Todas que Amou escrita por Eves


Capítulo 1
Da primeira à última


Notas iniciais do capítulo

Então, na minha opinião, a gente não ama apenas uma vez (se tratando de relacionamento amoroso). Podemos amar de formas diferentes pessoas diferentes. Por isso, acho um pouco infantil discutir ship. Scorose, Scorily ou qualquer outro. Nada impede o Scorpius de ter amado várias. Logo, espero de verdade, que gostem dessa one, mesmo que não seja o seu ship preferido no final.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/692154/chapter/1

Scorpius teve quatro namoradas ao longo dos anos em Hogwarts.

Não que isso significasse que ele tenha beijado apenas quatro bocas ao longo dos sete anos em que residiu no castelo. Afinal, ele por muito tempo ele foi conhecido por sua longa lista de conquistas.

Mas, de todas elas, apenas quatro garotas ficaram marcadas na sua história. As quatro que mudaram o seu ponto de vista, bagunçaram a sua vida e lhe ensinaram coisas das quais jamais se esqueceu.

E, o próprio Scorpius admitiria, cada uma delas ele amou de uma forma diferente.

.

Estava ainda no seu terceiro ano quando começou a despertar interesse no sexo oposto. Até aquele momento da sua vida seu mundo se resumia apenas a quadribol. Falava sobre quadribol com seu único amigo, pensava em quadribol, assistia a todas as partidas e lia apenas coisas relacionadas a quadribol. Queria, mais do que qualquer outra coisa no mundo, estar entre os melhores jogadores da sua geração.

Mas, naquele ano, quando finalmente seria aprovado no time da Sonserina, ele encontrou algo para dividir os seus pensamentos.

Toda segunda-feira de manhã a aula de transfiguração era partilhada entre sonserinos e lufanos. Apesar de toda a campanha de boa vizinhança, de que nenhuma casa era melhor do que outra e de que todos deveriam viver em harmonia, os sonserinos ainda preservavam uma pequena arrogância e ar de superioridade, — embora houvesse algumas exceções — para com as outras casas, nutrida ao longo dos séculos.

E para eles nada era menos animador do que ter que dividir horário duplo com os lufanos bobos e sem graça.

Scorpius sempre se sentava junto com Albus no fundo da sala. Não porque não quisesse ser visto, mas porque geralmente os lugares da frente eram reservados aos perdedores que sempre queriam puxar o saco dos professores. Do seu lugar, ele podia ver a todos sem que ninguém o visse e gostava muito daquela posição. Geralmente, não estava interessado nos seus colegas e nem mesmo na professora, mas por algum motivo, em algum momento, passou a perceber a presença dela.

Ela chegava cedo e sempre estava lá na segunda fileira quando ele entrava na sala. Com seu sorriso gentil e bem humorado, suas duas tranças douradas e seu olhar tímido. Ela não chamava atenção. Nunca chamou. Era discreta e quase ninguém a notava.

Mas Scorpius a notou.

Notou como as bochechas dela ficavam vermelhinhas quando estava envergonhada. Como seu riso era sincero e baixo quando algum amigo dizia algo engraçado. Como ela era bondosa e ajudava as outras pessoas.

Scorpius gostava quando ela erguia a mão, meio acanhada, e pedia, tão baixo que de onde ele estava, na última cadeira, quase não podia ouvi-la, para que a professora explicasse as instruções mais uma vez porque não havia entendido e, desse modo, salvava o restante da turma que também não havia entendido, mas ninguém teve coragem de dizer em voz alta.

E ele não conseguia entender porque prestava atenção nela.

Aparentemente, ela não era interessante. E, ainda assim, ele se interessava.

Até que um dia, no meio da aula, quando todos estavam concentrados nas suas lições, um quadrado pequeno de pergaminho deslizou para sua mesa. Imaginou que fosse algum colega da sonserina com alguma piadinha suja a respeito de alguém até desdobrar o bilhete e se deparar com a curta e simples frase "Por que você me olha tanto?".

Ele sabia que era ela, mesmo que não houvesse assinatura. Surpreso pela pergunta direta e envergonhado por ter sido descoberto, ele apenas ignorou, imaginando que assim pudesse escapar da vergonhosa verdade: ele olhava para a lufana boba e sem graça.

