Sylwia já havia terminado seu trabalho e estava deitada na areia com Dominik. Aproveitei a deixa e me levantei para falar com eles também sobre aquele assunto.

  - Hey, senhorita Demetria? – chamou o professor.

  - Sim? – disse fingindo desentendida.

  - Pode ir voltando que você ainda não terminou de esculpir sua melancia.

  - Ah, mas é rapidinho...

  - Não!

  - Por favor... Por favorzinho...

  - Não, não, não, não! – disse cantarolando.

  - Saco!

  - Como é que é? – perguntou.

  - Tudo bem, eu disse tudo bem!

  - Ah, acho bom... – apertou minha bochecha e empurrou minha melancia para mais perto de mim.

   Depois que terminei tudo, resolvi procurar por Syl e Dom. Eu acabei ficando sozinha na beira da praia terminando aquela melancia enorme. Estava a tarde, iria dar seis horas já. O sol já estava indo embora. Na linha do horizonte do mar, dava para ver o sol se pondo, era lindo.

  - Já terminou? – olhei e era Metheus atrás de mim.

  - Sim! – disse mal humorada.

  - Ainda está bravinha? – perguntou.

  - Sim!

  - Eu gosto de sua companhia... – cruzou os braços e ficou olhando para o mar.

  - Hm...

  - Mocinha difícil de lidar, você né...? – bagunçou meus cabelos.

  - Sou mesmo... – cruzei os braços.

  - Vem, me ajuda a ascender as tochas. – chamou e eu o segui.

   Ele carregava consigo um galão de álcool e fósforos. Eu molhava as tochas e ele ascendia. As colocamos na margem do mar, para que ninguém as ultrapasse e entre no mar a noite. Quando terminamos, ele jogou a caixinha de fósforos na areia e eu fiz o mesmo com o galão de álcool.

  - Vai ficar mal humorada a noite toda? – perguntou.

  - Com você sim!

  - Só porque eu não deixei você sair naquela hora? – perguntou ele indignado.

  - Sim! – fiz beiço.

  - Ah, mas você vai parar de ser teimosa assim, garotinha! – disse ele vindo com tudo em minha direção e me pegando no colo.

  - Hey, o que está fazendo? – perguntei rindo.

  - Está calor não está? – perguntou.

  - Sim, mas... NÃO, NÃO, NÃO! – disse sacando que ele queria me levar pro mar. – Por favor, não faça isso, vai molhar meu tênis... Meu Deus, meu tênis não. Me coloca no chão, por favor.

  - Ah, mas você está muito teimosa para com seu professor... Você merece um castigo...

  - Ai, me desculpa... Por favor.

  - Nana, Nina, Não! – disse ele rindo.

  - Então pelo menos tira meus tênis...

  - Você vai pro mar, de um jeito ou de outro. – disse me colocando no chão e segurando meu braço. Fiquei parada esperando ele se abaixar e tirar meu tênis. Essa seria a minha deixa. – Vai... Pode tirar o tênis. – disse ele ainda segurando meu braço. Droga! Não deu certo.

  - Está bem, mas tenho que me abaixar para desamarrar o cadarço. – então ele se abaixou junto comigo e ficou me olhando desamarrar o tênis. Acho que ele não imagina que eu vá tentar fugir justo agora... Então...

   Empurrei o mesmo que caiu sentado na areia e sai correndo feito uma louca. Quando eu acho que o deixei para trás, sinto meu braço sendo puxado, meu corpo automaticamente vira para trás e meus pés se entrelaçam, fazendo com que eu caísse e o professor caiu bem em cima de mim. Fui uma tola, como pude pensar que uma garotinha como eu poderia correr mais que um homem como Matheus?!

  - Pensou que ia fugir aluninha? – me olhou nos olhos. Nossos rostos estavam muito próximos.

  - Ahn... – antes que eu terminasse, ele se levantou e me pegou no colo novamente e dessa vez, sem mais delongas, correu para o mar, mesmo eu gritando em seu ouvido em protesto.

