Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 7
Jaime Lannister


Notas iniciais do capítulo

Capítulo maiorzinho para compensar o anterior ter sido bem pequeno. =)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691590/chapter/7

Coisas Quebradas

Adriana Swan

JAIME 

Sor Daven Lannister veio encontrá-lo na entrada do pátio. Havia encontrado o rapaz no dia anterior e deveriam partir com mil homens das Gêmeas em direção ao Norte na manhã seguinte. Seu primo não ficara nada contente em saber que o rapaz estava vivo e ficara menos ainda ao jantarem com a família Frey na noite anterior e descobrirem que a única Frey bonita estava devidamente grávida de Edmure Tully, seu marido, e ostentava uma grande barriga.

Depois de passarem a noite coordenando seus homens para arrumarem suas provisões para a viagem, seu primo viera ter com ele e pedir detalhes sobre o plano. Não contaram a seus homens que Robb Stark estava vivo e não pretendia fazê-lo dentro das Gêmeas. Segundo Walder Frey, poucas pessoas nas Gêmeas sabia que o jovem Rei era prisioneiro. Quantos menos soubessem mais difícil seria a notícia se espalhar e não seria Jaime a dar o alarde ali dentro.

Juntos visitaram Grande Jon, que dessa vez os recebeu bem mais aberto a negociar. Fez perguntas sobre Robb e se mostrou preocupado. Jaime lembrou que da primeira vez que esteve ali, Umber falou em seu "garoto", agora Jaime se perguntava se no luto pela morte do filho no Casamento Vermelho ele havia se apegado a seu jovem Rei. Robb era até mais jovem que seu filho e pelo que se lembrava, fora tão bem educado pelos Starks que lhe pareceu desagradavelmente educado demais, correto demais, filho perfeito demais. Quando estavam em Winterfell seu irmão Tyrion até brincara que os Starks estavam destruindo a adolescência do rapaz. Seria muito fácil para Grande Jon vê-lo como um filho.

Nevava um pouco lá fora quando entraram no Castelo. Jaime estava feliz em ter conseguido evitar falar com os dois fora da lei desde o dia anterior quando encontrara o Jovem Lobo e só pretendia falar com eles no dia seguinte depois que saíssem. Ali era território inimigo e nunca se sabia quem poderia estar ouvindo. Quanto a seu primo Daven, foi bem mais fácil falar com ele do que Jaime pensou que fosse. Mostrou-se muito surpreso, mas não fez perguntas idiotas e mesmo parecendo não gostar dos planos de Jaime de ir ao Norte, não o questionou. Havia algo de desconfiado em seu olhar que chegou a preocupa-lo, mas nada disse.

Quando se aproximou do quarto estava desconfortável. Não voltara ali desde que o deixara nos braços de Brienne e em sua cama no dia anterior. Durante o dia, Podrick Pyne serviu de garoto de recados correndo até ele para dizer coisas que podiam inclusive soar estranhas, como no meio de um caloroso debate sobre quais quantidades levariam de condimentos com Daven e mais cinco homens de seu grupo Pod falou "Sor Jaime, a senhora, digo Sor Brienne, bem, senhor, ele acordou, mas não disse nada. A senhora, digo, Sor Brienne, acha que ele estranhou a cama do senhor, deve ter ficado desorientado e dormiu de novo. Sor." Os homens o olharam divertidos e curiosos para saber quem era o "ele" que acordou em sua cama. "Um cachorro", Jaime respondeu a seus olhares divertidos, "Achei aqui nas Gêmeas". Daven deu uma risada nervosa e completou, "um daqueles bem grandes". Riram com os homens, mas ele realmente queria esganar Podrick por isso.

Abriu a porta devagar e fez um sinal para que Daven o seguisse para dentro, estava na hora de seu primo conhecer o Rei no Norte.

