O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 20
O Lobisomem e a Bebedeira


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, mais um capítulo para vocês, coisas fofas unicórnios da minha vida.



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Eileen e Cas seguiam por um corredor escuro, Dean e Sam estavam do lado de fora de um pomposo hotel que há uma hora atrás fora atacado por um lobisomem. Era dia de formatura, logo todo o lugar estava decorado, balões voavam vazios para todos os lados, assim como faixas e confetes. Houve algumas baixas, quatro estudantes estavam mortos, os demais conseguiram fugir no calor do desespero. O grupo estava atrás daquele monstro há alguns dias, mas ele era um tipo rápido, não ficava muito tempo na mesma cidade, mas, por sorte, daquela vez eles pareciam ter chegado a tempo. Eileen insistiu que eles esperassem, e só ela e Castiel seguissem para dentro do hotel. E assim ela e o anjo seguiram atrás do lobisomem, mantendo contato com os irmãos que esperavam no impala.

— Alguma coisa? - A voz de Dean se fez ouvir, impaciente, já fazia dez minutos que ele não ouvia nada dos dois.

— Ainda não. - Castiel respondeu.

De repente, Eileen fez sinal para que o anjo se calasse, ela tinha ouvido alguma coisa. Não demorou para que Cas ouvisse também, um som ainda baixo mas discernível de alguma coisa sendo mastigada. O som nauseante de dentes quebrando ossos e cartilagem foi se tornando cada vez mais alto, a medida que os dois se aproximavam do fim do corredor. A última porta estava escancarada, e, lá dentro, um banho de sangue como Eileen jamais vira, ou veria igual. Do teto ao chão pedaços misturados de pele ensanguentada se grudavam ao concreto pintado. Embora lobisomens buscassem pelo coração, aquele ali não parecia disposto a desperdiçar muito. Envergado sobre a carcaça do que algum dia fora um homem, estava a besta. Todas as vítimas ao redor eram policiais, as fardas ainda pendiam do que sobrara dos corpos. Sem dar atenção aos novos espectadores a fera continuou seu banquete. Sem emitir qualquer som, Eileen ficou estática, apenas observando aquela cena grotesca.

— Que som é esse? - A voz de Dean, se possível ainda mais impaciente que antes, a acordou de seus devaneios, e pareceu alertar também o lobisomem, que virou sua cabeça em direção a eles.

— Hora do show. - Eileen disse, olhando em direção a Castiel, que apenas acenou levemente com a cabeça. Desde que voltaram daquela “viagem” a Londres, eles pularam de caçada em caçada, e sempre que Eileen precisava usar seus poderes, o anjo a acompanhava, caso ela precisasse ser curada.

A menina disse a palavra, e o fogo verde acendeu por suas mãos enluvadas, para, logo em seguida, adentrar o corpo do lobisomem. Foi uma batalha, ele era mais forte do que ela havia imaginado, tomando longos segundos de vitalidade da menina. Foi com esforço que ela absorveu a maldição, deixando que se misturasse ao seu próprio ser como uma doença para qual ela, e somente ela era imune. Assim que tudo terminou, Eileen foi amparada por Cas, que logo garantiu que ela estivesse de pé uma vez mais, livre dos efeitos da magia. Do outro lado da sala, cercado pelas vísceras dos policiais jazia o corpo nu de um homem. Aos poucos ele foi recobrando a consciência, olhando incerto para seus membros que eram, uma vez mais, humanos.

— O que… O que aconteceu? - Ele perguntou, mas logo seus olhos caíram sobre a paisagem caótica de restos de órgãos e pedaços de ossos, e sem mais uma palavra ele se virou, e vomitou.

— Vocês estão bem? - Sam perguntou, era estranho para eles serem apenas espectadores nas caçadas, mas dessa vez eles seriam de bem pouca utilidade, então não se esforçaram muito em contra-argumentar Eileen.

— Vocês já podem subir se quiserem, temos um cara aqui que vai precisar de um banho, e de algumas roupas. - Ela disse se aproximando do homem – Hei! - Começou, vendo que o rapaz, sobressaltado tentou se afastar – Está tudo bem. - Eileen conseguiu alcançar o braço do ex-lobisomem – Qual seu nome?

— To… Tomaz, meu nome é Tomaz. - Ele disse, observando com uma expressão de curiosidade a mão que pousara em seu braço.

