Aquilo só podia ser piada... Só podia ser!

Ele tinha escutado errado. É. Com certeza era isso mesmo.

Negou com a cabeça, como se isso fosse o suficiente para afastar qualquer absurdo que rondasse seus pensamentos por conta do que “supostamente” ouviu. No entanto, aquela mesma palavra foi repetida com convicção, e agora não tinha mais dúvidas, havia mesmo escutado aquela palavra.

Estreitou os castanho-rubros, lançando um olhar intimidador como se desafiasse a repetir aquela palavra, contudo, nem mesmo seu olhar mais sanguinário pareceu fazer efeito, ou melhor, não teve o efeito esperado por ele, já que uma sonora gargalhada ecoou alto pelo cômodo antes que pela terceira vez naquela tarde aquela palavra chegasse aos seus ouvidos.

— Mama.

Fez uma careta, arrancando uma nova risada do bebê que havia acabado de vestir depois de um longo banho regado a patinhos de borracha e inúmeras bolhas de sabão.

— É papai, Yuki-chan! Fala: pa-pai.

— Mama.

— Pa-pai!

— Ma-maa! – a menina disse alto, rindo e batendo as pequenas mãozinhas uma na outra, parecendo se divertir imensamente com a frustração do adulto.

O moreno fez uma nova careta e suspirou antes de pegar a menina de um ano recém completo no colo e sair do quarto. Aquela não havia sido a primeira palavra dela, a primeira havia sido “coto”, referindo-se a uma lata de biscoitos que na ocasião estava sobre a mesa da cozinha, surpreendendo ambos os pais, e agora ela vinha com essa, “mama”.

Tsk.

Não fazia idéia de onde a menina havia tirado aquilo, mas desconfiava que isso era obra de um certo loiro, e se estivesse certo.... ai ai... a probabilidade de Yuki ficar órfã de um dos pais era enorme.

Pais.

Soava até absurdo, nunca havia se imaginado pai de alguém, mas encontrar aquele bebê recém nascido abandonado em um beco depois de mais uma briga com o loiro mais forte de Ikebukuro, e que mais tarde terminaria em sexo, também não estava nos seus planos.

— Mama!

O gritinho animado da menina em seu colo o despertou de seus devaneios, acabando por sorrir quando ela lhe ofereceu um largo sorriso que deixava em evidência suas covinhas.

 - Não vai mesmo me chamar de papai?

— Mama!

Afagou carinhosamente os pequenos cachinhos negros da filha e beijou-lhe a testa antes de suspirar derrotado, fazendo com que a garotinha gargalhasse alto novamente.