A água corria no banheiro. A cama ainda estava bagunçada quando ele chegou. Previsível. Afinal, ele havia chegado uma hora mais cedo que o de costume. Esperar que tudo estivesse em ordem seria demais.

O barulho da água cessou. Não demoraria muito agora. Harry sorriu maliciosamente e se ajeitou na cama, apoiando-se nos cotovelos e recostando-se no travesseiro amassado na sua melhor pose de bon-vivant. Contendo-se com algum custo, afastou o sorrisinho idiota da cara e compôs o rosto numa expressão séria. Bem a tempo.

A porta do banheiro abriu, liberando uma nuvem de vapor e perfume que chegou rapidamente até a cama, como se o ar estivesse desesperado para escapar daquele cubículo abafado. Draco saiu, ainda passando a mão pelo cabelo. Molhado, lembrava aquele penteado idiota cheio de gel que, no primeiro ano, Harry e Ron apelidaram de "mamãe-que-arrumou".

Harry esforçou-se por manter o rosto impassível, embora a lembrança o fizesse ter vontade de rir. Se alguém lhe falasse, naquela época, que um dia ele estaria dividindo um apartamento com aquele ser arrogante e mimado...

Finalmente, Draco o viu e estacou. A mão que segurava a toalha em sua cintura se fechou com mais força, num gesto inconsciente. Os olhos azuis se arregalaram levemente enquanto ele se perguntava o que diabos Harry estava fazendo ali tão cedo e se repreendia por não ter arrumado a cama antes de se arrastar preguiçosamente para o chuveiro, meia hora atrás.

Pelo que pareceu uma eternidade, os dois apenas se encararam. Ambos pareciam estátuas, a não ser pelo movimento de sobe e desce de seus peitos, que refletia o modo como suas respirações iam se acelerando infinitesimamente, segundo após segundo.

Até que, finalmente, Harry inclinou a cabeça num cumprimento:

— Potter.

O resultado foi exatamente o que ele esperava. Draco arregalou ainda mais os olhos. Mas quase imediamente, um imenso sorriso se espalhou por seu rosto. Harry lutou contra o impulso de espelhá-lo, mas falhou.

Draco se aproximou e ergueu a mão esquerda com a palma virada para Harry. A aliança dourada que ele não tirava para nada, nem mesmo para tomar banho, estava ali. A prova de que aquele nome agora pertencia a ele. Harry se afastou para dar espaço para que ele se sentasse na cama também e ergueu a mão na qual uma aliança exatamente igual brilhava, nova em folha. Ele encostou a mão à de Draco.

Eles se permaneceram assim por meio minuto, felizes demais para dizer qualquer coisa. Então, Harry não quis mais continuar se contendo e se adiantou para beijá-lo. Draco retribuiu apaixonadamente, enroscando os dedos aos cabelos rebeldes dele.