À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 37
Capítulo 30 - "Não vamos mencionar o Livro"


Notas iniciais do capítulo

Oiee!
Hoje é sexta, dia lindo, maravilhoso, antes do fim de semana... e eu ainda tenho que ir estudar ¬ ¬' Maaas, consegui um tempinho para postar o capítulo / (O nome tá meio... Enfim, faltou criatividade mesmo, mas fazer o que, né?)
Então, agradecimentos às leitoras Minoran e Phoenix De martell pelos comentários maravilhosos ♥
Vejo vocês no final ^^



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Levou alguns segundos para que eu fosse capaz de absorver tudo o que a água havia mostrado, e, ao fim da minha reflexão, percebi que o segredo do Livro havia sido revelado. Já pensando no que fazer, virei meu rosto para Ian. Sua expressão era concentrada, e eu tive certeza de que ele me delataria para o restante do grupo. Se isso acontecesse, eles certamente perderiam a confiança em mim. Eu precisava convencê-lo a manter segredo.

— Ian... – comecei, mas seu olhar me interrompeu. Dizia claramente “falamos disso depois”.

Quase engoli em seco.

RR riu, como se não pudesse perceber a tensão que havia no ar.

— Eu sabia! – disse, divertida – As coisas realmente vão ficar interessantes!

Ela deu a volta pelo poço e foi caminhando para fora da estufa, fazendo um sinal para que seguíssemos. Hesitantes, obedecemos.

— Mayara, minha querida, – ela foi falando – a primeira visão é a que deve acontecer mais cedo, e você vai precisar de suas habilidades secundárias para sua luta contra Jay Kill. Com certeza será dessa forma que as coisas vão seguir seu curso certo... A adaga vai ser complicado, mas estou certa de que não preciso aconselhar-lhe quanto a isso: você e a equipe vão saber lidar com a situação. Aquela é a mesa do Concelho. No entanto, posso dizer que aquela cena ainda está um pouco mais longe no futuro, apesar de ser uma das que mais espero. Quanto à última... – ela se virou para nós de repente, fazendo-nos recuar, seus olhos brilhando como se estivesse assistindo a um filme interessante – Tenho certeza de que ambos a entenderam perfeitamente.

RR nos examinou, aproximando-se um pouco, e então soltou uma risadinha.

— Ela vai gostar de brincar com vocês.

Não entendi, mas não pude perguntar. Minha mente já estava muito ocupada no momento.

“Então preciso das minhas habilidades secundárias” pensei “É bom que Matthew tenha algum jeito de fazer com que elas apareçam, ou terei que perguntar a...”

Parei no meio do corredor, de repente me dando conta do que a última visão devia significar. “Ou vou ter que perguntar a Daímonas” completei sombriamente. Não gostei da ideia. Eu havia decidido aguardar, ser cautelosa quanto aos pedidos por causa do preço. Mas se minha luta com Jayden estava próxima, eu precisava já ter ciência das minhas habilidades e ser capaz de usa-las quando o encontrasse. A forma mais rápida de fazer isso seria perguntando ao demônio da Página.

Mas se eu de repente descobrisse, a equipe ficaria desconfiada. Não. Eu deveria assumir que a essa altura Ian já lhes teria contado sobre o que a visão na água...

— Ei, novata. – a voz do garoto me arrancou de meus pensamentos.

Eu ergui o olhar para ele, parado à porta que dava para fora, como se esperando que eu o seguisse.

— A vidente mandou que esperássemos pelos outros lá fora. – falou, soando impaciente.

Assenti, caminhando em direção a ele.

— RR, muito obrigada pela ajuda. – falei para ela, que se sentava novamente na poltrona.

— De nada, querida.

Saímos e Ian fechou a porta atrás de nós. Antes mesmo que eu tivesse tempo para decidir o que falar, ele segurou meu braço e me guiou para mais longe da casa, parando à sombra de uma das árvores do jardim.

— Não vamos mencionar o livro. – ele disse, em um tom que deixava pouco espaço para discussões.

Levei alguns segundos para acreditar no que ele dizia.

— O que?!

Ele soltou meu braço, mas seus olhos intensos continuaram a sustentar o meu olhar.

