Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 10
Jeito estranho


Notas iniciais do capítulo

A Universidade Federal de Saúde citada nesse capítulo é um lugar fictício.
Espero que gostem!



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Bastaram alguns minutos para que Magali começasse a achar aquele churrasco um completo desastre. Ela e Mônica tinham feito todo um plano para juntar Xaveco e Denise, mas eles voltaram do supermercado com ainda mais raiva um do outro. A ruiva batera a porta do carro com tanta força ao sair que Franja quase teve uma síncope nervosa e o loiro simplesmente saíra sem dizer nada e se enfiara na cozinha, onde podia se ocupar e ficar o mais longe possível dela.

Um pouco depois Carmem chegou com os primos e o pesadelo começara. Ela já sabia que as amigas embarcariam nessa ideia de juntá-la com o tal Felipe, mas não esperava que fosse ser tão chato. Ele era um cara muito bonito e até engraçado, mas com toda aquela pose metida, acabava sendo um pouco irritante. Além do mais, toda hora Luísa e Cascuda faziam comentários para forçar um clima romântico onde não havia e isso estava deixando-a maluca.

A comilona fingiu um sorriso, tentando arrumar uma deixa para sair da rodinha de conversa. De longe viu Do Contra se aproximando da churrasqueira e foi atrás dele com a desculpa de que precisava ajuda-lo a cortar a carne.

— Do Contra! – gritou, abrindo um sorriso meio desesperado. – Por favor finge que nós estamos conversando uma coisa muito importante! – continuou, em tom de súplica.

— Você... – começou, com uma expressão evidentemente confusa. – Você quer pão de alho? – disse a primeira coisa que lhe surgiu na cabeça, ainda sem entender nada.

— Claro! – ela respondeu, aliviada por ganhar mais alguns minutos de paz. – Eu to meio que fugindo da Luísa e da Cascuda... – sussurrou, assim que começaram a andar até a cozinha. – Elas querem de qualquer jeito me juntar com o primo da Carmem. – explicou, embora ele não tivesse perguntado.

— Ele parece um tanto pé no saco. – ele arqueou as sobrancelhas, pegando uma fatia de pão de alho no balcão e colocando no prato cheio de carnes que havia servido para si.

— Um tanto. – riu baixinho – Não tem nada errado com ele, mas... – começou, sem saber como explicar.

— Você não curte ficar com pessoas aleatórias...? – palpitou, sentando-se junto ao balcão.

— É. – respondeu, um pouco sem graça por ele ter acertado em cheio a razão. – Não fiquei com ninguém desde o Quim. Sei lá, seria estranho e... – deu de ombros, já que não sabia como terminar a frase. O garoto a olhou com uma expressão obviamente chocada com aquela nova informação. – O que foi?

— Nada... – murmurou – Já faz muito tempo né.

— Vai dizer que você passou o rodo em geral depois que terminou com a Mô? – Magali bufou, subitamente irritada. Mas logo que terminou de falar se arrependeu de ter entrado em um assunto sobre o qual nenhuma das duas partes do ex-casal gostava de falar muito.

Ao contrário do que ela esperava, Do Contra somente riu, como se a resposta para aquele questionamento fosse totalmente transparente. Ela não entendeu o que ele quis dizer, já que as duas opções lhe pareciam igualmente possíveis, então não deu continuidade ao assunto.

Enquanto servia seu próprio prato, ela reparou que dali dava para ouvir a música que tocava nas caixas de som que colocaram na varanda. Quando saíra da praia, Mônica havia convencido Xaveco e Bia a ensiná-la a surfar e parecia estar se divertindo bastante com as aulas, apesar dos tombos. Cebola, Titi, Nimbus e Marina jogavam uma partida de vôlei que Cascão apitava (enquanto tentava manter a maior distância possível entre ele e o mar). Franja lia um livro de ficção científica perto da mesa onde Denise, Felipe, Cascuda, Carmem e Luísa conversavam. Do Contra destoava dos demais, como sempre vestido com seu jeans e camiseta preta, mas hora ou outra tentava participar, ainda que daquele jeito estranho dele.

— Não, eu não saí passando o rodo. – murmurou, quando ela achou que a conversa já tinha terminado definitivamente. – Como você sabe que fui eu que terminei?

— Eu sou a melhor amiga da Mônica, dã. – a comilona girou os olhos exageradamente.

