Capítulo 47 - Comemorações e...Encontros?

 

- Aeeeeeehh!!! - todos gritam naquela grande mesa do restaurante do Sr. Bacamarte, num brinde bastante animado. O motivo da comemoração não poderia ser outro, já que Raquel teve um ótimo desempenho em seu exame vestibular e sua aprovação era certa. Era só questão de aguardar a confirmação, mas isso já era mais do que decidido. Thiago, Mariana, Renata, César, Stephany, Dona Joana, Seu Joaquim e Fabíola aproveitavam a festa, claro.

 

- Então...como se sente aprovada no vestibular, Srta. Raquel? - pergunta Renata.

 

- Muito bem! Não esperava ter uma nota tão alta

 

- Será que ela também tirou o primeiro lugar? Que nem você, Mari? - comenta Stephany.

 

- Hmm...ela acertou 75% da prova...pode ser que sim, pode ser que não. Sei lá. Vai saber quantos geniozinhos tem por aí...mas que ela tá aprovada é certo - responde Mari.

 

- Minha netinha! Tão inteligente....tão esperta! É mesmo um orgulho! - diz Sr. Bacamarte, abraçando sua adorável netinha - Você já pode voltar a morar aqui, não pode?

 

- Bem...o senhor já arrumou o quarto? - ela pergunta.

 

Faz-se um silêncio.

 

- Eu nunca lembro de fazer isso - ele diz, chorando.

 

- Não se preocupe...ela é uma boa menina. Podemos cuidar bem dela - diz seu Joaquim, se servindo da porção de polenta frita que chegava antes mesmo de Seu Bacamarte colocá-la na mesa.

 

- Ora, seu...como ainda tem a cara de pau de vir no meu restaurante? Primeiro minha pensão e agora...minha netinha

 

- Deixa de ser marrento! Estamos pagando pela comida, não estamos? - diz o velho dono da pensão, comendo praticamente toda a polenta.

 

- Seu Joaquim! Cuidado com o colesterol! - adverte dona Joana.

 

- Ah, que colesterol! Minha saúde está ótima!

 

- Grrr...que seja! Em consideração à minha netinha, não vou brigar com você

 

- Quem aqui quer brigar? - diz seu Joaquim com toda a calma e cara de pau do mundo.

 

Raquel ria, toda feliz. Thiago, que fez questão de se sentar bem perto dela, faz de tudo para agradá-la.

 

- É isso aí, Raquel! Seremos colegas de faculdade ano que vem! Não é o máximo!

 

- Claro que é! - ela responde, alegre - Principalmente...

 

Ela olha para César que, rapidamente, desvia o olhar para seu prato.

 

- ...Principalmente por estar na mesma sala do César. Não é? - ela diz, toda faceira, se aproximando do rapaz, que, temeroso, continuava a desviar o olhar, mas tenta ser educado.

 

- Pois é, né? Estaremos todos juntos - diz ele, vendo o sorriso das gêmeas logo a sua frente.

 

- Parece meio vermelho, César - comenta Renata.

 

- Não é nada - diz ele, ficando ainda mais corado por estar perto de Renata - Bem...olha a hora! Hehehe! Preciso ir!

 

- O que? Já? - comenta Fabíola - Ainda nem começamos a beber de verdade

 

"Imagino o que ela considera beber de verdade", pensa César, ao ver cerca de doze garrafas de cerveja vazias em volta do lugar da médica.

 

- Mesmo assim...parabéns, Raquel! Hehehe

 

- Espere! - a praticamente aprovada o chama.

 

- Heim?

 

- Não vai embora sem me dar um abraço, vai?

 

- Hã? Ah...claro

 

Raquel tenta apertar bem no abraço, mas César não se sente muito à vontade. Por alguma razão misteriosa, Raquel era meio assustadora. E não apenas pelo fato dele ser muito tímido.

 

- O banheiro fica aonde? - pergunta Thiago.

 

- Ali no fundo - responde seu Bacamarte, enquanto servia uma outra mesa

 

- Obrigado

 

- E aí, Raquel? - pergunta Mariana - Agora que você já é uma vestibulanda certa...quais seus planos?

 

- Bem..pretendo estudar bastante no primeiro ano. Quem sabe eu não consiga um projeto parecido com o seu, né, Mari?

 

- Posso te indicar. Você quer Engenharia Química também, não é?

 

- Pois é.

 

- Quantas engenharias vocês tem na faculdade? - pergunta Stephany.

 

- Bem, eles tem Engenharia Química, Elétrica, Civil e de Computação. É uma universidade recente - responde Renata.

 

- Uau, você entende do local mesmo sem estudar - repara Raquel.

