Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 119
Capítulo 119




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Capítulo 119 - Novidades da Associação de Moradores

  Manhã comum, dia comum. Mais uma manhã em que Seu Joaquim acordou cedo para buscar o seu jornal de sempre. No entanto, essa foi uma das raras vezes em que encontrou com a vizinha da pensão, também de saída da sua casa portando uma dessas sacolas de feira..

- Bom dia, seu Joaquim - cumprimentou a vizinha, uma mulher de mais ou menos 50 anos.

- E o que tem de bom, dona Gilda? - resmungou o mal humorado velhinho, que não fazia a menor questão de esconder seu temperamento.

- Na verdade é Hilda - corrigiu a senhora, mas seu Joaquim apenas leu as primeiras páginas do jornal, o que aumentou ainda mais seu mau-humor.

- Que seja, mas como posso ter um bom dia com notícias assim? - disse o velhinho, olhando inconformado para o jornal.

- Mas todo dia tem notícia ruim, seu Joaquim - comentou dona Hilda - Esse mundo tá perdido.

- Desastre, corrupção, acidente - reclamou o velhinho - Já tô fazendo hora extra nesse mundo mesmo.

- Não diga isso, seu Joaquim. O senhor ainda tem muita saúde.

- Pode ser, mas ninguém dá valor pra ela. Tudo que faço é tomar conta desses badernistas que moram comigo e só me arrumam encrenca.

- Haha. Os jovens são complicados hoje, mas o senhor tem a dona Joana para ajudar, não tem?

- Ela também já tá ficando cansada, sei lá, tava querendo arrumar uma ocupação mais importante, algo que me faça sentir útil. Eu fui um grande investidor, mas hoje tudo que me sobrou foi essa pensão velha.

- Para mim tá bem conservada.

- Claro. Eu sei administrá-la bem, mas são anos com a mesma pensão. Preciso buscar novos horizontes.

- O senhor já pensou em fazer algum esporte? É cada vez mais comum pessoas na terceira idade fazerem exercícios e....

- Eu faço caminhada o tempo todo andando por essa pensão, não preciso de caminhada, o que eu preciso é...é isso!

- O que foi?

 Seu Joaquim havia olhando de relance no jornal e acabou descobrindo uma coisa, no mínimo, inusitada.

- O nosso bairro tem uma associação de moradores.

- Sim, há uns trinta e poucos anos.

- E estão precisando de um novo presidente!

- Mas o senhor já participou de alguma reunião dessa associação?

- Hmm...que eu me lembre, não.

- Vai ser difícil ser aceito como presidente, não?

- Tá agourando, dona Gilde? A senhora não conhece minhas habilidades políticas.

- Não tô agourando nada e é Hilda!

- Que seja, mas parece ser algo útil. Eu, como antigo morador desse bairro, tenho experiência e sei bem como administrar qualquer coisa. Vou me candidatar a esse cargo e é agora mesmo!

- O senhor acha mesmo que pode dar conta?

- Claro. Quem melhor do que eu para apontar o que está errado nesse bairro? Pra começar a barulheira que a vizinha da frente faz toda manhã de sábado ligando o som alto, depois a árvore da dona Julia que vive soltando folhas no quintal da dona Solange. Ah, sem contar os gatos da dona Ágape que vivem fazendo bagunça no telhado do seu Tadeu...bom, tá certo que o meu gato também anda solto por aí, mas pelo menos ele é castrado.

- Olha, e não é que o senhor conhece mesmo o bairro?

- Claro que conheço! E essa associação de moradores nunca fez nada pra melhorar as condições daqui! 

- Bem, é que não tem tido muitas reuniões mesmo...

- E agora é a minha vez de entrar lá e mudar tudo isso. Você vai ver. Vou me candidatar agora mesmo!

- Err...seu Joaquim...

- O que foi? Vai dizer que eu não posso?

- Não é isso, mas...a associação só abre reuniões aos sábados e hoje é quarta.

- Oh, tá. Eu espero. Mas vou deixar avisado para todo mundo que vou revolucionar esse bairro!

