Lullaby escrita por Ananda Ayira


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, de verdade...
Boa leitura! ^^



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Tem chovido direito há três dias. O céu cinzento parece não ter fim, a água da chuva se acumulando no parapeito da janela. As gotas frias de chuva me lembram lágrimas. Gosto de pensar que as nuvens também choram porque é um consolo, quando você não sabe se vai aguentar mais é como se sentisse vontade chover toda mágoa, toda dor e todo sentimento, até se esgotar. E deixar o que choveu ajudar a florescer coisas boas.

Eu não vejo problemas com o tempo assim, muito pelo contrário. Mas me preocupo o tempo todo com alguém que gosta de chuva, tanto quanto eu. Porém não gosta de pensar nas gotas de chuvas como lágrimas, e nem que as nuvens possam ficar tristes. Pois isso a deixaria mais triste do que ela tem estado ultimamente.

Quando o sinal da última aula tocou, eu saí em disparada. Sem me despedir de ninguém. Ela não havia vindo na aula, pela terceira vez seguida na semana, talvez algo estivesse errado ou talvez fosse paranoia minha. Mas eu sabia que não ia sossegar enquanto nada me confirmasse alguma das duas possibilidades. 

Assim que cheguei em casa, joguei a mochila em cima do sofá. Ninguém em casa até o final da tarde, quando meus pais voltarem. Mas o silêncio não me alegra, nem um pouco. A primeira coisa que penso é em ligar para Fernanda, perguntar porque ela faltou na escola hoje. Hoje, ontem e antes de ontem.

No início do ano letivo, ela recebeu o diagnóstico de depressão. O mesmo que eu recebi há seis anos atrás, logo após eu começar a ter crises de choro descontroladas após a morte do meu avô. Eu era uma criança, meus pais me ajudaram a melhorar. Mas Fernanda e eu, temos a mesma idade - Dezessete.

E tudo é pior aos dezessete anos.

Um ano atrás, quando ela era uma menina sorridente e que irradiava paz nos olhos castanhos, eu tive alta completa do meu quadro de depressão. Quando começamos a sair juntos, eu devia ter percebido que ela já dava sinais de que estava caindo no mesmo inferno que eu havia passado.

Tive que insistir, e muito, para que ela aceitasse meu pedido de namoro. Ela se recusava a acreditar no que eu sentia por ela, no quão incrível ela era. Correção. Ela é.

Alguns dias, ela aparecia com olheiras fundas ao redor dos olhos que perdiam o brilho a cada dia e passou a ver apenas o pior lado das coisas. Sempre desanimada, perdia a vontade de fazer qualquer coisa. Às vezes era difícil prendê-la em uma conversa, não porque ela preferia o silêncio, mas porque ela começava a pensar demais, em falhas em si mesma que só ela via.

Depois de um tempo, ela começou a ter várias crises nervosas e custava muito a acalmá-la. E mesmo depois de calma, ainda soluçava.

Começo a discar o número e já aparece a opção do número dela, com uma foto nossa juntos. Minha foto favorita. Ela já estava começando o tratamento, mas ainda estava mal, mas convenci a rir para mim. Então a foto basicamente mostra ela rindo e eu feliz por conseguir fazê-la rir, por isso é minha favorita.

Depois de chamar várias vezes caí na caixa postal. Liguei de novo. E de novo. Mais uma vez. Sem conseguir falar com ela.

Não gosto nada quando fico sem notícias dela. Os médicos tinham aumentado a medicação para dormir, e me preocupava muito ela decidir tomar alguns a mais – E alguns meses atrás vi cortes em seu pulso. Ela disse que havia escorregado na calçada mas as linhas em seu pulso eram perfeitas demais. Nem num momento tão sombrio como esse, ela se desfazia de seu, às vezes irritante, perfeccionismo. Mesmo que inconscientemente.

A fiz parar de pensar nisso, pelo menos por um tempo. A fiz prometer que jamais faria algo assim. Mas as palavras dela soaram vazias.

Tentei uma última vez. Cada vez mais apreensivo, com medo que ela tivesse feito algo muito ruim... Fiquei andando de um lado pro outro entre os toques antes de cair, de novo, na Caixa Postal.

Eu não ia conseguir ficar em paz, sozinho em casa, pensando que ela podia estar fazendo alguma besteira. Eu não podia deixar isso acontecer. Ela não podia fazer isso.

