À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 44
Capítulo 35 - Desvio


Notas iniciais do capítulo

Oiee ♥
Eis mais um capítulo ^^
Agradecimentos a Leta Le Fay, Minoran, Trouxiiane e Ary por seus comentários maravilhosos . E também pelos fantasminhas que estão lendo ♥
Espero que gostem do cap ^^
Até o final :3



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Ian parou a moto em uma lanchonete no caminho e comprou café para nós dois. Nós sentamos à mesa, um de frente para o outro, imersos em pensamentos enquanto uma daquelas chuvas passageiras começava a cair. Não trocamos mais nenhuma palavra, mesmo durante os cinco minutos em que esperamos o café ficar pronto.

Eu só conseguia pensar em Jayden, visualizar em minha mente aquela cena, sentir em meu peito aquela revolta. O que eu vira aquela manhã estava tremendamente errado, e eu não podia me conformar, sendo preenchida por uma urgência de fazer alguma coisa. Uma frustração por não saber como agir, sendo carregada junto com uma enxurrada de pensamentos de ódio contra quem quer que tenha transformado aquela criança... Quando senti o café lentamente descer por minha garganta, meus batimentos, prenúncios de um descontrole que estava por vir, ecoaram em meus ouvidos. “Calma” fui capaz de pensar “você não pode fazer nada sem antes calar esse sentimento e usar a cabeça. Lembre o que papai dizia: não deixe suas emoções tomarem decisões por você, mas respire fundo e pense bem”. 

É um fato: quando um sentimento preenche cada pedacinho de si, uma parte de sua razão é calada. Quando nos apaixonamos, não vemos defeitos. Quando odiamos, não vemos qualidades. Se deixamos nossos sentimentos tomarem conta de nós, tendemos a errar por não sermos capazes de ver coisas essenciais, eu sabia. Sabia mesmo que não fosse capaz de evitar. Fazia quase um mês desde que minha luta para manter minhas emoções sob controle havia sido intensificada de forma absurda. Mas, desde a morte de meu pai, de algum jeito eu havia sido capaz de aquietar meu coração com mais facilidade. Naquele momento, no entanto, minha mão fechada com força sobre a minha coxa tremia enquanto eu tentava segurar a raiva.

Mais um gole, na esperança de que me ajudasse a me controlar. Não funcionou. Tomei toda a xícara sem ter sucesso em parar o ódio dentro de mim. Permaneci mais dez minutos calada falhando em deixar de pensar que faria alguém pagar.

— Não pode. – a voz murmurada de Ian adentrou meus pensamentos densos como um invasor quebrando a janela para alcançar o interior de uma casa. Como que em sincronia, a chuva foi parando, e o sol começou a surgir.

Ergui meu olhar para ele, só então me dando conta que havia fitado um único ponto na mesa por minutos afins. Os olhos dele prenderam os meus, sem me dar espaço para escapar, e por um momento pensei que eles exprimiam um brilho triste. O cabelo preto que emoldurava seu rosto balançou com o vento, abrindo completamente a visão para sua íris verde-mar. Fiquei surpresa, enquanto minhas mãos diminuíam, quase imperceptivelmente, a força com que se fechavam.

— Não pode ceder ao desejo de vingança.

Sua fala me derrubou. Arregalei os olhos, espantada por vê-lo colocar em palavras o que eu mesma não fora capaz de admitir. Sim, aquela revolta, aqueles pensamentos, eram nada mais, nada menos que o nascer de um desejo por vingança. O nascer do que eu sempre detestei, daquilo que transformou uma criança em um demônio preso a uma página, amaldiçoado a servir por milênios até que alguém puro fosse capaz de libertá-lo. Eu estava focando no problema errado. Jayden havia sido transformado em uma criança com ideias completamente distorcidas e a primeira coisa que eu pensava era em fazer alguém pagar caro por isso? Não. O que eu precisava fazer não era isso.

Cuidar de Jayden a partir de agora, investigar à procura de outros que estejam sofrendo o mesmo, garantir que mais ninguém passaria por isso, realizar o que o meu pai me pedira... Não era tudo isso mais importante que vingar o que já estava feito? Senti a culpa me invadir à medida que afastava todo tipo de pensamento contra o responsável por aquela situação. Meus olhos ficaram úmidos, e eu os cobri com as mãos, apoiando os cotovelos na mesa.

