Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 127
Capítulo 127




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Capítulo 127 - Aquela conversa

 Rodolfo poderia ser considerado um garoto privilegiado por ter uma família realmente preocupada com sua educação. E, como todo garoto chegando aos catorze anos, já havia aprendido muitas coisas sobre a vida. Bem, acontece seus conservadores pais achavam que tudo tinha sua hora certa e, uma semana antes de seu aniversário de 14 anos, os dois prepararam uma situação totalmente especial para aquele diálogo inevitável entre pais e filhos.

- Err...pai? Mãe? E então? - disse o garoto Adolfo, já desconfiado que aquilo que seus pais iriam lhe mostrar não era nenhum jogo de video-game como presente de aniversário adiantado.

- Bem, filho - disse o pai dele, um homem de aparência madura e responsável - Nós três precisamos ter uma conversa.

- C-Conversa?! - gaguejou o tímido garoto - Que tipo de conversa?

- Sabe...você já vai fazer catorze anos...- disse a mãe dele, uma mulher de cabelos castanhos e também de aparência responsável - E precisa saber de certas coisas...

- C-Certas coisas? - Rodolfo já estava adivinhando.

- Sim - continuou a mãe - Sabe quando dissemos que os bebês vinham da cegonha? Então...acontece que não é bem assim..

- E...sabe aquela cena que você viu na TV outro dia? Aquilo tem um motivo e...

 Sim. Era aquele momento. Um dos momentos mais constrangedores na vida de qualquer adolescente contemporâneo (ou pré-adolescente, na maioria das vezes). Ele precisava escapar daquilo. Já tinha uma ideia do que seus pais iriam dizer. Certamente, repetiriam boa parte do que falaram na escola, e na escola já foi constrangedor. Precisava dar um jeito de escapar? Mas como? Os pais pareciam ter preparado uma cilada perfeita. Mesmo assim, deveria ter uma saída. Sempre tem. Como se a adrenalina tivesse acelerado seus processos cerebrais, Rodolfo elaborou um plano de fuga em poucos segundos.

- Lembrei! - gritou ele.

- Lembrou do quê? - perguntou o pai - Da cena? Olha, aquilo lá é mais complicado do que você pensa e..

- Não, lembrei que preciso ir para a casa do Diogo fazer um trabalho de história e é pra amanhã!

- E você só lembrou disso agora? - estranhou a mãe.

- Sabe como eu sou distraído, né mãe? Eu volto até às sete. Tô indo! - disse ele, se trocando enquanto falava num comportamento completamente suspeito.

- Tá bom, mas quando voltar a gente vai conversar - falou a mãe dele. Rodolfo concordou com a cabeça e saiu de casa, fazendo de tudo para esparecer. Sabia que a conversa era inevitável, mas queria estar devidamente preparado para isto. Depois de ligar para o amigo Diogo e pedir que ele desse cobertura caso a mãe dele ligasse pra lá, Rodolfo andava pelas ruas de Marinário pensando em como aguentar o constrangimento da conversa inevitável. O que poderia fazer? Se pelo menos encontrasse alguém que pudesse dar um conselho? Eis que ele vira a cabeça para a frente e vê a garota dos seus sonhos: seu nome era Stephany. Obviamente, a visão romantizada de Rodolfo não incluia o sanduíche de mortadela gorduroso que ela comia.

- Ste...Ste...Ste... - ele gaguejou diante da aproximação da garota que gostava. Por sorte, Stephany o reconheceu enquanto se aproximava.

- Ei, você é da minha sala, não é? - disse ela, obviamente se esquecendo que até já acamparam nas montanhas junto com Thiago naquela jornada em busca de uma flor (*)

 Rodolfo faz que sim com a cabeça. Stephany sorri e oferece um pedaço do seu sanduíche mastigado.

- Quer um teco? - perguntou ela - Tá bem gorduroso. Do jeito que eu gosto.

- Não, obrigado, não estou com fome.

- Sério? Eu adoro. É só perder as calorias indo embora a pé pra casa. É meio longe daqui, mas tá cedo. Você sabe onde fica a pensão do Joaquim, né? Eu moro lá.

- O nome não me é estranho - falou ele.

- O que foi? Tá com uma cara meio chateada. Foi chamado para a sala da diretora?

- Hã? Não! Por que você acha isso?

- Ah, porque estou vindo de lá agora. Tive que ficar depois da aula pra resolver isso, por isso que resolvi comer na rua. Tsc. Ela é uma chata. O que tem demais em fazer guerra de giz no meio do pátio? Não são eles que incentivam a reciclagem? Estávamos aproveitando o giz usado!

- Ah, sim, então foi você.. - balbuciou Rodolfo.

