Novamente Alice escrita por Sol


Capítulo 16
Lembranças?




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Alice

  Acordei sentindo meu corpo aquecido, estava envolvida por um ótimo cobertor, esfreguei os olhos e me levantei, olhando ao redor e me recordando, ainda sonolenta, dos acontecimentos de antes. Parecia que eu havia dormido por horas seguidas, o tempo aqui parecia muito mais lento quando parávamos para pensar nele, ainda estava um pouco escuro, era fim de madrugada possivelmente.

—Bom quase dia que na verdade é noite, mas mesmo assim bom dia!

—Hm? – A imagem de Ches apareceu a minha frente, levei alguns segundos para interpretar toda sua frase. —hm... Bom quase dia... Se bem que falta pouco para amanhecer, eu acho...

—Falta sim, o que é bom, não quero correr mais riscos de ataque por estarmos no escuro. - Ele sorriu tortamente, da mesma forma que sempre sorria quando uma piada era entendida. Olhei ao redor, White estava acordado, sentado olhando para o céu enquanto Let dormia calmamente ao seu lado.

—Está melhor? – Perguntei, chamando sua atenção a mim, ele apenas maneou a cabeça de forma positiva, o que foi suficiente para perceber que ou ele realmente melhorou, ou ele estava fingindo e era um teimoso sem cura.

—Aqui está! – Ches se ajoelhou a minha frente, com a caixinha que resgatamos em mãos, peguei-a com bastante cuidado, havia sido sofrido a conquista. —Pelo visto faz parte do desafio. – Retirei a tampa e me surpreendi ao ver várias pecinhas de um quebra-cabeça. —Pelo que entendi devemos montá-lo juntos, podemos esperar pelo amanhecer de verdade.

—Pode ser. – White resmungou, dessa vez conferindo se Let dormia bem.

   Voltei meu foco às pecinhas, misturando elas na caixa, era quase loucura imaginar que estávamos aqui, quando eu deveria estar em casa, com meus pais, vivendo mais um dia comum e totalmente seguro. Esses dias pareciam impossíveis de voltar agora e, quanto mais eu conhecia sobre esse mundo, menos algumas coisas faziam falta.

   Suspirei e deitei novamente, sentindo meu corpo ainda um pouco cansado. Precisaria do dobro das forças se encarássemos outro desafio.

—Me acordem quando quiserem montar o quebra cabeça. – Avisei, tampando a caixinha novamente e a deixando ao meu lado, respirei fundo e tornei a dormir, dessa vez sem a mesma pressa e necessidade de antes.

~ # ~

  O sol iluminava bem o lugar em que nos reuníamos, estava tão quente que chegava a ser incômodo ter que olhar para cima. Aproximei-me dos meninos, agora já totalmente acordada, fazia um tempo desde que tínhamos começado a montar aquele quebra.

— Então é isso? – White pareceu inconformado, entretanto Ches parecia bastante focado no resultado.

 — É bem diferente do esperado... Eu... Acho! – Comentei ao me sentar ao lado dos dois e entregar uma fruta a Let.

— Parece um pouco embolado... Mas não me é estanho. – White murmurou um pouco pensativo, o que me irritou, já que ele havia reclamado muito e ajudado pouco.

— É claro que está embolado! – Retruquei cruzando os braços. ─Vocês não têm habilidade nenhuma para quebra cabeças. Céus demoramos mais do que deveria, nunca pararam nas suas vidas para montar nenhum?

─Não! – White se emburrou. ─Por que eu perderia meu tempo montando pecinhas pequenas e sem nexo? 

— É... – Ches murmurou do nada, chamando nossa atenção. ─Realmente... Me parece familiar. – Ele concluiu passando a mão pelo cabelo.

— É um... Animal! – Comentei, analisando a figura que se formou do quebra cabeça, no meio do grande circulo estava o desenho de uma raposa cinza de frente.

— Eu realmente acho isso familiar. – White insistiu, ele parecia agoniado e irritado por não saber, ou não se lembrar, Ches concordou, ele estava incrivelmente silencioso.