E a partir daquele dia Scorpius tentou disfarçar, mas ela parecia saber sempre quando ele, por acaso, olhava na sua direção e virava o rosto, capturando o seu olhar. Às vezes ela sorria e Scorpius, sem saber o que fazer, desviava o olhar porque tinha medo que alguém descobrisse tudo.

Numa manhã estava saindo das estufas após uma péssima aula de herbologia quando a viu caminhando sozinha a beira do lago. Ela quase sempre estava sozinha.

Scorpius sentiu-se mal.

Ela parecia uma garota boa que deveria estar sempre rodeada de amigos.

Todos já estava a meio caminho do castelo e logo ninguém mais estaria ali para vê-lo indo em direção a ela.

— Alicia. — ela se apresentou, com um sorriso, assim de forma simples, sem dizer o sobrenome como se não se importasse.

— Scorpius. — ele respondeu, indeciso entre dizer o seu sobrenome de que tanto se orgulhava ou não. Depois de um segundo, simplesmente deu de ombros.

E Scorpius logo percebeu que ela era simples e que ele também poderia ser simples perto dela.

Era fácil conversar com Alicia porque ela sabia ser uma boa ouvinte. Ela falava sobre qualquer assunto e não parecia aborrecida ou entediada como as outras garotas quando ele passava longas horas falando sobre quadribol.

E, em um final de tarde, quando estavam em frente ao lago vendo o sol começar a ficar alaranjado, ele deu o seu primeiro beijo. Rápido e sem jeito. Ambos inexperientes. Mesmo assim, inesquecível.

Mas, apesar de gostar dela e desejar a companhia dela, todos os seus encontros foram longe das vistas das pessoas.

A essa altura ele já havia conquistado uma reputação em meio aos sonserinos. Conseguiu superar o preconceito que sofreu no início por causa do nome da sua família e até alguns alunos mais velhos já o respeitavam. Não vivia rodeado de amigos porque simplesmente não queria ter mais nenhum amigo de verdade além de Albus. Mas todos já o conheciam e ele gostava bastante daquele início de popularidade.

E Scorpius não queria que todos soubessem que ele, o Malfoy, estava namorando uma lufana desconhecida. Naquela época era muito importante para ele manter as aparências.

Por isso nunca revelou a ninguém, nem mesmo ao seu melhor amigo, sobre os seus passeios até a parte mais afastada do lago para ficar com Alicia ou dos únicos três beijos que trocou com ela. Ninguém nunca ficou sabendo daquelas duas semanas em que ele era apenas ele. Um garoto sem sobrenome.

Mas quando, em uma tarde qualquer, Alicia perguntou porque ele não contava aos seus amigos sobre ela ou porque ele sempre a evitava nos corredores, Scorpius disse a verdade. Jamais conseguiria mentir para olhos amendoados tão inocentes e sinceros. E ela entendeu a razão dele, sempre compreensiva e gentil, mas disse que eles não poderiam mais se ver.

E Scorpius sabia que era o melhor a se fazer. Que se queria manter a sua imagem em ascensão não devia ser visto com alguém tão pouco importante quanto Alicia que nem mesmo sobrenome tinha. Que não podia apresentar ela aos seus amigos sonserinos. Que ela só atrapalharia. Mas, mesmo que soubesse, não foi fácil vê-la virar-lhe as costas e ir embora sem olhar para trás.

Pela primeira vez ele desejou ser apenas um pouquinho como os lufanos e não se importar com o que as outras pessoas pensavam dele.

E, nas aulas de segunda-feira, ela não virou mais o rosto.

—_______________________________

Apesar de todas as inúmeras garotas que Scorpius beijou após Alicia, ele só voltou a se envolver de verdade com outra no seu quinto ano.

Emeraude Zabini. Uma sonserina dos pés a cabeça, de alma e coração. Dois anos mais velha que Scorpius e tudo aquilo que um rapaz como ele poderia desejar.

Não se parecia em nada com a menina inocente e doce que Scorpius havia se apaixonado dois anos antes. Emeraude era gostosa. Tinha pernas longas e torneadas que exibia com minissaias provocantes. Usava um decote tão aberto que parecia um abismo. Seu batom vermelho era enlouquecedor.

