Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 34
Capítulo 34 – Cartas, Areia e Brisa




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Olá, Lily,

tudo bem?

Cheguei à Itália na quinta-feira à noite, três dias atrás. O maior motivo da minha pressa em retornar era encontrar Avezzano ainda em aula (as aulas aqui acabam uma semana depois de Hogwarts). Eu havia escrito para a diretora, Signora Lavorini, pedindo permissão para visitar a escola, e ela deixou. Achei que essa seria forma mais fácil de me explicar para todas minhas amigas de uma vez. Elas me viram chegar à escola em setembro passado, ficar um dia, ir embora de repente e não receberam mais notícias minhas.

O encontro foi como eu esperava. Me receberam com todo carinho e conversamos do mesmo jeito de sempre, como se o tempo nunca tivesse passado.

Por esses dias fiquei em Gênova, na casa dos meus pais. Como sentia falta dessa brisa e do mar. Amanhã vou para Ravenna, para a casa de uma das meninas de Avezzano, Dora, minha melhor amiga aqui desde o primeiro ano.

E como estão todos por aí? Por favor me mande as novidades.

Saudade, Safira.

… … … … … … … … 

Saf,

que bom que chegou aí bem e que tudo correu como esperava. Era o mínimo que merecia depois do que passou no último ano.

Nem precisava pedir por favor para receber notícias, é claro que eu ai mandar, embora, novidades mesmo não tenha muitas. Fora Tiago, todos estão à espera dos resultados dos N.I.E.M.s (Maia e Alice estão particularmente ansiosas). Até que cheguem, vamos aproveitando as férias.

A entrevista de Tiago com o treinador dos Tornados vai ser semana que vem. Ana insiste em dizer que encontrou uma nova dieta “ma-ra-vi-lho-sa”. Quando não damos atenção, ela diz que você costumava ser mais compreensiva com ela do que nós, e que mal pode esperar que você volte para a Inglaterra. Me fala, merecemos isso? E, bom, Sirius não pára de perguntar se tenho notícias suas. Sobre mim, tenho um pouquinho mais de tempo para escrever e para ler. Só um pouquinho porque minha prima de oito anos, Débora, está aqui em casa por uns dias. No próximo fim de semana vamos viajar para o sítio onde moram meus avós.

Acho que por enquanto é só isso.

Um grande abraço, Lílian.

… … … … … … … … 

Frank,

Como vai tudo na Dinamarca? Quantos parentes ainda falta encontrar? Em sua última carta disse que deveriam ser mais um 150… Você reclama, mas tenho certeza de que está gostando de rever todos. Mal posso esperar você voltar, meu amor.

Tirando a falta que você faz, meu maior problema está sendo esperar por esses resultados que não chegam. Eles demoram assim mesmo? E como será que é a Academia de Aurores? … Estou tão ansiosa.

Um beijo, Alice.

… … … … … … … … 

Lice, meu amor,

deviam faltar 1500 parentes em vez de 150. Você está certa, gosto de revê-los, pelo menos aqueles com quem tenho mais contato. Só que com esse aniversário de noventa anos do meu avô estão surgindo primos e brotando tias-avós de todos os lados. É impressionante. Também não vejo a hora de encontrar com você de novo.

Quanto aos resultados dos N.I.E.M.s, sinto informar, sim, eles demoram mesmo.

Hum, preciso terminar a carta. Minha mãe acaba de avisar que mais alguns parentes chegaram. Eu disse que eles estão brotando… Se eu conhecesse metade já estava bom.

Beijo, Frank.

… … … … … … … … 

Maia!

Achei a melhor dieta de todas!!! A partir de agora eu só posso comer quando não tiver ninguém por perto, desse jeito, a comida não tem calorias. Sem provas, não há crime. Mas se for inevitável que alguém veja, eu posso, por exemplo, comer uma barra de chocolate e depois tomar um refrigerante diet para que as calorias do chocolate sejam anuladas pelo refrigarante diet. Não é ótimo?

Ah, sim, se eu receber mais uma carta sua com a sigla N.I.E.M.s, eu jogo na lareira. Está avisada!

Beijinho, Ana.

… … … … … … … … 

Senhorita White,

o que posso fazer se realmente estou preocupada com os resultados? (Eu não usei a sigla! Eu não usei a sigla!). Até porque, você como uma boa amiga devia estar disposta a ouvir.

Mas se é para ser assim, me mande outra carta falando de seus pseudo-regimes pra ver o que acontece! Brincadeira! Porque eu sou uma boa amiga e deixo você falar. Hahaha!

