O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 54
Uma Última Provação


Notas iniciais do capítulo

Olá,

Pois é, o cap tá bem pequeno, mas isso será compensado nos próximos caps.
Aliás, gostaria de anunciar que só teremos três caps pela frente agora. :O

O último cap será postado no dia 21 (quarta) e o Epílogo no dia 24 (sábado). Será meu presente de Natal, rs.

Boa leitura!



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São Petersburgo, Rússia. Setembro de 1910.


            -Strogonoff, Holmes? Que extravagância!

            O garçom havia acabado de retirar os quatro pratos vazios da mesa, sujos do strogonoff de carne que Holmes tinha pedido. Os meninos Grigori e Georgi brincavam, em uma mesa afastada, com uma espécie de dominó, enquanto tomavam um generoso sorvete de chocolate como sobremesa.

            -Acredite, o valor deste prato não é tão exorbitante assim como dos restaurantes de Londres. – disse Holmes, agradecendo ao garçom com um gesto, após ter sido servido mais uma vez por vinho.

            -Ao menos esta foi uma boa ocasião para experimentar um legítimo Strogonoff russo. E a sobremesa também foi maravilhosa. E a julgar pelo apetite das crianças, elas têm a mesma opinião que eu. – disse Esther, voltando seus olhos aos meninos.

            Holmes suspirou.

            -Há um bom tempo que eu não tenho uma refeição tão maravilhosa como esta. Uma boa recompensa, diante do dia cheio que tive.

            E como tivera, sabia Esther. Holmes passara o dia inteiro em cartórios, registrando Grigori e Georgi como filhos adotivos. Graças a um telefonema a Mycroft, o processo foi acelerado, e o que demoraria alguns meses para se concretizar acabou levando apenas alguns dias. Mas agora, o casal já estava com tudo pronto para voltar para a Inglaterra. As crianças já estavam registradas e as passagens de vapor já tinham sido compradas.

            -Mas todo este processo burocrático cansativo terá valido a pena quando estivermos na Inglaterra, finalmente livres deste inferno de país. – disse Esther, apertando sua mão à de Holmes, que sorriu de volta, em resposta.

            -Eu não teria tanta certeza. Posso me sentar? – disse uma estranha, ao lado.

            Esther faltou saltar da cadeira, diante da inesperada intromissão àquela conversa. Holmes imediatamente se virara em sua cadeira, para tentar entender o quê causara tanto susto à sua esposa.

            -O-Olga Ivanov?! – questionou a judia, fazendo Olga sorrir.

            -Que bom que guarda fisionomias, Esther. – disse, sentando-se à mesa.

            -O-O que faz aqui? – perguntou Esther.

            -Mas que fantástico! Eu quis fazer essa pergunta a você, sabia? “O que faz aqui?”, mas vejo que a resposta para minha pergunta está sentada bem ali.  –disse Olga, conduzindo seus olhos para a mesa onde estavam sentados Grigori e Georgi.

            -N-Não... – disse Esther, com os olhos lacrimejados. – Você não vai tocar em meus filhos...

            -Filhos?! Desculpe, querida, mas acho que você quis dizer “filho”. Ou pensa que não sei da história toda? Hein? Minha irmã Natasha tivera gêmeos, um deles nasceu morto, e de repente, ela aparece no primeiro jantar de Natal após o parto com duas crianças?

            -Então, você sabia do plano diabólico de seu pai. – completou Holmes.

            -Sim, é claro que sabia. O tolo de meu pai quis presentear minha irmã Natasha, que sempre tivera dificuldades para engravidar, com uma criança. Bom, ao menos foi isso que ele quis que ela acreditasse. Creio que nós três sabemos muito bem das... “Preferências” dele, então eu acho que não preciso entrar em mais detalhes do que ele realmente desejava fazer com o filho de vocês...

            Holmes e Esther pareciam petrificados. Sabiam que havia algo de cruel no plano do Duque Ivanov, mas ouvir a real intenção dele era pior do que presumir.

            -Então, é isto? Você veio até aqui para matar os dois meninos, e assim ficar com toda a herança para você? – questionou Holmes. Olga sorriu em afirmativa, o que foi o bastante para Esther reagir.

            -Terá de passar por cima de mim! – esbravejou Esther, que precisou ser contida por Holmes.

            -Com todo o prazer. Ainda mais que, com mero estalar de meus dedos, eu posso matar não só vocês e as crianças, mas todos os presentes nesse restaurante. Se fizer espetáculo, todos os presentes neste restaurante morrerão, menos eu e os meus homens, é claro.

            Holmes procurou ao redor, para verificar se era um blefe de Olga. Infelizmente, não era. Havia cerca de seis pessoas localizadas em pontos estratégicos do restaurante do Hotel.

            -Estamos em desvantagem, Esther. – cochichou Holmes, no ouvido dela.

            -Fico feliz por ter se casado com um homem tão prudente, Estherzinha...

            -Não me chame desta forma. – pediu Esther, com raiva transbordando dos olhos.