 Observei a figura, bem na testa da raposa cinza, estava uma espécie de símbolo, uma pequena coroa, e embaixo dela estavam algumas letras: “JRSOV”, Ches passou a mão sobre o símbolo, eu notei que seus olhos estavam um pouco marejados.

— Conhece isso Ches? – Perguntei preocupada, ele concordou em silêncio sem desviar o olhar. ─O que houve? - Encarei White, para a minha surpresa ele também parecia um pouco em choque e confuso.

— Alli... – Ches murmurou com a voz trêmula, eu apenas o encarei sem entender, mas White pareceu se surpreender por um instante, logo se dispondo a se aproximar. ─Veja... - Ches pegou a mão dele e a puxou até as letras da imagem. — ‘Jadis renascerá... ’

 — Sempre outra vez!’. –White completou, seus olhos se arregalaram no mesmo instante e ele voltou a encarar a raposa, mordendo os lábios. — Co... Como?

— O que é isso? – Eu perguntei, mas nenhum deles respondeu, Ches se levantou e saiu de perto do símbolo. ─Ches? – O loiro parecia respirar com dificuldade, o que me preocupou. ─Meu Deus! – Levantei e corri até ele, suas mãos tremiam bastante e ele já estava começando a soluçar. ─O que houve?

Ele ergueu os olhos e abriu a boca para responder, mas, no mesmo instante, um grito infantil nos assustou.

─Socorro! Eu me perdi! – Ouvimos novamente a voz, vinda de um fundo da floresta.

─O que será que é?- Minha preocupação pareceu dobrar, encarei os meninos, que pareciam ter saído do choque. ─Vamos ver... – Puxei Ches para o local de onde vinha o som, ouvi White resmungar ao fundo que iria juntar nossos pertences, mas ignorei. Nós entramos no meio das arvores, sendo guiados pelo som do choro da criança.

─Por ali! – Ches mudou a direção, ele parecia poder ouvir todos os ruídos perfeitamente, mesmo com os ruídos dos gravetos e das folhas sendo pisadas, e mesmo com som de pássaros cantando por perto. ─Aqui! – Ele acelerou os passos. ─Ah–

   Parei bruscamente, quase perdendo o equilíbrio. Ches não teve a mesma sorte e notei que não foi o único. Outro menino havia cruzado nosso caminho, Ches estava tão focado nos ruídos que não o percebeu e acabaram colidindo. Somente pude ver quando ambos caíram ao mesmo tempo, surpresos.

─Sai de perto, Monstro! – O menino estava jogado no chão, mas conseguiu a façanha de desembainhar um punhal e erguê-lo.

Ches se sentou, seus olhos faiscavam de raiva e ele havia cerrado os punhos.

─Está cego agora, Mitch? Sou eu seu desmiolado!

O menino o encarou e eu o reconheci como o que encontramos no dia anterior, ele sorriu meio sem jeito e guardou o punhal, com o olhar focado no chão.

─Me desculpem, é que perdi o... – Ouvimos novamente um choro infantil, dessa vez bem mais próximo, olhei para a nossa frente e encontrei um pequeno menino moreninho encolhido, chorando aos soluços. ─Kim! – Mitch se levantou no mesmo instante e correu até o menino, aliviado. ─Céus eles me matariam se eu não te achasse.

 Ches se levantou, ainda emburrado, e começou a limpar as roupas, ele suspirou, encarando a cena do ‘reencontro’ e se virou para me encarar.

─Vou buscar nossas coisas, fique aqui com ele, deixar esse desmiolado com uma criança é o mesmo que pedir por confusões como essas... – Ele respirou fundo. ─Espere aqui, vou buscar aquele coelho arrogante, ele é o único que sabe lidar com esse serzinho.

 ─Eu ouvi tudo. – Mitch resmungou, mas não pareceu se incomodar. ─Oh não, Kim, não me bate! Não! Ah!

O pequeno menino já puxava o cabelo do mais velho e o estapeava a essas horas.

─Iqueceu de eu! – O menino resmungava. ─Iqueceu de eu.

    Senti uma vontade absurda de começar a rir, mas me contive em me despedir de Ches e correr para separar a possível ‘briga’ entre crianças.


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