Projeto Alex - Livro I - Cidade de Metal escrita por Projeto Alex


Capítulo 13
Fragmento


Notas iniciais do capítulo

Inatingível é o que sou,
Impetuoso e irrefutável.
Mas com estes olhos profundos me analisou
Sutilmente, revelando o que ha em mim vulnerável.
Seu toque me traspassou.
Um rosto molhado? Inadmissível!
Nem consigo ver o que sua presença causou.



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Afastando Bennett de cima do seu corpo, Alexander apoiou-se sobre os cotovelos, levantando-se devagar. Estranhamente, seus músculos e ossos não pareciam querer obedecê-lo, travando-se e quase lhe impedindo a movimentação.

—Por favor, senhor Alex, você não está em condições de se mexer! —A jovem governanta tentou mantê-lo imóvel a fim de evitar complicações pois, embora se tratasse de Alex, sobreviver sem grandes danos a uma queda violenta como essa, ainda era uma façanha impressionante! —Eu quero que o senhor Alex fique deitado. Eu vou telefonar para o doutor Sabeena! Ele mora nesta montanha, não deve demorar a chegar...

—Tisc! —O garoto segurou o olho direito com a palma da mão, contrariado. —"Alex, Alex, Alex!" Eu não entendo porque você insiste em me chamar assim. Eu odeio pessoas idiotas que não sabem o seu lugar... Ssss! Isso me dá dor de cabeça! —Dito isto, ele desenrolou o corpo erguendo-o com força e obrigando-o a obedecê-lo, ignorando assim, o apelo da empregada.

—Como pode não estár sentindo dor? —Elizabeth sussurrou para sí mesma, olhando-o se erguer aparentemente tão fácil, não percebendo que o seu mestre estava na realidade...

...A agonia vinha em ondas. Primeiro sutis, em pontadas, como que o lembrando levemente da asneira de ter provocado isso. Hill, cambaleante, iniciou alguns passos, deixando para trás, na calçada, uma poça de sangue, e sua serva ajoelhada sobre ela. Mas a medida que andava, a adrenalina em suas veias começava a se estabilizar, revelando para ele mesmo, gradativamente, os danos massivos causados pela sua pequena demonstração de estupidez.

—Precisamos de um médico! Você exagerou dessa vez

—GRRRRR! —O rapaz escorou o ombro em uma das colunas gêmeas de mármore, a entrada da mansão, segurando a testa escondida sob a juba, tentando encontrar algum equilíbrio para aplacar a tontura. Estava doendo brutalmente. Era lacerante, crescente, como não sentira a anos. Riu. —O que está acontecendo com meu corpo? —Ele arfava buscando o ar e um zumbido se instalava nos ouvidos. —Estou... Quebrando! —Admitiu ao sentir perder o controle sobre os membros por conta da dor excruciante, a qual ia revelando-se multiplicada a cada segundo.

—Por favor Alexander, me permita ajudá-lo! —Ela instou com o jovem, levantando-se e indo até ele, com o cuidado de quem tenta se aproximar de um animal acuado e ferido.

 —Eu não preciso da sua ajuda. Não há nada em você que me interesse! —Disse com dificuldade, pausadamente, agarrando-se ainda mais na coluna, dando as costas a moça.

Olhando para seu mestre, a jovem estremeceu ao observar uma massa coagulada, grudada em seus cabelos. Rapidamente, ela se apressou para examiná-lo, temendo algo realmente sério. —Nada disso importa agora! Olhe para você! Você bateu a cabeça, não foi? MESTRE ALEXANDER! —Ela tocou-lhe para auxiliá-lo. —Naquela hora, o senhor desmaiou, não foi? POR FAVOR, ME RESPONDA! —Questionava, tentando mirar nos olhos evasivos do loiro.

 —MULHER ENXERIDA, EU APENAS REINICIEI¹! NÃO FOI NADA DEMAIS! —Hill lançou o braço repelindo-a de imediato, a fim de afastá-la para longe, mas nem isso era capaz de fazer naquele momento. A moça esquivou-se facilmente.

Quando ela ficou tão rápida? Não... sou eu? Eu estou lento!

—Mestre Hill, o senhor está...!

—Você não entende, não é? —Hill sua frio enquanto a luz de seus olhos se apaga. Para ele, era inadmissível que outra pessoa, ainda mais uma mulher, o visse assim. —EU SOU UM HOMEM! Você não consegue entender, não é? —Desferiu voltando-se para a garota, largando o apoio em que estava.

Claro que ela não entendia o que ele queria dizer com aquilo, mas não foi para entendê-lo que ela havia sido mandada para lá. —Eu vou cuidar de você mestre Alex, mesmo contra a sua vontade.

—Tisc! Garota intrometida... —Hill perdeu a força nas pernas, e fechado os olhos, pendeu o corpo para frente de súbito, arriando os braços sobre a garota, a qual o acolheu prontamente.