Beijo, Maia.

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Sirius,

tudo bem?

Desculpe a falta de correspondência, mas uma neve repentina impediu Mirra de levantar vôo.

Onde pode haver neve no verão? Nos Alpes. Viajei com quatro amigas para o extremo norte da Itália e ficamos aqui alguns dias. O lugar é belíssimo, realmente de tirar o fôlego com suas montanhas imponentes. Mesmo assim, ainda acho que há algo de mais mágico no mar e na brisa.

Daqui sigo para Novara, cidade natal de minha vó, depois a Carrara, onde vivem alguns amigos meus e de meus pais.

Como estão todos por aí? Sinto falta das dietas de Ana, das anotações constantes de Lily, do bom humor de Maia e de todos os outros. Sinto falta de seus olhos, da sua companhia.

 Quando estava na Inglaterra, sentia falta de quem eu tinha deixado aqui. Agora que estou aqui, sinto falta de quem deixei aí. Não quero dizer que não tenha sido feliz nos dois lugares, e sim, como disse uma vez, que queria poder juntar os dois. Infelizmente não posso.

Estarei esperando sua resposta.

Com amor, Safira.

… … … … … … … … 

Olá, Saf,

por aqui vamos bem, apesar dessa nuvem que está  pairando sobre a cabeça de todo mundo (também conhecida como espera pelos resultados dos N.I.E.M.s).

Parece estar fazendo um tour pelo norte da Itália. Espero que esteja gostando e que esteja conseguindo rever todos que queria.

Não tenho coisas tão interessantes para contar. Saímos um pouco, o que tem sido divertido, mas seria muito melhor se você estivesse junto. Você realmente faz falta.

Um detalhe particularmente interessante das férias é não ter o despertador de Remo, ou ele próprio, me acordando de manhã. Ou ter de aguentar a manhã de segunda-feira inteira naquelas masmorras úmidas e cheias de fuligem por causa do fogo para os caldeirões. Como você e Lily podem gostar tanto de Poções eu nunca vou entender.

Tiago está aqui ao lado e manda lembranças. Ele está de saída para encontrar com Lílian.

Já mencionei que você faz falta?

Não esqueci sua carta:

Don't look back when you reach the new shore
Don't forget what you're leaving me for
Don't forget when you're missing me so

 (Não olhe para trás quando chegar à nova praia
Não esqueça porque você está me deixando
Não esqueça quando sentir muita falta de mim)

Com amor, Sirius.

… … … … … … … … 

—Ela está na cozinha. – Lice ouviu a mãe dizer

Logo em seguida, entrou Frank e encontrou a namorada colocando um bolo no forno.

—Frank! – fez ela fechando a porta do forno – Como foi na Dinamarca?

—Nem me fale. – disse ele fechando os olhos

—Não pode ter sido tão ruim assim. – ela tirou o avental colocando-o sobre uma cadeira e se aproximando dele

—Lice, eu tenho dezoito anos de idade e pelo menos metade das minhas ditas tias-avós apertou minha bochecha com frases do tipo: “Como o tempo passou! Dá última vez que o vi era só um bebê” e outras do gênero.

A moça soltou uma risada gostosa.

A cena foi interrompida pelo barulho de dois pares de asas logo antes de duas corujas-das-torres pousarem no parapeito da janela. Só podia ser uma coisa… Lice ficou paralisada.

—Você não estava ansiosa pelos resultados? – Frank perguntou

—Estava… Agora não sei mais se quero ver…

Ele balançou a cabeça e a puxou pela mão para perto da janela. Os dois pegaram suas cartas e as corujas voaram.

Lice abriu seu envelope quase tremendo. Percorreu o pergaminho com os olhos o mais rápido possível e conteve um sorriso. Seu rosto ainda era de expectativa.

—Então? – ela perguntou

—Você primeiro.

—Eu consegui as notas. – disse com um sorriso nervoso

—Eu também. – disse ele feliz

Lice abriu um enorme sorriso e se jogou nos braços dele. Frank a abraçou levantando-a do chão.

—Nós vamos para a Academia!

… … … … … … … … 

Um pouco depois, a alguns quilômetros dali, a campainha tocava no sobrado dos Evans. Matheus atendeu a porta.

—Boa tarde, senhor Evans. A Lily está?

—Boa tarde, Tiago, entre. Ela está no jardim. É só atravessar o corredor. – ele indicou

O rapaz agradeceu e seguiu para lá. Lílian podava as roseiras da mãe.

