When We Were Young escrita por MiSwan


Capítulo 1
Capítulo 1




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Desde que nasci que fui apresentada para o leãozinho da porta ao lado. Edward Cullen, mais velho que eu três exatos meses. As nossas famílias eram amigas há anos, queriam que todos nós mantivéssemos essa mesma amizade. Para mim, esta amizade com os Cullen foi essencial; sendo filha única, ter aqueles três doidos para partilhar a vida foi perfeito. Adorava a Alice e o Emmett, os estranhos gémeos - ele é demasiado alto e forte e ela parece uma boneca de tão pequenina. Mas de sempre me dei melhor com o Edward. A nossa proximidade de idades fazia-nos descobrir as coisas juntos. Andar, falar, andar de bicicleta, fizemos isso tudo juntos. Quando entramos na escola, fui de mão dada com ele, eu tremia, ele só sorriu e deu-me a mão. 

Os anos foram passando, mas a nossa amizade manteve-se. Ele era o melhor amigo que eu podia pedir. Trazia-me chocolates e fazia-me cafuné quando eu estava com o período. Aturava-me a falar de livros e tentava ensinar-me a jogar consola. Ficou lindo, aos dezasseis já era uns vinte centímetros mais alto que eu. 

Da mesma forma que eu reparava na sua beleza, e tinha a grande sorte de conhecer o rapaz por trás de tudo isso, também as outras miúdas viam isso. Quando lhe perguntei o que achava de toda aquela atenção, riu-se, pousou os livros de História, e disse: 

— No fundo, continuo a achar que elas só querem copiar nos testes. 

Ele não via aquilo que todas viam. Tinha boas notas, jogava futebol, um sorriso que matava e um cabelo que dava (quase) para esconder chocolates. Quando os outros dois foram para a faculdade, tivemos que andar todos aprumados. Estava a vestir o maldito vestido quando o meu telemóvel toca. Era ele. Precisava de ajuda para domar a juba. Demorámos, demorámos, até que o pai dele, o Carlisle, entrou no quarto a perguntar se estávamos a fabricar-lhe um neto. Desisti daquele cabelo com vida própria e fiquei chocada. Mas aquilo passou... 

 

*********************

Finalmente chegou o dia do baile de finalistas. Tenho as cartas das faculdades numa caixa, junto com as do Edward, na nossa casa da árvore. Só as vamos abrir amanhã, longe de todos. O nosso sonho é ir para a Califórnia, para perto da Alice e do Emmett, eu para Literatura, ele para Ciências. Brincava que ele ficava extremamente parecido com o Newton com aquele cabelo. Mas ele era esperto, ia conseguir tudo o que queria. Apesar de eu ter recebido outros convites, ele disse que não tinha autorização para ir com outra pessoa além dele. Ri tanto com isso, mas aceitei - quem melhor que ele? 

Com o passar do tempo, todas as coisas que fazemos juntos foram adquirindo uma outra dimensão. A maneira como sorri, como mexe no cabelo, tudo é diferente. Mas eu compreendo, ou acho que compreendo, o que é. Da minha parte, tenho quase a certeza que estou a gostar dele mais do que uma simples amizade. E o que me faz desconfiar de que ele está numa situação parecida é a forma como ele trata os meus amigos. Não aceita que o Mike se sente comigo, que o Alec seja o meu par em Educação Física - tem sempre que ser ele. Nas aulas que não temos juntos, já fez questão de tentar aliciar alguma rapariga a sentar-se comigo, não importa quem, mas tem que ser alguém com uma vagina. 

Os nossos pais e os irmãos dele também não ajudam, sempre a mandar bocas sobre como somos unidos, como nunca nenhum de nós trouxe algum namorado a casa. Quanto mais corada eu ficasse, mas o Edward dava azo a conversas, pois vinha abraçar-me para que eu pudesse esconder o rosto. Numa dessas vezes, cismou que eu tinha que me sentar de frente para ele, a família estava toda, mas nós estávamos a ter esta "discussão" baixinho. Lá me sentei, ele abraçou-me, com muitas risadas e bocas do Emmett, mas eu estava tão bem que acabei por adormecer no colo dele. 

