Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 35
Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Depois de milhares de anos...
Bem, eu venho aqui me desculpar. Digamos que eu andei bem atolada (avaliações e início de namoro/passeio com meu melhor amigo que veio de outro estado pro meu aniversário de quinze anos) ultimamente. Mas agora eu não tenho mais desculpa e vou terminar essa joça. Me cobrem!
Boa leitura aos remanescentes.



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Fatos psíquicos de Quésia

Nosso horário foi mudado hoje de manhã, mas apesar das reclamações a primeiro momento, nós vamos ter Educação Física agora, logo depois do intervalo. Acho que vou passar vergonha dessa vez. Hebrom disse que estava ansioso pra me ver jogar... Esse garoto é simplesmente encantador. Ele é o mais fofo de todos os que conheci até agora.

Por mais que ele só viva falando de Bíblia e coisas assim, conviver com ele é a coisa mais agradável do meu dia. Eu admito que não tenho me incomodado tanto quanto antes, porque o que Brom diz faz sentido pra mim. Eu só saberei se fé consegue preencher o vazio na minha vida se experimentar... Por isso continuo ouvindo o que ele diz.

Fomos para a quadra nos arrumar. No outro corredor do vestiário feminino eu era capaz de ouvir a risada das três porquinhas (aliás, das duas, porque Bianca quase não dizia nada, além de ela ser até legal)... Pareciam estar tramando alguma coisa. Elas zombavam das outras meninas como se fossem superiores. Quando percebeu que eu estava desconcentrada e tentando entender do que elas estavam rindo, Ágata estalou os dedos bem na minha cara, pra fazer com que eu voltasse ao mundo real:

—Nem liga, hoje a plebe vai derrubar a realeza do trono imaginário. –Raitz disse erguendo uma das sobrancelhas e logo depois fazendo cara de nojo. Eu não pude deixar de sorrir. Talvez eu não possa contar com Ágata pra tudo, mas ela sempre que puder vai me defender e tentar me ajudar daquelas duas garotas que simplesmente não foram com a minha cara... Se bem que eu não me lembro da minha cara ter chamado alguma delas pra sair.

Lá fora o professor formou o time masculino e eles jogariam primeiro. Ágata combinou que eu seria a primeira pessoa escolhida pro seu time, porque ela já havia pedido para ser líder. Enquanto isso, os garotos deveriam ir para o centro da quadra.

Hebrom estava abraçado comigo na arquibancada. Conversava comigo sobre o Sábado. Eu finalmente entendi a razão de ele frequentar sua igreja nesse dia, diferente da maioria das igrejas cristãs. Ele me contou que a mudança do sábado para o domingo foi algo feito por homens, não por Deus. Brom tem um senso crítico bem aguçado, por mais que eu ache ele até bobo por ser bonzinho demais às vezes. Virei pra ela e perguntei:

—Se foi tudo por indução da Igreja Católica, por que os cristãos que não são católicos seguem isso?

—Ah... Alguns não sabem, outros preferem o domingo por conveniência, outros usam a desculpa de Jesus ter ressuscitado no domingo.

—Depois que ele ressuscitou, mandou alguém guardar esse dia?

—Não...

—Eu estou começando a entender seu ponto de vista. –suspirei enquanto apoiava a minha cabeça no seu ombro.

—Eu fico muito feliz mesmo por a gente estar conhecendo mais da cabeça um do outro de um jeito respeitoso...

Você tem sorte de ser coerente, porque não é qualquer coisa que eu aceito.

—Digamos que eu sou simpatizante daquilo que você é... O que você escolhe é pra tentar fazer o mundo um lugar menos horroroso. Eu gosto disso... Pra ser sincera, eu estou levando em consideração ter uma religião também. Por enquanto, é a sua, porque foi a que eu mais me identifiquei até agora.

—Você tem pesquisado em outras?

—Pior que sim.

—Bem, se você for ficar com a gente, saiba que será um prazer ter você por lá! –ele começou a dar beijos no meu rosto e eu sorri inevitavelmente. Eu realmente não tenho conseguido engolir que conheci esse garoto por acaso no meio de dois bilhões de pessoas.

Eu tenho conversado com Deus ultimamente e isso faz com que eu não me sinta sozinha. Por mais que muitas pessoas não acreditem, eu resolvi passar a optar por aquilo que me faz bem. Nunca havia sentido uma paz e uma felicidade como essas antes. Ficar com eles dois era a melhor parte do meu dia.

—Mander! –o professor de educação física chamou a atenção dele, deixando de ser a vela da situação.

—Eu tenho que ir, Qué. –fez carinho na minha mão, beijou-a e depois me deixou sozinha na arquibancada. Eu sei que é idiota, mas eu me sinto uma princesa perto dele... E, não, não estamos namorando e muito menos ficando. Nem sei direito o que estamos fazendo... Só sei que é bem divertido.