 

- Hahaha..a Mari sempre me conta essas coisas

 

- Você não pensa em estudar também, Re? - pergunta Raquel.

 

- Sou muito preguiçosa. Odeio estudar - ela responde - Minha vida tá tranquila do jeito que está

 

"Ela realmente é muito sossegada", pensa Raquel.

 

Ao sair do banheiro, Thiago é abordado por Seu Bacamarte.

 

- Ei, rapaz. Posso falar com você um instante?

 

- S-Sim - diz o garoto, meio surpreso com a abordagem.

 

- Bem...você que já estuda lá...poderia tomar conta da minha neta?

 

- Ora, mas é claro. O senhor nem precisa pedir. Hehe

 

- Falo isso, porque...bem...Raquel parece estar com uma ideia fixa naquele rapaz que acabou de sair

 

- No César? Bem, ela parece gostar dele, mas...

 

- Mas?

 

- Mas ele não parece estar correspondendo

 

- Hmmm...isso é péssimo

 

- Hã?

 

- Raquel é um pouco grudenta quando se trata de relacionamentos...o ex-namorado dela terminou o namoro por causa disso

 

"Ex...namorado?", essa era uma das palavras que Thiago menos gostava.

 

- Bem, ela é um pouco exagerada nos sentimentos. Quando ela gosta de alguém, ela gosta mesmo - continuava o dono do restaurante.

 

"Ou seja....ela vai perseguir o César até a morte, se ele mesmo não der um fora nela de forma explícita. Droga!", pensa Thiago. Mas nem tudo parecia perdido.

 

- Mesmo assim...ela é do tipo que, quando vê que não tem jeito, acaba esquecendo rápido

 

- Sério?

 

- Sim. O garoto ainda não deu um fora direto nela, deu?

 

- Não, não, ainda não

 

- É provável que ela o esqueça rápido quando isso acontecer. Ela só chorou por um dia depois do término do namoro e no dia seguinte agia como se nada mais tivesse acontecido

 

- Puxa. Então..eu ainda tenho uma esperança

 

- Esperança?

 

Thiago vê que falou mais do que devia, mas resolve abrir o jogo.

 

- Seu Bacamarte - ele comenta - Sei que é inusitado dizer isso, mas...eu sou apaixonado pela sua neta

 

- O QUE?!

 

Todos olham para o lugar, mas o velho barbudo disfarça.

 

- Você também quer uma casquinha da minha inocente netinha?

 

- Mas..eu realmente gosto dela e..

 

- Tsc. Mas ela está gostando do outro rapaz...dá para ver isso na cara dela

 

De fato, ao olhar para a mesa e ver Raquel escrevendo César com o catchup na porção de fritas, era de se deduzir que ela realmente estava apaixonada.

 

- Mas ele realmente não quer nada com ela...porque...já gosta de outra pessoa

 

- E ele não vai dar um fora nela nunca?

 

- Bem, ele comentou que seu coração já tinha dona, mas Raquel não quis ouvir e disse que iria esperá-lo para sempre, ou algo assim

 

- Enquanto não for direto, não adianta. E você? Não disse que gosta dela?

 

- Bem...nunca tive uma boa oportunidade para isso

 

- Não vai adiantar enquanto ela ainda estiver deslumbrada. Já sei. Faça seu amigo dar um fora de verdade nela!

 

- O César? Mas ele não consegue ser mal educado nem com uma mosca!

 

- Se ele quer que a Raquel saia do pé dele...é o único jeito. Eu mesmo faço questão que seja aqui

 

- O senhor parece estar se esforçando bastante, né?

 

- Bem, quero a felicidade da minha netinha...coisa que ela não vai encontrar se ficar correndo atrás de um garoto que não gosta dela

 

- Então....o senhor aprovaria que eu namore sua neta?

 

- Bem, eu preferiria que o outro rapaz correspondesse, mas...se ela gostar de você, fazer o que?

 

Thiago não gosta muito da resposta, mas mantém o bom humor.

 

- A gente não pode mudar o gosto dos outros, não é verdade? Se a minha netinha tiver mal gosto...o que posso fazer?

 

Thiago já diminui um pouco o sorriso.

 

- Como dizem por aí...se só tem tu, vai tu mesmo

 

- Tudo bem, seu Bacamarte! Já entendi!

 

E a festa termina. O ano já estava acabando e César também queria voltar para visitar sua família. Thiago ficaria mais um tempo para ajudar outros colegas que ficaram de recuperação nas matérias (aula particular sempre dá uma grana extra), mas ainda consegue falar desse assunto com o amigo.

 

- O que? Um ultimato? - César estranha.

 

- Segundo o seu Bacamarte...é o único jeito da Raquel te deixar em paz... - diz Thiago.