Larguei o celular. Não tive vontade de comer. Fui direto para o meu quarto, troquei a camiseta do uniforme por um moletom cinza que Fernanda me deu mês passado no meu aniversário. Ela disse que queria que eu a abraçasse sempre que o usasse, porque, segundo ela, “deixa meu abraço mais quente e a faz querer ficar ali para sempre.”. Então acho que se é um meio de fazê-la ficar, vai ser de grande ajuda.

Peguei celular, e saí em disparada para a casa dela. Que não é tão longe assim, mas ainda dá uma boa caminhada.

Tentei ligar ne telefone da casa dela enquanto andava, quase correndo. Mas também não atendia. Os pais dela deveriam estar em casa um hora dessas... Pensei. Fiquei mais preocupado ainda. Eles não deviam deixa-la sozinha...

— Oi, Matheus! – Ouvi uma voz do outro lado da rua. É incrível como quando o que você menos precisa é demorar, tudo acontece para te atrasar.

— Oi, Majorie. – Disse fingindo entusiasmo.

Essa garota é um pesadelo mascando chiclete. Sério, ela é extremamente irritante e não se dá conta disso. Ela dá em cima de qualquer garoto que vê, e acha isso motivo de orgulho. Ela tem me perseguido desde que a depressão de Fernanda se tornou algo que todos sabiam, a maioria tentava ajudar não atrapalhando. Mas ela tinha o péssimo hábito de tentar ajudar a tornar tudo pior.

Sempre que conversava com Fernanda perguntava sobre as crises, se ela ainda tomava remédios, ou pior, apontava alguma falha ou até mesmo uma espinha no rosto dela. Isso não é certo a fazer, ficar lembrando de tudo que ela passa, ficar apontando falhas, e ela sabia disso. Sabia que isso a faria piorar. Era desprezível ficar perto dela.

— Pra onde vai com tanta pressa? – Perguntou mascando chiclete, e de boca aberta, e mexendo no cabelo. O dia estava frio e garoando, e ela estava de regata. Como ela faz para se auto aquecer, eu não faço ideia.

— Vou passar na casa da Fer. Ver como ela está. – Tentei terminar o assunto, mas ela não desistia.

— Puxa, sua namoradinha te dá trabalho, hein? – Ela não fazia ideia do quão ridícula estava sendo.

— Não, não dá trabalho e sabe por quê? – Ela ergueu uma sobrancelha. - Porque não é nem um pouco difícil estar ao lado dela, mesmo nas crises. Mesmo quando ela não acredita que eu quero estar ao lado dela. – Disparei. Essa garota precisava de um choque de realidade. - Eu acredito que ela vai sair dessa. E ela não precisa de gente como você para tentar dizer à ela o contrário.

Eu não estava a fim de aguentar aquela garota.

— Nossa, tá nervosinho. Sua namoradinha suicida tentou alguma coisa? – Ela não tinha noção da maldade que tinha falado. Resolvi ignorá-la, não era hora de me envolver em uma discussão. Eu precisava estar com a Fer agora.

Dei as costas, mas não pude me conter sussurrar:

— Espero que não.

Meu passado com as inúmeras sessões de terapia, os remédios em altas doses e crises inexplicáveis de choro. Eram coisas que eu não comentava com frequência, não eram lembranças agradáveis, eu realmente tentava esquecer a maior parte do tempo tudo o que senti, o que pensei, o que passei durante aquele período. E, repensando agora, não me lembrava de ter contado para Fernanda.

Eu precisava falar com ela. Ajudá-la a superar esse “monstro”, do jeito que meus pais me ajudaram e os dela não compreendem como fazer. Eu não posso deixa-la cometer o erro de se entregar à isso.

Depressão, nos faz pensar, e querer, coisas horríveis. “Eu quero morrer” não é dito em vão, durante a maioria das crises. O que sente quando se tem depressão é pior que um aperto no peito, um grito que não cala, um choro que não acaba, uma lágrima que não seca. É você da sua pior maneira. Odiando a si próprio, cada falha, cada imperfeição. Nunca um reflexo no espelho é tão xingado e amaldiçoado quanto durante uma crise.

Fernanda está passando por isso agora. E não posso impedi-la de sofrer o que sofre, mas posso amenizar o que ela sente, posso ajudá-la a enfrentar tudo o que sente. Porque eu sei, melhor do que ninguém, o que ela está passando.

E sei que no final as dores passam, os cortes cicatrizam, os remédios acabam, as terapias chegam ao fim. E tudo volta a ter, pelo menos, um lado bom. Não exatamente tornamos otimistas, às vezes ainda vê o copo meio vazio, mas reconhece que tem água no copo. Meio vazio, não é vazio. Significa, que ainda tem algo ali dentro.

