Acampamento Imortal escrita por Vallabh


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem voltou!?
Desculpa o sumiço, aconteceram alguns imprevistos nas ultimas semanas, mas agora já está tudo bem e o nosso trio imortal está de volta!



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— Atenas? Tá de zoação? — questiono incrédula.

— Estou falando cem por cento sério. — responde olhando ao redor. — Já estive aqui vezes o suficiente para reconhece essa paisagem.

— Então você deve saber uma forma de voltarmos para o acampamento, não é mesmo? — Kai pergunta esperançoso.

— Mais ou menos, o celular de vocês tem sinal? — pergunta, puxando o celular do bolso da calça e checando a antena. — Pedir um Uber seria a forma mais fácil para chegarmos ao portal mais próximo.

— É sério isso?

— É claro que sim, vamos, chequem os seus celulares. Durante a queda acabei por caindo em cima do meu, provavelmente vai ser perda total. — Confirma mostrando a tela do celular rachada em vários pontos.

— Sem sinal. — Kai fala, mostrando o seu. Vasculho a mochila procurando o meu e quando olho a resposta é a mesma do meu amigo.

— O meu também, sem antena.

— Ok, então vamos ter de ir pela forma mais difícil. Não sei exatamente onde estamos, então vamos continuar descendo a trilhar até encontrar alguém que possa nos informar como chegar até o bairro de Plaka, é um vilarejo que fica na base da Acrópole. De lá eu consigo nos levar até o portal sozinho.

— Entendi, então é bom começar a andar, pelo visto vai ser uma longa caminhada. — digo e me viro para a trilha, começando a caminhar.           

Estamos caminhando em silêncio já tem algum tempo e o sol já se pôs há algum tempo também. Isso me preocupa muito, pois logo vai acabar o prazo da prova e todo o nosso esforço terá sido em vão.

— Será que ainda vai demorar muito para encontrarmos alguém? — pergunto para o Tobias que caminha um pouco a minha frente.

— Não muito, acho que aquilo deve ser uma casa e tem fumaça subindo pela chaminé, então provavelmente deve ter alguém no local. — fala, apontando para uma pequena construção que deve estar a uns 500 metros de onde estamos, preciso me concentrar muito para poder enxergar. — Por quê?

— Estou preocupada com o tempo para o fim da prova.

— Entendi, mas levando em consideração a diferença de fuso horário, lá ainda deve ser por volta das duas da tarde. — reponde, olhando o relógio do pulso para confirmar.

— É verdade, havia me esquecido desse detalhe. — Voltamos a caminhar em silêncio, mas decido perguntar algo que já vem me incomodando há algum tempo. — Então, qual é o lance entre vocês dois? — Balanço a cabeça na direção do meu amigo que caminha um pouco a nossa frente.

— Como assim?

— Sem essa de se fazer de desentendido, desde a época em que você ainda morava no acampamento vocês já se estranhavam, mas parece que agora essa tensão entre vocês está pior do que nunca. — Ele fica um tempo calado e por fim suspira, passando a mão nos cabelos antes de me responder.

— É complicado... — Ele parece escolher as palavras antes de falar. — No começo era só uma birra infantil, sabe, do tipo “eu sou o filho mais forte de Posseidon”, mas com o passar dos anos isso acabou evoluindo e se tornando uma grande bola de ressentimento acumulado, no fim das contas ele me culpa por algo que não é exatamente minha culpa.

— E o que seria isso?

— Algo que não lhe diz respeito.

— Okay... — Tento me recompor da sua resposta cortante. — Então você é inocente nessa tal história que não me diz respeito?

— Não existe ninguém que seja completamente inocente no nosso mundo, Luna, mas posso dizer que também não sou inteiramente culpado como ele julga.

— E por que você nunca tentou conversar com ele para explicar o seu lado dessa história?

— No começo eu até pensei em fazer isso, mas depois percebi que as coisas seriam bem mais fáceis se continuassem do jeito que estavam. Só que no final o tiro saiu pela culatra. — Ele solta uma risada irônica antes de continuar. — Acabou que deixá-lo nutrir esse rancor por mim durante todos esses anos tornou as coisas mais complicadas do que eu esperava. Isso é tudo que você vai saber por mim, se quiser saber mais vá perguntar pra ele. — Fico surpresa com a capacidade dele de mudar da água pro vinho.

