Era hoje. Eu finalmente tomei coragem para confessar de uma vez por todas, meu amor por Naruto-kun.

Eu respirava com dificuldade enquanto caminhava até o Ichikaru. Sabia que ele estaria lá. Como covarde que sou no entanto, fui desacelerando o passo conforme chegava mais perto do meu destino.

Seria agora a hora em que eu finalmente me expressaria como deveria. Não esconderia mais, não voltaria com minha palavra, nem diria com meias palavras com margem para interpretação.  Eu diria clara e diretamente: Naruto-kun, eu amo você.

Corei com as simples palavras sussurradas ao vento. Não queria nem imaginar como eu ficaria quando as dissesse olhando em seus olhos azuis tão vivos quanto o céu desta tarde.

Havia ensaiado por horas em casa antes de sair para procurá-lo. Hanabi me ajudou a tomar coragem. Ela me disse que o pior que podia acontecer era eu levar um não.

Eu ri.

Mas agradeci o apoio dela. O que ela e ninguém entendia era que eu não suportaria uma rejeição de Naruto, simplesmente porque eu o amava verdadeiramente havia muito tempo. Desde que o conhecera fiquei cativa por aquele sorriso que parecia tão quente quanto o sol. Eu o amava desde o primeiro olhar, nem precisei usar meu Byakugan para saber que ele era lindo por dentro. Eu sabia. Eu sentia. Naruto era a pessoa mais maravilhosa que eu conhecia e agora ele também era herói da vila, do mundo.   

Era de conhecimento geral que agora ele era admirado e reconhecido por todos. Um sonho antigo dele e eu não poderia estar mais orgulhosa por ele ser quem ele é, por ter realizado parte daquilo que ele sempre quis. E se eu tivesse sorte, estaria para sempre ao seu lado para festejar junto dele os próximos momentos felizes. Tinha certeza que ele se tornaria um grande Hokage um dia.

E claro, esperava que minha declaração fosse correspondida e que chegasse a tempo, antes que outra garota fizesse o mesmo. Naruto estava muito famoso então chovia meninas interesseiras, o que confesso, me deixava um pouco... enciumada.

É isso. Cheguei!

Olhei para a placa do Ichikaru e reconheci a silhueta de Naruto de costas. Eu o reconheceria em qualquer lugar, de qualquer jeito. Suspirei alto e senti-me corar. Por Kami, como eu conseguiria me declarar se só de vê-lo de costas ficava desse jeito?! Respirei fundo e dei o primeiro passo, entretanto, algo me deteve.

A pior visão que eu poderia ter esse momento. Na verdade, em qualquer momento.

Sakura-chan estava sentada ao seu lado – o que era normal visto que eram parceiros há muito anos, - entretanto, vi quando ela se debruçou para perto dele, a boca muito próxima a seu ouvido. Então Naruto se virou para ela e ela o beijou. Nos lábios. E ele correspondeu.

Senti meu coração partir ao meu e minha coragem apagar como um foguinho minúsculo dentro do peito.

Como eu pude ser tão idiota a ponto de achar que Naruto um dia me notaria... que me aceitaria como sua... namorada, esposa, amante ou o que fosse quando quem ele sempre quisera era a rosada. Forte e determinada, além de linda, Sakura-chan era sim a mulher ideal para um herói. Não uma kunoichi fraca como eu. Não uma mulher sem graça e inútil como eu.

Sem que pudesse conter, as lágrimas jorravam aos montes como cachoeiras infinitas. Sempre ouvi que os olhos eram o espelho da alma. Pois bem, eu estava submersa em desgraça, à deriva no meu próprio sofrimento e como era masoquista demais fiquei vendo eles se beijarem por mais uns segundos antes de finalmente me mover para longe daquela cena pavorosa que findava com todos os meus sonhos de amor de menina.