Não era um abraço. Alexander perdera a consciência, despencando sobre ela e afogando-se nos braços da jovem Bennett, pousando no colo acolhedor da governanta.

—ALEX! MESTRE ALEX! —Alexander mal podia ouvir Elizabeth o chamando preocupada. O som da voz dela parecia cada vez mais fraco e distante, até sumir completamente na escuridão.

Elizabeth o deitou no chão, sobre o tapete, cuidadosa, com o intuito de analisar a situação em que se encontrava. Abaixou-se sobre ele, examinando-o. Puxou delicadamente as pálpebras, notando que as alvas orbes não se moviam e além disso, mal podia sentir a respiração do garoto. —Desmaiou! Ah, não, isso está perigoso! Vamos Alex, você precisa acordar!

Mas visto que Hill não dava sinais de resposta ela debruçou-se sobre ele, e encostando os ouvidos sobre o peito do jovem, percebeu uma irregularidade nas batidas e também, uma saliência suspeita sob o casaco escuro. Rapidamente, ela desabotoou a roupa e ao afastar um pouco o tecido, precisou tapar a boca para abafar um guincho involuntário o qual tentava escapar-lhe da garganta.

Eis que as costelas de Alex estavam expostas, perfurando-lhe a carne e também a camisa branca que usava por baixo. Não tinha como saber até onde haviam ido as lacerações ou que órgãos foram perfurados e o rapaz já estava ficando azul! Só havia uma certeza: Não ia dar tempo chamar ninguém.

Sem pensar duas vezes, Elizabeth arregaçou a gola da camisa de Alex, arrancando-lhe os botões. Logo, pôs a mão por dentro de seu uniforme e retirou de entre os seios um objeto reluzente, de forma cilíndrica. Bennett, o levou a boca, arrancando a tampa e então, ajeitando o pescoço do garoto, aplicou-o diretamente na jugular. Através de três pequenas agulhas de vidro, o líquido roxo adentrou na circulação de tal forma que era possível ver ele se espalhando pelas veias, por baixo da pele quase translúcida.

Tsssss

—Por favor, diga alguma coisa, se mova, qualquer coisa! —A garota pôs as mão a frente de seus lábios, entrelaçando os dedos.

Para sua felicidade, Alex começou a mexer a ponta dos dedos e sua respiração bem como seus batimentos, se regularizavam. A governanta sorriu, suspirando aliviada. Sentiu vontade de se deitar ali mesmo, ao lado de Hill. Teve de agir tão rápido, nem mesmo ela sabia se estaria preparada para uma situação como aquela e agora que passou, a cabeça lhe pesava. Sorriu novamente.

Olhando para Alex, aparentemente fora de perigo, acariciou-lhe suavemente a face, agora voltando a cor natural. —Por favor fique aqui e por favor... não me odeie quando acordar.

Levantando-se rapidamente, foi até o escritório de Alexander. O quarto ainda em ruínas denunciava a confusão que se desenrolara ali. A jovem se perguntava como as coisas chegaram a esse ponto. Ela segurava o coração buscando se manter firme. Infelizmente havia permitido que as coisas fugissem do controle e cabia a ela restaurar tudo ao seu estado original.

Ela entrou no cômodo com cautela. Havia vidro quebrado espalhado por todo lugar. Entre as coisas que o rapaz arremessou em seu acesso de fúria, estava um belíssimo abajur de porcelana, mandado como presente, por sua avó. A jovem, juntou o objeto do chão, julgando ainda estar inteiro. Porém ao virá-lo, notou que estava mesmo quebrado, sem chance de concerto. Suspirou. Então, desviando dos cacos quebrados, simplesmente soltou-o na lixeira ao pé da escrivaninha.

Tomando o aparelho de madeira envernizado de azul, e apoiando-se sobre a mesa buscou coragem para fazer a discagem. —Vovó Ellen... a senhora disse que seria difícil, mas eu não imaginei que seria tanto! Talvez... talvez se eu tivesse prestado mais atenção, logo a senhora que serviu diretamente a antiga mestra... —Bennett cobre olhos com a manga da vestimenta.

Você é uma gaiola!

—Não! Não é hora pra isso! —Bennett levantou a cabeça, decidida, ao passo que microscópicas pérolas de suor desprendem-se do seu rosto, brilhando, refletindo a luz natural que invadia os aposentos através da janela estilhaçada. Assim, a empregada girou os discos do telefone com a ponta dos dedos: —Esteja em casa, Doutor Sabeena! Por favor, pegue o telefone... —Dizia baixinho, enquanto ouvia o som da chamada.

Nisso uma voz masculina, porém terna, nunca ouvida por Elizabeth, atendeu a ligação:

—Pronto, pode falar.

—Doutor Sabeena, Eu sou Elizabeth Bennett, a encarregada do mestre Hill. É o mestre Alexander! Precisamos do senhor imediatamente. E eu acho que... —A moça suspirou um pouco nervosa. —Acho que fiz algo ruim.

