Fire PDV

Eu sabia que começaria pelo fim.

Mas a memória do fim não era importante agora... não era o que eu buscava.

Mas, era algo pelo qual eu tinha que passar.

Me preparei para a sensação arrebatadora que seria; senti e ver a morte pelos olhos de um humano — o último minuto de vida desse hospedeiro.E assim como esperei,a memória veio: amedrontada e carregada de dor.

A dor não era física,mas era insuportável.

Não conseguia identificar a fonte de tanta agonia porque não havia nada,nenhum flash ,nenhum pensamento.Nada.

Era como se o ultimo instante de consciência desse hospedeiro não existisse alem da dor. Tinha apenas a dor e um nome;

Wanda.

Esse nome era um grito mudo na minha cabeça—Não tinha som e parecia ecoar por todos os lados.

A memória era escura e vazia exceto pelo nome e as emoções que fluíam por meu corpo tão fortemente que desorientava.

Nunca imaginei que alguém pudesse sentir tanto medo — nunca senti essa emoção com tanta intensidade como nesse hospedeiro — Não sem a ausência de uma memória para justificar.

Eu esperei por mais,durante alguns minutos algo alem desse vazio a da escuridão ,mas tinha acabado.A dor,a agonia, o medo inexplicável, simplesmente acabou.

Eu realmente não esperava por isso.Mesmo sabendo que eu teria problemas com as lembranças, não imaginei que esse problema se estenderia desde o primeiro minuto dentro desse corpo.

Ele estaria danificado?

Tentei lembrar de algo, procurar por algo que ajudasse a justificar essa falha.

Um lugar...uma situação...alguém...Até mesmo procurei por sinais de que a mente do hospedeiro ainda estivesse aqui.

Mas eu não via nada.Como se esse hospedeiro não tivesse memória ou...

Seria impossível.

Não é possível que ele ou possa resistir tanto ao ponto de me bloquear totalmente.Se esse fosse o caso ele teria controle desse corpo.

Eu sabia que a taxa de êxito em inserções com hospedeiros resistentes era mínimas. E que esse corpo seria descartado, assim que eu conseguisse ou não a informação.

A falta de memória me inquietava. Era estranha a sensação de não conseguir me lembrar de nada de sua vida.

Se o hospedeiro estava resistindo, e se a ultima memória é tão importante ao ponto dele não permitir eu ter acesso a ela—Seria porque ele tinha mais segredos para esconder que apenas os métodos que utilizou para sobreviver até agora.

Essa descoberta me vez ver que eu não poderia desistir desse hospedeiro, mesmo não conseguindo a informação imediatamente.

Não ainda.

Sabia que havia algo maior a se descobrir, maior que apenas um humano como todos pensam.

Era meu dever permanecer aqui até descobrir, era meu dever proteger as almas desse planeta, mesmo que para isso eu precisasse desistir do meu antigo hospedeiro e ficar em um corpo que representa perigo para mim.

Esse era um sacrifício que eu pagaria para cumprir o meu chamado.

—Tire suas mãos dela! —alguém gritou.

Estava tudo escuro, não dava para ver nada, mas eu sentia uma pessoa junto de mim.

Minhas mãos apertavam alguma coisa e eu ouvia um som; gruídos e engasgos como se alguém estivesse sufocando. — Era o choro de uma mulher.

Eu tentava me forçar a enxergar, ver ao menos um flash de luz, mas meus olhos estavam pesados como se estivesse vendados ou simplesmente eu fosse cego.

Abrir os olhos subitamente — suor escorria do meu rosto e eu estava levemente ofegante.

Olhei em volta constatando que já amanhecerá, senti um alivio estranho por perceber que eu ainda enxergava.

Fiquei deitado por alguns segundos, acalmando minha respiração e pensando no sonho — tentando descobrir algo que eu pudesse usar.

Mas nada mudou. Era sempre tudo escuro.

Já se passaram dias e eu não conseguia me lembrar de nada.

Essa foi a primeira vez que eu sonhei com esse corpo, mas parecia tão fora do lugar. —Já que eu só pude ouvir e não ver nada no sonho.