— Você acha que um dia a gente vai ser amigo de novo? – ele perguntou, encarando os próprios pés. – Sabe, eu e ela. – continuou, diante da demora dela para responder. Era uma questão complicada, porque ela nunca imaginara que teria uma conversa daquele tipo com ele.

— Eu não sei. – respondeu sinceramente. – Talvez. – completou. – Se até o Xaveco e a Denise voltaram a se falar, eu acho que tudo é possível.

— Mas agora eles se odeiam mais do que antes! – ele protestou, fazendo-a soltar uma risada alta e espontânea.

— Ok, esse exemplo foi péssimo, desculpa. – sorriu – Mas você entendeu o que eu quis dizer.

— Que nós vamos voltar a nos falar, mas aí vamos nos tornar inimigos mortais logo depois? – arqueou as sobrancelhas.

— Isso já é você que está dizendo. – deu de ombros – Eu não sei se vocês vão ter outra oportunidade de passar tanto tempo juntos depois das férias, então é melhor acelerar o processo.

— Ia ser legal se todo mundo fizesse faculdade no mesmo lugar. – Do Contra desviou o assunto, embora não parecesse desconfortável com a conversa anterior. Magali estranhou a facilidade com a qual eles estavam arranjando assunto, mas também não achou isso ruim.

— Eu quero fazer nutrição na Universidade Federal de Saúde. A Mônica também que ir pra lá, desde que se decidiu por medicina. – comentou, animada. – Você quer fazer o que mesmo?

— Psicologia. – deu uma pausa – Quero entender a cabeça maluca das pessoas. – explicou, ao ver a expressão de questionamento dela.

— Quem sabe assim você não entende a sua cabeça maluca também. – brincou, dando uma risadinha baixa.

— Bom, dizem que no fundo todo mundo é meio doido. – continuou, abrindo um sorriso genuinamente contente. – Acho que dessa vez não consegui fugir da regra.

—                                                                                     

Cascão se espreguiçou, aproveitando que Marina se oferecera para apitar a próxima partida de vôlei em seu lugar para ir lá dentro descansar um pouco. Até o momento o dia estava sendo agradável, apesar de não ser lá muito fã de praia.

Aquele lugar era perfeito para uma viagem de férias, especialmente se a intenção era celebrar um momento importante como o que estavam vivendo. Longe de tudo e todos, os jovens ficavam livres para aprontar e se divertir como queriam. E como sabiam que talvez aquele fosse seu último verão juntos como uma turma completa, tudo soava como nostalgia e saudade.

O garoto olhou em volta, vendo Mônica se sentar na areia, exausta depois dos tombos que levara no mar. Ainda assim ela ria alegremente, acompanhada por Bia e Xaveco, que finalmente parecia estar num humor melhor. No mesmo momento, Franja largou o livro que folheava e se sentou ao lado de Marina, abraçando-a e fingindo ajudá-la a apitar o jogo. Ao ver o casal de amigos se entrosando tão bem, se sentiu um tanto culpado. Já fazia um tempo que ele e Cascuda estavam muito distantes um do outro e ele não vinha fazendo muita coisa para mudar essa situação.

Se tivesse um pouco mais de coragem para terminar tudo...

Não era justo o que estava fazendo, nem com a loira, nem consigo mesmo. Passava o tempo todo planejando pequenas formas de passar um tempo com a melhor amiga comilona, torcendo para que ela não desse chance para nenhum desses garotos para quem as meninas insistiam em empurrá-la, fazendo de tudo para vê-la rir de suas gracinhas idiotas.

Tinha que dar um basta naquilo de uma vez por todas. E logo.

Ainda pensando em tudo isso, seguiu em direção à cozinha para pegar alguma coisa para beber no freezer. Passou pela churrasqueira e já estava chegando ao seu destino quando parou ao ouvir risadas vindas de dentro da casa. Meio escondido perto da porta, apurou os ouvidos para escutar a conversa.

As vozes eram de Magali e Do Contra. Os dois falavam sobre seus respectivos planos de faculdade, parecendo bastante entretidos trocando informações sobre seus respectivos cursos e listando tudo o que queriam fazer na faculdade. Era um pouco esquisito ver os dois conversando tão animadamente, já que não costumavam trocar mais do que as palavras necessárias. Mas naquele momento era como se fossem velhos amigos cheios de coisas em comum.