Emie era sedutora, bonita e sagaz. Sabia muito bem o que queria, como queria e quando queria. Ela usava todos os artifícios que estivesse a sua disposição para alcançar aquilo que desejava. E, naquele ano, para a sua sorte, ela desejava Scorpius.

Sutileza ou discrição nunca foi o forte da garota. No meio de uma festa que a Sonserina havia organizado após uma vitória contra a Grifinória, a garota simplesmente abriu caminho no meio da multidão e o beijou na frente de todos. Um beijo quente e feroz, quase obsceno. Scorpius se sentia extasiado em meio a gritaria como se não coubesse mais dentro do seu próprio corpo.

Caralho, ele estava beijando Emeraude Zabini!

Poderia desejar algo melhor do que aquilo? No mesmo dia vencer a Grifinória e beijar a garota mais gostosa de Hogwarts? Era uma sorte dupla.

E, para completar o seu ciclo de sorte, naquela mesma noite Scorpius deixou de ser virgem.

Ainda era inexperiente, mas ela o ensinou como dar e obter prazer. Eles praticaram bastante e em pouco tempo Scorpius aprendeu tudo o que se tinha para aprender — a tocar nos lugares certos, a beijar do jeito certo, a usar a língua e as mãos da maneira certa.

Eles não se resumiram apenas a cama. Emie era ousada. Um dia ela o chupou no banheiro masculino no intervalo entre uma aula e outra, em outro eles transaram em um armário de vassouras após um treino. Emie adorava se arriscar e Scorpius percebeu que o prazer era ainda maior.

Em pouco tempo ele já a adorava. Emie era uma criatura perfeita. A pele morena, o cabelo longo e escuro, o olhar felino, a inteligência. Era louco por ela. Mesmo quando Albus disse que ela era cínica e manipuladora. Mesmo quando o amigo disse que ela não gostava dele e só estava interessada na sua recém adquirida popularidade. Ele não queria ouvir. Achava que o amigo estava com inveja. Afinal, ele era Scorpius Malfoy, era o melhor artilheiro da Sonserina, o garoto mais desejado pelas garotas e namorava a própria encarnação de Afrodite.

Scorpius gostava da sua vida e não queria mudar. Ele adorava o sexo e gostava de desfilar pelos corredores ao lado da garota mais gostosa daquele castelo. Mas, assim como Emie se cansou do seu antigo namorado e voltou sua atenção para Scorpius, em poucos meses ela também havia se cansado dele e novamente a sua atenção estava voltada para o próximo melhor partido.

E, quando ela o deixou, Scorpius sentiu algo se quebrar dentro dele. Porque, apesar de Emeraude Zabini ser tudo o que era — mesquinha, fútil, interesseira — ele havia se apaixonado por ela e não conseguia nem mesmo odiá-la quando, uma semana após terminar, ele a viu beijando James Potter no corredor do segundo andar.

—_______________________________

Foi enquanto tentava juntar o resto do seu coração partido que Rose Weasley conquistou espaço nele.

Ela era a prima de Albus e, apesar de ser da Corvinal, andavam juntos há anos. Mas Scorpius só admitiu ser amigo da Weasley no quinto ano, pouco antes de se envolver com Emeraude.

Rose Weasley não tinha nenhuma beleza estonteante. Os cabelos dela eram sempre volumosos, não gostava de usar muita maquiagem e passava mais tempo enfiada na biblioteca do que em outra parte do castelo. Ainda assim, era bonita, de um jeito diferente.

Ela preferia usar as calças no lugar da tradicional saia do uniforme feminino. Era decidida e polêmica. Tinha ideais estranhos. Dizia-se ser feminista e procurava sempre garantir direitos iguais para todos, independente se fosse menina ou menino, elfos ou centauros. Ela simplesmente lutava por causas nobres e justas.

E Scorpius a admirava, mesmo antes de ter consciência desse fato.

Quando seu coração ficou em pedaços, e Albus estava apaixonado demais pela namorada para conseguir ser de alguma ajuda, fora Rose quem passou horas ao seu lado o distraindo com assuntos que ele sequer se importava apenas para que Scorpius se esquecesse da sua ex.