E ela precisava enxergar isso.

Apressei o passo até estar no portão da casa de Fernanda.

— Fer! – Gritei. O portão de ferro cinza estava fechado e as janelas também. – Fer! – Gritei de novo com mais força.

Cheguei a pensar que realmente não estivesse em casa, quando ouvi os latidos de Mel dentro da casa. E se Mel estava lá dentro, era porque Fer a havia deixado entrar.

— Fer, eu sei que você tá aí. Abre aqui! – Gritei. Eu podia praticamente vê-la revirando os olhos para Mel por denunciá-la lá dentro.

Ouvi o barulho da porta sendo destrancada. E logo, aberta. Mel veio em disparada raspar as patas no portão.

— Eu não queria que viesse. – Disse Fer. Ainda no batente da porta, ela me olhava estática, e inexplicavelmente distante. As olheiras ao redor de seus olhos estavam mais fundas que na semana passada. O cabelo solto, caindo dos lados do pescoço. Ela vestia um short azul claro e uma blusa branca, de baixo de um casaco de lã roxa.

— E mesmo assim eu vim, ou seja, não adiantou nada me evitar. – Fiz uma pausa. Fitando-a através das grades no portão. – Vai me deixar entrar ou não?

Ela revirou os olhos e rodou o pequeno molho de chaves e chaveiros na mão e desceu a escada da varanda até o portão. Girou a chave na fechadura, me encarando duramente entre as barras de ferro.

— Ei, Mel! – Cumprimentei ao entrar, brincando com a Cocker que não parava de bater as patinhas na minha panturrilha. Em seguida me virei de volta para Fer, que agora me olhava menos dura

— Você não precisava vir. – Sussurrou ela enquanto arrastava o portão e trancava novamente.

— Eu não ia sossegar enquanto não tivesse certeza que estava bem. Eu precisava te ver. – O que restava de sua dureza se dissolveu no instante em que seus olhos encontraram os meus.

A envolvi com meus braços. Ela se enroscou em volta do meu pescoço, eu podia sentir o cheiro cítrico e doce do perfume que ela usava todos os dias. E senti-la tão perto, fazia me sentir bem. Ela me apertava, não queria me soltar. Embora, eu também pudesse ficar ali por horas a fio.

— O que ficou fazendo esses dias todos que não foi nem na escola? – Perguntei, ainda com seus braços ao meu redor.

Ela não respondeu apenas aninhou o rosto no meu ombro. Podia sentir sua respiração contida, segurando as lágrimas.

— Ei, eu estou aqui com você agora. Você não está sozinha. – Disse baixinho em sua orelha.

Ela me soltou, ainda calada e escondendo as lágrimas dentro dos olhos castanhos, me puxando pela mão até a porta da sala.

Fechei a porta atrás de nós. Na sala, a televisão estava ligada em algum desenho antigo e um cobertor jogado em cima do sofá com alguns travesseiros, e lenços de papel e embalagens vazias de chocolate em cima da mesa de centro.

— Você tomou os remédios hoje? – Perguntei. Encontrando as caixas em cima da estante.

— Não quero tomar remédio nenhum. Meus pais estão fora da cidade com uma prima minha que teve um filho, não estão aqui pra me encher o saco. – Disse jogando as chaves do portão num pote na estante.

— Sabe que precisa tomar. – Disse não em tom de censura, mas de conselho.

— Eu saber é uma coisa. Eu querer é outra. – Disse ela se jogando no sofá e cobrindo as pernas com o cobertor.

— E por que você não quer? – Perguntei me sentando a seu lado enquanto ela passava devagar pelos canais na tv.

— Minha mãe disse que eles não ajudam em nada se eu não quiser. – Ela suspirou. – Acho que é essa a questão. Eu não me sinto mais disposta a tentar coisa alguma. Não me sinto feliz em tentar, não me sinto bem em sair de casa, não me sinto bem perto das pessoas que estão bem. Eu trago pra baixo comigo. Não sei bem se sinto alguma coisa além de desespero por estar tão embaixo. – Ela falou com os olhos fixos em nada na televisão.

Ela estava se entorpecendo de si mesma. Tentando escapar da maneira errada. Não é fugindo que se escapa disso. Depressão é algo de dentro. Como uma guerra, você luta e vence – ou morre tentando.

Notei dois lenços manchados, vermelhos de sangue, escondidos debaixo do sofá. Ela precisa perceber que tem como vencer. Morrer no meio do caminho é uma alternativa que ela pode passar. Ela não precisa disso.