O quarto estava em silêncio total, Brienne cochilava na poltrona do canto, toda vestida de homem e com a espada Cumpridora de Promessas largada em seu colo. Jaime riu consigo pensando se ela já estaria pagando sua promessa ao proteger o filho de Catelyn Stark com aquela espada. No chão, no tapete ao pé da cama, Podrick dormia encolhido. Com as janelas fechadas e cobertas por grossas cortinas, só uma vela sobre a cabeceira da cama iluminava o quarto. Na cama, o rapaz dormia um sono tranquilo sob as quentes cobertas de lã grossa que subiam e desciam conforme sua respiração, o que mostrava que sua saúde já devia estar melhor só pelo fato de estar longe da umidade. A seu lado, Pia estava deitada sobre as cobertas, perto o suficiente para sentir sua respiração. A garota estava acordada e o velava com atenção, seus dedos brincando com uma mecha do cabelo ruivo dele que ela soltou afastando a mão preocupada ao ver Jaime e Daven entrarem no quarto. Se apressou para sair da cama, mas Daven fez um gesto com a mão para que não saísse.

Quando fechou a porta Brienne acordou com um sobressalto agarrando o punho de Cumpridora de Promessas e olhou para eles assutada, sua cara feia e deformada pela mordida de Dentadas, fazendo uma careta que a tornava ainda mais feia ao vê-los.

— É você. – Ela constatou passando a mão no rosto para acordar melhor.

— Esse já foi meu quarto antes de trazer o lobinho ferido que achei perdido – ele começou sarcástico se aproximando da cama. – Meu pai nunca me deixou criar um cachorrinho e agora sei porque. - Ele falou para seu primo - Aparentemente, ocupam muito espaço.

Parou ao lado da cabeceira, olhando o rapaz que dormia de lado, de costas para a vela no criado mudo como se quisesse evitar a luz. Parecia bem a vontade e saudável sob a luz fraca, sem mostrar a magreza do rosto ou a palidez. A presença de Pia ainda deitada a seu lado, com olhos de culpa por estar ao lado do jovem Rei, dava a cena um ar de naturalidade, como se ele só estivesse dormindo.

— Ele já disse alguma coisa? – Jaime indagou a ela que parecia ser a pessoa mais acordada no quarto.

— Da primeira vez que acordou, parecia desorientado, Sor Jaime – ela respondeu prestativa – da segunda vez Brienne tentou conversar com ele, mas ele só pediu água.

— Acha que o cativeiro mexeu com a cabeça dele? – Daven perguntou, colocando a mão na cabeça de Robb, como se vendo sua temperatura.

— Não, - Jaime respondeu – Os Stark são difíceis de derrubar.

Daven riu.

— Agora acredito que sim. – Ele olhou o quarto ao redor – É melhor descansar se vamos partir amanhã, já é noite alta. Onde vai dormir?

Jaime fez uma careta.

— Darei um jeito.

Com um aceno, Daven se retirou para seus próprios aposentos.

— Não vai para seu quarto? – perguntou a Brienne que já estava com cara de quem ia dormir a qualquer instante.

— Vou vigiar o rapaz. – Ela respondeu resignada, embora Jaime duvidasse que ela se mantivesse acordada por mais de cinco minutos.

— Certo – ele respondeu respirando fundo. Não estava com cabeça para lidar com a teimosia de Brienne, tinha que arrumar sua cama agora. Começou a desabotoar suas vestes para deitar-se. – Pia, entre para debaixo das cobertas também. Você vai dormir entre ele e eu, não vou dormir encostando em outro homem.

— Sim, senhor, Sor Jaime. – Ela respondeu animada, obedecendo prontamente, abaixando o lençol que o cobria e se enfiando embaixo das mantas também.

Não foi bem isso que eu queria dizer — ele ralhou entre os dentes ao ver Pia se aconchegar ao corpo do jovem Rei, o envolvendo com seus braços e pernas como uma lula envolveria um filhote de lobo.

— Oh. Desculpe, Sor.

Depois de deitado ele pensou na estranheza da situação e em qual seria a reação de Brienne quando ela acordar e ver Pia deitada entre Robb e Jaime. A garota deitara-se virada para cima, olhando o teto, a mão esquerda sobre as cobertas repousava mais ou menos sobre o quadril de Jaime, parecendo esquecida ali, enquanto a direita ela mantinha brincando com os caxos do cabelo de Stark, devidamente acordada, disposta a velar o sono do Jovem Lobo pela segunda noite seguida. Brienne não gostaria daquela situação, donzela como era. Jaime lembrou da bonita Pia que conhecera em Harrenhal e que ficara contente em poder deitar com ele porque sempre sonhara em estar com tal guerreiro. Pensou em como ela se sentiria agora dormindo entre o Cavaleiro e o Rei. Daria uma canção.