- Mas conta aí. O que é que tá pegando? Pode se abrir comigo!

- Mesmo? - disse ele, embora também se sentisse tímido perto de Stephany - Bom...é que...meus pais vão ter aquela conversa comigo.

- Aquela conversa? Como assim?

- Você sabe...quando te contam como realmente os bebês são feitos.

- Ah, tá. Não falaram disso pra gente na escola? Se bem que já li isso em uns livros dos meus pais quando tinha dez anos.

- Dez anos? Não é muito cedo?

- Ah, já tinha aproveitado bastante a infância mesmo - disse ela, sem vergonha de parecer precoce - Depois meus pais me explicaram  tudo via MSN e ficou mais claro. 

"Via MSN? Com dez anos?", pensou ele, "Ela é bem precoce mesmo...será que ela já..?"

- Mas apesar disso, não sei o que os adultos acham de tão fantástico nisso. Não sinto a menor vontade de me envolver com esses negócios...mas é divertido ver como os meninos ficam doidos com isso.

- D-Divertido? Para mim é constrangedor! - gaguejou Rodolfo vermelho. Isso foi suficiente para Stephany ver que poderia tirar muita diversão daquilo.

- Sério? Talvez se você ficasse mais familiarizado com isso seja mais fácil conversar com seus pais - falou Stephany.

- Como assim  familiarizado? - perguntou Rodolfo.

- Ora, se você tem uma boa relação com seus pais, vai ser fácil conversar com eles com assuntos que você domine pelo menos em teoria. Você tem uma boa relação com seus pais, não tem?

- Bom, de certa forma...

- Ótimo! Então se você estudar mais sobre sexo vai ser mais fácil falar disso com eles!

- C-Como assim, estudar mais sobre sexo? Está pensando em falar com algum professor?

- Não, não precisa ir tão longe - falou Stephany - É só arranjarmos alguma revista pornô por aí. Ainda guardei algumas do Thiago da época que ele era solteiro para implantar provas falsas quando precisasse. Isso pode te ajudar.

- Pornô?! Não! Tá louca?! Somos menores de idade! Se nos pegarem com esse tipo de coisa, vai ser um escândalo!

- Nossa...você é bem certinho, heim? Se bem que...é...talvez fique estranho se seus pais perguntarem onde você aprendeu essas coisas...

- Claro que ficaria! Escuta...agradeço a ajuda, mas acho que vou ter que encarar isso logo e...

- Não, espera...podemos falar com alguém experiente - disse Stephany - Vem comigo!

 Alguns minutos depois, eles estavam no quiosque da sereia, conversando com Renata.

- Oi? Vocês querem falar comigo? - disse a loira, deixando Rodolfo constrangido com a beleza dela.

- Sim. Poderia ensinar ao Rodolfo sobre sexo? - disse Stephany na lata.

- O QUÊ?! - gritaram Thiago e Júlio, que não puderam deixar de ouvir a fala.

- Toma tento, moleque! Tá achando que a Renatinha é o quê?! - gritou Júlio, alheio aos olhares de estranhamento dos clientes e furioso com a proposta de Stephany.

- Espera...ela entendeu errado..

- Ensinar...sobre sexo? - Renata ainda parecia pensativa e surpresa com o pedido. Já Thiago começou a deixar sua imaginação nada pura trabalhar.

* Imaginação de Thiago *

- Hmm..então você quer aprender tudo? - perguntou Renata a Rodolfo, que apenas concordou com a cabeça timidamente.

- É isso aí - falou Stephany - Ensine tudo que ele precisa saber...e mais um pouco.

- Sou ótima nisso - disse Renata - Vem comigo ali atrás da cozinha que eu te ensino. Mas aposto que muita coisa você já vai aprender na hora.

- O QUÊ?! - Thiago gritava - Não, isso é pedofilia! Pare, Renata! Isso é loucura!

* Fim da imaginação do Thiago *

- Não, Renata! Se alguém descobrir o que vão pensar? - Thiago gritou, sonhando alto mais uma vez.

- O que tem se alguém descobrir? - perguntou Stephany - Renata só vai conversar um pouco para prepará-lo para a conversa com os pais dele

- Ah, aquela conversa - disse Renata - Entendi...realmente, falar desse assunto com os pais é constrangedor.

- Eu sei - disse Rodolfo - Mas...estou começando a achar que falar sobre isso com qualquer pessoa é constrangedor.

- Mas eu não sou a melhor pessoa para falar sobre isso - disse Renata - Vocês deveriam procurar um médico ou algo assim.

- Médico! É isso! - gritou Stephany - Vem comigo, Rodolfo.

 O garoto nem teve tempo de argumentar. Thiago sentiu uma gotinha caindo. Renata riu.