Estava a apertar o meu vestido, quando a minha mãe começou a gritar com a Esme sobre nós. Desci, vi que o Edward estava a tentar domar os cabelos no espelho da entrada e ri. 

— Se tivesses um ninho destes queria ver o que dizias... 

— Vai assim, que mal tem? 

— Não, não - retorquiu a Esme -, hoje ele tem que ir mais bonito, querida, não achas? 

— Bem - o Edward bufou enquanto me abraçava -, acho que ele fica bem assim com a juba... Mesmo que consiga que isto vá abaixo, em dois minutos já vai tudo por água abaixo. 

— Vês, mãe, a Bella acha-me bonito como sou. 

Foi neste momento que a minha mãe tirou a foto. Nenhum de nós percebeu, mas antes de cada um ir para seu lado na faculdade, recebemos cópias, assim como pedidos sobre o que se estava a passar. 

O baile foi maravilhoso, bebi, ri, dancei. Mas cometi o erro de dizer ao Edward que achava que gostava dele mais do que como amigo ou como irmão. Estávamos a dançar, eu tinha a cabeça apoiada no peito dele. A rapidez com que ele me empurrou pelos ombros, os olhos esbugalhados. Tremi, vi ali o grande estrago que tinha feito. Ainda tentei que as coisas ficassem bem, desculpei-me, mas ele gritou para que me calasse, chamando a atenção para nós. Respirei fundo, travando as lágrimas. Ele puxava os fios de cabelo, notava o quão nervoso estava. Pedi desculpa, fui à mesa, agarrei na minha mala e saí. Fui para casa de táxi, indo direta para a casa da árvore, peguei nas minhas cartas e saí. 

*************************

Os meses de Verão foram passando. Nunca mais falámos. De repente o Edward tinha namorada e eu tinha a minha mãe e a Esme a perguntar o que se passara. A Alice também tentou um interrogatório, mas não conseguiu nada. Quando comuniquei à minha família que tinha recebido uma bolsa em Londres, choraram. Por alguma razão, depois daquela reação dele, eu tinha ficado mais forte, invencível. Claro que sentia a falta dele, das conversas, dos jogos, da companhia, mas percebi que fizera mal ao declarar-me. 

Londres tinha sido uma "brincadeira", eu escrevia no jornal da escola, e a professora disse que ainda mandava o meu currículo para lá, afinal o "Velho Continente" ainda tinha muito a ensinar-nos e a aprender connosco. Disse-lhe que podia, pensei sempre que não conseguia nada disso. A carta chegou três semanas depois do baile. Queria crescer, ser a Isabella Swan, forte, invencível, humana que sonhava. Londres pareceu-me maravilhoso...

*********************

Em seis anos conto pelos dedos das mãos as vezes que vim a casa. Principalmente no Natal, visitas rápidas, afinal os exames e o trabalho ocupavam o meu tempo. Para combater a "solidão", a pedido do meu pai, acabei por adotar uma buldogue inglês, adorável, mas teimosa como tudo, a minha Nix. Já a tenho há quatro anos, tendo ela vindo sempre comigo. Desta vez, a viagem era no Verão, tempo que sempre aproveitei para trabalhar em tempo inteiro, mas os meus pais estavam a comemorar vinte e cinco anos de casados. 

Depois da longa viagem de avião, fui de táxi, os meus pais só estavam a contar comigo amanhã, mas consegui uma folga da revista onde trabalhava para vir mais cedo. Sabia, de antemão, que eles estavam nos fundos da casa, num churrasco com todos. A fotografia estava no bolso da mala, onde quer que fosse, ela vinha comigo. 