Pareceu pensar nisso por uma eternidade antes que o sono chegasse e o arrebatasse para um descanso merecido. Devia ter dormido bem, porque a vela tinha ardido até o fim e uma nova brilhava quando Pia o sacudiu para acordá-lo.

— Senhor Lannister… - ela chamou baixinho o balançando com sua mãozinha delicada – Sor Jaime? Ele acordou.

A notícia o despertou e ele sentou-se na cama. O rapaz estava desperto, esfregando os olhos devagar como se a luz da vela o incomodasse. Jaime jogou um travesseiro em Brienne que acordou com um sobressalto. Jaime voltou-se para o rapaz, passando por cima das pernas de Pia.

— Você está bem? Sabe onde está? Sabe o que está acontecendo? – indagou, já estava sentado bem ao lado de Robb enquanto Pia se encolhia sobre os travesseiros, seus grandes olhos negros bem abertos.

O rapaz afastou a mão dos olhos, quase fechados para evitar a luz. Olhou para Jaime ignorando as perguntas e seu olhar se tornou mais atento, franzindo o cenho e parecendo finalmente consciente.

Brienne e Podrick a essa altura estavam em pé ao lado da cama.

— Você sabe quem é? – Jaime perguntou devagar e em bom tom.

O rapaz o encarou por alguns instantes, estreitou o olhar atento e analisou os outros ocupantes descabelados e mau arrumados no quarto. Voltou a olhar para Jaime desconfortável.

Robb Stark. – Sua voz saiu num sussurro quase inaudível.

Brienne soltou um suspiro de alívio como se só com essa confirmação ela acreditasse que era realmente ele. Jaime a ignorou.

— Sabe quem eu sou? – Jaime perguntou no mesmo tom.

O rapaz fez um som estranho, talvez não confiando na própria voz que não usava há tanto tempo.

Regicida. – Sua voz saiu no mesmo tom sussurrado de antes.

Dessa vez foi Jaime que suspirou. Pela primeira vez desde que era capaz de se lembrar, estava contente por ser chamado de Regicida. Ele lembrava.

A mão do Jovem Lobo se ergueu vacilante e agarrou o braço de Jaime com dedos fracos e incapazes de fazer pressão. O garoto o olhou com os olhos brilhando e falou o mais claro que podia.

Água. Por favor.

Brienne se adiantou e pegou um corno de água que entregou nas mãos de Jaime enquanto Pia deslizava as mãos apoiando o pescoço e costas do jovem Rei para que bebesse. Ele deu três bons goles antes de voltar a deitar e lamber os lábios respirando fundo. Parecia cansado, mas estava mais desperto.

— Sabe onde está?

Ele levou um tempo para responder, parecendo refletir.

— Não, - falou, sua voz já soando um pouco melhor – era prisioneiro nas Gêmeas. Agora não sei mais.

— Ainda está nas Gêmeas e ainda é prisioneiro – Jaime falou fazendo uma careta, não é como se as coisas tivessem melhorado muito. – Mas agora é meu prisioneiro. Vou tirar você das Gêmeas amanhã.

O rapaz não respondeu. Ergueu suas mãos vacilantes, deixando Jaime confuso até ver que ele as aproximava da vela. Sob a luz, seus pulsos pareciam enrugados, mas na verdade estavam em carne viva, lembrança das correntes que o mantinham preso na parede. Fechou os dedos devagar sobre o ferimento do pulso esquerdo e o deixou repousar sobre o peito.

— Porque? – indagou, sua voz soando insegura.

— Sua mãe fez algo parecido por mim. – Jaime respondeu com um sorriso cínico, evitando olhar para Brienne, já sabendo que ela o olhava.

— Minha mãe, - Robb respirou fundo, pensativo – Minha mãe o soltou.