— Pode parecer que não, mas eles desconfiam que você está com ele. Não me importa se você já o tem ou não, mas você não vai querer que Izumi procure por ele. Ela não compactua com muito do que o Conselho faz, mas lhes deve obediência. Esconder você já é um risco grande de mais, já contraria muito o seu senso de dever. Ela entregaria o Livro se o tivesse. Portanto, se você sabe onde ele está, mantenha-o em segredo, entendeu?

Não fui capaz de responder imediatamente. O que era aquilo? Por que ele estava me dizendo para guardar segredo? Ele não me considerava incompetente? Não era leal a Izumi? Por que então estava planejando ocultar o Livro?

— Você entendeu? – repetiu.

Assenti, hesitante, mas mantive meu olhar afiado sobre ele.

— Ian, por que está fazendo isso? – perguntei e ele não respondeu. Continuei – Sabe que estou com o Livro, não sabe? E que vou precisar usá-lo para descobrir minhas habilidades. Também deve estar ciente das regras que o regem.

Ele não vacilou, mas também não respondeu.

— Vai confiar que uma novata lide com algo tão perigoso quanto o Livro dos Greno? – insisti – Por que?

— Isso não importa. – ele retrucou, cruzando os braços e desviando o olhar – Agora só se concentre em encontrar um jeito de não deixar a equipe desconfiar de como você descobriu tão rapidamente suas habilidades.

Nós nos encaramos por mais alguns segundos, até que eu me dei por vencida. Suspirei, cruzando os braços, e acabei por decidir fazer o que ele dissera.

Matthew havia dito que as habilidades eram descobertas ao longo da vida, e eu supus que suas regras e exigências também não deviam vir escritas em um papel. Que tipo de situação as despertava? Pelo caso de Hiro, imaginei que deveria ser em momentos críticos ou de perigo. Mas eu não havia experimentado nenhuma ocasião que justificasse minha descoberta. Sendo assim, o único jeito de eu ficar sabendo seria se alguém me contasse.

— Ian – chamei, levando a mão ao queixo – Um vidente poderia ter o poder de revelar as habilidades de alguém?

Ele colocou as mãos nos bolsos.

— Normalmente eles não o fazem, mas é possível. – respondeu – Se está pensando em dizer à equipe que RR-sama lhe contou sobre suas habilidades, pode ser um bom jeito de evitar suspeitas. Você já tem uma história bem estanha mesmo.

Assenti, ignorando seu tom quase debochado na última frase.

— Foi o que pensei, mas preciso consultar o Livro antes que todos cheguem. Seria estranho se eu já não soubesse de tudo no momento em que contarmos a eles sobre as previsões.

Ele concordou e eu ajeitei a alça da mochila em meu ombro.

— Vou voltar lá pra dentro e pedir permissão à RR. – falei – Se alguém chegar antes que eu saia, diga que ela pediu para falar comigo em particular.

Ele segurou meu braço novamente.

— Nem pense em perguntar sobre sua Habilidade Principal, ouviu? – disse – Uma coisa é pagar o preço por habilidades secundárias, outra é pagar por um poder tão forte. Não pode se arriscar assim, entendeu?

Eu me desvencilhei dele, encarando-o.

— Isso nem passou pela minha cabeça.

 

RR não se incomodou em ser incluída em meu plano para esconder a verdade. Mesmo sabendo o motivo, ela permitiu que eu usasse um dos quartos para invocar Daímonas e concordou em esperar que eu terminasse antes de ir ao encontro da equipe, caso eles chegassem.

Quando ela fechou a porta do quarto, deixando-me sozinha, eu respirei fundo e tirei a Caixa da mochila. Abrindo-a, coloquei-a no chão e fiquei de pé.

Com a ansiedade apertando o peito, recitei as palavras para a invocação.

Ao fim da minha fala, o chão se encheu de neblina e o ar ficou mais frio. A estaca se ergueu, com o demônio equilibrado nela. Os olhos vermelhos de Daímonas me fitaram, com um brilho divertido, e ele exibiu seu sorriso macabro. Após sua reverência, sua voz gélida soou:

— Duas vezes no mesmo dia? Não demorou tanto quanto pensei, milady. Já não pode segurar mais sua curiosidade?

— Pelo contrário. – respondi – Se dependesse de mim, seria capaz de permanecer lutando sem essas respostas por muito tempo ainda. Mas isso está fora do meu controle.