—Lily? – ele chamou

—Tiago! – disse ela deixando a tesoura de poda de lado e tirando as luvas

—Recebeu os resultados? – ele se aproximou

—Recebi.

—E?

—Consegui boas notas. – ela falou levantando o ombro – Agora preciso mandar os currículos.

—Boas notas? – ele levantou as sobrancelhas em leve ironia – Quantas matérias você fez mesmo?

—Cinco.

—E deve ter conseguido uns três “ótimos”. – disse no mesmo tom

—Foi…

—E as outras duas notas provavelmente foram “excede as expectativas”.

—Foram…

—E você chama isso só de “boas notas”?

—Não são?

—Lily, são notas excelentes. Parabéns. – falou ele antes de beijá-la

—E os seus N.I.E.M.s?

—Iguais as seus.

Lílian sorriu.

—Eu quase me esqueci! – fez ela – Foi a sua terceira entrevista nos Tornados. Como foi?

—Ah, sim, isso. – disse ele num tom corriqueiro – Eu acabo de ser contratado

—Parabéns! – disse ela abraçando-o forte, e soltando-o acrescentou – Acho que vou ter de me acostumar com você me dando sustos com aqueles mergulhos horríveis…

Tiago riu pelo nariz e a beijou de novo.

… … … … … … … … 

Olá, Safira querida!

Como vão as coisas por aí? Já conseguiu rever todos que queria?

Seu pai e eu estamos bem. Ele anda com bastante trabalho no Ministério e manda um beijo.

Também queremos parabenizar pelos ótimos N.I.E.M.s. Sua conquista é ainda maior depois do que passou esse ano. Estamos muito orgulhosos.

Sabemos que está em um momento difícil tendo de decidir o que fazer agora que os resultados chegaram. Sabe que se precisar de qualquer coisa é só nos chamar, e que é livre para fazer sua escolha. Seja qual for sua decisão, tem nosso apoio.

Seu pai insiste em dizer que tinha certeza de que você gostaria mais da praia do que das montanhas. Fala que você é impressionantemente parecida com seu avô, bem mais do que ele que é filho. Quanto a mim, sempre vou encontrar algo de fascinante na visão daqueles picos nevados.

Beijos cheios de saudade, Mama.

… … … … … … … … 

Olá, Aluado!

Como foi a última lua cheia? Com certeza não foi tão divertida quanto em Hogwarts.

Almofadinhas está aqui em casa para o almoço de domingo e também manda oi.

Deixa que eu mesmo faço isso: oi, Aluado, tudo bem?

Sai, Almofadinhas. Já falei que a carta é minha.

Já falei que a carta era sua.

Voltando. E o que vai fazer da vida agora?

No mínimo, continuar estudando. Já sabe das novidades, lobinho? Nosso amigo Pontas aqui acaba de ser contratado para o time reserva dos Tornados.

Obrigada, Almofadinhas. Era para eu ter dado a notícia.

De nada. Poupei seu trabalho.

Ah, mas temos uma outra novidade: nunca vi nosso caro amigo Almofadinhas tão apaixonado. Não tem uma vez que encontro com ele que ele não fala de Saf ou me perturba para perguntar para a Lily se ela tem novas notícias. Já viu isso, Aluado?

Eu não falo dela toda vez.

Sim, você fala.

Não vou discutir com você.

Ótimo. Mande sinais de vida, Aluado. Aliás, você tem notícias do Rabicho?

Abraço, Pontas.

Saudações, Almofadinhas.

… … … … … … … … 

Caros Pontas e Almofadinhas,

mais uma vez me poupei o trabalho de escrever uma carta para cada um. E não me digam que vocês apostaram corrida de novo para ver quem amarrava a carta na pata de Delfos. Pobre coruja. E isso porque Almofadinhas nem mora mais na fazenda.

Parabéns pela contratação, Pontas! Você deve estar muito feliz. E imagino que Lily já deve estar preocupada…

Sim, Almofadinhas, você acertou. Pretendo continuar estudando, mas para isso preciso encontrar um emprego.

Sobre Rabicho, ele me disse que ia visitar a avó no País de Gales.

Agora, Pontas, quanto ao nosso caro amigo Almofadinhas, estou vendo isso desde Hogwarts. Ou você já esqueceu da cena dele andando de um lado para o outro no dormitório no dia que ele convenceu Saf a ir para Hogsmeade? E ela nem ia sair com ele.

Mande lembranças a seus pais, Pontas.