— Ok, ok, não precisa se trancar no seu mundinho particular de novo. — Ele me encara com um olhar nada gentil. — Não me olhe assim, você sabe que eu tenho razão, as coisas fluem muito melhor quando você desarma esses vários escudos anti envolvimento interpessoal. — Ele bufa e balança a cabeça, mas não contesta.

— Acho que aquilo é uma cabana. — Kai fala, se virando para nós e apontando para a estrutura que o próprio Tobias já tinha me mostrado. — Parece que é fumaça subindo pela chaminé.

— Sim, se tudo der certo acho que conseguiremos chegar ao portal antes do dia amanhecer, então chegaremos ao acampamento um pouco antes do fim do prazo da prova. — Tobias explica.

— As nossas pontuações serão péssimas... — digo, refletindo sobre isso.

— Mas pelo menos iremos voltar sãos e salvos, né, mocinha. — Kai fala, se referindo a última prova.

— Elementar, meu caro Watson, elementar.

Ele e o Tobias riem da minha referência a Sherlock Holmes. Vamos caminhando o restante da trilha até a cabana conversando amenidades, por mais que vez ou outras as coisas fiquem tensas entre esses dois, o clima ainda é agradável. A perfeita calmaria antes da tempestade e isso me preocupa um pouco. Quando enfim chegamos ao final da trilha consigo avistar de verdade a casa, é bem simples por fora, as paredes são de madeira escura, tem uma pequena varanda na frente onde fica a porta no centro e uma janela do lado esquerdo, aparentemente não tem energia elétrica, a luz que atravessa a janela parece ser oriunda de fogo.

— Certo, dado o meu péssimo histórico com as provas desse torneio e o perfeito cenário de filme de terror do tipo Pânico na Floresta, qual dos dois homens corajosos vai até lá pedir informações?

— É sério isso? — Kai pergunta, me olhando de forma debochada.

— Seríssimo, rapazinho, eu não entro aí nem fudendo!

— Achei que fosse mais corajosa, Malagueta.

— Isso não vai funcionar comigo, pode me desafiar à vontade. — respondo, olhando para o Tobias.

— Tudo bem, então somos só eu e você. — fala, se virando para o Kai. — Mas sabe, a encrenqueira que eu conheci alguns anos atrás não fugia de uma aventura, não é mesmo, Kaique?

— É verdade, Tobias, inclusive, se bem me lembro, ela até se dizia a pessoa mais corajosa do acampamento.

— Pois é, né, mas as pessoas mudam, já disse que não vou cair nessa. O que os moços estão esperando? Vamos lá, temos uma prova para terminar. — digo, os empurrando em direção a casa.

— Certo, vamos lá, pelo visto os filhos de Posseidon realmente são os melhores. — Tobias fala, caminhando para a casa.

— Concordo plenamente, quem diria que a pessoa que grita coragem aos quatro ventos teria medo de uma casa estranha. — Kai comenta, caminhando ao lado do Sr. Mandão. Eles continuam falando outras provocações e por mais que eu tente me controlar, não consigo.

— Vão se ferrar vocês dois! — reclamo e começo a caminhar em direção a casa, passando entre os dois idiotas e esbarrando nos seus ombros. Eles riem e me acompanham.

Quando chegamos na entrada, Tobias é o primeiro a pisar na varanda, o piso de madeira range com o seu peso. Apesar da fumaça que vimos subir pela chaminé, a casa está bem silenciosa.

— Olá? Tem alguém aí? — Tobias chama, batendo na porta, mas ninguém responde. — A porta tá destrancada. — fala, mexendo na maçaneta.

— Devemos entrar? — pergunto meio em dúvida sobre invadir uma casa desconhecida.

— Pode ser que tenha alguém lá dentro que não conseguiu escutar.

— Não me leve a mal, mas o local não é tão grande assim para que quem esteja lá dentro não consiga escutar alguém aqui fora. — Kai fala. — Mas não custa nada dar uma olhada para ver se encontramos alguém ou algo que seja útil para voltarmos pra casa.

— Vamos lá então.

Tobias abre a porta e entra na frente, eu o sigo e o Kai vem logo atrás de mim. A casa é simples por dentro como é por fora, o piso e as paredes por dentro também são de madeira. A sala é ampla e quase vazia, tem uma lareira do lado direito que está acesa, provavelmente a fumaça que vimos veio dela, uma mesa com um lampião a gás no centro e três cadeiras ao redor, o restante do cômodo está vazio.