  Quando estávamos dentro da agua, ele me soltou e molhou todo o meu tênis. O soquei no peito enquanto ele ria. Começamos a jogar agua um no outro. Estar na presença dele era agradável. Então ele chega mais perto e acaricia meu rosto. Estava um breu ali, dava para ver seu rosto mais ou menos por conta das luzes que colocaram lá e por conta das tochas. Podia ver seu meio sorriso se formando. Ele chegou mais perto e tentou me beijar, mas eu virei o rosto, então ele depositou um beijo molhado e carinhoso em minha bochecha.

  - Bom... acho melhor não misturamos as coisas, não é? – ri nasalado. – Vamos sair ou podemos pegar um resfriado. – mudei de assunto e caminhei para fora da agua.

  Já na areia, ele me olhava com um olhar diferente.

  - Me desculpe por isso... – passou as mãos pelos cabelos, bagunçando o mesmo, o que o deixou extremamente sexy.

  - Imagina... Foi no calor do momento... Bom... Só fingir que isso nunca aconteceu.

  - Tudo bem... – disse ele rindo. – Mas só para você saber, eu estou me desculpando apenas por ter molhado seu tênis... – sorriu e caminhou para longe, me deixando sozinha onde daqui alguns minutos, teria uma festa particular.

  Algo me diz que se ele não se arrependeu por ter tentado me beijar, esse não é o fim dessa história. Uma brisa fria que faz os pelos de meus braços molhados se eriçarem me tiram desse devaneio e eu caminho sozinha pela trilha de volta até o acampamento, ouvindo o barulho de pato a cada passo que eu dava por conta dos pés molhados.

  Paro no meio do caminho após ouvir um barulho numa moita. Podia sentir meu coração batendo como um liquidificador. Minha respiração estava ofegante. O medo de aparecer uma assombração era demais para temer algum humano.

  - Matheus? É você? Isso não tem graça... – disse andando devagarzinho olhando em volta. Um outro barulho a uma moita atrás de mim me faz soltar um grito e começar a caminhar de costas, sem tirar o olho de onde veio o barulho.

  Sinto algo, ou alguém atrás de mim e olho num súbito.

  - Ah, seu...! – soco o peito de Justin.

  - Estava te procurando... – disse sério.

  - O que houve? – perguntei temendo ser o assunto de mais cedo entre mim e Victória.

  - Isso!... – me mostrou a tela de seu celular, onde estava uma matéria da internet, era um print que mandaram para ele. – Pode começar a me explicar...

  - Bom, deve ser alguma montagem... – disse tentando contornar a situação.

  - Não minta para mim... Não mais... – pude ver seus olhos marejados.

  - Justin... Eu...

  - Demi, por favor. Eu estou me sentindo deslocado... Todo lugar que eu vou, eles me olham diferente. Parece que eles sabem de algo que eu não sei... Agora eu acho que sinto o que você sentia quando eu fazia aquelas coisas horríveis com você.

  - Justin... Acho que não podemos ter essa conversa agora. Eu estou cansada, molhada... Podemos deixar para depois? Outro dia talvez? – disse recomeçando a andar.

  - Tudo bem... Não precisa me ajudar se não quiser. Eu dou meu jeito. – andou em direção á praia.

  Que droga, o que eu vou dizer sobre aquilo? Era a matéria que saiu da TV do dia do baile. Tem a cara de Justin estampada chorando quando eu sai correndo, também chorando. Como explico isso?! Como dizer: Justin, nós fomos namorados, e depois terminamos por causa de uma aposta que você fez. A cabeça dele iria explodir com tanta informação para quem acabou de perder a memória. Não posso correr o risco de ele quase morrer, não de novo quando eu presenciei o momento em que a máquina parou e eu vi seu corpo subir e descer com o choque para reanima-lo. Acho que não suportaria vê-lo assim novamente.

  Para mim, ver o arrogante Bieber tão frágil e desarmado como agora era estranho. Era como se ele fosse a Demetria bobinha e eu fosse o Justin Bieber...

  Entrei no quarto e as meninas me olharam com cara de espanto.

