POV América

— Alteza, vossa majestade está solicitando sua presença - Lucy, uma das minhas criadas, diz ao entrar no meu quarto

— Lucy, já lhe disse mil vezes que pode me chamar de América - digo sorrindo

— Perdão, alt... América - diz se corrigindo

Sorrio gentilmente para ela e me levanto não querendo ir falar com meu pai, mas sabia que não tinha escolha

— Volto daqui a pouco - falo para minhas criadas e vou até o escritório de meu pai

Bati na porta e aguardo ele liberar minha entrada, apesar de sermos pai e filha ele sempre exigiu que eu me portasse como uma súdita na sua presença

— Entre - escuto sua voz grossa falar

— Bom dia, majestade - digo entrando e fazendo uma pequena reverência.

Não queria irritá-lo, minhas costas ainda não estavam completamente cicatrizadas desde o nosso último confronto

— Boa tarde querida. Sente-se - ele diz apontando para uma cadeira vazia ao seu lado

Cabisbaixa e sendo o mais graciosa possível eu me sento ao seu lado com um sorriso falso brincando em meus lábios

— América, você já está com dezessete anos e já está na hora de encontrar um marido - diz sem perder o sorriso

Tento não mudar minha expressão, sabia que um dia isso aconteceria, sabia que meu pai me casaria com alguém da realeza de um país com o qual ele queria fortalecer nossas alianças, mas saber que isso estava prestes a acontecer não me agradava

— Sim, majestade - digo ainda sustentando um sorriso falso

— Então sua mãe e eu pensamos e chegamos à conclusão de que nenhum homem da realeza seria bom o suficiente para você - ele diz ostentando um sorriso e eu não pude evitar e sorri verdadeiramente

— O que isso quer dizer, majestade - digo genuinamente feliz

— Quer dizer que você, assim como os demais herdeiros de Illéa, terá uma Seleção - ele disse e eu não pude conter o enorme sorriso em meu rosto

Uma Seleção, poder escolher entre trinta e cinco garotos, isso era muito mais do que eu esperava. Para quem achava que seria usada como moeda de troca, uma Seleção soava como música para os meus ouvidos

— Os preparativos já estão sendo feitos e o anúncio de que você está procurando o novo rei de Illéa já está no Jornal Oficial - ele diz e o meu sorriso vacila

— Rei?! - pergunto sem entender

Quando eu me casasse meu marido seria o príncipe regente, pois ninguém poderia ter um título maior do que o meu. Queria acreditar que meu pai havia se confundido, mas ele nunca o havia feito antes, então como poderia tê-lo feito agora

— Sim, rei - diz e um sorriso maldoso aparece em sua face - Você não achou que uma mulher teria o maior título de Illéa, achou?

— Mas papai - digo e ele me repreende com o olhar - Perdão, majestade - digo cabisbaixa e ele sorri - Eu sempre imaginei que meu marido seria o príncipe regente - digo já não conseguindo sustentar o meu sorriso

— América, eu jamais deixaria meu país nas mãos de uma mulher, por isso A Seleção irá acontecer, para que eu possa escolher os melhores rapazes para exercer a função de rei de Illéa - diz e eu contenho minhas lagrimas

Não era nenhuma surpresa para mim que meu pai não me achasse apta, ou digna de governar o país, mas ouvir essas palavras da sua boca doía mais do que eu imaginava

— Essa noite você irá fazer o anúncio oficial no Jornal Oficial, peça as suas criadas que façam um vestido digno de tal anúncio

— Como quiser, majestade - digo contendo as lágrimas

— Pode se retirar - fala e eu me levanto e respiro profundamente.

Com o pouco de dignidade que me resta eu vou até o meu quarto onde eu desabo em lágrimas

— O que houve, alteza - Annie pergunta preocupada

— O de sempre Annie - digo fungando - Preciso que vocês façam um vestido para hoje à noite. Irei fazer um grande anúncio no Jornal Oficial

— Mas você está bem? - Mary pergunta se aproximando com cautela

— Estou bem, ou irei ficar - digo me jogando na cama - Não é nada que eu já não esteja acostumada

— Como deseja seu vestido? - Annie pergunta com gentileza

— Como vocês desejarem, eu apenas gostaria que fosse...