            -Ora, não fique assim. Foi bom te ver novamente, depois de tantos anos. Saber que você conseguiu obter um pouco de dignidade, apesar da desvantagem de ter nascido judia e sem berço. Uma pena o destino ter colocado você em meu caminho. De meu pai, eu só quero herdar a fortuna, não os inimigos.

            De repente, uma lembrança veio à mente de Holmes, antes que o tal estalar de dedos fosse realmente executado por Olga.

            -Eu tenho uma contraproposta.

            Após breve silêncio, Olga riu.

            -Espero que seja algo relevante, ou não apenas uma tentativa estúpida de se conceder mais alguns segundos de vida. – disse Olga. – Diga.

            -Você pensa que matar estas crianças indefesas lhe dará a fortuna do seu pai por completo. O problema é que as crianças não estão em seu caminho, não apenas porque nenhum de nós aqui deseja um centavo da fortuna do seu pai...

            -Parece que me enganei a seu respeito. – disse Olga, ameaçando estalar os dedos.

            -... Mas sua real ameaça é sua irmã, Vera.

            A menção à Vera fez Olga rir.

            -Eu já acabei com ela, meu caro detetive. É melhor se atualizar.

            -Será mesmo? Pelo que me consta, o que você viu no necrotério foi um corpo carbonizado. Não foi?

            Olga parecia estar em dúvida.

            -O automóvel do noivo dela explodiu. Eu vi com os meus próprios olhos.

            -É verdade. O automóvel explodiu. Mas você a viu entrar naquele automóvel?

            Após longos segundos em silêncio, com Olga absorta em seus pensamentos, finalmente a nobre russa desabou.

            -Aquela vagabunda...!

            Holmes parecia aliviado por perceber que ela se convenceu.

            -Deixe as crianças vivas, e eu te darei o paradeiro de sua irmã. Esta é a minha contraproposta.

            Olga parecia ponderar, mas ainda estava hesitante em aceitar.

            -Você quis dizer, nesta sua contraproposta, que apenas Vera está em meu caminho para conseguir toda a fortuna de meu pai. Mas você está se esquecendo dessas crianças. Não posso viver em paz sabendo que, um dia qualquer, você ou sua mulher baterão à minha porta carregando as crianças pela mão dizendo “vim buscar minha parte da herança dos Ivanov.”

            -Acha mesmo que queremos o dinheiro imundo do seu pai? – interrompeu Esther, mas Holmes a deteve para falar.

            -Eu assinarei um documento, no qual como responsável legal pelas crianças, abdico da parte delas da herança a você. Pronto.

            A proposta de Holmes surpreendeu Olga, notou o detetive.

            -Uma solução jurídica. – observou Olga, com uma espécie de diversão.

            -Que além de pacífica, trará benefícios a todos. Concorda?

            Após um longo silêncio à mesa, com a mão de Holmes estendida ao ar, finalmente Olga deu o braço a torcer, apertando em concordância a mão do detetive.

            -Concordo.

            Esther suspirou, como se tivesse retirado uma tonelada de seus ombros.

            -Traga seus advogados aqui. – solicitou Holmes. – Estarei à sua disposição para assinar esse documento.

            -E quanto à informação sobre minha irmã Vera?

            -Acha que sou tolo? – questionou Holmes, sem se importar com o perigo. – Eu só a darei quando estiver em solo britânico. Mas acho que, por hora, você pode se contentar em saber que esse documento tira as crianças de seu caminho.

            Ainda que resoluta, Olga aceitou.

            -É um homem deveras esperto, Mr. Holmes. Uma pena que você e meu pai tenham se encontrado em lados opostos. Do contrário, ele o acharia um bom partido para mim e você jamais teria se misturado com pessoas da laia de Estherzinha.

            Esther ficou descontente com o comentário final de Olga. Prestes a retrucar alguma coisa, Holmes a deteve mais uma vez, apertando seu antebraço debaixo da mesa.

            -Tenho lá minhas dúvidas. Mas se prefere acreditar nisto. – disse Holmes, dando de ombros. Fazendo uma despedida com a cabeça, Olga se levantou, sendo acompanhada pelos homens que estavam espalhados pelo hotel. Quando já livres da ameaça da mais velha dos Ivanov, tanto Holmes quanto Esther suspiraram pesadamente.

            -Como se sente, sabendo que acabou de decretar a morte de uma pessoa, Sherlock? – tentou recriminar Esther. O detetive deu de ombros, mais uma vez.

            -Sabendo a pessoa que ela é, ouso dizer que não poderia me sentir mais tranquilo. – disse Holmes, sem se aprofundar no assunto.


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Notas finais do capítulo

#TchauQuerida

Pois é, pessoal. Olga Ivanov gritou, esperneou e conseguiu sair com a bolada do pai dela. Mas pelo menos as crianças não foram mortas, pensem pelo lado positivo. No fim, até ela ficou satisfeita com isso, por não ter de matar um estrangeiro importante como o Holmes.

Próximo cap: Finalmente em Sussex! E o começo do fim - dessa vez, é pra valer.


Obrigada por acompanharem essa fic e deixem reviews! ;)



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