 

- Mas...falar assim...na caruda? Também não quero magoar a menina

 

- Relaxe. Segundo o seu Bacamarte, ela só vai ficar brava um dia e depois já vai ter esquecido tudo

 

- Não sei, não

 

- A menos que você....que você realmente sinta alguma coisa por ela, bem lá no fundo!

 

- Não, não. Já disse que meu coração pertence a minhas musas

 

- Que você ainda não decidiu de quem gosta mais, não é?

 

- Bem, tenho pensado muito sobre isso

 

- E?

 

- E acho que Mariana é quem me completa mais

 

- Sério?

 

- Sim. Ela está mais próxima de mim e acho que tenho mais assuntos em comum com ela, afinal, estamos no mesmo curso. Acho que me decidi pela Mariana!

 

- Puxa, que bom. Então finalmente você fez sua escolha

 

- Não que a Renata não seja atraente e...e...

 

- O que foi?

 

- Também não queria magoar a Renata

 

"Na boa, ela não vai se magoar nem um pouco", pensa Thiago.

 

- Falando nisso. Onde está a Mariana?

 

- Aproveitando as férias para ganhar um pouco mais de dinheiro no quiosque...sei lá...eu tô pensando em sair de lá e me dedicar mais a aulas particulares

 

- Sério?

 

- É. Esses manés bombam nas matérias e pagam bem por aula particular. Huahuahua!

 

- Err...Thiago - comenta César, sobre uma pessoa logo atrás dele.

 

- Quem você chamou de mané? - diz um dos alunos de Thiago, logo atrás dele, com uma cara não muito amigável.

 

- Mané? Quem disse mané? Aaaah....tava falando de uns caras de outro curso...sabe....aqueles manés da Biologia..Hehehehe

 

- Ah, é! Eles são uns manés mesmo! Hahuahuahu! - gargalha o aluno.

 

"Como um cara desses passou no vestibular?", pensa César.

 

Enquanto isso, Mariana faz sua hora extra no quiosque e encontra um colega de trabalho ali.

 

-Oi, Mariana...aqui que você trabalha? - diz o rapaz, um garoto não muito alto, cabelo curto, camiseta e barba bem feita.

 

- Cícero! Nossa, você por aqui?

 

- Pois é. Estava dando uma voltinha na praia. Continua firme lá no projeto?

 

- Lógico. Já te mando aqueles dados assim que acabar.

 

- Beleza. 

 

- Vai querer alguma coisa?

 

- Só um refri. Tô morrendo de sede

 

- É pra já

 

Claro que Renata observa o movimento.

 

- Quem é o gatinho? - Renata provoca.

 

- É só o Cícero. Ele entrou na equipe do meu projeto de iniciação há pouco tempo. É do terceiro ano.

 

- Veterano, heim? Hmmm

 

- Ai, nem vem. É só um colega de trabalho

 

- Não tô falando nada. E como você diz tanto que não está nem aí para o Thiago

 

- E não tô mesmo. Humph! Aliás...

 

- Aliás?

 

- Tudo bem. É um colega de trabalho, mas um colega de trabalho bem atraente. Acho que não faria mal aceitar sair com ele

 

- Peraí, peraí, Mari. Eu tava brincando. Você sabe o que está sentindo

 

- Sei sim. Cícero é gentil, educado, conversa bem e é maduro. É de um cara assim que eu preciso conviver

 

- Mari, Mari...não vai fazer besteira só porque é cabeça dura!

 

- É tão difícil assim aceitar que eu não sou a fim do Thiago? Ele é um bom amigo, mas...não é de um cara assim que eu quero me envolver. Se o Cícero me convidar, eu aceito sair com ele - responde Mariana, pegando a latinha e levando para o rapaz.

 

 

"Mari, Mari...você se acha tão adulta, mas...está agindo que nem criança. Não quero que você sofra", pensa Renata.

 

Enquanto isso...

 

- O que? Você quer marcar um encontro? - grita Raquel, quase explodindo de alegria ao ouvir César no telefone - É claro! Para você, qualquer horário é livre! Tchau!

 

- Parece feliz - comenta Stephany, que assistia televisão na sala.

 

- E estou! O César me chamou para um encontro..ai,ai...será que ele finalmente está gostando de mim?

 

Thiago ouvia tudo, escondido no corredor.

 

"Isso! César se decidiu! Agora é só esperar a Raquelzinha...Isso!", pensa Thiago.

 

- Ai, ai - César pensa alto, do outro lado da linha do telefone - Depois de duas horas finalmente tomei coragem de ligar para ela...mas agora, como eu vou dar um fora definitivo na garota? Que situação...