— Certo Tomaz, vamos para o corredor. - Eileen ofereceu apoio para o rapaz, que hesitou por alguns segundos, antes de aceitar. Deixaram o quarto e Castiel fez questão de fechar a porta – Quando eles disseram que recém-transformados eram fortes, eu subestimei o tamanho dessa força – Eileen continuou, encostando o rapaz na parede e permitindo que ele escorregasse até o chão.

Alguns minutos depois as faces preocupadas de Dean e Sam irromperam no corredor – Precisamos ter certeza de que ele foi o único a ser transformado. - O mais velho disse.

Seguiu-se um longo interrogatório, no qual eles descobriram que Tomaz Fernandes fora o único a ser transformado pela família de lobisomens. Ele não se lembrava de nada do que havia acontecido enquanto ele estava sob o efeito da maldição. Não restou muito ao grupo, se não ter certeza de que Tomaz retornasse seguro para sua casa, onde um namorado estivera acreditando que ele fora morto. O reencontro foi mais do que emocionante, Eileen captou os olhos umedecidos de Dean, mas guardou a informação apenas para ela, apreciando aquele pequeno momento de “guarda baixa” do mais velho.

No caminho para casa eles resolveram parar em algum hotel de beira de estrada, escolheram um bem perto do bar HellRoad, para o qual tanto Sam quanto Castiel torceram o nariz. O local era tudo que seu nome prometia, AC/DC tocava tão alto quanto era permitido, e se Eileen conhecia bem a banda, a música tocando era a Evil Walks. Eileen cutucou Dean e soltou um “Música apropriada”, que fez o homem sorrir. Sentaram no balcão, que ficava ao lado do que a menina identificou ser um poste para pole dance. Não demorou para serem atendidos por uma mulher que aparentava seus 40 anos, e parecia ter um sorriso sempre pronto nos lábios.

— O que as belezinhas querem? - Perguntou, seus olhos correndo com especial interesse em Eileen.

— Três cervejas e… - Ele virou para a menina, notando a coloração avermelhada nas maçãs do rosto, sem entender a princípio. Mas assim que o mais velho notou o olhar sugestivo da mulher, mal pode se conter.

— Traga quatro. - A menina disse apenas, ela odiava cerveja, mas talvez elas se fizessem necessárias naquela noite.

Rodadas vieram e se foram, e o grupo perdeu a conta do quanto já havia bebido, até mesmo Castiel sentia sua cabeça rodando. Sam pensou de forma desconexa, que eles eram uma péssima influência de hábitos. No alto da embriagues, eles ouviram um tumulto no outro lado do bar, uma competição de queda de braço havia se iniciado. Uma luz de ideia se acendeu na mente de Dean, ele sussurrou algo entre eles, e quando todos concordaram com risadinhas se levantaram e foram em direção a mesa onde dois homens quase estouravam suas veias do pescoço tentando derrubar o braço um do outro.

— Eu aposto quinhentos dólares que a menina aqui consegue vencer o campeão dessa partida. - Ele disse, jogando as cinco notas de cem na mesa. Todos os homens ao redor, e até mesmo os que se digladiavam começaram a rir. Era óbvio que o grupo estava mais do que bêbado, mas isso não impediria que eles tirassem proveito deles.

Quando um dos homens, o que tinha uma longa barba ruiva e usava uma bandana do Kiss conseguiu vencer a resistência do oponente, todos no bar olharam para a menina, inclusive a mulher que os servira, que a encarava com algo como preocupação nos olhos. Eileen sentou de fronte para o homem, ele tinha uma tatuagem no braço que dizia “alma condenada”, e a olhava como se ela fosse alguma espécie de verme estúpido. A menina foi quem estendeu o braço primeiro, o homem, que logo ela descobriu, se chamava Larry, fez o mesmo.

— Prometo não quebrar seu braço. - Ele disse, o bafo de uísque quase a fez vomitar.

— Eu não. - Ela respondeu, a mente enevoada pela bebida se agarrava apenas por um fio a realidade. Se estivesse sóbia, Dean teria demorado mais para convencê-la daquilo, mas a teria convencido de qualquer maneira.