[...]

Fogo. Hill se via no meio de um indomável incêndio, devorando tudo ao seu redor. A montanha inteira queimava. Todo o domínio da sua família. À frente, um turbilhão de chamas tomava conta da mansão, a qual parecia diferente, muito maior do que é atualmente.

Alexander abriu os olhos, sentindo como estivesse se movendo. Ao olhar para cima percebeu que alguém o carregava: uma pessoa de manto negro que tocava-lhe os cabelos ralos, pronunciava palavras as quais até então eram incompreensíveis para ele e que só agora pudera entender. Numa voz amável e familiar, ela lhe falava:

—Eu não vou deixar ninguém te machucar... Meu amor. —A pessoa pronuncia cara palavra serenamente. Fixando os orbes nos seus.

Ela puxou o capuz, para trás, exibindo a cabeleira curta, permitindo que Hill reconhecesse também os olhos de serpente e a maquiagem escura.

Mamãe? O que aconteceu com você? O que está acontecendo com a nossa casa? Mãe! Por que você não me responde?

Mas ela não o ouvia.

Então a mulher desapareceu, deixando o bebê sozinho, afundando na escuridão, o qual implorava para não ser deixado por ela. Mas o bebê também foi embora. Ele cresceu, tornou-se adulto, contudo, permaneceu ali, abandonado no escuro.

De súbito, mechas de cabelo castanho formaram-se da fumaça, rodeando o rapaz, Alex. As madeixas cumpridas pareciam tentáculos, envolvendo-o e o puxando para um vendaval de flamas onduladas e sufocantes. De dentro da floresta de fios, dois buracos vazios lhe absorviam...

[...]

Finalmente Alexander, num susto, acordou do transe. Estava em seu leito, no fim do corredor. Sua roupa havia sido trocada e seu dorso estava quase que completamente enfaixado. Ele se mexeu um pouco sobre os lençóis de veludo, e pôde sentir os pontos repuxando, por baixo das ataduras. Contudo não estava doendo muito, pelo menos, não fisicamente. —O que você está fazendo? —Alex falou com a voz de quem não conseguiu despertar por completo.

Elizabeth estava sentada alí com ele, a jovem forneceu seu colo como travesseiro, tomando conta dele. —Eu sinto muito senhor Alex. Eu sei que você não queria, mas chamei o doutor Sabeena. Sabia que ele dirige uma Harley Davidson² antiga? —Ela colocou o cabelo para trás da orelha.

—É. Ele gosta de se mostrar. —Hill olhou para o lado, um pouco enciumado. Espere... enciumado? —Mas é meu médico desde que eu me entendo por gente.

—Alex. —Ela chamou a atenção do rapaz. —O doutor Sabeena te dopou e te remendou. Você estava em estado crítico. Com a queda do telhado, as costelas perfuraram seu abdome, você perdeu muito sangue e quase... —Ela hesitou, balançando o rosto. —Foi muito perigoso, mesmo para o senhor.

—Eu entendo... Ssss! Minha cabeça está tão pesada, Bennett! Sua voz é suave, mas fale um pouco mais baixo. —No entanto, Alex parou por um momento, tomando consciência de que alguém havia trocado a sua roupa sem ele saber. Ficou corado só de pensar. Apesar dele gostar de deixar a loira sem jeito, ele ainda tinha seu pudor. —Você está aqui a muito tempo, Bennett? —Disse, cobrindo a boca com as costas da mão para que a garota não visse o quanto ficara vermelho, ou mesmo para impedi-la ler seu pensamento constrangedor.

—Eu sinto muito, mestre. Eu só fiquei pra ver se estava tudo bem, agora que você acordou, eu já posso ir embora. —Ela sorriu docemente, ajeitando-se para se levantar. —Vai ser complicado de explicar tudo isso para o senhor Backer e para o Nathan também, que gosta tanto de você. Eu só gostaria que o senhor não me desse mais sustos assim...

Antes que a jovem pudesse sair, Hill a segurou pelo pulso com firmeza, porém de forma delicada. —Não. Por favor, Elizabeth, fique aqui. Eu... não quero ficar sozinho.


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Notas finais do capítulo

¹reiniciar: termo referente a máquinas como computadores e celulares andróids, quando o sistema encerra todos os processos em execução e liga novamente, restaurando as configurações iniciais ou a estabilidade do sistema. O mesmo que resetar.

²Harley Davidson: Elizabeth se refere a linha de motocicletas desta empresa americana fundada em 1903, que é a mais tradicional e uma das maiores fabricantes de motocicletas do mundo na atualidade.

Sinto por ter demorado tanto. Eu não estava muito bem. Espero que eu não esteja exagerando muito em arrebentar o personagem principal tantas vezes. Mas me falem aí, tá?



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