— Azul - ela complementa e eu sorrio

— Isso, azul - digo feliz ao sabe que pelo menos minhas criadas se importavam comigo

— Precisa de mais alguma coisa, alteza? - Lucy pergunta

Sabia que elas tinham que usar todo o tempo possível para fazer o vestido então apenas nego com a cabeça e as três saem me deixando sozinha. Tentei não pensar muito na conversa com meu pai, mas era inevitável. Clarkson nunca foi um homem que demonstrava seu amor fraterno e, fazia questão de, todos os dias, demonstrar o quanto detestava que eu havia nascido mulher. Mamãe sempre teve um problema para ter filhos e eu me cansei de contar quantas noites eu passei em claro chorando pela morte de um irmãozinho que eu jamais cheguei a conhecer.

Gostaria de poder passar o dia inteiro jogada na cama, mas sabia que tinhas tarefas a fazer. Precisava fazer um discurso estonteante para esta noite e depois precisava passar o dia no escritório com meu pai para fingir que eu estava ajudando a governar o país, já que minhas opiniões nunca foram ouvidas por ele. Mas antes de fazer tudo isso me permito ir por alguns segundos na varanda e olhar para o céu. Fico imaginando como minha vida seria se eu tivesse a possibilidade de viver fora desses muros, a possibilidade de não ser uma Um, a possibilidade de ter uma vida onde eu não fosse constantemente menosprezada pelo meu pai e sim amada. Olhei uma última vez para o céu imaginado como eu seria se tivesse essa possibilidade

POV Maxon

— Maxon vem aqui na sala que o Jornal Oficial vai começar! - minha mãe grita

— Estou indo! - falo colocando minhas fotografias na gaveta

Não gostava de assistir o Jornal Oficial, achava inútil saber como o rei estava nos governado e ainda ter que ver a princesa sempre sabendo o que falar ao seu lado. Isso me irritava, mas era a única coisa que fazíamos todos juntos então eu deixava minha raiva de lado

— Estou aqui mãe - digo me sentando no chão e May logo vem para o meu colo

O Jornal começa e por incontáveis minutos sou obrigado a ouvir o rei Clarkson falar sobre orçamentos, infraestruturas e seus malditos planos que nunca resolviam problema algum

— Hoje à noite teremos um anúncio especial aqui no Jornal - o apresentador fala e com isso Gavril Fadaye aparece e toma seu lugar

Minha mãe e May aplaudem quando o entrevistador da família real entra em cena enquanto eu apenas reviro os olhos

— Boa noite Illéa! Hoje nossa querida princesa tem um anúncio muitíssimo importante para todos nós, não é mesmo? - ele pergunta para a princesa que sorri e vai até ele

— Boa noite Gavril. Sim, hoje tenho um grande anúncio para fazer - diz sorrindo e de cabeça erguida - Estou quase chegando a idade adulta e meu pai e eu - diz e olha para rei que sorri com aprovação - Chegamos à conclusão de que eu preciso encontrar um parceiro - diz sorrindo e fazendo uma pequena pausa - Então, como faz parte da tradição de Illéa, eu irei fazer minha Seleção. Qualquer jovem entre dezesseis e vinte anos pode se inscrever para ser um dos trinta e cinco escolhidos disputando por mim - diz e sorri timidamente - e pelo futuro posto de rei de Illéa - fala e vejo Gavril ficar surpreso ao seu lado

— Então um rapaz sortudo será o futuro rei de Illéa? - o entrevistador diz sem acreditar

— Sim e por isso enquanto eles estiverem aqui terão diversas aulas sobre a política do país e sobre várias outras coisas para ajudá-los em sua futura posição - conclui e depois vira para a câmera - Qualquer jovem rapaz pode vir a ser um Filho de Illéa. Todos os possíveis candidatos já receberam suas cartas junto com um formulário onde deverão preenchê-lo com sinceridade e entregá-lo no Departamento de Serviços Provinciais da sua localidade. Desejo a todos boa sorte - termina

— Maxon! Você pode se inscrever! - May fala animada - Imagina você o futuro rei de Illéa! - diz pulando e eu rio de sua reação

— Acho que não ruivinha, eles nem mandaram uma carta para nós

— Na verdade - minha mãe diz interrompendo - Mandaram - fala e me entrega o papel

Pego a carta e vejo que estava endereçada ao "solteiro rapaz residente na casa dos Schreave" e com cuidado a abro e sinto o olhar de todos na sala em cima de mim e eu começo a ler

