Hellfire Club escrita por Kali, Kali


Capítulo 8
Chapter 8 — Down The Rabbit Hole




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688218/chapter/8

A mulher não conseguiu evitar a gargalhada maciça que literalmente explodira em sua garganta ao assistir Dean tropeçar no meio fio da calçada, rodopiar pelo ar e voar de forma nenhum pouco graciosa em direção ao chão, estatelando-se no asfalto com uma posição engraçada. Eles haviam deixado Coeur d'Alene e seu trágico acidente com um falso gigante grego a pelo menos três horas atrás, e agora encontravam-se em Portland, no Oregon. O Winchester, depois de longas horas de viagem cansativa, — sem pausa para descanso ou lanchinhos, o que, particularmente, o irritara bastante —, decidira que ele merecia relaxar.

Claro, com relaxar, ele não queria dizer meter a cara no chão após um erro de cálculo na hora de descer de seu carro em frente à uma boate lotada, mas o loiro apenas se levantou, inabalável, e lançou um sorriso de lado extremamente brincalhão para as duas garotas que riam da trapalhada do caçador, enquanto erguia as sobrancelhas numa silenciosa mensagem de "estou bem, faz parte do show e do meu charme". Laurel revirou os olhos com a atitude presunçosa do rapaz e liderou o caminho, seus quadris largos sacudindo-se suavemente conforme ela colocava um pé na frente do outro. Desta vez, ela preferiu acompanhá-lo numa "aventura quase sexual no Novo Mundo", como o próprio loiro colocara, ao invés de acompanhar Sam numa longa noite de filmes antigos que o próprio Winchester havia selecionado. Castiel havia desaparecido logo após a chegada dos quatro na cidade, e a morena suspeitava de que ele ainda estivesse atrás de respostas. Escolhera a festa porque queria se divertir, e ser o verdadeiro demônio era, para variar. Era óbvio que as coisas haviam mudado e muito desde a última vez que o demônio pisara e causara na Terra, mas as regras do famoso jogo de sedução permaneciam fixas e intactas, e ela as conhecia muito bem, obrigado. Ela perdera as contas de quantas bebidas lhe foram pagas em tavernas na Antiga Roma, copos de cerveja — a mais nova sensação do momento — pagos por nobres, plebeus, imperadores e até mesmo clérigos. Já na porta da boate, Laurel sorriu ao lembrar-se dos velhos tempos.

E bem, Dean Winchester iria negar a todo custo, mas estava contente por ter sido escolhido como companhia no lugar do seu irmão. Ele, às vezes, era um pouco carente, quando não estava sendo protetor, sarcástico, irônico, ou o que costuma-se chamar de idiota.

— Já está escolhendo presas, senhorita? — Dean zombou, os olhos levemente enrugados e um sorriso de canto que parecia estar mais do que afogado em maliciosidade. Aquela expressão, de uma forma ou outra, incendiou a chama de desafio que Laurel simplesmente adorava sentir queimar na boca de seu estômago.

— Você não parece muito diferente, senhor. — ela devolveu o sorriso, triplamente malvado — Por favor, tente não pegar alguma DST enquanto estiver se atracando com alguém.

— Está preocupada? — ele sugeriu suavemente, os lábios reprimidos na tentativa de não sorrir, enquanto as sobrancelhas claras erguiam-se em desafio.

— O Novo Mundo é insano. — ela rebateu a pergunta sem exatamente respondê-la, enquanto entrava na casa noturna com o loiro ao seu encalço.

— E eu também.  

A primeira coisa que atingiu os olhos de Laurel foram as intensas palavras Rabbit Hole pintadas num forte roxo neon que vibrava na parede principal da casa, e um coelho branco usando uma cartola desenhava-se logo ao lado daquele nome, segurando um relógio de bolso. Conseguia também enxergar o paredão de bebidas alcoólicas com cores variadas e gostos ainda mais exóticos, onde várias pessoas de sexos, gostos e etnias diferentes relacionavam-se sentados nos banquinhos macios de camurça vinho, conversando animadamente. A pista de dança consistia em um lugar qualquer em que conseguisse dançar e se mexer, e Laurel reparou em tamanha luxúria que desabava nos olhares de cada homem e mulher que haviam por ali. Arriscaria dizer até que a própria Luxúria passara naquela boate para dizer-lhe um oi. Sentiu os olhos atentos dos predadores recaírem sobre si e ela sorriu, jogando-se desafiadoramente naquela massa de pessoas para poder dançar ao som de Ghosts 'n' Stuff, de Deadmau5, que vibrava violentamente nas caixas de som do estabelecimento.