A companhia dela era reconfortante.

Passavam dias na biblioteca ou — quando o clima estava quente — sentados na grama em frente ao lago. Ela ia vê-lo treinar e eles iam juntos nos passeios a Hogsmead. Se tornaram quase inseparáveis.

Foi em um daqueles dias que a linha frágil que separava os dois entre amizade e algo mais se rompeu.

Scorpius nem mesmo percebeu quando se apaixonou por ela.

Em algum momento, Rose deixou de ser apenas a sua amiga inteligente de quem ele copiava as anotações e passou a ser a garota que ele queria beijar toda vez que ela abria a boca para explicar a importância de lutar pela causa dos elfos domésticos ou qualquer outra dessas besteiras.

Por um tempo ele não teve coragem de dizer isso a ela. Não queria de forma alguma estragar o que já tinham. E Rose era tão sensata... Parecia o tipo de garota que namoraria alguém igualmente inteligente.

Mas o crescente desejo de beijá-lo adquiriu proporções assustadoras e ele percebeu que já não podia mais esconder toda a sua vontade.

E quando finalmente teve coragem e a beijou, Rose ficou tão pasma que durante um minuto inteiro não se mexeu e nem disse nada. Ela ficou encarando-o com um misto de confusão, surpresa e aborrecimento no olhar. Scorpius já estava ficando desesperado. Temia ela começar a gritar e dizer que ele não devia ter feito aquilo. Contudo, nada poderia ter sido mais surpreendente do que ela, após ter se recuperado do choque, ter colocado a mão no pescoço de Scorpius e tê-lo puxado para mais um beijo.

Foi ali, sentado numa mesa da biblioteca, que ambos descobriram que aquele sentimento já existia muito antes de se darem conta.

Ah, e eles se beijavam muito. Scorpius adorava ouvir Rose falar sobre coisas sérias só para logo em seguida calar a boca dela com beijos. Porque naqueles momentos ele achava Rose Weasley a garota mais fascinante que já conheceu. E, mesmo que muitas vezes não conseguisse acompanhar o raciocínio dela ou não compreendesse as palavras complicadas que ela usava, ele a amava demais para se importar em parecer menos inteligente. E jamais teve vergonha de admitir que ela era mais inteligente do que ele. Era verdade. Rose era mais inteligente do que todos que conhecia.

E, dois anos depois de oficializarem o relacionamento, Rose decidiu que queria seguir um caminho diferente do dele. Assim, sem mais, nem menos.

Nunca entendeu muito bem como e porque eles terminaram. Eles se davam bem, o sexo era bom, resolviam bem todas as suas brigas, mas Rose disse que estavam em sitônias diferentes, em mundos opostos e toda essa baboseira da qual ele não acreditava.

E Scorpius percebeu que, por mais que gostasse de alguém, ele não era capaz de fazer essa pessoa ficar. E concluiu, então, que o problema devia ser com ele. Talvez ele não fosse o suficiente.

Naquele momento, decidiu que não haveria uma próxima. Porque não queria ficar aguardando o momento em que ela, quem quer que fosse, mais uma vez, o deixaria.

—_______________________________

Scorpius passou a se dedicar ainda mais ao quadribol. Embebedava-se nos fins de semana com os amigos. Adquiriu o vício de fumar. Transava com uma, às vezes duas, garotas diferentes por semana. Tentava ser o mais distante das pessoas que podia. Não queria laços, não queria envolvimentos.

Sempre esteve ciente do efeito que seus olhos cinzas e seu cabelo claro causavam nas garotas. O seu físico definido por causa dos treinos de quadribol era a perdição de muitas meninas. Seu meio sorriso sacana fazia calcinhas caírem aos montes. Ele sabia que poderia ter quem quisesse, contanto que não se envolvesse emocionalmente.

Mas essa certeza foi testada pela caçula dos Potter.

Já estava na metade do seu último ano e ele nunca prestou muita atenção em Lily simplesmente porque ela era a irmã mais nova do seu melhor amigo. Mas naquela tarde, no Três Vassouras, ele a viu como se pela primeira vez.