Mal desci do táxi ouvi os risos de sempre, a barafunda que é ter todos juntos, agora com mais gente, afinal a Alice e o Emmett casaram-se com os irmãos Halle. Gémeos com gémeos. A Nix, como boa pessoa que é, adoradora da minha mãe, correu, fazendo-me correr atrás dela para os fundos, com a mala, os óculos na mão, a mochila a cair. 

— Estúpida! - Todos nos olharam. - Surpresa! 

Silêncio, até a minha mãe ter uma bichinha mal educada a saltar para o colo dela. Veio logo abraçar-me, perguntando que raio é que eu lá estava a fazer àquelas horas. Depois de abraçar todos, incluso um abraço incómodo ao Edward, lá lhes expliquei tudo, e tomei atenção ao explicar que o apelido carinhoso foi para a Nix. O meu pai fez questão de levar as minhas coisas para cima, enquanto eu desfrutava do colo da dona Renné. Claro que o tive que dividir com a minha carinhosa lambidora de caras, mas deu colo para todos. Com o jet lag, acabei por adormecer por ali, acordando a meio da noite na minha antiga cama. 

Sentei-me a pensar. Este era o lado mau de viver do outro lado do Oceano, os horários não batiam. Quando olhei pela janela vi a casa da árvore, a meio caminho entre a minha janela e a dele. Por norma, fazíamos por ter o menos contacto possível, mas desta vez foi impossível. Apesar de ter tido dois namorados, nunca nada se aproximou à forma como me sentia bem ao abraçar o Cullen, àquele sorriso da foto.

O Andrew, o meu último namorado, acabou comigo por se sentir enciumado por "esse aí". A nossa fotografia estava numa moldura no meu quarto. Estávamos a discutir, ele queria casar, querendo que eu parasse de estudar e de trabalhar. Disse que não, que não estava preparada. Sem mais nem menos, virou-me costas e foi para o meu quarto, corri atrás dele, apenas para o ver atirar a moldura contra a parede. Gritei, perguntei qual era o problema dele. Nunca o vi com tanta raiva. Acusou-me de ter uma relação com aquele da foto, jurei-lhe que não. Contudo, isso não lhe bastou. Deu-me um estalo, fazendo-me cair no chão. A Nix ladrou-lhe, tendo levado um chuto dele. Gritou-me coisas nojentas, chamando a atenção dos vizinhos que chamaram o porteiro. Acabou comigo, eu mesma ia fazer isso, mas ele foi mais rápido chamando-me puta e ameaçando-me. Agradeci imenso aos meus vizinhos, não sabia onde aquilo ia acabar. Nunca mais o vi. 

Cansada de tudo, levantei-me para aquecer uma caneca de leite. Sabia que o meu sono tinha ido todo embora. Já eram seis da manhã, então deixei a porta um pouco aberta para a Nix sair quando quisesse, e fui para o andar de baixo. Depois de ter aquecido o leite, sentei-me no sofá, com a televisão no som mínimo. Não estava a ver nada, apenas estava ali. 

Quando notei, a minha mãe estava a dar-me um beijo no cabelo e a desejar-me os bons dias. Sentou-se comigo, dizendo que me estava a sentir distante. Sorri, ela notava e sabia que eu não lhe tinha contado tudo. Quando disse tudo sobre o fim da minha relação com o Andrew, apenas me perguntou "e ele?". Eu sabia de quem é que ela estava a falar. Depois de muito guardar a "nossa" história para mim, decidi contá-la à minha mãe. Ela iria ouvir e deixar que fizesse o que compreendia ser o melhor para mim. Ouviu tudo, atenta, sorrindo de tempos a tempos. 