Abraço, Aluado.

… … … … … … … … 

Olá, Lily!

Não tenho muito mais a contar por enquanto. Mandei currículos a estou à espera das respostas. Pelo que me disse, acho que sua situação é a mesma.

Fico feliz por Tiago. Mande meus cumprimentos a ele.

Terminei de visitar todos que tinha em mente e voltei para minha casa em Gênova. Moro mais ao sul da cidade, em uma área mais residencial. Perto há uma praia menor do que as turísticas e bem mais calma também. Tenho caminhado lá à beira-mar todos os fins de tarde. É uma sensação maravilhosa. Você provavelmente saberia colocar em palavras, mas eu não sei realmente descrever.

Saudade, Saf.

… … … … … … … … 

Cerca de duas semanas depois, quase dois meses desde o fim das aulas, Safira fazia seu passeio na pequena praia do litoral de Gênova.

O céu azul era pontilhado de nuvens brancas. O sol estava abaixando no horizonte, embora ainda estivesse claro. Ela observava o mar calmo, ondas baixas… Voltou a caminhar à beira-mar.

Suas sandálias brancas vinham penduradas na mão, e ela usada um vestido leve que descia até o meio da perna com pequenas e delicadas flores azuis. Seu cabelo castanho estava solto. A parta da frente esvoaçava com a brisa.

Tinha acabado de receber uma resposta…

Parou de andar de novo. A água veio, e ela sentiu a areia se desfazer sob seus pés.

A moça foi em direção ao campo de Quadribol e subiu na arquibancada da Grifinória. Uma vez lá em cima, ao chegarem à beirada do muro, começou a soprar um vento que fez os cabelos deles esvoaçarem.

 Safira fechou os olhos se deliciando e respirou como há tempo não fazia. Certamente não era a mesma coisa… mas lembrava a brisa da praia perto de Avezzano batendo em seu rosto…

—Ah, como eu quero voltar para a Itália… - ela suspirou

Sirius sentiu um peso no estômago. Ela iria embora…

—Achei… que gostasse de Hogwarts… - ele falou hesitante

—Eu gosto.

No horizonte ele via apenas água… água que parecia não ter fim. Dobrou as barras da calça para evitar que molhassem e começou a andar na divisa da areia com o mar.

Olhava o tamanho daquela praia. Por mais que fosse menor do que as praias turísticas, ainda assim parecia grande. Especialmente quando se queira encontrar alguém…

Será que ela já tinha passado por ali hoje…? Será que ainda ia passar…?

Sirius olhou para trás e viu suas pegadas tão facilmente apagadas pelo mar.

Safira não tinha a beleza de uma boneca de porcelana como Lílian, ou a de uma princesa fugida de contos de fada como Alice. Não tinha a elegância natural de Maia, nem o rosto absolutamente sorridente e brincalhão de Ana.

Mas quem reparasse, veria como era bonita. Não o tipo de pessoa que chama atenção por onde passa. Era uma beleza mais discreta, contudo, nem por isso menor. Tinha uma aparência delicada e ao mesmo tempo forte. Parecia uma pessoa determinada, apesar do sorriso nervoso que dirigia ao lugar à sua volta.

Não era alta, nem baixa, tinha um pescoço elegantemente longo. A pela clara contrastava com o cabelo castanho escuro. Os fios eram pesados, quase escorridos e chegavam ao meio das costas. A parte da frente era ligeiramente repicada da altura da orelha até a ponta, emoldurando graciosamente seu rosto.

Apenas quando ela o olhou diretamente, Sirius notou seus olhos. Pareciam-lhe ter uma expressão indefinida, um misto de curiosidade, coragem, simpatia e reserva. Eram de um azul bem escuro, como um mar profundo…

O vento se tornara mais forte, todo o seu cabelo dançava no ar. Uma onda mais forte molhou a barra de seu vestido. Saf deu um passo para dentro do mar e fechou os olhos se deliciando com o vento. Ficou ali parada por um tempo indeterminado…

Take the wave now and know that you're free
Turn your back the land, face the sea
Face the wind now, so wild and so strong

(Siga a onda e saiba que está livre
Dê as costas para a terra, encare o mar
Encare o vento agora, tão selvagem e tão forte)

Qual era a chance de conseguir encontrá-la ali? Seria tão mais fácil se simplesmente aquela moça mais a frente com os pés no mar fosse ela… Bem poderia, o cabelo era idêntico… era idêntico. O jeito de apreciar a brisa era idêntico…tinha de ser.

