A Criação da Luz escrita por André Tornado
Notas iniciais do capítulo
"O sol estava quente. O jardim estava calmo. De bom grado teria permanecido lá o resto da tarde, sem fazer nada de especial."
in Sangue-do-Coração, Marillier, J., Bertrand Editora, 2010
Uma mão de veludo passou pelos meus cabelos. Não me acalmou, pelo contrário. Colocou-me pronta para atacar, a farejar o doce perfume do sangue que satisfaria o instinto alvoroçado.
— Quem és tu? – perguntei num grito.
O eco repetiu mil vezes a minha pergunta.
Estava suspensa no vazio, flutuando sem consistência e sem um corpo físico. Um limbo onde a minha alma solitária vagueava ao sabor de um vento inexistente, onde não existia cor, temperatura, matéria, apenas energia morta e espirais de vácuo infinito.
— Sou a tua voz.
— Não… tenho uma voz. Como quando pensamos e julgamos que falamos dentro da cabeça? Que voz?!
Rugi para me soltar daquele aperto amorfo.
— Quero sair daqui e regressar – exigi.
A mesma mão macia cobriu-me aquilo que eu julgava ser o meu rosto, abafou-me a respiração. Mas como conseguia respirar se não era um ser físico? Como podia sentir-me afogar se não havia ar para respirar? As contradições entonteceram-me.
— Chegou a hora da decisão – disse a voz.
Sacudi a cabeça e a mão desapareceu.
— Não tenho nada para escolher!
— Recuperaste as tuas memórias. Sabes por que razão existes e essa é só uma. Deves destruir o cavaleiro Jedi!
— E se eu não o fizer?
— Perdes a razão da tua existência.
— Sou destruída?
Soltei uma gargalhada de desafio.
— Serei destruída! – afirmei excitada. – Pois bem, serei destruída!
A explosão de uma supernova encheu-me de luz.
— Eu não pertenço a ninguém! Nem a O’Sen Kram, nem ao feiticeiro de Ekatha, nem aos Pickot, nem tão-pouco ao cavaleiro Jedi. Tenho uma escolha e seguirei o que a minha vontade ditar, consoante as variáveis que me forem apresentadas. Eu posso escolher! E escolho a liberdade.
A voz sussurrou-me pesarosa:
— Nunca serás livre.
Respondi determinada:
— Lutarei.
Comecei a ganhar peso, a gravidade puxava-me para baixo, para um planeta escuro coberto por uma extensa floresta onde brilhavam pequenos olhos vermelhos e selvagens. As bestas aguardavam-me, de mandíbulas escancaradas.
— Nunca mais te vou abandonar – disse a voz. – Vou estar muda, mas irei aconselhar-te quando chamares por mim. Estarei ao teu lado, até ao último dia, até ao último suspiro.
— Vem comigo, então… E assiste à minha liberdade!
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Sei que devem querer bater-me por este ser um capítulo tão curto...
Mas não quis que fosse de outra maneira. A Cleo está a regressar à história, a voltar a encaixar-se na pessoa física e não queria que acontecesse de repente. Devia existir um capítulo de transição, a mostrar onde ela tinha estado - no vácuo - a observar Frint a contar o que lhe tinha acontecido antes de perder a memória.
E assim termina a segunda parte da fanfic.
Os próximos capítulos serão mais agitados - bem mais agitados! - e naquele que se segue teremos o reencontro mais esperado: a Cleo o Luke vão voltar a estar juntos.
Próximo capítulo:
De regresso.