— Estão ouvindo isso? — Kai pergunta, tentando se concentrar, faço o mesmo e escuto algo parecido com murmúrios.

— São... — Não termino a frase, pois não consigo decifrar o que é o barulho.

— Parece vozes. — Meu amigo responde.

— Estão vindo dali. — Tobias aponta para uma porta no canto direito da sala, não havia percebido sua existência, pois de onde estou a lareira a escondeu. A luz lá dentro parece mais forte do que na sala.

Kai vai na frente, sendo seguido por Tobias e eu fico por último. Mas ele se assusta com algo que vê e anda para trás, esbarrando no Tobias, que parece paralisado com o que vê.

— O que foi? O que vocês estão vendo? — Tento passar na frente deles para saber o que tem lá dentro, mas sou impedida pelo braço do Tobias que me segura. Quando vou reclamar escuto novamente as vozes, mas dessa vez entendo o que estão falando. — Estão cantando?

— É um verso antigo, temos que sair daqui. — Kai fala, sem desviar o olhar do local ainda.

Tento me concentrar no verso, demoro um tempo para reconhecer e quando isso acontece sinto um arrepio na minha coluna e meu sangue gelar.

Num fio de linha

Amarra-se o que é importante

Num fio de linha

Segure essa ponta bem

Firme nas tuas mãos

Então a história vai começar

Solte essa ponta e veja

A lâmina fria vai brilhar

Então a história vai acabar.

— Moiras... Como... Como elas vieram parar aqui? — pergunto, tentando conter meu pavor.

— Não são elas que estão no lugar errado, somo nós. — Kai diz.

— Eu sei onde estamos, Santuário de Zeus Polieus. Por um momento achei a vegetação muito parecida com a da Acrópole, mas não tinha certeza. — Tobias fala. — Segundo os pergaminhos antigos, a casa das moiras fica em algum lugar entre o templo de Atenas e o santuário de Zeus Polieus.

— Até hoje ninguém tinha conseguido chegar até aqui, pelo menos nenhum mortal. — Kai diz, passando a mão nos cabelos de forma nervosa.

— Que grande sorte a nossa, hein! — agradeço pela minha voz ter saído firme, pois por dentro me sinto apavorada.

As moiras são uma das criaturas mais temidas no nosso mundo. São filhas da titã Nix, os titãs criaram o nosso universo e posteriormente os Deuses, porém reinavam de forma cruel, esse período é conhecido hoje em dia como era de aço e sangue. As Moiras são as deusas que presidem o destino, são tecelãs de fios, responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida de cada um de nós. Cloto, a responsável por fiar, Láquesis, a que tece os fios e Átropos, a que corta os fios. No inicio elas moravam no oráculo de Delfos, mas quando Zeus destronou o titã Urano elas passaram a habitar na Acrópole.

— Vamos embora daqui enquanto elas não se importam com a nossa presença, no momento em que elas passarem a se incomodar conosco não vai ter como sair. — Kai diz, se virando lentamente. — Você já consegue nos levar para o portal, não é mesmo?

— Sim. — Tobias confirma.

Tecnicamente não são criaturas violentas, mas por serem conhecedoras do destino são consideradas extremamente perigosas. São capazes de relevas fatos do passado ou previsões do futuro que levam seus ouvintes a loucura e quando insultadas podem cortar o fio da vida do individuo, acabando com sua vida.

— Certo. — Me viro para caminhar para fora do local, mas de repente elas param de recitar o verso e uma voz nos faz parar.

— Vai embora sem saber a verdade, Leptynis?

— Que merda é essa que elas estão falando? — Sinto um peso no estômago quando escuto essa palavra, Leptynis, em vários dos pesadelos que já tive ao longo dos anos, era assim que eles me chamavam, quando pesquisei seu significado descobri que é “destruidora”.

— Não sei, mas não importa, continue andando. — Tobias fala, me indicando a porta.

— Até quando vai deixar que eles mintam pra você? — A voz dessa vez é diferente da primeira.

— Luna! — Kai chama, mas não consigo olha-lo. As palavras dela ainda ecoam nos meus ouvidos.

— Você não quer saber por que a chamam de Leptynis nas visões? Nunca foram apenas sonhos.

            Sei que irei me arrepender disso depois, mas também sei que não conseguirei seguir em frente com essas dúvidas em minha mente. Respiro fundo e me viro, caminhando para o quarto onde elas estão.

— Luna, não faça isso! — Kai vem atrás de mim.