- Esses dois formam um lindo casal, não é? - comentou ela.

- Assim como eu e você, né, Renatinha? - disse Júlio, apenas para receber no nariz um punho com a parte de trás da mão de Renata, que não deixava de sorrir nem quando batia em alguém. De qualquer forma, alguns minutos depois, Stephany e Rodolfo estavam na frente de Fabíola.

- Fala, Bi! - disse Stephany.

- Oi, Sté! - disse a médica, aparentemente sóbria - Está se sentindo mal?

- Não, não, não é para mim. É para o meu amigo aqui.

- Err..oi - ele cumprimentou timidamente.

- É? E qual o seu problema? - perguntou Fabíola.

- Bem, é...

- Sexo - interrompeu Stephany - Esse é o problema dele.

- Sexo? Nessa idade? -  estranhou Fabíola - Meu Deus...vocês estão perdendo a infância cada vez mais rápido...

- Hã? - Rodolfo não sabia onde enfiar a cara.

- Mas diga aí, amiguinho. Como assim sexo? Você quer saber se sua namoradinha tá grávida? Ou seu passarinho tá com alguma berruga? Mostra pra tia, mostra.

- O quê?! - Rodolfo já não estava mais vermelho, estava quase laranja.

- Não precisa ter vergonha. Eu sou médica. O seu não vai ser nem o primeiro e nem o último que vou ver - falou Fabíola, já de pé e pronta para arrancar as calças do menino se fosse necessário para o exame.

- Stephany...ela tá me assustando - Rodolfo pediu socorro. Stephany acho que já era hora de arrumar a confusão.

- Não, Fabíola. É que ele quer aprender mais sobre o assunto para não sentir tanta vergonha quando for falar com os pais dele.

- Ah, isso? Achei que era mais grave.

- Bem, os meus pais são meio conservadores. Eles achavam que eu era novo demais para aprender isso até essa semana.

- E eles nem desconfiam que a gente já aprendeu tudo na escola, né? - riu Stephany.

- Mesmo que você já saiba o que eles vão dizer, acho que é importante conversar com seus pais - disse Fabíola - É melhor seguir as orientações da sua família do que tentar descobrir por si mesmo e sem responsabilidade. 

- Uau! Um conselho sábio - disse Stephany - Logo se vê que você está sóbria.

- Sábio? É, talvez eu deva mesmo e...ei, Stephany! Se você concorda com ela, porque me fez passar por tudo isso!

- É divertido ver como os meninos reagem com esse tipo de coisa. Hihi.

- Ah, sim, mas se tiverem alguma dúvida pontual, eu posso tirar também - falou Fabíola - Nessa idade vocês sofrem várias mudanças no corpo. Talvez sintam-se confusos.

- É verdade. Tem nascido uns pelinhos no meu braço - falou Stephany.

- E na xoxota? - perguntou Fabíola.

- Também - respondeu Stephany, sem nenhuma vergonha.

"Será que elas lembram que eu estou aqui?", pensou Rodolfo. De qualquer maneira, Rodolfo percebeu que falar com os pais seria menos constrangedor do que confiar em Stephany, embora tivesse um lugar especial para ela em seu coração.

- Então...você está mesmo preparado para conversar com seus pais? - perguntou a menina.

- Sim - disse ele - Mas obrigado pela ajuda.

- Imagina. Amigos são para isso - falou ela.

- S-Sim. Amigos - repetiu ele, meio receoso de falar alguma coisa sobre seus sentimentos. 

- Bem, então boa sorte. Até mais! - disse Stephany, dando um beijinho no rosto dele e indo embora. Rodolfo ficou parado por alguns instantes.

- Nossa...nunca mais vou lavar essa parte do rosto - disse ele. Bem, ao menos era o plano inicial, até começar a chover e ele ser obrigado a correr para casa. Depois do banho (e necessariamente lavar o rosto), era hora da conversa. Foi um dos momentos mais tensos da vida dele.

- Tá bem, mãe. Eu entendi - disse ele.

- Ótimo. Ainda bem que temos diálogo - falou a mãe.

 "Ufa. Acabou. Finalmente acabou", pensou Rodolfo, "Agora finalmente vou ter paz"

- Bem, agora eu vou sair...e seu pai vai poder ter uma conversa de homem pra homem com você - disse a mãe dele.

- Err..é...é isso aí.  Tem coisas que só homens devem conversar, né, filhão? - disse ele.

 Rodolfo se sentiu desolado em pensamento. É. Agora não tinha para onde fugir. Fazer o quê? É parte da vida.

 PS: Use camisinha.

(*) = ver capítulo 91


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Notas finais do capítulo

É...essa é a conversa que todo mundo precisa ter um dia...
Até o próximo!



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