Fui para longe. Bem longe. Onde ninguém me encontraria tão cedo. Atrás da montanha onde os rostos de todos os kages foram esculpidos havia uma clareira de girassóis. Eu costumava ir até lá quando queria ficar só. Aquele lugar me trazia paz. No entanto, nem aquele lugar hoje tirava de mim aquela dor. Eu chorei tanto. Chorei tudo e mesmo assim, queria chorar mais. Eu precisava chorar todo o meu fracasso como pessoa. De repente, tudo o que deu errado em minha vida me assolou de uma só vez. A morte de minha mãe, a minha fraqueza em não me tornar líder sucessora de meu clã e passando assim o bastão para minha irmã mais nova, a decepção do meu pai, o fato de ele ter praticamente me vendido para que Kurenai-sensei ficasse comigo, como seu eu fosse um fardo muito pesado a ser carregado, e por fim, Naruto.

— Ahhhhh! – eu dei um grito de dor tão alto que Konoha inteira deve ter ouvido. Soquei a terra sob meus pés repetidas vezes, sem me importar com a dor em minhas mãos. O sangue jorrava, mas eu continuava. Eu era uma imprestável, uma inútil e minha vida não valia de nada.

Por que eu tinha de ser assim? Por que...?

Larguei-me no chão, em meio aos girassóis e olhei a imensidão azul acima de mim. Como um grande olho de Naruto me vendo onde quer que eu estivesse. Aquilo me fez chorar mais. Eu sabia que não importava quando tempo passasse, nem com quem ele ficasse, eu continuaria o amando até o fim dos meus dias.

E eu me odiava por aquilo.

Fechei os olhos e desejei morrer naquele momento. Um raio, um bicho qualquer, até mesmo um inimigo. Eu só queria não existir mais, eu só queria... que aquela dor parasse.

E como num passe de mágica, a dor atenuou, suavizou quase como se fosse uma pequena cicatriz somente. Abri os olhos, confusa pela sensação repentina, no entanto, foi o pior.

Eu estava alucinando.

Um Naruto preocupado me olhava de cima, ajoelhado ao meu lado.

— Hi... Hinata-chan, você está bem?

Fechei os olhos. Kami! Aquilo não podia ser real. Não podia. De repente, minha loucura era tanta que minha alucinação falava comigo. Optei por ignorar, quem sabe ia embora.

— Hinata – ele disse simplesmente e naquele momento eu soube que não era ilusão porcaria nenhuma. Era muito pior. Era ele próprio.

Sentei-me num rompante. Toda suja de terra, descabelada e apostava, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Humilhante. Não dava para ser pior.

— Hinata – ele disse mais uma vez, fazendo menção de me tocar para ver se eu estava bem, mas eu o afastei.

— Não encoste em mim – minha voz foi ríspida e vi surpresa misturado com outra coisa passar em seus olhos. Mágoa talvez?

— O que aconteceu, Hinata? – Ele insistiu. Os olhos dele estavam límpidos, sinceros. A preocupação era genuína e eu... droga! Eu não resistiria a ele se continuasse a encará-lo tão de perto. Tinha certeza que já estava toda corada porque eu simplesmente era uma idiota, mas a raiva, o ciúme que eu sentia dentro de mim, amargava minhas palavras.

— Como se você se importasse – soltei de repente – só me deixa sozinha, Naruto – eu disse.

Ele me olhou como se eu fosse um e.t ou algo do tipo. Ele tentou se aproximar de mim mais uma vez, mas eu não deixei.

— Já disse para não encostar em mim, Naruto.

De novo. Ele me olhou daquele jeito e percebi que ele estava magoado.

— Hinata... eu.

— Você deve ir embora. Vim aqui para ficar so-zi-nha. Estou muito bem assim. Obrigada.

— Hinata... você não é assim – ele parecia procurar por palavras – que bicho te mordeu?

Desviei meu olhar dele. Cínico. Que ódio! De repente, estourei.

— Sério que você não faz nem ideia, Naruto?