— O culpado será achado em algum momento. – Ian continuou, e eu abri os dedos para espiar seu rosto. Sua expressão me parecia tão triste quanto a minha – Ele vai pagar, mais cedo ou mais tarde. Seja aqui, seja no Julgamento do Mundo Inferior. Mas você não pode se deixar contaminar. Não esqueça que carrega nessa mochila um demônio louco para te consumir.

Uma lágrima escorreu por meu rosto. Ele desviou de mim o olhar e continuou:

— Você está começando a ver... Começando a ver o lado feio dessa Família. Só... Tente não se esquecer de quem era antes de entrar nesse mundo. Precisa sair ilesa... – sua voz foi diminuindo, até que eu mal pudesse entender o que dizia: – Pelo menos você tem que sair ilesa...

Apertei os olhos, tentando impedir mais lágrimas, sem compreender muito bem seus motivos, mas entendendo a mensagem. Antes que conseguisse segurar, soltei um lamento:

— Se era para ser assim, se era para ficar tão incapaz e em tanto perigo... Talvez tivesse sido melhor se eu nunca descobrisse ser uma Greno.

Ele me fitou por alguns segundos, abriu a boca para falar algo, mas em seguida desistiu e virou o rosto, deixando o cabelo cair sobre os olhos.

— Seu pai jamais teria permitido que isso acontecesse se fosse para você pensar assim. Não menospreze os planos de JJ-sama. Está aqui porque tem que estar.

Com isso, ele ficou de pé e tirou do bolso a carta de baralho, invocando sua Harley Davidson. Fiquei sentada, surpresa com suas palavras, e ainda mais com o fato de que elas acabaram por varrer minhas dúvidas.

Ele pegou os dois capacetes e colocou um deles na mesa, diante de mim.

— Vamos. Izumi Nee-san e os outros estão nos esperando.

— Ian. – chamei.

— Hm?

— Você me trouxe de volta à razão. Obrigada.

Ele subiu montou, ficando de costas para mim, e não fui capaz de ver sua reação.

— Cala a boca e sobe na moto, novata.

 

Quando chegamos no parque onde os outros estavam, eu já havia me acalmado, decidindo manter a mente limpa. Pelo menos até que eu soubesse mais sobre Jayden, não podia fazer muita coisa. Eu continuaria observando, e esperando o momento certo. Ouviria o que o restante da equipe tinha a dizer sobre Jayden... Mas pelo visto teria que esperar mais um pouco.

O clima no acampamento estava péssimo.

Izumi montava sua barraca enquanto soltava fogo pelas narinas, Charlotte golpeava uma árvore com o cabo de sua foice, como que descontando tudo no tronco, Matt, sentado no chão, mastigava a ponta de um lápis como fazia quando nervoso, e até Kess estava calado, com uma expressão meio paralisada na cara, enquanto juntava madeira para a fogueira. Apenas Hiro parecia normal, tranquilamente equipando-se de suas pistolas e facas.

Ele, é claro, era a escolha lógica a se fazer se eu queria saber o que estava acontecendo.

Ian correu até Charlotte.

 - Hiro? - chamei, aproximando-me - O que aconteceu?

Ele ergueu o olhar.

— Ah, May. - falou - Então vocês voltaram. Como foi com Jay?

— Se está perguntando se eu venci, a resposta é sim. – disse vagamente – Não vai mesmo me explicar o que rolou aqui?

Hiro olhou ao redor, como se só agora estivesse se dando conta do comportamento dos outros.

— Ah, isso. – ele girou a faca em sua mão – Onee-sama esteve aqui. Todos estão meio loucos com isso, eu acho.

Franzi a testa.

— Onee-sama? – repeti – Quer dizer irmã mais velha, certo? Não achei que vocês...

 - May! - Matt chamou.

Ele havia se levantado e agora caminhava para as barracas.

— Venha aqui e me ajude, por favor.

— Ahn... Claro.

Eu fui até ele e começamos a montar sua tenda.

Eu não falei nada, apesar de a curiosidade me corroer por dentro. Sabia que ele começaria a explicar quando fosse o tempo. Passaram-se três eternos minutos antes que ele começasse:

— Recebemos algumas pistas. Akashi deu a Izumi algumas informações que envolvem a polícia da Califórnia com um possível líder dos demônios.

— Ahn? Taiga esteve aqui? – perguntei, confusa – E essas informações são o motivo de estarem tão estranhos? Aliás, Califórnia? Quer dizer, São Francisco? Isso significa que estamos indo para lá?

Matt me lançou um olhar que dizia claramente que eu estava fazendo muitas perguntas de uma vez só.