— É.

— Eu teria deixado você apodrecer nas masmorras de Correrrio.

A voz não foi nada vacilante ou insegura dessa vez e mesmo o olhar do rapaz ganhava mais vida a cada palavra. Pia prendeu a respiração e uma tensão se fez no quarto esperando a resposta de Jaime. Mas Jaime não estava tenso, aquilo não fora uma provocação, ele fora apenas starkicamente sincero.

— Eu sei, você é filho de seu pai. – Falou tentando não dar importância a franqueza do rapaz. – Passou mais de seis meses naquelas correntes. Vamos, estou de bom humor, não quer peguntar por nada? Ou por ninguém?

Jaime mudou taticamente de assunto diminuindo a tensão e o resultado foi imediato. O Rapaz umedeceu os lábios, parecendo não saber o que perguntar. Rezou para que ele não perguntasse pela mãe, não queria ter que mentir. Seria mais simples se ele perguntasse pela esposa ou pelos tios.

— Hum.. eu tenho.. – ele parecia tentar ordenar as ideias enquanto falava – bem… tenho um irmão bastardo. Jon.

— Vivo – Jaime respondeu tranquilo. Lembrava de ter visto o bastardo em Winterfell. – É Lord Comandante da Patrulha da Noite agora, pode ficar orgulhoso.

Brincou tentando diminuir a tensão, mas Stark franziu o cenho.

— Jon Snow? – ele indagou preocupado.

— Lord Eddard tinha mais bastardos? – Jaime questionou sinceramente surpreso pela pergunta do rapaz.

— Gosto de pensar que não – Robb respondeu, fazendo força para se sentar na cama e sendo auxiliado por Pia.

— Mais perguntas? – estava surpreso que entre tantas possibilidades, ele perguntasse primeiro por o irmão bastardo.

— Só se eu poderia beber mais água – ele respondeu e forçou um sorriso. Não era um sorriso de verdade, mas curvou o canto dos lábios e seu meio sorriso tinha tom de constrangimento. Talvez estivesse constrangido de sua fragilidade.

Jaime entregou o corno nas mãos dele enquanto um galo cantava em algum lugar.

— É melhor comer alguma coisa também, vai ser jogado numa carroça com grades e não vai ter ninguém lá para velar por sua vida – Jaime falou vendo Pia ajoelhar-se atrás do Jovem Lobo, as mãos dela deslizando pelas costas dele como se se oferecendo para que ele se encostasse nela, caso cansasse. O rapaz bebeu a água com toda a atenção presa em Jaime. – A garota se esfregando em você é minha serviçal, Pia. O rapaz com cara lerda é escudeiro, Podrick Pyne e essa é Brienne de Tarth. Eles cuidaram de você até que eu prepare tudo para levá-lo para sua… jaula.

Mas o rapaz não estava mais ouvindo, seus olhos atentos fixados em Brienne. Aquilo desagradou Jaime. Ele bem sabia que nenhum homem tinha nada para olhar em uma mulher feia como ela, além de se assustar com sua condição de cavaleiro. Ela parecia confusa com o olhar do rapaz.

— Brienne de Tarth – Robb repetiu devagar – da Guarda Arco-Íris de Renly.

O boca de Brienne se abriu surpresa, a deixando ainda mais medonha.

— Sabe quem eu sou? – indagou incrédula.

— Minha mãe a salvou do exército de Renly – Stark continuou, tranquilo, demonstrando que sua mente estava muito bem – Mas quando voltei a Correrrio você já tinha partido com o Lannister. Uma pena, teria ficado muito feliz em tê-la a meu serviço.

Aquelas palavras iluminaram o rosto de Brienne que tivera que lutar contra os preconceitos dos homens para conseguir um ser cavaleiro. Estava lisonjeada. Abriu a boca para agradecer, mas Jaime fora mais rápido.

— Bem, mas ela está a meu serviço agora, Stark. – Jaime respondeu dando um tapa amigável no ombro do rapaz para chamar sua atenção. – Agora é melhor se alimentar. Pode ter certeza que vai ter um dia bem miserável pela frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coisas Quebradas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.