— Vamos lá, Dean! — ela encorajou, gritando por cima da música, enquanto requebrava seus quadris animadamente ao som da batida eletrônica. Aquele, depois dos calmos acordes de violino e violoncelo, era seu mais novo estilo de música favorito — Não era você o insano?

E eles se perderam um do outro naquela gigantesca massa de gente. Laurel não queria apenas estoar aquela boate, ela realmente estava levando à sério a ideia de seus mil olhos. Haviam, pelo menos, dez criaturas presentes naquele local, e seriam perfeitos para lhe dar informações necessárias com um empurrãozinho mais do que precisado. Ela, dançando, aproximou-se sorrateiramente do balcão de bebidas e sentou-se ao lado de um homem bonito, com cabelos negros e olhos azuis claros que encantariam até a mais fria das mulheres. Ele sorriu, bebericando seu whisky de forma sensual, e Laurel precisou rir do descontrole de algumas adolescentes um tanto afastadas do homem, que apontavam para o mesmo freneticamente. A morena pediu uma marguerita ao barman e sentiu os olhos azuis penetrantes desfilarem por sua pele expostas graças à roupa que usava.

Pouco antes de entrar na boate, o demônio havia adquirido roupas mais curtas e atraentes, que definitivamente haviam funcionado em seu objetivo de atrair a atenção. Ela agora usava um short jeans preto, repleto de spikes nos bolsos, que dava bela vista à suas grossas e estonteantes pernas de pele morena. Um par de coturnos cobriam-lhe os pés, e um top de malha fina com os dizeres "You're all american idiots" marcava seus seios bonitos e levemente cheios. A barriga lisa e malhada estava de fora, mas Laurel não dava a mínima, aproveitando do corpo de sua casca para atingir seu objetivo. Fora fácil reconhecer quem dominava aquele corpo, que era dono de um físico perfeito, perfume viciante, olhos repletos de eletricidade e um sorriso de lado de fazer qualquer mulher perder o controle.

— Não poderia se rebaixar à um humano qualquer, não é, Asmodeus?

O demônio sorriu, seus olhos azuis tornando-se totalmente verdes, como esmeraldas reptilianas. Ele bebericou o copo novamente, e apoiou seu corpo contra o balcão, aproximando-se perigosamente da morena. Asmodeus era atraente, talvez por sua aura repleta de mistérios e segredos, ou então pela beleza extrema de sua casca. Laurel passou devagar a língua por seus lábios, puxando do balcão a bebida que lhe era servida e erguendo o copo até os mesmos. O homem diante de si sorriu.

— Ora, Laurel... — a voz rouca e profunda faria qualquer outra pessoa eriçar seus pelos imediatamente, mas tudo o que a morena sentiu fora a vibração intrínseca que vinha da garganta do mesmo bater contra sua pele e ricochetear como se a mesma fosse feita de metal — Você também fez uma ótima escolha.

— O que está fazendo aqui?

— Me divertindo, ora. — ele ergueu as sobrancelhas, dando totalmente de ombros, com presunçoso sorriso equilibrado em seus lábios rosados e finos — Afinal, o fim desse mundo está chegando. Por que não relaxar um pouco?

— Faz sentido. — Laurel pousou o copo do líquido amarelado no balcão de madeira novamente e tamborilou a ponta dos dedos contra o vidro, mordiscando brevemente o lábio inferior, o que não passou despercebido pelo belo homem sentado ao seu lado. Ele sentiu-se tentado a ser o causador daquele repuxar de pele — Asmodeus, preciso de sua ajuda.

O demônio reclinou-se no banco de couro do bar e segurou o copo em suas mãos, girando o líquido restante dentro do mesmo enquanto examinava a mulher diante de si de cima à baixo, de forma extremamente pretensiosa. O que poderia ganhar com isso? Não, ele estava longe de ser um bom samaritano, entretanto, queria testar sua vítima. Mesmo que testar Laurel não fosse a melhor das ideias, ele queria ir até o final. Sorriu com amplitude, voltando a aproximar seu rosto do da jovem.