— Me mostre seus pulsos. – Pedi. Olhando diretamente para ela, e depois para seus pulsos escondidos no agasalho.

— Não tem nada neles. Eu te prometi que não ia mais fazer isso, lembra? – A voz vazia de novo. Ela ajeitou as mangas, e tive a certeza de que ela estava mentindo.

— Sim, você me prometeu. Mas é porque eu me importo com você que eu não estou acreditando em você agora. – Ela revirou os olhos. Ela não ia me mostrar de vontade própria, agora que matei a charada. Puxei seu cotovelo e subi a manga do agasalho. Ela tentou puxar o braço, mas a segurei.

As linhas vermelhas ainda não estavam completamente estancadas mas estavam completamente retas. O braço dela tremia e ouvi que ela estava chorando. Os cortes deviam estar ardendo, ou ela estava realmente se sentindo culpada de quebrar a promessa que me fez. Talvez uma mistura dos dois.

— Me desculpa. – Ela falou entre soluços. Descrente, me ajoelhei na frente dela e puxei seu outro braço e subi a outra manga.

Mais cortes, mais sangue em linhas retas...

— Você quebrou a promessa. Como pode fazer isso?! - Soltei seus braços e me levantei dando as costas. Agora, eu lutava com minhas lágrimas.

— Me desculpe. – Ela soltou novamente entre soluços. – Mas cada vez que eu abria os cortes, - Ela puxou ar. – cada vez que meu sangue passava pra fora, parecia que minha dor passava junto. Pelo menos por algum tempo...

Me virei para seus olhos fechados, jorrando lágrimas. Ela havia afastado as cobertas e agora estava sentada de frente para mim ainda com os braços na frente do corpo, com os cortes mal estancados.

Eu não suportei aquilo que via. Peguei alguns lenços de papel em cima da mesa e me agachei na sua frente de novo. E comecei a limpar os cortes.

O cheiro de ferro ia ficando forte conforme fui terminando um dos braços. Ela gemia de dor e não parava de chorar.

— Por que você fez isso, Fer? – Questionei, mirando os cortes limpos mas ainda vermelhos em seu braço e puxando o outro braço perto de mim.

— Eu acho... – Ela soluçou e gemeu. – que era um jeito de afastar a dor por um tempo. No tempo que eu ficava sem dor eu gostava de ir ficar com você de novo, eu sentia que você ainda me amava, que eu podia dar carinho pra você e pros meus pais de novo. Tentar voltar a ser o que era antes. Mas o tempo sempre acabava e eu queria mais tempo pra vocês. Então eu cortava de novo...

— Você não precisa se cortar pra saber que eu te amo. Você sabe disso há quase um ano já. Você só não sente isso agora porque acha que precisa ser perfeita pra sentir, mas essa é a beleza dos sentimentos, Fer. – Fiz uma pausa olhando-a nos olhos e ela interrompeu suas lágrimas para que eu pudesse vê-los. – Eles não são perfeitos.

— Você fala como se entendesse o que eu estou sentindo, mas... - Eu conhecia aquela frase. Era minha frase para quem tentava me controlar durante as crises. E ela estava exatamente onde eu já estive um dia.

— Eu não entendo. Certo? – Completei a frase. Ela precisava saber que eu entendia... – Deixe-me ver, - Vasculhei minhas memórias dos meus anos sombrios de tratamento. – a fluoxetina quando você demora pra engolir dissolve tem gosto de soro, mas mais amargo. Durante uma crise a coisa que você mais quer é que alguém estale os dedos e faça tudo parar pra você poder chorar e voltar a vida como era antes. E as vezes você não acredita mais que a pessoa no espelho é a mesma pessoa que você via quando estava bem...

Ergui os olhos para ela. Ela me olhava ainda prestando a tenção, no que eu tinha dito.

— Tive alta dois anos antes de te conhecer. – Conclui minha história.

— Porque nunca me contou? – Perguntou ela.

— Eu tento esquecer a maior parte do tempo. Digamos, que não continua não sendo o melhor lado de mim. E que ainda tenho crises de vez em quando, não fortes e não preciso mais de remédios... - Terminei de limpar os cortes sem me importar com o cheiro férreo em minhas mãos e segurei as dela. As lágrimas dela tentavam secar mas não conseguiam. Ela ia acabar desidratando desse jeito.

Me levantei, na intenção de ir até cozinha trazer-lhe água.