Ele dobrou os joelhos, apoiando neles os cotovelos. Colocou o queixo sobre as mãos entrelaçadas.

Então, vai finalmente fazer uma pergunta? — seu sorriso ensandecido se alargou – Ah, isso é ótimo! Um preço, um preço!

Obriguei meu coração a se acalmar. O jeito como aquele garoto comemorava me fazia ter um péssimo pressentimento sobre aquilo. Respirei fundo.

— Vamos, vamos, milady! — ele disse, seus olhos arregalados, com um brilho ansioso – Diga qual o seu pedido!

Encarando-o, falei:

— Conte-me quais são minhas habilidades secundárias.

Ele riu, deliciando-se. Soava como uma criança, mas sua aparência era realmente de um demônio. Senti um frio na espinha ao lembrar que era exatamente isso que ele era. “Não posso ser descuidada” pensei, séria.

— Suas habilidades, herdadas de Atena e Apolo, respectivamente: Chess Game e Past Dream. — ele ergueu o indicador – Chess Game: a habilidade de ler os movimentos e estratégias do inimigo. As exigências para sua ativação: só pode ser usada se você for aquela em batalha, e precisa já ter enfrentado este adversário pelo menos uma vez. Past Dream: ao vencer uma luta contra alguém, você tem direito a um único sonho sobre o passado desta pessoa. Esta habilidade não funcionará duas vezes contra a mesma pessoa.

 Daímonas me fitou. 

— Muito úteis, não acha, milady?

 

 

 Quando passamos as informações para o restante do grupo, Matt e Izumi imediatamente começaram a planejar o que fazer em seguida. Nós fomos a uma cafeteria, onde sentamos e discutimos sobre as visões, enquanto jantávamos.

Ninguém questionou nossa história sobre RR ter me contado sobre minhas habilidades, e nós também não mencionamos o Livro. Minha principal preocupação era a habilidade de Matt de detectar a mentira, então eu simplesmente falei que “RR me ajudou a descobrir quais eram”, o que de certa forma era verdade. Imaginei que o fato de Ian confirmar tudo o que eu dissera os ajudava a não duvidar, já que ele era a pessoa que menos confiava em mim. Pelo menos era o que parecia quando ele estava comigo. No entanto, eu já não sabia mais o que pensar sobre aquele garoto.

Uma vez informados sobre qual era a equipe de Jayden, Izumi saiu e mandou uma mensagem de Íris para o líder: Taiga Akashi. Ela marcou um encontro para dali a um dia, visto que eles estavam em Boston. O garoto disse a ela também que, apesar te ter concordado em encontrar-se conosco, a sua equipe estava no meio de uma operação, então ela ofereceu a ajuda do restante da nossa equipe. No fim, decidimos que Ian iria comigo ao encontro de Taiga Akashi e Jayden, enquanto os outros auxiliariam o grupo na eliminação de vários eidolons que haviam tomado conta de vários corpos em uma escola. Nem fiz mais questão de me opor à minha companhia. Por algum motivo, Matthew e Izumi nos queriam juntos, apesar do evidente desgosto que isso nos causava.

— Nós não sabemos qual exatamente é o objetivo desse encontro com Jay, mas esta é a única visão dentre as que vocês viram que podemos providenciar para que aconteça. – Izumi disse – Mas, diga-me, May-san, tem alguma ideia do que precisa fazer uma vez que estiver de frente com o garoto?

Eu respirei fundo.

— Estive pensando nisso, mas... Nem sei por onde começar. – falei, mexendo em minha pulseira – Vocês podem não gostar de ouvir isso.

Os outros me fitaram, atentos.

— A julgar pelos meus poderes e pelo que RR disse, eu imagino que eu precise descobrir sobre o passado dele. – comecei – Vocês sabem que fui criada sem saber de minhas origens, e que meu pai me deixou um diário com instruções e revelações. O fato é que acho que estou começando a compreender o que ele planejava ao fazer isso. Só uma pessoa de fora, que não foi criada imersa na guerra e catequizada nos ideais da Família, pode ver certas coisas... Ainda não tenho certeza sobre qual é o meu papel nessa missão, nem sobre o que meu pai planejava. Mas estou seguindo meus instintos. Vou lutar com Jayden e vencê-lo, para assim poder usar o Past Dream e ver o seu passado.