— Claro. Eu ajudo você. — um brilho alegre e agradecido surgiu em seus olhos cafeinados, mas logo a pequenina luz ganhou um tom mais sombrio... A dúvida — Mas quero que me faça algo antes. Um antigo rival meu está aqui. E você sabe que eu não sou a pessoa mais amável e gentil do mundo. Então o que eu quero é bem simples; traga sua língua até mim, e eu lhe digo quais são os Amuletos do Apocalipse.

Laurel meneou a cabeça, de forma que ficasse apenas à alguns centímetros do rosto cuidadosamente esculpido de Asmodeus. Ela correu seus olhos pelo corpo do homem, vendo-o vestido com uma jaqueta de couro, blusa cinza, calças jeans escuras e um tênis qualquer em seus pés. Ele estava propondo um contrato? Pois se fosse, ela sabia como deveria selá-lo. Então sorriu, erguendo-se do banco de couro e estendendo-lhe a mão, fazendo o homem bufar frustrado e rolar os olhos azuis, segurando a palma quente de Laurel com firmeza.

— Quem ele está possuindo?

— Acredite em mim. — Asmodeus voltou a reclinar-se no balcão, dando um último gole no copo de whisky — Você saberá quando encontrá-lo.  

{...}

Laurel teve certeza de que aquele era seu alvo quando o mesmo a olhou em seus olhos e sorriu em desafio, tonando suas órbitas em fendas negras como ônix. Era um homem de pele clara e rosada, com uma barba alourada descendo de forma desregulamentar por seu rosto bonito. O topo de sua cabeça tinha cabelos dourados um tanto compridos, enquanto o resto dos mesmos eram curtos, colados à cabeça. Seus olhos, quando não totalmente negros, eram de um verde escuro bonitos e hipnotizantes, observando as mulheres da boate como um leão no meio de um bando de antílopes. Usava um casaco de couro de gola alta, uma camisa cinza clara e calças jeans skinny agarradas em suas pernas fortes. Estava sentado numa poltrona de couro, bebendo um copo de Bitters presunçosamente, com a cabeça tombada levemente para o lado.

A morena sorriu, provocante, enquanto caminhava pela pista de dança até encontrar-se com o homem, se sentando na poltrona e colocando as pernas estonteantes em cima do colo do mesmo. Os lábios curvados de forma sensual chamaram a atenção do homem, que também sorriu. Laurel pousou sua boca no pescoço do mesmo, depositando beijos suaves enquanto atravessava a barba rala a fim de encontrar os lábios do homem. Ela sentiu a palma da mão do estranho subir e descer em sua perna, alisando-a, ao mesmo tempo que a outra mão envolvia sua cintura. A mulher era uma atriz e tanto, fez seu talento provar-se ainda mais quando agarrou a gola do homem e aproximou seu rosto do ouvido do mesmo.

— Vamos para outro lugar.

— Tem certeza, princesa? — o louro abriu as fendas negras, sorrindo diabolicamente. Laurel gargalhou, apertando a ponta do nariz do mesmo e fechando seus olhos, para mostrá-los tão escuros quando a noite, e o sangue demoníaco pulsando em suas veias oculares.

— Você não me assusta.  

A batida de Do It Like a Dude, de Jessie J, invadiu as caixas de som da boate, espalhando o ritmo por toda a casa noturna. O homem sorriu, passando as mãos por baixo das coxas de Laurel e a segurando contra seu corpo, levando-a facilmente pelo caminho até invadir uma porta próxima dos dois, a abrindo com suas costas. À aquela altura, os dois atacavam seus lábios vorazmente, e quando ela voltou a tocar o chão novamente, a mulher resolveu atacar. Seus olhos tornaram-se negros novamente, e ela sorriu entre o beijo, erguendo um dedo e abaixando-o devagar, o beijo interrompendo-se enquanto o homem caía de joelhos com o rosto contorcido de dor. Ambos estavam arfantes graças ao beijo violento, e, segurando o homem imóvel no chão com apenas um dedo, a morena arrumava o top torto e o short que havia subido alguns centímetros de seu corpo. As chamas negras tremulavam com a suavidade de bandeiras ao vento, e ela sorria abertamente, agachando-se para ficar face a face com o louro. Com a mão livre, Laurel puxou seus cabelos para trás com força, erguendo seu rosto.

