver que as paredes de madeira do cômodo eram cobertas por desenhos. Alguns eram folhas coladas com fita adesiva, enquanto outros ela desenhara direto na madeira com caneta. Eram, na maioria, flores, mas também haviam muitos rostos.

Logo acima da escrivanhia cheia de papéis, encontravam-se sete desenhos. Cada um retratando um dos semideuses do Argo II. Logo abaixo deles, estavam Reyna e Dakota. Ele era o centurião dela e sempre dizia que havia se arrependido de tal decisão, pois ela não ficava um segundo sequer sem se meter em encrenca. Mas era tudo brincadeira, Hayley sempre foi como uma irmã mais nova para ele.

 Do outro lado do quarto, presos acima da cabeceira da cama desarrumada, tinham tantos desenhos que eu nem conseguia contar. Eu não conhecia nenhum deles. Até que vi um desenho de um garoto magro e ruivo que logo reconheci como sendo Freddie. Logo percebi que eram membros da Resistência. E, no meio de uma série de rostos desconhecidos, eu consegui reconhecer Nico.

Parado à frente da parede, observando todos os rostos, estava Percy.

— É um Nó Infinito – disse ele, sem olhar para trás. Levei alguns segundos para perceber que ele se referia ao símbolo que se encontrava em meio à todos os desenhos. Parecia ser uma espécie de vários quadrados trançados e ligados, de modo que não houvesse de fato um começo ou fim. – No budismo ele representa a relação entre a matéria e o espírito.

— Como sabe disso? – perguntei. Digamos que eu não esteja acostumada com Percy dando uma de inteligente.

Um pequeno sorriso se abriu no rosto do filho de Poseidon.

— Hayley me contou – respondeu ele. – É o símbolo da Resistência, sabe? Ela e Freddie o escolheram pois ele representa a relação tênue entre a matéria e o espírito. Era um lembrete aos resistentes de que eles poderiam até ser espíritos, mas ainda assim não deixavam de ser humanos.  

— Soa como algo que Hayley defenderia – falei, sorrindo.

— Ela passa tanto tempo tentando salvar aos outros que esquece de salvar à si própria – comentou ele. – Eu sei que ela vai conseguir, sabe? Mas, ainda assim, detesto a idéia de ela estar correndo tanto perigo.

— Não se preocupe, ela é forte – falo, porém tenho a impressão de que estão consolando à mim mesma também. – E ela não está sozinha, lembra?

O rosto de Percy se contorce em uma careta.

— Era para eu me sentir melhor com isso? – indaga ele. – Por que é exatamente como eu não me sinto.

Eu ri. Então percebi que era a primeira vez que eu sorria há dias.

— Ela não é uma criança, Percy – observo.

Ele rola os olhos.

— É, eu sei.

— Então pare de trata-la como se fosse uma.

Percy franze a testa.

— É só que... – ele começa, tentando formular as palavras. – Sei lá. Eu não quero perde-la.

— A Hayley sempre será a sua irmã, Percy. Não importa o que aconteça.

Ele estava prestes a responder quando Leo entrou correndo no quarto.

— Reunião no refeitório em cinco minutos – anunciou, ofegante. – Temos novidades.


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Notas finais do capítulo

Entãããão? O que acharam? Ah, tiveram algumas leitoras que pediram um ator para retratar o Chris, mas eu, sinceramente, não achei nenhum. Até que eu fui dar uma fuçada no instagram e vi que uma garota fez um desenho que é exatamente como eu imagino o Chris - é sério, chegou a até me dar medo. Vou deixar o link para quem quiser dar uma olhada:
https://www.instagram.com/p/rDU0L_SEUH/
Até o próximo cap! Beijos da tia Wondy!



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