O ambiente é pequeno, existem vários fios vermelhos ao longo das paredes e três maquinas de tear feitas de madeira no centro. As três moiras estão sentadas de costas para a entrada no cômodo, cada uma em um tear, elas não param de tecer os fios. Seus cabelos são brancos e longos, não consigo ver seus rostos, mas aparentam ser velhas e vestem longos mantos cor de sangue.

— O que você disse sobre os sonhos? — pergunto entrando um pouco mais.

— Onde estava o fio? É naquela parede? — A que está no meio começa a falar, olhando para a parede à sua esquerda, mas suas mãos não param de manusear o tear nem por um segundo. — Ou será que era naquela. — fala olhando para a direita. — Ah já sei, é esse aqui! — diz, parando de movimentar o tear de repente, causando um barulho alto de madeira que me assusta um pouco. — Aqui está, Átropos. — Ela pega um fio tear e o segura para a irmã que está à sua esquerda, ela segura um tesoura de prata brilhante um pouco menor que o meu antebraço e corta o fio, o som das lâminas da tesoura deslizando uma sobre a outra e se chocando contra o fio me causam um frio na espinha desconfortável.

— Muito bem, querida. — Ela solta os fios no chão e se vira pra mim. Tento conter o terror que se alastra pelo meu corpo ao olha-la. Sua pele é pálida, seu olho esquerdo está costurado com fios pretos, a boca parece não ter lábios e suas mãos possuem vários cortes. Ela deve ter quase a mesma altura que eu e possui uma postura curvada. — Cuidar do destino da humanidade não é muito bom para a beleza, não é mesmo? — diz, percebendo o meu olhar chocado. — Não precisa se desculpar. — fala e percebo que realmente estava prestes a me desculpar.

— Ela é bonita, Láquesis? — A que está no primeiro tear pergunta.

— Tão bela quanto a própria morte, querida Cloto. — diz sorrindo. — Por que você não dá uma olhada. — Cloto se vira para me ver e, mesmo tentando me preparar, ainda me assusto com a cena. Ela é praticamente igual a irmã, a única diferença é que seus dois olhos estão costurados. Mas o que realmente me assusta é o fato dela puxar os fios de um dos olhos e abri-lo para me ver.

— Oh, realmente muito bela. — De repente os fios que haviam sido arrancados começam a se costurar sozinhos, deixando os seus dois olhos fechados e a fazendo soltar um resmungo de desgosto.

— Você possui muitas dúvidas, mas só posso lhe dar o prazer de sanar uma. — Láquesis diz, caminhando pelo local e escolhendo fios. — Então escolha com sabedoria, menina, todos esses fios têm respostas para os seus questionamentos, basta toca-los, escolha o que você quer e pegue-o. — termina, erguendo cinco fios na minha frente.                                                                                                                                   

— Luna, nada é de graça e nós não sabemos o preço disso. Não faça isso! — Kai diz tocando meu ombro.

— Você sabe que eu não costumo concordar com ele, mas dessa vez ele tem razão, Malagueta. — Tobias concorda, mas antes que eu possa responder, Átropos se vira para nós. Ela é idêntica as outras duas irmãs, a única diferença é que apenas um dos olhos está costurado e a boca possui lábios, esses últimos que também estão costurados. Ela levanta a tesoura e corta os fios da boca.

— Não interfiram, filhos de Posseidon, seus fios habitam em nossas mãos já tem algum tempo, mas sempre conseguem escapar da minha lâmina. Principalmente o seu, primogênito. — fala, encarando o Tobias, sua voz sai arranhada, como se não fosse usada há muito tempo. — Deixem que ela escolha, o preço será lidar com as verdades que descobrirá.

Observo os cinco fios vermelhos a minha frente e decido pegar qualquer um, então escolho o último. Respiro fundo e o toco. Tudo fica turvo e me sinto sendo arrastada para um limbo, a mesma sensação de viajar nos portais. Quando a “viagem” termina sou arremessada no chão do escritório do Thoth, ele está sentado na sua cadeira, Dionísio está na janela olhando algo lá fora e Apollo e Ártemis estão no sofá. Percebo que eles não conseguem me ver. A porta se abre e o Kai entra.

— Desculpe a demora, tive que deixar a Luna no café.

— Tudo bem, Kaique, sente-se. — Thoth fala apontando a cadeira na frente da sua mesa.

— Aconteceu alguma coisa para vocês marcarem essa reunião assim tão de repente?