— Não leve isso para o lado pessoal, Jackal. — ela pediu, fingindo tristeza — É que preciso de informações importantes que estão com Asmodeus, e você deu o azar de ser um dos inimigozinhos dele.

— Você acredita nele? — o homem riu, audaz, enquanto a morena cerrava os olhos cirurgicamente, desconfiada.

— Fizemos um trato. Você sabe como isso funciona. 

— Não significa que ele irá cumprir, gracinha

Laurel sorriu sombriamente, aproximando seu rosto do homem, fazendo as chamas que escapavam de suas órbitas acariciarem o rosto de Jackal como cobras sorrateiras examinando sua presa antes de atacar. Apertou suas bochechas com o indicador e o dedão, e seus lábios moveram-se suavemente, numa voz rouca e profunda que mal parecia feminina naquele momento.

— Dos meus contratos, cuido eu. — ela sorriu novamente, e lançou o rosto do homem para trás, estalando os dedos e fazendo-o abrir a boca, involuntariamente.

O demônio arregalou os olhos verdes quando soube o que iria acontecer. Antes que pudesse gritar, suas cordas vocais pareceram ser pressionadas contra um rolo compressor, e suas pálpebras pareciam ser feitas de pedra, impossíveis de se fecharem. Os dedos de Laurel, antes finos e delicados, além de esguios, agora pareciam longos, afiados e queimados gravetos de pinheiros, contorcendo-se com um horrível ruído de ossos quebrando, enquanto ela levava os mesmos até a boca do homem. Com o indicador, ela cortou as ligações entre a boca e a língua do loiro, lançando sangue para todos os lados possíveis daquela pequena saleta. Logo em seguida, envolveu o membro com seus dedos demoníacos, que pareciam cauterizar o corte devido às chamas negras, e simplesmente puxou-o para fora da boca com tudo, deixando o homem finalmente livre para gritar e espernear o quanto quisesse, já que agora não poderia se expressar. E enquanto ele agonizava no chão, engasgando-se com sua própria bile escarlate, ela simplesmente virou-se e saiu da sala, murmurando um verso da música que ainda tocava do lado de fora.

 Do it like a brother, do it like a dude, grab my crotch, wear my hat low like you

{…}

 — Aí está. — a morena declarou, sentando-se na mesma mesa em que Asmodeus encontrava-se, reservada das demais mesas da boate — Quais são os Amuletos?

O demônio dos olhos de esmeralda meneia a cabeça, vendo o embrulho ensanguentado pousado de forma grosseira bem ao lado do seu copo de whisky. Ele não realmente achou que Laurel fosse levar aquele desafio à sério, mas estava terrivelmente enganado. Não que se arrepende-se; muito pelo contrário. Agora Jackal não sairia falando idiotices por aí sobre si. Asmodeus deu um sorriso de lado, terminando a bebida num único gole e pousando o copo sobre a mesa, estalando os dedos e fazendo o pacote de língua desaparecer dali.

— Devo admitir, Laurel, você — ele estendeu-lhe um dedo, mergulhado até o pescoço em orgulho e maliciosidade — é alguém a ser respeitado. Então, não vou cobrar um segundo favor pela informação.

O homem deixou que seu dedo se incendiasse, fazendo quatro desenhos de fogo no ar, diante de seus olhos. Um jovem próximo da mesa arquejou surpreso, mas logo em seguida gargalhou sem motivo algum e murmurou algo como "eu estou muito bêbado". O primeiro desenho era um pequeno jarro de vidro, onde algo redondo, e que aparentava ter um rosto, se escondia. O segundo era uma longa lança flamejante, com a ponta feita de obsidiana infernal. A terceira imagem que flutuava no ar era um objeto pequeno e retangular, de cor escura, parecido com uma caixa. Olhando um pouco mais de perto, podia-se ver que era um pequeno sarcófago marrom, onde um gafanhoto dourado descansava. Por fim, o último desenho relatava um cordão, onde o pingente que se equilibrava um ramo de trigo de ouro. Morte, Guerra, Peste e Fome.

Agora que Laurel tinha uma respostas para as suas várias perguntas, estava na hora de agir. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Com sono pras notas, então, teve link pra caramba sim, teve Dean caindo e felizinho, Laurel safadinha e mto mais.
Beijão ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hellfire Club" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.