— Pelos deuses, qual dessas você quer que eu responda primeiro? – perguntou.

Ergui as mãos.

— Só explica por que tá todo mundo com essa cara meio paralisada.

Ele suspirou.

— Tivemos uma visita inesperada... Himeko Asada, “Tokyo no Karasu”: o Corvo de Tóquio - disse – A senhorita Asada, a irmã mais velha de Izumi e Hiro. Sabe... Izumi vai assumir o Conselho de Guerra um dia, mas é ela que vai assumir a liderança da família Asada agora que o pai deles morreu. No entanto... Aquela mulher... é pavorosa. Conhecida como Corvo de Tóquio por "devorar" os mais fracos, ela sempre era temida, até mesmo pelos pais. Usa sua influência para manipular quem quer ou eliminar quem entra em seu caminho. Ela abusa da autoridade com os irmãos, e sempre detestou Ian e Tori. Izumi não vê a hora de se tornar sua superior e não ter mais que aturá-la. Ian não a deixa chegar perto de Tori, que tem um treco toda vez que a encontra. Hiro é o único que consegue ser completamente indiferente a ela, já que não tem mais nada que possa fazer com ele que já não tenham feito. De qualquer jeito, o próprio Conselho dos Greno não está feliz com Himeko Asada como líder de um dos ramos mais influentes de poderosos da família. Ela é um mistério, com suas ideias muitas vezes contrárias às tradições, e isso em um nível completamente diferente do seu pai... Na verdade, ninguém realmente sabe muito bem o que ela pretende. E depois de hoje...

Ele fez uma pausa. Permaneci calada, mas minha mente estava a mil. Por que Izumi não seria a herdeira da família também? Se Himeko era tão pouco confiável, como poderiam deixa-la assumir a liderança? E, principalmente, o que ela fora fazer no acampamento?

 - Logo vamos discutir os detalhes, mas o importante é que ela deu a ordem a Izumi de que fizéssemos um desvio em nossa missão.

Franzi a testa.

— Como assim? Quer dizer então que não estamos indo para São Francisco?

— Na verdade, estamos, sim. – a voz de Izumi veio de cima de mim.

Disfarcei o susto (Por que ela sempre fazia isso?), e virei meu rosto para encará-la.

— Estamos? – perguntei.

Ela chamou os outros e fizemos uma roda. A líder sentou-se sobre os calcanhares, ao modo japonês, e falou:

— Himeko Nee-sama nos deu uma ordem. – começou – Ela quer que recuperemos para ela uma certa Adaga encantada e que nós a entreguemos ao fim de um evento que acontecerá em São Francisco daqui a uma semana. Esse evento ocorrerá em uma certa mansão. Acontece que é justamente nessa mansão que a Adaga se encontra.

Algo em minha mente apitou, como se pontos começassem a se ligar. Franzi a testa enquanto Izumi continuava com seu tom desgostoso:

— Nee-sama disse que essa missão é um segredo, e que absolutamente ninguém fora do nosso grupo deve ficar sabendo. – ela lançou a Ian um olhar – E também falou que você deve ser aquele a entregar-lhe a arma no evento.

Ele franziu a testa e seus olhos faiscaram.

— Essa... – começou, em tom irritado, mas conteve-se – Izumi Nee-san, está seriamente pensando em aceitar isso? Himeko apareceu nas visões do Poço, e agora isso. O fato de ela pedir sigilo absoluto é suspeito de mais. Eu não acho que nós...

— É isso que eu preciso conversar com vocês. – a líder interrompeu e eu notei seu rosto ficar ainda mais sério. Ela passou o olhar pelo restante do grupo, até finalmente fixa-lo em mim. Senti a pressão enquanto ela me observava por quatro, cinco segundos, até finalmente recomeçar – Eu não confio em Nee-sama. Isso era segredo, mas... Akashi-sama e eu estamos prestando atenção nela há algum tempo. E essa situação toda é estranha de mais. Se ela estará no evento, por que ela mesma não pega o que quer? Além disso... Matt, fale a eles o que me contou.

Matthew cruzou os braços.

— A adaga que ela quer não é uma adaga qualquer. – ele disse – Essa arma tem uma história bastante controversa, mas os rumores dizem que ela foi encantada pelo Mago.

Percebi o ar ficar pesado. Ian e Charlotte assumiram uma expressão sombria, enquanto os demais franziram o cenho. Deduzi que o tal Mago era aquele que matara Daímonas, aquele que criara o primeiro eidolon da História.