— Eu e a Esme andámos tempos infinitos a tentar perceber o que se tinha passado, Bella, apenas dava para ver a separação, a forma como tu estavas a ser dura contigo e com todos. Quando disseste que ias para Londres, acabaste comigo, filha, doeu tanto. Pensei que tinha feito algo mal, que não era uma boa mãe. Sabia como estavam as coisas entre vocês os dois, mas não queria saber. Era entre nós as duas. - Suspirou. - Tinhas acho que dois anos, quando brinquei com o teu pai que ainda te ias casar com o Edward, o teu pai apostou cinquenta dólares em como era mentira. Tinha que defender a bebézinha dele, sabes?, mas riu. Ele sabia que havia ali alguma coisa boa a crescer. No mesmo dia em que embarcaste, ele foi atrás do Edward. Nunca soube o que falaram, só sei que depois disso, eles nunca mais se deram como dantes... mas, tenho que te perguntar uma coisa: ainda gostas dele? 

Atirei a cabeça para trás, no assento do sofá, cerrando os olhos com força. Eu sabia a resposta, sabia-a desde sempre, mas não podia. Tinha que voltar para Londres e nunca daria, já nem amigos éramos. Suspirei. 

— Eu não posso, mãe, nem quero. 

— Mas sentes alguma coisa? 

— Que achas? - Abri os olhos, olhando-a diretamente. - O Andrew só me bateu por ter ciúmes dele, o Peter disse que eu tentava projetar nele uma outra pessoa... Isto é uma obsessão qualquer, mas passa. 

A conversa acabou quando o meu pai vinha a descer as escadas enquanto coçava os olhos. Como ele, nunca fui uma pessoa das manhãs, mas tinha que me habituar. Fomos tomar o pequeno almoço, interrompido pela entrada do Emmett, a gritar que os noivos não se podiam ver. Claro que os Cullen apareceram logo todos a tentar conter o filho de fazer parvoíces. Mas era o costume. 

Ia ser uma festa pequena, apenas nós e os Halle, mais alguns amigos próximos dos meus pais. Não mais que cinquenta pessoas. Tudo estava perfeito, até ao momento em que vi mais um convidado entrar: nem mais, nem menos que o Andrew. Aparentemente, um novo polícia sob os comandos do meu pai. Felizmente, a minha mãe nunca tinha visto nenhuma foto dele, o nosso namoro durou sete meses, durante os quais eu estava perdida entre o emprego e a faculdade. Eu tinha medo dele, mas, quando tentei fugir para a cozinha, acabei por ir contra o Edward que vinha a sair, atraindo a atenção para nós. 

— Isabella? 

Tremi imenso. Virei a cabeça, ele vinha na minha direção, com um olhar muito fixo. De repente, notei quando ele olhou para o dono da mão estendida para me ajudar. Ele reconheceu-o e vi a forma como os olhos dele mudaram. 

— Sai daqui, Edward, agora. - Disse enquanto me levantava e o empurrava. - Vai. 

Ele não se mexeu. Não entendia o "mal" que tinha feito. O Andrew estava perto demais, mas não saí da frente do Cullen. 

— Por favor, Andrew, vai-te embora. 

Por alguma razão, o Edward colocou-se à minha frente, a minha mãe correu para nós, entendeu quem era este Andrew. 

— Ei, mano, estás a assustá-la, acho que é melhor andares daqui para fora. 

— Temos que falar, Isabella. Agora. 

De algum lugar estranho, tirei as forças para ultrapassar este medo, desenvencilhei-me do braço do Edward, voltando a estar à frente. 

— Não te atrevas a vir para aqui estragar a festa dos meus pais. E se me tocas com um dedo que seja, acabo contigo, Andrew. Fui burra em deixar passar em branco a última vez que nos vimos, mas podes dar meia volta e ir embora. Acabo com a tua carreira em segundos. 

Ele sorriu, apenas sorriu, olhando de mim para o Edward. Ficou demasiado próximo de mim, eu tentava controlar a tremedeira que sabia que iria rebentar no momento em que o visse ir embora. Abaixou a cabeça para me olhar diretamente nos olhos, sentia todos presos naquela discussão. 