Ele arregalou ainda mais os olhos. Completamente aflito por não entender do que eu falava e alheio aos meus sentimentos. Ele de fato, não sabia de nada.

Ai... que baka!

— Quer saber, Naruto. Esquece! Deixa para lá. E já que você não vai embora. Eu vou.

Levantei-me rapidamente, mas ele se levantou comigo. A cara dele expressava exatamente o que ele sentia, confusão.

— Hinata, por Kami, me diz o que está acontecendo.

— Para quê, Naruto?

— Para eu entender porque você está tão estranha e me tratando assim. Você nem me chamou como costuma me chamar... Naruto-kun. Apenas me chamou de Naruto – disse isso me encarando com aqueles olhos de gato pidão.

Ai... Kami... por que ele tinha de ser tão fofo? Puta merda!

Desviei meu olhar do dele e olhei para o chão. Ele acompanhou meu movimento e só então ele notou os machucados na minha mão.

— Hinata! – Ele tomou minhas mãos nas suas sem meu consentimento – O que aconteceu com suas mãos? Por que elas estão assim, machucadas? E rapidamente, usando seu poder, ele as curou.

Respirei fundo tentando recobrar o controle. A sensação da mão dele na minha... Kami, eu iria pirar! O calor dele emanando para mim em ondas era tortura demais saber que eu não teria aquilo e sim Sakura. Pensar nisso, me fez puxar as mãos com força.

— E por que você se importa? – Eu perguntei empinando o queixo, o desafiando e sem que pudesse controlar, estava chorando de novo.

— Hinata...

Droga! Por que ele tinha que dizer meu nome tantas vezes para me hipnotizar?

— Hinata, eu me preocupo com você, tebayo! Você é uma cidadã da Folha e também é uma amiga.

Ai, cara! Aquilo doeu.

Olhei bem dentro dos seus olhos, esperando muito que ele entendesse a profundidade do que eu sentia naquele momento, porque eu não falaria mais nada.

Não sei se ele entendeu, talvez sim, porque vi quando os olhos deles ficaram marejados.

— Adeus, Naruto – virei-me de costas para ele.

— A-Adeus? Como assim adeus, Hinata?

— Eu estou indo.

— Para onde?

— Não sei. Para qualquer lugar longe de você.

Ele pareceu ter sido fisicamente ferido com aquelas palavras.

— O que eu te fiz, Hinata? Por favor, me diz para eu poder reparar porque... porque de todas as pessoas da vila, você foi a única que nunca me tratou assim, dessa maneira.

Sem olhar para trás, Hinata disse simplesmente:

— Acho que você devia se preocupar mais com sua namoradinha Sakura, afinal, ela é tudo que te importa realmente e parte de tudo o que você sempre quis. Eu espero que vocês sejam muito felizes, de verdade. E eu espero que você realize seus sonhos, Naruto-kun.

Mesmo de costas, Hinata pôde ver uma lágrima silenciosa escorrer do olho esquerdo de Naruto.

— Apesar de tudo, eu sempre vou me lembrar de você, Naruto-kun – Hinata continuou e enfatizou o “kun” – do seu sorriso fácil, da sua força, especialmente da sua força de vontade que foi o que te trouxe até aqui e a isso sou grata, você não só salvou o mundo como me fez achar que eu era capaz de alguma coisa, ainda que não fosse verdade... foi bom sonhar um pouco. Obrigada por isso.

Sem dar tempo para ele responder, pulei sobre as árvores indo direto para minha casa. Entrei escondida, pelo telhado, não queria ter de dar explicações para ninguém do porquê estar chorando.

Por sorte, Naruto não me seguiu. Mas também... por que ele o faria? Além de ter deixado claro que queria ficar sozinha e que ele deveria se preocupar com a namorada Sakura, eu não era importante para ele. Talvez se eu fosse Sasuke-kun ele viria atrás de mim. Ri com o pensamento. Naruto não desistia nunca daqueles que ele amava.

De fato, não tinha porque ele vir atrás de mim agora.