When the sun sets the water on fire
When the wind swells the sails of your hire
Let the call of the bird on the wind
Calm your sadness and loneliness

(Quando o sol atear fogo na água
Quando o vento encher as velas do seu barco
Deixe o convite do pássaro no vento
Acalmar sua tristeza e solidão)

Pelo canto dos olhos, Safira viu um movimento em sua direção e virou-se para olhar. Isso deixou o vento contra ela, o que fazia seu cabelo entrar na sua boca e em seus olhos dificultando sua visão. Com algum trabalho segurou seu cabelo para trás. Quando a pessoa se aproximou um pouco mais...

—Sirius? – Disse para si mesma com as sobrancelhas cerradas.

Deu alguns passos para tentar enxergar melhor. Será que seus olhos viam certo?

A expressão de seu rosto passou de dúvida para espanto. Quando conseguiu processar a informação, abriu um sorriso e saiu ao encontro dele com passos rápidos até correr.

Se abraçaram e Sirius a girou no ar.

—O que… - ela começou quando ele a soltou

—Não… - ele encostou a mão na boca dela – Não vim pra te fazer perguntas. Eu só… queria te ver. – disse passando a mão pelos cabelos dela

Saf sorriu com os lábios contraídos.

—Como me encontrou? – ela perguntou suave

—Pela última carta que mandou para Lily.

Ela abaixou os olhos um segundo.

—Ficou bravo quando eu não apareci na Sorveteria Florean?

—Bravo? Não. Triste. – ele respondeu – Queria ter tido a chance de me despedir de você.

Saf abaixou as sobrancelhas.

—Me desculpe. Não pensei dessa forma…

—Eu sei. Entendi com sua carta.

Ela abriu a boca duas vezes até conseguir perguntar:

—Por que não me avisou que viria?

—Não queria correr o risco de você de dizer para não vir.

A moça sorriu sem mostrar os dentes mais uma vez.

—Eu mal consigo acreditar que está aqui. – disse com a voz baixa

O que Safira sentia nem ela sabia ao certo. Uma mistura de espanto, surpresa, alegria e algo mais. Seu coração havia disparado ao reconhecê-lo e continuava acelerado. Ver Sirius ali na praia de Gênova estava além do que ela podia imaginar… Seus sentimentos por ele continuavam exatamente os mesmos. Tudo isso transparecia por seus olhos…

Sirius se aproximou dela.

—O que eu daria para decifrar os seus olhos…

Ela sorriu mais uma vez.

—Senti sua falta. – disse com a mão no rosto dele

O rapaz abaixou a cabeça encostando a testa na dela. A respiração de Saf já estava completamente fora de ritmo quando ele a beijou…

—De acordo com a sua carta, - disse ele próximo ao rosto dela – você deveria cantar pra mim…

A moça demonstrou não ter entendido, e ele citou o trecho:

—“Eu cantarei pra você, se você prometer me enviar uma canção.” Eu enviei…

Ela desviou os olhos pensando. Em seguida chegou perto do ouvido dele e cantou:

—I walk by the shore and I hear
Hear your song come so faint and so clear
And I catch it, a breath on the wind
And I smile and I sing you a song

(Eu ando pela praia e escuto
Escuto sua canção vir tão suave e tão clara
E eu a pego, uma respiração no vento
E eu sorrio e canto uma canção pra você.)

Seus olhos se encontraram.

—Caminharia comigo? – ela convidou

—Claro que sim. – ele respondeu beijando sua mão

Andavam de mãos dadas à beira-mar…

—Me fale da sua família. – ele pediu – Afinal, é inglesa ou italiana?

—Por parte da minha mãe são todos ingleses; por parte do meu pai, não. Quando meu avô era jovem, gostava de viajar. Em uma dessas viagens, se encantou com a Itália. Conheceu minha avó na segunda vez que veio para cá, em Novara.

—Sua avó era italiana?

—Era. Se casaram e foram morar na Inglaterra. Meu pai nasceu lá e aprendeu italiano com meus avós. Quando meu pai ainda estudava, meu avô era um dos Conselheiros de Hogwarts. Foi na época em que uma Câmara Secreta foi aberta, algo assim.

—Já ouvi falar disso.

—Parece que alguém foi acusado, mas Dumbledore e meu avô acreditavam na inocência dessa pessoa.

—Quem era?

—Não sei, ele nunca me disse o nome.

—E o que aconteceu com essa pessoa?