Larry apertou a mão de Eileen, gargalhando ante a pequeneza dos dedos, soltando piadas sobre como ele poderia palitar os dentes com os ossos dela. Mas assim que foi iniciada a disputa, ela não demorou nem dois segundos, tão logo Eileen exerceu sua força sobre o braço de Larry, este foi jogado da cadeira para o chão, a menina tomou cuidado para não de fato quebrar o braço dele, usou força o bastante somente para que doesse um bocado. E pelos gemidos que o homem soltava, ela soube que atingira seu objetivo.

Todos no bar pareceram atônitos. Dean recolheu seus quinhentos, e mais quinhentos da aposta. Pagaram as bebidas para a mulher que agora não parecia mais interessada em Eileen, mas sim completamente apavorada. Ninguém protestou, ou disse coisa alguma, nem mesmo tentaram recolher Larry que agonizava no chão.

O grupo saiu satisfeito com seus mil dólares, Dean ergueu de forma atabalhoada Eileen em seus ombros, a maneira que ele fazia com Sam quando ele era pequeno, comemorando o dinheiro fácil e fazendo planos para, no futuro, entrarem em alguma competição oficial.

— Me chamem de Falcão*. - A menina gritou, a voz meio embargada. O mais velho e Sam riram, mas Castiel não entendeu. Apesar de ser o menos bêbado do grupo, ele estava feliz em ver os irmãos gargalhando, tendo um momento quase familiar, dentro dos padrões Winchester de familiar. Estavam todos bêbados, rindo, alegres, com algum dinheiro para gastar no hotel em balas, ou, pelo menos, foi isso que Eileen sugeriu. Aquele fora o primeiro porre da vida dela, e até aquele momento estava sendo épico. Erguida ali como estava, o vento soprando forte, seu livro seguro em sua mochila. Tudo parecia divertido e tranquilo.

Naquela noite, quando chegaram ao motel, comeram todo o doce que conseguiram. Castiel aprendeu uma valiosa lição sobre porque não era inteligente deixar que bêbados exagerassem no açúcar. Mas uma vez que o efeito das balas e chocolates passou, os três caíram em um semiestágio de coma por longas horas.

Quando chegaram ao bunker no outro dia, os irmãos ainda sentiam o efeito da ressaca, Eileen por sua vez não parecia nem um pouco mal. Todos se lembravam perfeitamente do que havia acontecido, e isso para o Winchester mais velho era uma vitória. Entre o lobisomem, a bebedeira, a cena da queda de braço e a quase overdose de açúcar, aquela entraria para a lista de Dean como uma das cinco melhores noites de sua vida, a única que não envolvia sexo. Agora estavam de volta ao lar, e tudo que poderiam fazer era esperar algum sinal da Amara, enquanto se engajavam em mais caçadas aleatórias.

É de conhecimento comum que, quando a vida traz algum montante exagerado de sorte e felicidade, é porque logo o carma vai aparecer e tentar balancear esse fato. Eileen nunca havia pensando muito nisso, mas quando, uma semana depois daquela noite no bar, ela esbarrou novamente naquele livro que supostamente falava a respeito dos Mitrahá, foi obrigada a começar a considerar essa verdade universal. Até aquele momento ela vinha apenas treinando sua capacidade de teleportar, que melhorara gradualmente nos últimos dias, quando sem querer ela se lançou para a biblioteca, onde os papéis jaziam, já criando uma fina camada de pó sobre a capa.

A primeira instância, ela nem mesmo pensou em mexer nele, era inútil, estava em uma língua que ela não conhecia. Mas algo, como um chamado insistente e baixo em sua mente, a fez pegá-lo, um documento encadernado que poderia ajudá-la a entender melhor o que ela era. Sem qualquer pretensão ela o abriu, e para sua surpresa, entendeu cada palavra escrita na primeira página. E foi com o dobro de espanto que a história ali contada foi tomando forma, junto com uma fúria cega que crescia dentro dela.

Terminou de ler, suas mãos tremiam de irritação e uma ideia surgiu em sua mente, caso estivesse certa, ela e os irmãos teriam muito que conversar naquela manhã.


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Notas finais do capítulo

* Para quem, assim como o Cas não entendeu, eu fiz uma referência ao filme "Falcão - O Campeão dos Campeões" (Over the Top no título original)
Se gostaram me deixem saber ♥
Até o próximo capítulo :D



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