  - Meu Deus, Demi... O que houve? – perguntou Syl.

  - Matheus... – suspirei. – Aquele infeliz molhou meu tênis!

  - Não só o tênis né? – indagou Victória. – Olha só para você, toda molhada. – disse me entregando uma toalha. – Vai acabar pegando um resfriado.

  Missy e Syl nos olhavam como se tivessem visto o próprio demônio.

  - Opa, opa, opa! – disse Syl batendo palma. – Que porra está acontecendo aqui?

  - Victória? Que caralhos foi isso? – cochichou Missy para Victória.

  - Resolvemos dar uma trégua. – expliquei.

  - Levantamos bandeira branca. – disse Victória.

  - Você tem muito o que me explicar... – indagou Syl me empurrando para o banheiro e fechando a porta. – Anda logo nesse banho!

  Mas que caralho é isso? Todo mundo acha que pode me colocar para tomar banho, como se fosse uma criança! Primeiro Justin, agora Sylwia. Palhaçada!

  Tomei um banho rápido e sai do banheiro, começando a procurar o que eu iria vestir. Não havia mais ninguém no quarto. Coloquei a roupa e comecei a me maquiar. Fiz uma maquiagem mais ou menos forte. Estava com uma calça cintura alta preta e um cropped branco da Adidas. Mas eu estava indo para a praia. Então tirei aquele visual e coloquei um shorts cintura alta e um biquíni de bojo, preto básico. Coloquei uma rasteirinha preta e sai para fora em direção á praia.

    No caminho, Sylwia me aborda e eu explico como eu e Victória resolvemos nos entender. O queixo de Syl caiu, claro, pois é difícil imaginar Sylwia como a boa moça.

   Passamos pela piscina e os amigos de Justin começam a me zoar e ele me olha como se nunca tivesse me visto tão “arrumadinha”. O encarei e continuei andando, com medo de que ele me abordasse novamente.

— Demi, já volto, vou buscar Dominik, tem umas vadias dando em cima dele. – diz Syl transbordando raiva e sai em direção ao outro lado da piscina onde pude ver várias meninas em volta de Dominik.

   Olho para frente e Justin está caminhando lentamente em minha direção. Ele para e me encara.

— O que você quer? – tento parecer forte, mas na verdade temia o que ele quisesse perguntar.

— Por que está com medo? – pergunta suavemente, dando mais passos á frente, me fazendo dar passos para trás.

— Não estou com medo.

— Não é o que parece... Está tensa. – seu olhar era sombrio e de pura ironia. – Do que você tem tanto medo? – perguntou como se soubesse de algo e meu corpo todo gelou.

   Dei um último passo para trás e não sinto mais o chão. Iria cair direto na piscina, mas Justin me segura pela mão e eu fico pendida para trás.

— Solta, Justin. Solta ela. – disse um amigo dele rindo.

— Vai Justin, deixa ela se molhar. – disse o outro.

   Todos seus amigos rindo o encorajando a soltar de minha mão, mas ele continuava a me encarar.

— Por que não a solta Bieber? – perguntou um outro amigo dele.

   Então, o olhar neutro e poderia até dizer “apaixonado” de Justin, torna-se sombrio e peralta. Ele dá um sorriso de canto e me solta, fazendo meu corpo colidir com a água gelada da piscina. Mas ele iria pagar por isso, se iria.

   Começo a me debater na água, como se estivesse me afogando, Justin que ria, me olhou com desespero e sem pensar duas vezes, pulou na piscina. Quando ele ia me pegar no colo, me levanto e fico em pé, numa piscina que batia acima de meu umbigo. Ele me olhou perplexo e dessa vez, foi eu quem ri de sua cara.

— Preocupado comigo, Bieber? – perguntei cruzando os braços.

  Ele dá um sorriso de canto e bagunça seus cabelos molhados, o que o deixou extremamente sexy. Seus amigos ainda riam, mas são tão inúteis, que aposto que nem eles sabem mais do que estão rindo. Sai da piscina e caminhei para a praia molhada mesmo. Uma festa nos espera.