 E foi assim que ele fez. Naquela noite, todo mundo da pensão já sabia dos planos do patriarca da residência.

- Então o senhor quer ser presidente da associação, vovô? - perguntou Stephany, ao ver a proposta de trabalho que seu Joaquim escrevera à mão.

- Não só quero como vou. Tá na hora dessa porcaria de associação fazer alguma coisa.

- Esse bairro tem uma associação de moradores? - perguntou Raquel.

- Ah, sim, há uns trinta anos - respondeu Fabíola, enquanto saboreava uma taça de vinho - Mas é o tipo de coisa que só fica no papel.

- Achei legal, seu Joaquim - comentou Thiago - Esse é o espírito de alguém que está sempre pensando no bem comum. Talvez o senhor possa se candidatar até a prefeito.

- Tá com o aluguel atrasado, né? - comento Mariana, não engolindo em nada a rasgação de seda do namorado.

- Bem, só um mês...o meu salário atrasou um pouquinho.

- Prefeito? Bem, quem sabe o futuro, não é? Mas, por enquanto, vou começar pelo bairro.

- Sim - concordou Stephany - Depois a cidade, o estado, o país e, por fim, o mundo, Bwahahahaha!

- Menos, Sté - criticou Mariana - Bem menos.

- Mas o tio Joaquim tem as manhas de chegar lá - comentou Thiago.

- Fale o que quiser, mas ainda vou te cobrar o aluguel - disse o ancião. Bem, Thiago tentou. De qualquer forma, no sábado, lá estava seu Joaquim, vestindo um terno não muito novo, na sala de reuniões da associação. Quando é dito sala de reuniões, entenda por uma garagem cheia de cadeiras. Os presentes? Bem, uns dois senhores, uma velhinha e...o seu Joaquim. Seu Joaquim estava do lado da velhinha e puxou conversa.

- E então, dona Lurdes? Hoje que vão decidir o presidente?

- Se hoje vão extrair um dente?

- Não, presidente! Se vão escolher um presidente!

- Ah, se vão esconder um presente? Não sei, já estamos no Natal.

- A senhora não é da associação de moradores? - dessa vez seu Joaquim tentou falar mais alto.

- Ah...não, não, só vim aqui pegar uma cesta básica. Só estou descansando um pouco e já tô indo embora - de fato, dona Lurdes só pegou a cesta básica e caiu fora. O lugar só tinha dois representantes, além do seu Joaquim mesmo. Um deles parecia estar dormindo e o outro finalmente toma a palavra para começar.

- Bem, como vice-presidente da associação, eu, Carlos Anacleto, vou colocar as pautas e...alguma dúvida? - perguntou ele, ao ver seu Joaquim com a mão levantada.

- Quero me candidatar a vaga de novo presidente da associação!

- Hã? Ah, sim, depois que o seu Coalhada faleceu eu que assumi a presidência, mas não estava muito a fim de continuar...bem, podemos falar disso depois dos outros itens em pauta. Para começar...mudança na marca do cafézinho da sala de reuniões..

 Depois de falar de cafézinho, copos de plástico e bandeirinhas de festa junina (apesar de ainda faltar um tempinho para a festa), finalmente a pauta presidente entrou em ação.

- Bem, agora sobre a presidência...

- Eu me candidato - seu Joaquim levantou-se imediatamente - Tem mais alguém?

 O outro velhinho da reunião ainda não tinha acordado. Seu Carlos coçou a cabeça e acabou por aceitar a candidatura do dono da pensão.

- Bom, se o senhor quer mesmo assumir a presidência....e se não há mais concorrentes...acho que é melhor.

- Espere um momento! - gritou uma voz conhecida antes de seu Joaquim ser declarado presidente da associação de moradores.

- Quem é o senhor? - perguntou seu Carlos.

- Essa voz...não é o...

- Eu mesmo! - disse seu Bacamarte, ninguém menos que um antigo inimigo de juventude de seu Joaquim (e avô da Raquel) - Eu também quero me candidatar à presidência da associação de moradores!

- O QUÊ?! - gritou seu Joaquim contrariado. No que será que isso vai dar?


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