Não fui capaz de decifrar suas expressões, mas pude ver que eles compreendiam a seriedade daquilo.

— Pois bem. – Izumi falou gravemente – May-san, eu confiava no seu pai. Se isso faz parte dos planos dele, preciso acreditar em você. Mas tenha cuidado.

Fiquei em silêncio.

— Izumi tem razão. – Matthew ajuntou – Jay Kill tem uma das histórias mais sombrias e misteriosas dentre todos. Mesmo nós não sabemos muito sobre ele. Você precisa pensar bem antes de decidir o que vai fazer com as informações que conseguir. – ele se inclinou para frente, colocando mais intensidade nas palavras – May, prometa para nós que vai nos contar tudo o que descobrir pelo Past Dream. Como uma pessoa de fora, você não pode achar que vai entender tudo o que aconteceu no passado de Jay. Vai precisar da nossa ajuda para isso.

Fitei seu rosto.

Ele estava certo. Se meu papel era o que eu pensava que era, eu não tinha o direito de julgar por mim mesma as ações da Família. Precisava conhecer seus motivos, e isso era algo que apenas eles poderiam me mostrar. No entanto, de uma coisa eu tinha certeza: a Família estava com problemas sérios. Isso estava claro nas cartas de meu pai, e apenas de ouvir a história de Hiro eu podia ver o quão distorcidos eram os valores e ideais do Concelho. Certamente seria um choque de opiniões entre mim e eles.

Eu estava pronta para bater de frente com estes ideais?

“Eu tenho que estar”.

— Eu prometo. – falei – Nós somos uma equipe. Não vou ficar escondendo as coisas de vocês.

Matthew se deu por satisfeito.

— Ótimo. – disse Izumi – Então agora vamos encontrar um lugar para passar a noite. E amanhã partiremos para Boston.

Hiro, que estivera mexendo em suas panquecas meio comidas com um garfo, ergueu o olhar.

— Sério? – disse – Não vamos nem falar sobre o fato de Himeko Nee...

— Vamos falar disso depois. – Izumi interrompeu, seu olhar sombrio deixando pouco espaço para discussão – Agora termine logo de comer isso.

Nós alugamos dois quartos em uma pequena pousada. Os meninos ficaram e um e nós em outro. Matthew me falou para pedir a Charlotte que me ajudasse com meus ferimentos, usando seu conhecimento sobre plantas medicinais, e ela me deu um chá horrível para beber. Também consumi mais ambrósia, e torci para que o sono me ajudasse a curar ainda mais rápido.

Eu fiquei com o primeiro turno de vigia, olhando ansiosa para o céu sem estrelas acima de mim, imaginando como seria a luta... Nesse meio tempo Drake e Shayla me mandaram uma Mensagem de Íris para contar as novidades. Meus irmãos estavam bem, os novatos haviam saído em missão, a ida de Michael ao Formigueiro não fora tão boa quanto esperavam, mas ele estava bem, Kyle havia sido enviado para buscar mais um semideus, as pessoas estavam começando a falar que Shayla era o novo prodígio do chalé 7, eles estavam com saudades... Falei com Laura e Luther, depois mais um pouco com Michael, que estava com uma faixa ao redor da cabeça por causa de um machucado. Mas conversar com meus amigos não tirou da minha mente as preocupações.

Quando a ligação acabou e meu turno chegou ao fim, deitei a cabeça no travesseiro e caí no sono, perguntando-me qual seria o preço que o demônio da Página de Prata cobraria por seus serviços.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo! ^^
Então, gente, o que acharam? Qual será o preço? O que vai acontecer nessa luta contra Jay? O que acharam das habilidades secundárias da May? Crítica, pedidos, expectativas, teorias ou perguntas? Deixa um comment aí me contando tudo ^^
Bom, no último capítulo eu perguntei a opinião de vocês sobre os Extras que eu queria fazer. Como ninguém respondeu, vou perguntar de novo. O que acham de pequenos capítulos com as cartas do Jack para a May? ^^
O que vem por aí é: Capítulo 31 - Medindo Forças. Posto até o próximo Sábado.
Até mais ♥