— Eu sabia que eras uma vadiazinha, nem coragem tiveste para me denunciar, mas, ias denunciar-me porquê? Nenhum juiz ia acreditar em ti se dissesse que gostas que seja à bruta... e, quanto à moldura, devia ter-te feito pisar todos os cacos, aqueles vidros todos. Agora, vamos conversar sem o teu cãozinho de fila, sim?

Em milésimos de segundo fui empurrada, apenas vendo o Andrew no chão, com o Edward por cima dele. A minha mãe correu para mim, puxando-me para dentro, enquanto ouvia o tumulto que se instalou. A Nix ladrava imenso, eu cerrei os olhos com força, tapei os ouvidos e encolhi-me no sofá. Senti quando ela se encostou em mim, lambendo-me a cara e ficando quieta ao meu lado. Era sempre assim. 

Passado um pouco, senti todos na sala. O meu pai gritava a querer saber o que raio se estava a passar. A minha mãe estava ajoelhada à minha frente, a tentar que eu saísse daquela posição e acalmasse o meu pai. Não queria, não queria sair, arrependi-me imenso de sair de Londres para estragar a festa deles. Só sabia chorar. O meu lugar no mundo era um lugar sozinho, apenas eu e a Nix e o meu emprego, só isso, sem arruinar a minha vida e a dos outros, sem tentar relacionamentos que eu sabia não darem em nada. 

— Vais fazer-te mulherzinha e explicar esta merda toda, Swan? - Ele, depois de anos, agarrou no meu pulso, para destapar o meu ouvido. Olhei para ele. - Quem era este idiota e que conversa de juiz era essa? - Deu a volta ao sofá, colocando-se no lugar onde esteve a minha mãe. Todos estavam no mais perfeito silêncio, apenas se ouviam os meus soluços. Colocou-me sentada, colocando a Nix ao meu lado, e ajoelhou-se à minha frente. - Porque é que tens medo daquele homem? 

Virei a cara para o lado, mas ele agarrou-me o queixo, obrigando-me a olhá-lo. Fechei os olhos, fazendo-o bufar. 

— Vais mesmo fazer isto? Nós estamos preocupados contigo - aproximou-se mais de mim, abraçando-me, e sussurrou -, eu estou preocupado contigo. 

Mantive-me o mais quieta possível, fechei os olhos, suspirei e desenvencilhei-me dele. Olhei para o meu pai e sorri. 

— Desculpa, pai. - O Edward sentou-se, sério, a olhar para mim, colocou uma mão no meu joelho e apertou-o. - O Andrew é o meu ex-namorado. Nós acabámos há uns meses, mas não da melhor maneira, se é que há uma boa maneira de acabar. - Ri. 

— Continua. - Disse o meu pai, sentando-se no sofá à minha frente. 

— O Andrew pediu-me em casamento e, quando eu disse que não me sentia preparada para dar esse passo, ele passou-se. - Ri, recordando tudo novamente. - Ele foi para o meu quarto e partiu uma moldura. Ele cismou que eu tinha uma relação com aquela pessoa, jurei-lhe que não, mas ele não ouviu e deu-me um estalo. Eu caí, a Nix começou a ladrar-lhe e levou um chuto dele. Gritava tanto, pai, os vizinhos ouviram e chamaram o segurança. Ele gritou até ele aparecer e ameaçou-me. Andei cheia de medo por uns dias, mas ele tinha desaparecido de Londres. Nunca mais o vi, até hoje... Grande sorte, não? 

Olhei para o Edward, ele tinha um corte no supercílio. Toquei ali. 

— Desculpa, o Andrew odeia-te. Ele acha que nós temos alguma coisa, desculpa. 