Apenas por causa da presença dele, o jogo masculino foi interessante pra mim... Folk ficou no mesmo lado que Hebrom. O time deles estava perdendo, mesmo que Folk queimasse um monte de gente, as pessoas voltavam pelo time dele não ser muito bom. Não era uma bola tão dura, mas os garotos eram tão agressivos que parecia doer quando tocava alguém. Francisco não estava perdoando ninguém, tentava constantemente acertar Hebrom (mesmo o canadense sendo irmão do melhor amigo da prima dele), mas Folk entrava na frente do lance e pegava a bola. Eu achei aquilo estranho...

O normal seria esperar que Folker comemorasse quando Brom fosse queimado, mas parecia que ele queria muito ganhar, sei lá... Salamander ficou distraído quando gritei para ele pegar a bola (todo mundo havia percebido que Dewei estava prestes a acertá-lo, exceto ele mesmo), fez até cara de quem tem dificuldade pra escutar.

A bola foi arremessada na sua direção, ele não seria rápido o suficiente pra desviar. Folk veio correndo, gritou um palavrão e logo depois o nome de Hebrom como vocativo, empurrou-o e tentou pegar a bola. Só que essa tática não deu muito certo... A bola praticamente escorregou de suas mãos e ele acabou dizendo palavras feias que eu m sabia que existiam. Sua última fala foi:

—Se ferra aí também, seu desgraçado! Nem colabora! –saiu batendo pé para o outro lado, completamente fulo.

O canadense olhou para os lados e se sentiu meio perdido, porque percebeu que era o único do seu time que restou depois daquilo. Mas, por incrível que pareça, ele resistiu até o último minuto. Sua movimentação era um verdadeiro espetáculo de circo (no mau sentido da metáfora).

Depois que acabou, fui rapidamente até ele dar os parabéns por ao menos não ter sido atingido. Não me importei se ele estava encharcado de suor, dei um abraço nele.

—Parabenizando o carola por quê? Eu que fiz tudo, ele só ficou lá que nem cego no tiroteio e depois que eu fui pro outro lado, ele apenas deu sorte. –Folk se intrometeu em nosso diálogo.

—Obrigado pela ajuda! Eu acredito que não ficaria até o fim sem você. –Brom foi todo educado e estendeu a mão para cumprimentá-lo, mas não teve retorno. O playboy ficou encarando o futuro pai dos meus filhos com ódio mortal.

—Já eu, tenho certeza disso, seu inútil. O que seria de você sem mim? –ele respondeu totalmente rude.

—Você foi ótimo! –falei apertando as bochechas de Hebrom. Sim, eu ignorei as falas e a existência do Folker, porque é a melhor coisa a se fazer.

—Obrigado, Qué! –ele ficou vermelho e sorriu pra mim. Se existisse um medidor de fofura, eu acredito que ele teria explodido naquele instante.

Folk pareceu detestar ver o contentamento do garoto, por isso saiu bufando e esbarrando nele. Até hoje eu não entendo a razão de ele tratar uma criatura tão doce quanto Brom daquela maneira... Nós temos ficado cada vez mais íntimos, mas eu nunca sei o momento apropriado pra perguntar sobre o passado dele. Eu também nem falo do meu... Eu poderia tentar tirar alguma informação nesse encontro, porque admito que estou curiosa.

Só que agora é hora das meninas irem jogar. O professor mandou Bianca e Ágata tirarem os times. Ágata era uma das melhores jogadoras (ele tinha noção disso pelo histórico, mesmo sabendo da agressividade dela em... bem, em tudo o que fazia). Bianca era uma das que sempre fugia da aula de Educação Física, por isso incentivou que se interessasse mais pelo jogo por supostamente escolher a sua “patota” pra ficar no mesmo time.

—Eu quero a Quésia. –disse a... Bianca?!

Ariadne cruzou os braços e fez cara de desprezo, como se não fosse uma surpresa tão grande. Mas Kyara estava com o queixo praticamente encostado no gramado por ouvir aquilo. Eu ainda não estava acreditando... Fiquei imóvel. Ágata me olhava com cara de reprovação, como se eu tivesse “traído o movimento”, porque aquilo estava completamente fora do combinado.

—Vai lá! –uma das meninas me empurrou sem ser brusca ao perceber que eu demorava.

—Cara, o que deu em você? –perguntei à líder do meu time quando me aproximei.

—Qual o problema? Você não quer ficar aqui?...

—Não é nem isso, eu apenas não esperava...

—Nem tudo sai como a gente espera e a graça da vida é essa mesma. As coisas vão ficar divertidas por aqui! –ela deu uma risada quase maléfica.

