Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 4
Recepção


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando do conteúdo dos capítulos...



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Aquela escola estava lotada de adolescentes chatos e arrogantes... Deduzi isto sem mesmo chegar lá. Meu irmão estacionou em frente ao colégio.

—Tenha um bom dia. –ele sorriu pra mim.

—Você também.

—Até mais. –Edgar apertou minha bochecha e praticamente me varreu pra fora do carro.

—Até... –respondi dando um lento passo para fora do carro.

Observei o lugar imenso por alguns segundos, tinha partes ao extremo bonitas e outras ao extremo descuidadas. O típico contraste rico e pobre que o Brasil não se permite esconder. Entrei crente de que tudo aquilo acabaria bem rapidamente... Mas era uma perda de tempo acreditar naquela mentira.

Estava no corredor procurando meu armário, o número era 158. Até que três peruas me derrubaram. Uma loira de cabelo cacheado preso vestida toda de rosa, salto alto... Patricinha clássica. Outra loira com o cabelo mais curto, usando umas roupas, não sei, da moda, acho. E uma guria de cabelo roxo longo liso e solto que mascava chiclete e se vestia como uma cantora de pop... Não, claro que ela não queria chamar a atenção de ninguém com aquilo.

—Não olha por onde anda? –a loirinha Pink, que aparentava ser a mandante da facção, virou como se estivesse desfilando.

—Você me atropela e eu que sou a cega? Deixa de estupidez. Não é minha falta se seu ego polui a visão.

—Quem você pensa que é pra falar assim comigo?! Nem me conhece!

—E sou muito grata por isso. –fui me levantando e recolhendo meus livros que caíram no chão. Sofrer bullying na outra escola tinha me ensinado algumas respostas pra gente como aquela.

—Você vai aprender a deixar de ser abusada. –fui empurrada e voltei a medir a temperatura do chão. Deu vontade de dormir ali mesmo, mas eu não queria perder a moral que eu já não tinha logo no primeiro dia de aula.

Sendo três contra uma é fácil brigar. Eu já estava prestes a sentar a mão na cara delas, mesmo sabendo que ia me ferrar pela desvantagem. Já estava acostumada com covardia, mas isso não fazia doer menos.

—Quero ver você falando do mesmo jeito que antes. –a de rosa estava se preparando pra me dar um tapa com aquela mão cheia de anéis. Seria fácil desviar, aquele tipo de menina normalmente não sabe brigar... Esperei pelos inconfundíveis puxões de cabelo. Antes dela começar, alguém a impediu, segurando seu braço.

—Ariadne? Por que quer bater nela? O que ela fez?–era o garoto do ponto de ônibus. Ele tinha um sotaque estranho.

—Com licença, mas a briga não é contigo, Salamander! –a de cabelo roxo tentou tirá-lo dali, e esse soltou a mão da tal Ariadne.

—Só depois que vocês deixarem ela ir. –parecia até um daqueles filmes adolescentes em que eu troco de canal bem rápido.

—Essa recalcada me insultou! Como se fosse alguém pra falar comigo dessa maneira! –a que viria me bater acabou dando um piti.

—Deixem ela em paz. –ele parecia querer acabar logo com aquilo. –Por favor.

—Ou o que, lindinho? –a de cabelo roxo, que insistia em interferir na intromissão do garoto, botou a mão no queixo dele.

—Ou nada. Deixem em paz. –ele deu um passo para trás, se afastando dela com cara de repulsa, mas tentando disfarçar o nojo.

A outra loira chegou perto da Ariadne e “sussurrou” no ouvido dela:

—É melhor a gente ir. Temos que evitar outros problemas na escola... Depois você revida.

—Eu só vou porque são raras as vezes que você diz coisas inteligentes, Bianca. –ela resolveu sair de cena com as outras. –Vamos meninas, a graça acabou. Deu sorte novata. –as três foram embora tentando pagar de modelos e entraram por uma mesma porta.

—Desculpa por elas... Depois de um tempo param de implicar com você. É que são meio... São meio estressadas... –o garoto parecia não querer ofendê-las. Os olhos dele tinham cor de esmeralda quando vistos de perto... Era bem exótico.

—Meio? Ah, esquece... –olhei para baixo. –Pode me ajudar? –peguei meus livros e cadernos do chão.

—Me desculpe! –ele ajudou a recolher o mais rápido que pôde.

—Você...

—Fala.

—Não é aquele garoto que estava no ponto de ônibus mais cedo?

—Eh! Você se lembra! Você era a menina do pijama fofo e do ursinho, certo? –deu um sorriso de canto.

Caramba... Caramba, caramba, caramba eternamente... Eu mereço... Eu tinha me esquecido. Será que era por isso que ele estava sorrindo? Eu fiquei morrendo de vergonha ali mesmo. Procurei mudar de assunto.

—Aham... Sabe onde fica o armário 158?

—Sim! É ao lado do meu! Eu fico pedindo pra diretora botar o meu sempre perto dos alunos novos. Eu me chamo Salamander... É... Hebrom Salamander.

—Quésia Cortês.

—Eu sei! Amo seu nome.

—Sabe?... Enfim, sem querer deixar óbvio que minha curiosidade é maior que minha educação, mas... Você fala de um jeito muito anormal pra ser daqui.

—Canadense.

—Ah, aquele lugar do xarope de bordo? –ele começou a rir e dizer que sim com a cabeça.

—Sim, esse mesmo! Vamos, eu te levo até o seu armário.

Fui andando atrás do Hebrom, até que ele parou.

—É aqui? –perguntei.

—Não, não... É que... Pode ficar do meu lado, eu não vou te morder. Fica parecendo que você tem medo de mim. –ele parecia um psicopata olhando seriamente para frente daquele jeito.

—Ah, foi mal. –tentei apertar o passo.

Isso é meio estranho, ou ele é bem emotivo ou tem algum problema mental.

—Eh... Aqui. –o garoto virou na minha direção e fez uma expressão simpática.

—Valeu...

—Não foi nada!

A diretora passou por ali no mesmo momento e me chamou.

—Você é a aluna nova por aqui? –ela perguntou pra mim.

—Sou... –respondi quase que sem jeito.

—Seja bem-vinda. É bom ver que já fez um amigo. Mas é melhor irem logo para suas salas. Já passou da hora. –a mulher sorriu e continuou andando pelo corredor.

Eu abri o meu armário e percebi que o Salamander estava olhando pra mim como se prendesse uma risada. Isso fez minhas mãos começaram a tremer e todos os meus livros caíram no chão pela segunda vez.  Ele queria rir de mim... Me ajoelhei pra recolher os livros e o garoto me ajudou de novo.

—Por que não vai embora? Já está mais que atrasado. –falei, evitando contato visual.

—É verdade... –botou todos os livros que conseguiu catar em minhas mãos. – Te vejo depois. –ele beijou meu rosto e saiu correndo.

—Eu, hein...

Acho que ele está tirando onda com a minha cara, foi bonzinho demais pra ser verdade... Acho que... Sei lá... Não deu pra achar nada.


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Notas finais do capítulo

Gostei do pensamento, vou aderir. Também acho que sei lá.
E vocês? O que acham?



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