— "Confirmamos no ultimo senso que um homem solteiro entre dezesseis e vinte anos reside atualmente em sua casa. Gostaríamos de informa-los sobre uma oportunidade próxima de honrar a grande nação de Illéa" - sinto minhas mãos tremerem enquanto eu lia - Nossa amada princesa, América Singer, atingirá a maioridade e para adentrar a nova fase da sua vida ela busca um companheiro. Se estiver interessado em tornar-se o príncipe e futuro rei de Illéa, preencha o formulário e o leve para o Departamento de Serviços Provinciais mais próximo. Um jovem de cada província será escolhido aleatoriamente para se encontrar com a princesa e viver no palácio em Angeles durante todo o processo. Enquanto o escolhido estiver na Seleção será enviado semanalmente um valor para sua família para recompensar a ausência do escolhido" - termino de ler e vejo o olhar de todo sobre mim

— Você tem que se inscrever - minha mãe diz contente

— Não! - eu respondo jogando a carta com os formulários para longe - Eu não irei me inscrever!

— E por que? - minha mãe pergunta irritada

— Porque eu não quero competir pelo amor da princesa, que com certeza deve ser mais uma dessas meninas mimadas que eu vejo todos os dias

— Filho... - meu pai começa

— Eu já disse que não - falo e subo as escadas para o meu quarto

Não queria dizer a eles o real motivo de eu não querer entrar na Seleção. A morena que povoava meus sonhos e pensamentos, a morena com quem eu queria me casar

— Mas Shalom... - escuto minha mãe protestar

— Magda o deixe dormir, não podemos obrigá-lo a fazer isso. Deixe-o pensar a respeito e amanhã conversaremos novamente - ele diz e escuto minha mãe suspirar

— Tudo bem - ela diz e não escuto mais a voz deles

Fiquei deitado em meu quarto durante horas e, quando era quase meia noite, saio pela janela com cuidado indo para a casa da árvore me encontrar com ela. Subo as escadas de madeira e me sento aguardando sua chegada, mas não precisei esperar muito pois sabia que ela ansiava por esse momento tanto quanto eu

— Olá - ela diz me abraçando no espaço diminuto

— Olá meu amor - digo e ela sorri, como sempre

— Trouxe comida - diz me entregando um potinho com um pouco de carne

— Celeste, você sabe que não precisa fazer isso - digo, mas começo a comer

— Eu sei, mas adoro poder dar algo para você - fala se aconchegando ao meu lado - Como foi seu dia? - pergunta descansando a cabeça em meu ombro

— Longo - digo suspirando - Meus pais querem que eu me inscreva na Seleção da princesa América

— E por que você não se inscreve? - pergunta brincalhona

— Porque a única princesa que eu preciso está bem aqui - digo beijando sua testa

— Brigou muito com seus pais? - pergunta olhando nos meus olhos

— Não - digo com um dar de ombros - Fui para o meu quarto e fingi que estava dormindo, ninguém me incomodou - digo e ficamos em silêncio

Faço carinho em seu cabelo e ela acaricia minhas mãos. Celeste parecia estar com o pensamento longe dali, então puxo seu queixo em minha direção para que eu pudesse vê-la

— No que está pensando?

— Que você deveria se inscrever na Seleção - diz com a voz baixa

— Mas por que? Se eu tenho você comigo - pergunto um pouco aflito

— Eu não sei... Mas eu jamais me perdoaria sabendo que você teve a chance de subir de casta, melhorar sua vida e não o fez por minha causa

— Mas eu amo minha casta, amo ser fotógrafo e o mais importante de tudo, eu amo você - digo e ela abre um sorriso

— Eu também te amo e, por que eu te amo, peço para que se inscreva, apenas isso. Dificilmente você será escolhido, mas o que custa se inscrever - diz e eu reviro os olhos

— Tudo bem, irei me inscrever apenas para provar para você que o destino nos quer juntos, pois eu não serei escolhido

— Ótimo - diz sorrindo

— Agora podemos mudar de assunto? - pergunto

— E sobre o que você quer falar - pergunta me olhando profundamente

— Na verdade, não quero falar - falo a puxando para um beijo apaixonado

Enquanto eu a beijava eu sabia que nada nesse mundo, nem a possibilidade de ser um Um, nem de mandar mais dinheiro para a minha família e nem do conforto que o palácio teria a oferecer me faria querer sair de seus braços