Prisão escrita por Rina Cruz


Capítulo 1
Ciclo infindável




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  Tudo é vazio naquele local. A única coisa que se é capaz de ouvir é o som de um pingo de água caindo no chão e acertando o prato de ferro ao meu lado, vazio como minha alma. Minha carne arde como brasas, minhas feridas abertas estão infeccionadas e mesmo assim eu não sou capaz de ter uma morte digna e honrosa. Oh meu Deus, me explique o porquê. Qual é o motivo de eu estar aqui?Qual o motivo de minha prisão?Minha prostração não é suficiente perante seus olhos divinos e cheios de sabedoria?

   Só sei que eu cometi na vida vários erros, nos quais os mesmos repetidas vezes, incessantemente. Meu vazio era tamanho que meus erros me tornava tolo e cego, acreditando que tudo de errado iria acontecer, pois eu era nada mais que uma criança perdida no meio de uma névoa completamente difusa, na qual por mais que tentasse, eu nunca conseguiria sair.

  Eu via as pessoas que eu gostava pelas costas e estas se afastavam de mim a cada passo, pois não eram capazes de sentir o que eu sentia. O coração batendo freneticamente, a vontade de chorar e desistir de tudo, o medo do fracasso e da decepção, a ansiedade de tudo dar certo me tornava aquele amontoado de baixa autoestima e tristeza latente.

  Quando a cela se abria, eu via uma figura negra que me buscara pelos cabelos e me arrastava até a luz. Tudo que eu queria era ficar preso no meu confinamento eterno. Meu confinamento era desconfortável, dolorido e úmido, mas era o local onde eu não precisava encarar meus próprios medos. O medo da rejeição, da negação, do errado, da desconfiança.

  Quando saio, uma sensação de enjoo embrulha-me o estomago, como um soco bem desferido no plexo. Sou amordaçado, amarrado e posto a vista para quem quer que seja, apesar de que a masmorra que me prende é praticamente invisível aos olhos daqueles que caminham por aqueles campos. Eles não podem ver o que eu vejo, não podem sentir a minha dor e não podem ouvir minha voz.

Meus olhos ardem em vista à luz, meu corpo tenta negar, mas a verdade nua e crua da vida me queima com suas chamas brilhantes e sua luz secante. Por muitos momentos me sinto assim, as velhas feridas latejam e as novas se abrem e o cheiro de carne invade minhas narinas, deixando-me mais nauseado do que nunca. Minhas mãos passam a suar, meus olhos se arregalam e esbaldam-se de lágrimas.

  Um andar suave de alguém vindo até mim soou em meus ouvidos, pois o local era vazio e o ínfimo barulho podia ser ouvido no alto daquela masmorra. A pessoa desamarrou meus braços, pernas e minha boca e me segurou quando caia direto de cara no chão e docemente pediu para que eu continuasse a olhar para a luz, sem desviar o olhar.

  Ela suavemente passou a limpar minhas cicatrizes, enquanto sua voz acalmava-me o corpo e a alma. Meu enjoo sumiu, minhas dores cederam, meu coração voltou a bater no ritmo certo e minha respiração se estabilizou. Quando senti meu coração leve, a voz me deitou no chão e como uma brisa de primavera, partiu em silêncio sem ao menos se despedir, sem ao menos prometer retornar.

  Meus olhos passaram a se fechar, levado pelo êxtase do momento e daquela sensação de bem-estar proporcionado. A cada dia que aquela pessoa vinha, me era aberto uma forma de escapar daquele calabouço, e novas portas iam abrindo a cada dia que ela deslizava. Inebriado pela cura efêmera, me levantei e sai correndo o máximo que podia, sem me importar com os perigos que enfrentaria, pois mais uma porta havia sido aberta pela pessoa. Mas algumas portas teriam que ser abertas por minha conta, e essas somente eu seria capaz de abrir e contorná-las. Quando encontrei uma grande barreira me impossibilitando, a sensação de fracasso veio-me a tona, os sentimentos ruins me abalaram e a figura negra me alcançou, arrebatando-me em pancadas violentas. Após tamanha tortura, fui arrastado pelos cabelos e jogado de novo na cela. Tão ferido quanto antes, mas com uma pequena esperança de escapar, que ao longos dos dias iria se esvair.

Oh meu Deus, me explique o porquê. Qual é o motivo de eu estar aqui?

   E o ciclo infindável recomeçaria até que um dia eu encontre a liberdade do meu ser.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu fiz isso baseado no meu sentimento com um transtorno no qual eu sofro, chamado Síndrome do Pânico. Muitos que tem pânico tem medo de se arriscar, se sente pra baixo e não se joga no que realmente faz e acaba sofrendo mais do que necessário. O resto é interpretativo ^^



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