— Dizem que foi encantada pra ser usada contra a Página de Prata, para libertar o demônio preso lá. – ele fez uma pausa – Ou seja, ela provavelmente é capaz de libertar os que prendemos em nossas armas.

Arregalei os olhos, enquanto os outros faziam o mesmo.

— Mas que diabos..? – Ian começou – Ela acha mesmo que pode nos pedir para fazer algo desse tipo e não levantar suspeitas?

Izumi entrelaçou os dedos e os encostou nos lábios, concentrada.

— É isso que mais me intriga. – disse – Nee-sama não é idiota. Eu tenho certeza de que sabe que não vamos confiar plenamente nela. Mas não entendo o que ela pretende com isso.

Mergulhamos em um silêncio tenso. Ian tinha um olhar feroz perfurando o chão, como se fosse capaz de acabar com Himeko se ela aparecesse ali, gotas de suor surgiam em sua testa. Os olhos de Charlotte, no entanto, escancaravam para quem quisesse ver o medo que ela sentia. Mas suas mãos estavam fechadas com força ao redor do cabo de sua foice dupla, a qual tivera suas lâminas retiradas e agora estava pousada em seu colo, como que igualmente pronta para lutar. Matt voltara a mastigar a ponta do lápis, enquanto Kess permanecia quieto como eu nunca vira. Hiro parecia o único capaz de não ficar nervoso. Mesmo eu subia e descia o joelho inconscientemente, enquanto mexia em minha pulseira.

— O que faremos, então? – finalmente perguntei, quando não podia mas suportar.

— Ora, o que faremos? – Hiro se manifestou – Não é como se tivéssemos alternativas. Mesmo que recusássemos, ela conseguiria essa adaga de algum outro jeito. Isso só serviria para enfurecê-la. Seria problemático.

— Hiro tem razão. – Izumi suspirou – Nossa melhor opção é fazer o que ela pediu, e ao mesmo tempo manter os olhos abertos. Essa situação pode ser algum tipo de teste, mas só temos como saber quando chegarmos lá. No entanto, não podemos ir de qualquer jeito. Precisamos de um plano. Matthew, pensou em alguma coisa?

O garoto esfregou a nuca.

— Não há muito que eu possa planejar com tão poucas informações, Izumi. – falou – Nós não sabemos sobre a estrutura da mansão, nem a localização da Adaga. Por enquanto, o máximo que eu penso que podemos fazer é decidir quem entra. Uma vez lá dentro, vamos precisar nos virar para encontrar o que precisamos.

— Bom, se o problema é ter a planta da mansão ou algo do tipo, eu posso te conseguir uma. – Hiro falou.

Matt concordou.

— Com isso eu devo ser capaz de algo. Você também consegue nos colocar entre os convidados?

O garoto assentiu.

— Qual a data do evento? – Izumi perguntou.

— Daqui a quatro dias.

Franzi a testa, enquanto algo na minha mente apitava mais uma vez. Fiquei me esforçando para conseguir resgatar a memória, enquanto os outros continuavam a discutir. Quando as peças finalmente se encaixaram, fiquei de pé, surpresa.

— Você só pode estar brincando... – murmurei.

Todos olharam para mim.

— May? – Matt chamou, mas eu apenas coloquei a mão na testa, um pouco atordoada de mais para responder – May, o que foi?

Passei a mão pelo cabelo e suspirei.

— Ah, a essa altura eu já devia ter me acostumado, não é? – resmunguei mais uma vez, antes de olhar para ele – Matt, só para confirmar... Esse evento é uma festa de gala que acontecerá daqui a quatro dias em uma mansão de São Francisco?

Sem compreender, ele confirmou. Revirei os olhos e me sentei novamente, cruzando os braços.

— Não precisa mais ir atrás de planta nenhuma, Hiro. – falei – E também não se preocupem com hackear nada para colocar nossos nomes na lista ou algo assim.

— May, fale de uma vez. – Matthew reclamou.

Meio desgostosa, falei:

— Bom, acontece que essa mansão é a mansão do meu tio.

 

 


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Notas finais do capítulo

Heey 0/
Então, gente, o que acharam? ^^ Críticas, opiniões, expectativas ou pedidos? Deixa um comment me contando tudo! Eu amo de coração cada comentário!
Bom, ainda não decidi o nome do próximo capítulo, mas talvez (só talvez) eu ainda o poste esse fim de semana ^^ Caso contrário, só sábado que vem, mesmo.
Enfim, obrigada pela leitura e até mais ^^ ♥ ♥ ♥