—Também não sei ao certo, parece que conseguiram abrandar a punição. Bom, depois meu pai se tornou diplomata e foi transferido para cá. O resto da história você já sabe. – ela concluiu

—Já. Seu pai voltou para a Inglaterra por causa da Votação, e você e sua mãe por medidas de segurança.

—É.

—Já descobriram como as pessoas que atacaram Hogsmeade sabiam que você estava em Hogwarts?

—Perguntei isso a Dumbledore pouco antes de sairmos da escola. Pelos interrogatórios que fizeram, Hogsmeade ir ser atacada de qualquer jeito naquele dia, para chamar atenção, fazer barulho. Só que fui vista saindo do castelo, e o ataque se tornou ainda mais interessante.

—Então originalmente não tinha a ver com você?

—Não… - ela respirou – Mas conta, como estão todos na Inglaterra?

—Acho que não deu tempo de a carta da Lily chegar. Parece que todos receberam respostas essa semana. Alice e Frank entraram na Academia de Aurores. Ana conseguiu um estágio no Profeta Diário, Maia vai para a Escócia trabalhar em uma revista de lá. Lily agora é auxiliar de enfermagem do Saint Mungus e vai continuar estudando para se formar Enfermeira. Quem mais…? Remo ainda está procurando emprego para continuar a estudar Defesa Contra as Artes das Trevas, e Pedro não conseguiu N.I.E.M.s tão bons, também está procurando emprego.

—E você? – ela perguntou

—Fui contratado pelo Gringotes três dias atrás. Começo semana que vem.

—Que bom que as coisas estão dando certo.

Pararam de andar e ficaram de frente um para o outro. A brisa soprava leve. Saf ficou por instantes observando o rosto dele.

—Pergunte o que quer perguntar. – disse ela suave

—Não vim para fazer perguntas.

—Não, não veio. Mas quer fazer uma.

—Não, não quero. – ele continuou a negar

—Seus olhos já estão perguntando…

Sirius desviou o rosto para o lado. Com delicadeza, Saf o fez olhar para ela de novo. Ficou na ponta dos pés e o beijou. Ainda muito perto dele, disse com a voz baixa:

—Vou voltar para a Inglaterra.

—Vai só nos visitar, ou…

—Não. – ela o interrompeu – Vou para morar.

Ele sorriu com os olhos.

—Tem certeza?

—Tinha quase, mas agora eu tenho. – ela respondeu – Recebi uma proposta de trabalho de um Centro de Referência associado ao Saint Mungus. É um centro de pesquisa de Poções. – explicou – Além disso, tenho meus pais lá… E ainda tem você de brinde. – disse levantando ligeiramente os ombros

Sirius abriu um sorriso largo e a ergueu no ar mais uma vez fazendo-a rir.

—E fez tudo que tinha para fazer aqui? – ele perguntou

Safira demorou um pouco a responder.

—Fiz. – disse com algum peso – Aqui me sobraram amigos, que posso visitar assim que passar no exame de aparatação. – ela rolou os olhos para cima, e com um tom mais triste continuou – Me sobraram também muitas lembranças… que vão estar comigo em qualquer lugar que eu estiver.

—Vai sentir falta dessa brisa?

—Sem dúvida. Ela me traz uma sensação de liberdade. – disse com os olhos brilhando e sorriu – Ah, sim, acho que devia a você algo mais do que uma música, não era?

—O quê? – perguntou ele sem lembrar

—Acho que era um bolo de chocolate.

—Hum, é verdade, você ainda me deve isso. – disse com falso tom sério

—Bom, não é o dos elfos de Hogwarts, mas tem uma confeitaria maravilhosa a uns três quarteirões daqui…

—Está me convidando para sair? – perguntou ele estreitando os olhos

—Está aceitando? – disse ela com um meio sorriso

—É um convite irrecusável. – Sirius beijou sua mão

Safira abriu o sorriso, e aproximaram os rostos…

A brisa soprou forte novamente…


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Notas finais do capítulo

N/A – Olá, pessoas!
Gostei muito de escrever esse capítulo, juntou, mesmo que só citando, muita coisa do começo da fic. E aí, o que acharam?

“Moro mais ao sul da cidade, em uma área mais residencial. Perto há uma praia menor do que as turísticas e bem mais calma também.” – Total licença poética. Nem sei também como são as praias de Gênova.

Tenho uma outra história dos Marotos sendo publicada, Diva. Apareçam lá quando puderem.

Beijos e obrigada por lerem até aqui.
Até a próxima!
Palas



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