Ágata e Bianca revezavam em chamar os nomes ou apontar para as garotas, até que restaram apenas três. Raitz precisou apelar, já que nenhuma das três opções agradava seu gosto. Chamou a que melhor jogava (ou ao menos não atrapalhava) ali no meio:

—Argh... Vem, Kyara. –revirou os olhos.

—Estou tão insatisfeita quanto você.

—Coisinha, vem cá. –Bia chamou uma menina que aparentemente nem fazia questão de saber o nome.

—Ah, não, eu me recuso! –van Raitz deu um chilique por notar que a única que havia sobrado pra completar era a ilustre, a maravilhosa, a magérrima Ariadne Galvão.

—Só cala a boca e aceita. –a loira foi carrancuda até o final da fila do seu time.

Eu olhava para as separações feitas e pensava “Mas o que foi isso?”. Bianca evidentemente estava prendendo o riso enquanto assistia o caos reinar naquela aula:

—Agora sim Educação Física é interessante! –gargalhou. Ao menos o professor conseguiu alcançar seu objetivo de uma forma ou de outra.

O jogo de queimado teve seu início, eu só sei que começou a voar bola de tudo quanto era lado e a única certeza que tive foi que eu já estava eliminada antes do quinto minuto. Me senti como aqueles personagens que acordam sem saber onde estão e o que está acontecendo.

Aquela partida havia virado uma verdadeira guerra. Mas foi a primeira vez que eu pude ver Kyara, Ariadne e Ágata sem um pingo de rivalidade. Eu nunca fiquei tão feliz por perder na vida.

Fatos psíquicos de Ágata

Hoje, na hora da saída, Zac veio me procurar. Coisa que eu até estranhei, já que geralmente sou eu que preciso ir atrás dele. Eu estava sentada num banco e ele veio ficar ao meu lado. Estava chorando muito, parecia até o irmão mais novo. Eu tentei decifrar os soluços dele e descobri que Judi havia traído ele outra vez e terminado o relacionamento... Finalmente...

Eu sempre quis isso. Não vou mentir. Fui apaixonada por esse garoto desde a infância, mas ele nunca me viu mais do que como amiga. Só que eu não sei se é isso mesmo que eu quero. Desde que eu ouvi o que aquele otaku sem vida social me disse, eu tenho repensado todos os meus sentimentos por Zacur.

—Você pode ficar comigo agora, Ágata? Eu estou precisando muito do seu consolo... –ele colocou a mão em cima da minha coxa.

Eu não estou crendo nisso... Não no bom sentido, claro que não! O que ele pensa que eu sou?

—Você está de brincadeira com a minha cara, né, garoto?

—Eu não brincaria num momento como esse... Eu estou muito sensível. –enxugou as lágrimas. –Fica comigo hoje... Por favor...

—Você acabou de terminar com a Barcelos!

—Não, foi ela que terminou comigo.

—Ah, você entendeu!

—Eu posso ser sincero com você? Eu sabia que você gostava de mim... Quem não sabia? A questão é que eu estava muito iludido com a Judith pra perceber o quanto você gostava de mim...

—Gostava mesmo... Gostava muito. Exatamente assim: No passado. Escuta, nós van Raitz não nascemos pra ficar em segundo lugar em nada! Eu não vou ficar com você! Primeiramente: Eu já marquei um compromisso com meu primo e eu não vou deixá-lo na mão por sua causa. Você nem gosta de mim de verdade, só quer ficar com alguém agora que levou um chute. Em segundo lugar, eu deveria esperar que você só fosse notar a minha paixão depois de tomar um fora. Eu nem tenho certeza se parei de gostar de você, mas eu certamente parei de ser trouxa. Em terceiro lugar, você sabe onde enfiar isso daqui. –mostrei o dedo do meio e saí de perto dele.

Dá pra acreditar? Que cretino! Parece que, por mais que eu tenha convivido com ele por anos, eu não o conhecia de verdade. Eu percebo que ir pra igreja ou deixar de ir não faz diferença na vida da pessoa a menos que ela permita que a diferença seja feita. Eu não vou rotular todo mundo da religião dele por ele mesmo ser um hipócrita nojento, as pessoas não têm culpa. Eu apenas estou horrorizada com o que aconteceu.

Sei que não sou nenhum exemplo de ser humano, mas eu não assumo porcaria de papel nenhum na sociedade. Eu até acredito em Deus, mas não sou chegada a essas coisas, não me comprometo. É bem difícil aturar as pessoas quando elas não são o que a gente espera...

Enfim... Eu tenho mais o que fazer. Combinei com meu primo de ajudá-lo no treinamento, por isso eu vou para lá agora mesmo.


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Notas finais do capítulo

Será que alguém shippa Ágata e Dewei?



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