— Onde você vai? - Ela puxou meu braço tentando me puxar, mas sem sucesso pois os cortes arderam e ela gemeu.

— Só vou pegar água pra você antes que murche. – Ri e dei-lhe um beijo na testa. Ela tentou rir junto.

Quando voltei com o copo de água ela havia se deitado no sofá, mas ainda tinha lágrimas em seu rosto.

Me agachei perto dela, ela pegou o copo de água nas mãos trêmulas e apontou para as caixas de comprimidos do lado da tv. Me levantei e tirei um comprido de cada cartela. E os estendi para ela na palma da minha mão.

Ela pegou o primeiro comprimido, a fluoxetina, colocou na boca, tomou alguns goles d’água e riu.

— Dissolveu antes de engolir. – Fez uma careta, eu ri para ela e ela tomou o segundo comprimido. O calmante que a fazia dormir.

— Deita aqui comigo. – Pediu, puxando minha mão.

Me acomodei junto dela no sofá, nos cobri com o cobertor e a abracei.

— Você está com o moletom que eu te dei. – Comentou ela quando deitou no meu braço.

— Só notou agora? – Brinquei beijando-lhe o rosto enquanto ela se ajeitava com o cobertor.

Ela tinha colocado a tv em algum desenho, então ela soltava risadinhas de vez em quando que me faziam rir junto.

Quando percebi que ela estava começando a pegar no sono, e eu estava começando a ficar com sono também, peguei o controle de sua mão e quando desliguei a tv ela acordou um pouco, mas ainda meio entorpecida do calmante.

— Canta pra mim? – Balbuciou se encolhendo. Às vezes ela conseguia parecer menor do que realmente era, e isso me fazia querer abraça-la ainda mais para protege-la.

Só consegui pensar em uma canção que uma vez minha mãe cantou para mim, na primeira vez que eu disse à ela que queria morrer, durante uma das minha piores crises. Então a abracei forte e comecei...

— “Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar... Com pedrinhas de brilhantes, para o meu, para o meu amor passar...” – Beijei-lhe os cabelos quando percebi que ela havia voltado a chorar. Eu tentei lembrar com cuidado, fazia tempo que eu não pensava em músicas de ninar.

 - “Nessa rua tem um bosque, que se chama, que se chama... Solidão... – Continuei passando os dedos em seus cabelos enquanto ela soluçava. – E lá dentro mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração...” Agora você continua... – Pedi rindo.

— Eu? – Indagou ela num soluço.

— A parte do anjo... acho mais cabível você cantar. – Disse abraçando-a de novo. Ela soltou um riso dentre as lágrimas e começou:

 - “Se eu roubei, se eu roubei teu coração. Tu roubaste o meu também. Se eu roubei, se eu roubei teu coração, é porque...” – Apenas das lágrimas sua voz soava doce. E logo, eu também estava chorando. – “É porque te quero bem...”

Eu queria protege-la, prova-la que ela podia sobreviver ao que estava passando. Porque eu havia sobrevivido, mas a verdade era que eu queria ajuda-la porque sabia que se ela não suportasse eu não suportaria e voltaria ao inferno numa tentativa de reencontrá-la.

Eu não tinha palavras para dizer o quanto a amava naquele momento. Mesmo através das lágrimas, dos cortes em seus pulsos, das mágoas em seu coração. Eu via além daquilo tudo. A paz nos seus olhos castanhos, aquela lembrança dela rindo pra mim no nosso primeiro encontro. Das lágrimas que ela derramou quando me disse que estava apaixonada por mim, mas que não tinha dito antes porque tinha medo que eu não sentisse o mesmo. Do jeito que as minhas lágrimas de alegria se misturaram com as dela, de medo, no nosso primeiro beijo.

Desde aquele beijo eu soube que jamais iria querer outros beijos, se não os dela. Nunca iria querer outros abraços, que não fossem dos braços dela. Eu jamais a deixaria, mesmo que ela duvidasse disso. Ainda tínhamos nossas vidas inteiras para passarmos juntos, e eu não me importava de passa-la ajudando Fer a se sentir melhor – na verdade, sou muito bom nisso – eu só quero passar minha vida com ela. Ela ainda é a mesma garota incrível que eu me apaixonei, embora não a esteja vendo agora. Ela verá ela de novo algum dia. Eu estarei lá para reapresenta-las e me apaixonarei de novo por ela do jeito que nunca vou deixar de amá-la.  


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews para que eu saiba o que acharam!
Um grande beijo e obrigada por ler! :*
♥ ♥



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