— Não aconteceu nada, ainda. — Meu padrinho responde sem olha-lo.

— Tenho certeza que está ciente das tentativas de assassinato pelas quais a Luna está passando, não é mesmo? — Thoth pergunta e o meu amigo apenas assente com a cabeça. Mas que história é essa que eles estão falando... — Tobias tem conseguido defendê-la de todas, mas elas estão se tornando cada vez mais incisivas e tememos que as coisas saiam do controle, então tomamos algumas decisões para por um ponto final de vez nessa história.

— E o que vocês decidiram então?

— Ele chegou. — Dionísio fala e dessa vez se vira para onde os outros estão, nunca vi suas feições tão rígidas como agora. — Vamos esperá-lo, assim contamos para os dois juntos. — Os outros membros do conselho apenas assentem. Algum tempo depois alguém bate na porta e Thoth pede que entre, Tobias entra no cômodo como uma águia a procura da caça, analisando tudo.

— Entre e sente-se, Tobias. — Apollo fala, indicando a cadeira ao lado do Kaique.

— Pode começar. — Tobias fala, se sentando.

— Eu vou ser bem direto, Tobias, alguém está tentando machucar a Luna de todas as formas possíveis, mas isso você já sabe, não é mesmo? — Thoth fala.

— Foram vinte e três tentativas desde que ela começou a sair do acampamento e quatro somente na última semana.

— Hoje pela manhã a Luna deveria ter ido com o Kaique para a faculdade, mas ela se atrasou e deixou para ir com o Dionísio. Mas quem está causando esses atentados não sabia disso, o carro do Kaique foi atacado exclusivamente no lado do passageiro. Se a Luna tivesse no carro ela não teria sobrevivido, as flechas que atingiram o carro estavam envenenadas.

Quanto mais escuto dessa conversa, mais confusa fico. Isso não faz nenhum sentido.

— Vocês não me chamaram até aqui apenas para passar um relatório, fale de uma vez, Thoth.

— Eu quero você longe da Luna.

— O que? Vocês piraram de vez?! Isso é assinar a sentença de morte dela.

— Ela não vai ficar sem proteção, Tobias. — Meu padrinho fala e parece estar irritado com algo.

— E quem vai cuidar dela?

— Adivinha, espertão. — Kaique fala e percebo que Tobias serra os punhos.

— Vocês só podem estar de brincadeira! — Ele se levanta da cadeira, alterado. — Eu sou o guardião dela! EU! Fui eu que aguentei a marca! — Fala apontando para o peito e percebo que é o mesmo local da tatuagem dourada que desenhei no outro dia. Guardião? O que diabos ele quis dizer com isso? Por que eu precisaria de um guarda costas? Pra me defender das brigas com o Peter no acampamento? Isso eu posso fazer muito bem sozinha, se existe algo que pode colocar a minha vida em risco eu deveria saber, não é?

— Vocês são irmãos, cem por cento, dividem exatamente o mesmo sangue. Não temos como saber quem é o verdadeiro guardião dela. — Apollo fala e nesse momento um sentimento que a muito não sentia surge dentro de mim. Irmãos... Eles são irmãos, cem por cento irmãos, Apollo fez questão de frisar isso. Filhos do mesmo pai e da mesma mãe...

— Pelo amor de Zeus! Vocês só podem estar loucos! Nós sabemos que EU sou o verdadeiro guardião! Eu, e somente eu aguentei a marca completa! Ele não suportou nem a primeira marca, não tem como ele ser o guardião! — Tobias continua falando, alterado e apontando pro irmão.

— Você não tem como saber.

— Uma porra que eu não tenho! — Tobias fala, indo pra cima do Kai e o puxando pela camisa até ele ficar em pé.

— Tobias! — Ártemis chama, o fazendo soltar meu amigo.

— Então, qual é o plano agora? Depois de quase vinte anos vocês resolvem mudar tudo?

— Eu quero que você brigue com a Luna, fale alguma coisa para magoá-la, não importa, afaste ela de você o máximo possível. Depois disso o Kaique vai assumir a sua função na proteção dela. — Então foi por isso que ele fez aquilo, era sobre isso que ele falava quando disse que o que estava acontecendo era complicado demais.

— Eu ainda acho isso uma palhaçada, e depois?

— Nós vamos fazer um torneio no acampamento, para todos os semideuses, fora dos limites da barreira de proteção.