— Que raio é que tu andas a fazer sem mim? Nunca devias ter fugido, Swan. Eu fiquei com medo, mas não era para virares um maldito cubo de gelo. Mas ficaste assim, fechada sob ti própria, não respondias às minhas chamadas, mensagens, não me querias ver... Sua pirralha, eu quis tanto conversar contigo, depois lembrei-me de inventar aquela namorada. Sim, nem sequer era minha namorada a sério, era para te meter ciúmes e que é que tenho depois? Uma surpresa do teu pai, com os olhos vermelhos de chorar a querer arrancar-me as bolas por ter magoado a filha. Nem te despediste de mim, de ninguém além dos teus pais... - Deitou a cabeça no meu colo, riu. Levantou a cabeça, olhando-me diretamente nos olhos. - Sabes o que é? Eu sempre fui mais criança que tu, de repente fiquei sem o meu cérebro, podia ser muito bom nas ciências, mas precisava de ti para ser um ser humano funcional e com ideias decentes. Oh, melhor, cada vez que voltavas, era do pior, fugias de mim, como se eu fosse um demónio! Pedi a todos para falarem contigo, para arranjar uma chance de falar contigo. Mas não, todos estavam maravilhados com a forma como já vinhas com algum sotaque, como parecias bem. E agora, quando arranjei uma desculpa para te abraçar, parecias um robô, chocas contra mim e só te vejo a tremer por causa de um gajo feio, ainda por cima feio! Lembras-te do que te disse, antes do baile? Melhor, do que me disseste? Que eu era bonito! Agora era para que nós estivéssemos casados, podia ter sido em Vegas, já estávamos com dois filhos, tinhas um livro publicado e eu era o teu Newton que jogava consola contigo... 

Estava de boca aberta. Não ligava aos outros, só olhava para o homem ajoelhado à minha frente. Ele declarou-se? Ele quis falar comigo para tentar alguma coisa? Oh meu Deus, que é que eu fui fazer? O meu medo deu cabo de tudo!

— E agora, à boa maneira desta família, vou anunciar uma coisa. Ofereceram-me um trabalho em Londres e, pelo que vi no Facebook, é perto de onde moras, então fica já a saber que quero uma chave, preferencialmente durmo na tua cama e vou passar a chamar sogrinho ao teu pai. 

Continuava de boca aberta, com lágrimas a escorrer pela face. Eu percebia o que ele estava a dizer, ouvia o riso do Emmett, mas estava de tal maneira em choque que não fazia nada, não dizia nada. Ele suspirou. 

— Que foto é?

— Ah?

— A foto que o teu ex mandou com os porcos?

— Ah - corei, trinquei uma unha -, a que tirámos aqui, antes do baile. 

— Realmente, eu pareço uma ameaça nessa foto, não achas? - Apenas acenei. - Ainda gostas de mim? - Só o olhei, mas sorri. - Tenho que partilhar a cama contigo e com o saco de pulgas?

— Vê lá como tratas a Nix e eu nunca te convidei a vir dormir para a minha cama!

— Como se fosses dizer que não... Vais deixar-me sozinho na cidade grande, a correr perigos, com aquelas mulheres que bebem chá e comem biscoitos? - Fez uns olhinhos de gato das botas. - Vais dizer à minha mãe que não lhe queres dar netos? Que eu saiba, e se bem me lembro, até já escolhemos três nomes: Anthony, Travis e Elizabeth, não é? - Arregalei os olhos. Ele riu e abraçou-me, escondendo o rosto no meu pescoço. - Achas que eu me ia esquecer? 

Onde quer que fosse, era naquele abraço o meu lar. Sabia que tinha sido feita para o amar, da mesma forma que ele foi feito para me amar. Retribui o abraço, sorri e suspirei. Eu podia ser forte, mas era mais forte com ele. Nos dias mais difíceis, a primeira coisa que olhava era aquela foto, aquele sorriso. Sempre foi ele. 

Olhei para todos. Eram só sorrisos e, de repente, vi o meu pai sacar da carteira e passar cinquenta dólares à minha mãe. 


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