Poderia ser tantas possibilidades; lembranças de antes das almas chegarem a esse planeta, sonhos antigos do meu corpo ou apenas um sonho meu. — Não havia como eu negar que essa situação estava me deixando ansioso.

Suspirei e olhei o relógio, já estava na hora.

Hoje eu faria a ultima tentativa de extrair memórias desse hospedeiro.

Pétalas Abertas Para A  Lua, ainda estava traumatizada pelo seu seqüestro e não pode nos dar informações sobre como tudo aconteceu.

Uma alma não deveria passar por tudo que ela passou ,não com sociedade que criamos — Ainda mais em um corpo hospedeiro tão frágil quanto a própria alma dentro dele.

Segundo informações ela não conseguiu se recuperar do choque dessa violência e não diz uma palavra desde que saiu da instalação de cura.

Não era certo,ir a te lá para interroga-la ,não com um corpo que traria de volta a ela todo o horror ao qual ela passou. — Não sabemos que tipo de atrocidades foi feito a ela enquanto era refém do humano.E isso me preocupava,mas era preciso ... era para o bem maior.

Pétalas Abertas Para A Lua é uma alma e sabe que isso é o que verdadeiramente importa.

Suave Melodia,me olhava de maneira calma mas apreensiva.

Ele se preocupava com minha insistência em permanecer nesse hospedeiro—era perigoso de muitas maneiras, eu sabia,mas sua principal preocupação no momento era minha visita a Pétalas Abertas Para A Lua.

—É errado faze-la passar por isso.

—Eu entendo o que diz e sei que será horrível...mas é para o bem maior.Tenho certeza que ela sabe o quanto é importante descobrirmos tudo a respeito desse hospedeiro...—disse ,minha voz transparecia todo minha culpa por chegar a esse extremo.Mas eu preciso saber. — Precisamos descobrir,de onde ele vem,o que fazia na estrada , porque estava com ela? Se havia mais alguém com ele?É importante sabermos tudo isso, significa a segurança de muitas almas.

Melodia,suspirou e assentiu.

Nenhuma alma recusaria algo para o bem maior.

Eu tinha certeza disso, porque eu não recusaria.

Nesse mesmo momento eu estava em um hospedeiro que representava um perigo para mim, estando disposto a permanecer aqui até ter certeza que cumprir o meu chamado.

Permaneci por alguns segundos dentro do carro assim que chegamos à casa da Confortadora de Pétalas Aberta Para A Lua.

Uma sensação inquietante me tomou.

Desci do carro e a cada passo que eu dava sentia meu hospedeiro reagindo a isso—Era a primeira vez que isso acontecia: ele demonstrar sua resistência tão abertamente.

Não foi uma surpresa para mim — eu já sabia que enfrentaria essas dificuldades, uma vez que ele era tão forte ao ponto de não me permitir ter suas memórias—,mas mesmo assim era uma sensação desconfortável ,saber o quanto ele era capaz.

Eu me obriguei a continuar andando sabendo que estava no caminho certo para ter as informações que preciso.

Melodia também parecia ansioso, ele temia muito pela alma.

Dei uma leve batida e ouvi uma voz gentil nos mandar entrar.

Entrei, passando os olhos pela sala.

A Confortadora estava sentada em um sofá de frente para mim.Enquanto Pétalas Aberta Para A  Lua, estava de costa, eu via apenas seu cabelo dourado.

Andei quietamente em direção a ela, meu coração por alguma razão batia rápido tornando minha respiração um pouco pesada.

Ela se virou para o som dos meus passos e pela primeira vez eu vi seu rosto depois daquela terrível busca na estrada.

Primeiramente não havia nada em sua expressão. Seus olhos cinza prateados estavam vazios.

Seu olhar encontrou o meu, ela me fitou por alguns segundos sem reação,mas depois de alguns segundos seus lábios, ficaram brancos,e varias lagrimas desceram por seu rosto—Mas ela não desviou o olhar,parecia buscar por algo em meus olhos.

Meu corpo parecia vibrar — como se hospedeiro lutasse dentro mim enquanto eu a encarava.

Não sei o que Pétalas Abertas Para A Lua viu, mas pareceu ser horrível, porque ela desmaiou no segundo seguinte.