Há pouco tempo o pub tinha adotado uma novidade peculiar. A nova dona, que era mestiça, instalou o que os trouxas chamavam de Karaokê. Obviamente, tudo adaptado com magia, mas com a mesma finalidade ridícula: cantar na frente de todos e passar vergonha em público. Muitos não gostaram daquela novidade, achavam que o mundo bruxo estava sendo invadido por bugigangas trouxas, mas logo tiveram que se acostumar.

O bar estava lotado de estudantes. Era um daqueles dias chuvosos em que todos se refugiavam ali dentro. Scorpius estava bebendo com alguns amigos e flertava com algumas garotas atraentes que passavam. Estava na metade do seu último ano. Era maior de idade. Em alguns meses se veria livre. Só queria se divertir até o dia em que não precisasse voltar mais.

Lily estava com seus amigos, rindo e se divertido, quando de repente eles começaram a empurrá-la em direção ao pequeno palco e ela, mesmo desafinada, cantou uma música popular no mundo bruxo.

Uma música que Scorpius gostava.

Uma música que ficou gravada na sua mente.

E, enquanto bebia, ele ficou olhando para a garota que até aquele momento era pouco importante. Notou o cabelo incrivelmente ruivo e longo que quase alcançava a cintura. As roupas não eram nem mesmo muito chamativas — calças jeans justa, uma camiseta branca colada para mostrar a cintura fina (não muito adequada para o clima, mas deveria ter um sobretudo pendurado em algum lugar) e botas. Um sorriso alegre nos lábios. E um olhar divertido.

Não se importava que todos estivessem a olhando naquele momento.

Ela estava se divertido. Cantava, errava a letra, ria e apontava para os amigos. Não parecia bêbada. Apenas alegre. Scorpius se perguntou quanto tempo levaria até conseguir beijá-la. Não muito, ele imaginou.

Não queria nenhum envolvimento com a Potter. Mas admitia que se sentiu atraído por ela e um beijo, apenas, resolveria o problema. Não podia se dar ao luxo de imaginar mais nada com ela.

Quando ela desceu do palco e se dirigiu ao balcão, parando ao seu lado para pedir uma caneca de cerveja amanteigada, Scorpius resolveu agir.

Com seu melhor sorriso torto e seu olhar provocativo, sabia que ela não resistiria.

— Posso te pagar uma bebida?

— Não, obrigada. Eu tenho dinheiro.

E, com um pequeno sorriso simpático, ela pegou a caneca e virou as costas. Lily Potter falou tão confiante e direta que o desestabilizou. Mas não desistiu. Fez outras tentativas de se aproximar dela e, em todas, ela simplesmente o repeliu como se fosse imune a ele. Lily tinha uma resistência aos seus charmes que só poderia ser descrita como surreal e frustrante. Não era grossa, apenas deixou claro que não tinha interesse nele.

Scorpius poderia ter desistido. Era só uma grifinória qualquer do quinto ano. Que importância tinha? Podia ter qualquer outra que quisesse. Não fazia diferença. Só que ela era a primeira que não o queria. E de repente aquilo se tornou algo mais. Quase um desafio.

Passou a notar mais a Potter. Observou-a entrar no Salão Principal de manhã de braços dados com o Weasley ruivo. No jeito hipnótico como a boca dela se movia quando conversava com a Weasley loira. Na forma como ela ria, aberta e espontaneamente, de alguma piada que a Weasley morena havia dito. Parecia estar sempre rodeada de Weasleys.

Era confiante e espirituosa. Andava decidida pelos corredores. E aquele maldito cabelo ruivo parecia brilhar como uma chama viva.

Continuou insistindo. A chamava para sair, tentava puxar conversa quando a encontrava sozinha, mandava bilhetes. Mas ela se mantinha irredutível.

Era tão frustrante!

Então, quando recebeu mais um fora, ele finalmente perguntou porque ela não queria lhe dar uma chance.

E, com um olhar sério e penetrante, Lily Potter lhe respondeu:

— Não quero ser apenas mais uma, Malfoy. Não quero ser outro nome na sua lista.

Passou a noite inteira pensando naquilo. Não sabia porque o incomodava tanto. Para ser sincero, ela estava certa. Se tivesse a beijado naquele dia no pub, decerto não estaria mais interessado nela.