De repente Cascão sentiu uma sensação incômoda, que misturava ciúme com insegurança e uma certeza de que ela nunca o veria como algo mais do que um amigo. E a coragem que tinha reunido para terminar seu namoro e tentar alguma coisa foi embora tão rápido quanto veio.

Mônica se esticou no sofá, tentando se livrar da dor que sentia nas pernas por causa de toda a agitação da tarde. Cerca de meia hora antes Carmem fora embora com os primos e o grupo se apressou para trazer as mesas e cadeiras de volta para dentro da casa. Ela então tomara uma chuveirada rápida e agora estava ali, descansando.

Começara o dia um pouco frustrada com o fracasso de seu plano para juntar os dois amigos e decidira que era melhor deixá-los em paz, pelo menos por um tempo. Porém, com a ideia de aprender a surfar, se divertira como não fazia há muito tempo. Ela não era nada boa no esporte, mas conseguira ficar em pé na prancha por alguns minutos.

— E aí, gata surfista! – cumprimentou Bia, entrando na sala. Ela tinha ido para a próxima apenas para tomar um banho e já estava de volta. – Fiz umas vídeo cassetadas suas, quer ver?

— Você é terrível, Bia. – girou os olhos, mas riu e aceitou a oferta. A outra se sentou ao lado dela no chão e lhe passou o celular.

— Chega pra lá que eu também quero ver! – gritou Nimbus, fazendo sinal para que Mônica lhe desse espaço no sofá.

Franja, que checava seus e-mails no notebook em uma das poltronas, riu da animação dos três, mas continuou ali. Do Contra cochilava no sofá de dois lugares, alheio à toda a movimentação. Aos poucos a sala foi se enchendo conforme os outros foram tomando banho e trocando de roupa. Cebola, por sugestão de Magali, ligou o computador na TV para colocar um filme do Netflix e Xaveco logo apareceu para ver os resultados desastrosos de sua “aluna”.

Poucos minutos depois, houve um estalo e todas as luzes da casa se apagaram, deixando os jovens iluminados apenas pelas telas dos celulares. Marina deu um grito dentro do banheiro, assustada com a água do chuveiro se tornando gelada de repente. Do Contra se assustou e se levantou de uma vez, soltando um xingamento por ter batido a canela no pé da mesa. Denise e Cascuda vieram correndo do quarto das garotas, sendo seguidas por Cascão, que estava no quarto masculino.

— Gente, pera aí. Tem umas velas no armário da cozinha! – anunciou Xaveco, pegando o celular para iluminar o caminho. Teve que procurar por alguns minutos, mas encontrou um pacote de velas e alguns fósforos que sua mãe deixara ali para emergências como aquela. Por ser um lugar afastado, não era raro acontecerem quedas de energia.

Colocaram velas suficientes para iluminar a sala e mais um par na cozinha, só para não ficar um breu total. Não era a melhor iluminação, mas quebrava um galho.

— E agora, o que a gente faz? – perguntou Cebola, chateado por não ter mais internet para ver sua série.

— Sei lá, jogo de mímica? – sugeriu Magali, com uma cara entediada.

— Melhor! – gritou Bia, animada. – Sobraram umas bebidas que vocês compraram, né? Vamos jogar eu nunca!

Todo mundo se entreolhou, procurando alguma ideia melhor. Por mais que aquele jogo pudesse acabar em desastre, a possibilidade de obter respostas para perguntas que não teriam coragem de fazer foi maior.

Muitas revelações ainda seriam feitas naquela noite.  


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Notas finais do capítulo

Quantas informações...
Será a formação de um novo triângulo amoroso? (Se bem que não sei se triângulo é o polígono adequado para descrever essa situação! hahaha)
Pra quem não conhece, Eu Nunca é um jogo muito simples: uma pessoa diz uma coisa que nunca fez e todo mundo que já tiver feito tem que beber uma dose da coisa alcoólica que esteja em jogo.
Ou seja: esperem algumas pessoas perdendo a vergonha e revelando coisas! hehehe ♥ (já disse que adoro uma treta? Pois é, eu adoro!)
Espero que gostem. Muito obrigada pelos comentários, favoritos, acompanhamentos... Vocês me dão ânimo pra continuar.
Beijos,
Mia



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