— Agora já é suicídio! Vocês vão entregar ela de bandeja para quem quer que seja que queira ela morta.

— Isso vai depender da sua vontade de salvá-la. — Ártemis fala para o Sr. Mandão.

— Enquanto o torneio estiver acontecendo, você vai ficar de longe, averiguando qualquer tipo de ameaça. — Thoth complementa.

— Deixa eu ver se eu entendi. Vocês querem que eu magoe aquela menina que já sofreu mais do que o suficiente na vida e faça ela me odiar, depois eu vou parar de proteger ela e deixar esse projeto de homem tapado cuidar dela e como se já não fosse o suficiente vocês vão entregar ela de bandeja para quem está tentando matá-la no meio de uma floresta enorme e sem nenhum tipo de proteção, e ainda querem que eu consiga rastrear todo tipo de ameaça contra ela e extermine sozinho, na floresta, com centenas de semideuses misturados.

— É mais ou menos essa burrice. — Fala Dionísio, se sentando no sofá ao lado de Apollo.

— Vocês piraram de vez. Quando eu devo começar?

— Amanhã. O torneio será daqui a oito dias.

— E o que acontece depois? — Tobias pergunta e parece exausto.

— Se você falhar ela morre e consequentemente você também, se você conseguir, ela sobrevive e você vai ter a chance de reconquistá-la. — finaliza Thoth.

— Como assim? — Kai questiona. — Você gosta dela? — Ele pergunta surpreso e o Tobias solta uma risada.

— Temos mais coisas em comum do que parece, irmãozinho! — Ele se levanta e começa a ir em direção a porta, mas tudo começa a ficar nublado, os sons vão ficando mais baixos. Sou arrastada da cena e jogada de volta no chão da cabana das Moiras. Sento-me de uma vez, abrindo os olhos, o barulho do tear preenche meus ouvidos.

— Luna! Graças a Deus você voltou! — Kai fala, se aproximando para me abraçar, de repente as lembranças da cena vivida agora a pouco me veem a mente e eu rastejo para trás, desviando do seu abraço. — Luna? O que foi?

— O que você viu? — Tobias pergunta e posso perceber o receio na sua voz.

— Vocês... Vocês são irmãos.

— Mas é claro, Luna, somos filhos de Posseidon. — Kai fala.

— E filhos da mesma mãe, não é mesmo? — pergunto e vejo meu amigo ficar pálido e até mesmo o Tobias parece segurar a respiração. — Esse torneio estupido está acontecendo por minha causa, não é mesmo?

— Não é bem assim, Luna.

— PARE DE NEGAR! EU VI! — grito, ficando de pé. — VOCÊS E O CONSELHO PLANEJANDO TUDO ISSO!

— Eu não estou negando. — Tobias responde, sem se alterar com o meu grito. — Mas preciso que você entenda que o mundo não gira sempre em torno da sua existência. No começo realmente o objetivo era capturar quem estava tentando matá-la. — explica e percebo que ele sabe qual cena eu vi.

— E vocês não pensaram sequer por um momento me contar, afinal eu sou a mais interessada em continuar viva. Ou a minha opinião não importa, já que eu sou apenas uma semideusa imprudente e sem poderes que não tem serventia nenhuma a não ser servir cafés.

— Já chega, Luna! — Kaique fala sério e acabo me calando pelo susto, ele nunca foi de levantar a voz para mim. — Eu entendo que você esteja chateada e com raiva, mas não pense que nós somos os vilões dessa história, por mais que tenhamos a nossa parcela de culpa, somo tão marionetes quanto você nisso tudo. Se quer descontar toda a sua raiva em alguém, espere um pouco mais e a despeje no conselho.

Solte essa ponta e veja, a lâmina fria vai brilhar, então a história vai acabar. — Láquesis volta recitar o verso, ela agora está sentada no seu tear novamente. — Os destinos estão mudando novamente, os fios estão voltando para as minhas mãos e cada vez mais perto da lâmina fria de Cloto.  Principalmente o seu, guardião. — fala e começa a rir, Guardião, foi assim que o Tobias se referiu a si mesmo na lembrança que eu vi. O que ela quis dizer com isso? — Você não pode fugir do seu destino, logo, logo vários fios serão cortados e você será a causadora disso, Leptynis! — Ela fala, se virando e me lançando um sorriso assustador que faz com que eu sinta meu sangue gelar.


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Notas finais do capítulo

Sentiram o impacto?!

XOXO



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