Mas, a partir daquele dia, algo havia mudado. Ainda não tinha total consciência do quê exatamente. Só sabia que não se sentia mais da mesma forma.

Não conseguiu dormir. E, quase de manhã, ele concluiu que também não queria que Lily fosse apenas mais uma.

Quando finalmente, depois de muita luta, conseguiu convencê-la de que ele não iria ser o cafajeste que iria descartá-la, Lily baixou um pouco a guarda e permitiu que ele se aproximasse. E só então ele pôde conhecê-la melhor.

Quanto mais a conhecia, mais sentia como se estive enlouquecendo.

Lily o fazia se questionar a respeito das suas ações, o desafiava e o provocava. Ela era irritante. Discordava de Scorpius sobre quase tudo por pura pirraça. Se ele dissesse que o Chudley Cannons iria ganhar a copa naquele ano, ela diria que os Holyhead Harpies eram dez vezes melhores. Se dissesse que não conseguia imaginar como os trouxas viviam sem magia, ela citaria uma longa lista de vantagens que eles tinham. Se dissesse que gostava de café, ela falaria que preferia chá. Respondia o sarcasmo de Scorpius com mais sarcasmo. Odiava que ele fumasse. Era corajosa e às vezes exibida. Ora era insuportavelmente infantil, ora era surpreendentemente madura. Era complicada ao mesmo tempo em que poderia ser simples.

Lily Luna Potter era o mais fodido enigma que encontrou na sua vida.

E Scorpius percebeu que o que sentia pela Potter não era apenas diferente do que sentiu pelas outras garotas. Era devastador. Era enlouquecedor. Era algo que o assustava ao mesmo tempo que o fascinava.

Ele estava apaixonado.

Mais do que isso.

Estava perdidamente e fodidamente apaixonado de um jeito que nunca esteve.

E, na sua última noite em Hogwarts, estavam na Torre de Astronomia, deitados lado a lado sobre uma coberta, observando as estrelas. Era bom. Gostava daqueles momentos com ela. Gostava de ter Lily só pra ele.

Lily entrelaçou os seus dedos no dele. Ela não dizia nada desde o jantar e Scorpius sabia que ela tinha medo que assim que ele saísse de Hogwarts fosse esquecê-la, que não fosse esperar meses até poder vê-la de novo. Era orgulhosa demais para dizer em voz alta.

Mas ele sabia.

Queria fazer com que ela entendesse que não a esqueceria. Que passaria todas as noites pensando nela. Que todos os dias desejaria estar com ela. Que esperaria quanto tempo fosse para vê-la. Que desejava passar o resto da sua vida ao lado dela.

Apertou levemente seus dedos em torno dos dela e a olhou. Ela olhava para o céu, o rosto sardento pálido por causa do frio, o olhar perdido e contemplativo.

Scorpius percebeu que só havia uma coisa a ser dita naquele momento.

— Ei — ele chamou baixinho, um sussurro para não ferir aquele delicioso silêncio, fazendo-a virar a cabeça e olhar na sua direção. — Eu amo você.

E, embora soubesse que amou cada uma das suas três namoradas à sua maneira, jamais disse aquelas três palavras a nenhuma delas. Nunca pareceu certo.

Pois, percebeu mais tarde, se tivesse dito a qualquer uma não teria mais volta.

Se tivesse dito não teria mais o que dizer a Lily.

E, apenas naquele momento, Scorpius só soube, por mais vulgar e antiquado que possa parecer, o que procurava quando encontrou.

Era Lily.

Ela era, de uma forma estranha, um pouco de tudo o que ele amou nas outras garotas. Era completa. Era perfeita até mesmo nas suas imperfeições.

Ele amou todas as suas garotas por algum tempo. Amou de formas diferentes, em intensidades diferentes, por tempos diferentes. Mas amou.

Já Lily...

Ah!

Ele a amou pela vida inteira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostou ou não, deixem um comentário. vou ficar feliz em saber a opinião de todos.
Ah, e aqueles que acompanham minhas outras fics, deem uma olhadinha no meu perfil, eu deixei um aviso lá (essa one é apenas uma exceção).
Um grande beijo.