Três Desejos escrita por Kayra Callidora


Capítulo 15
Capítulo Treze - parte II


Notas iniciais do capítulo

Já dizia Bruno Mars: HOT DAMN



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Capítulo Treze – parte II

Atena não se lembrava da última vez em que havia saído, por si só, para fazer compras. Geralmente, Afrodite se encarregava, ainda que ninguém pedisse, do trabalho de sair uma vez por mês e comprar roupas que ela considerava adequadas para todos os deuses que não se importavam o suficiente com algo como "moda de estação" para saírem eles mesmos. Sendo assim, a deusa da sabedoria mal sabia o que fazer quando se viu olhando para a fachada requintada de uma loja de roupas sob medida no centro de Nova York da qual a deusa do amor vivia falando. Claro que tinha muito senso de beleza e costura bem feita - ela era, afinal, a deusa da tecelagem -, mas a falta de prática vinda de séculos apagava de seu cérebro algumas etapas essenciais do processo de escolher uma roupa para a festa.

Suspirando, Atena subiu um por um os degraus da pequena escada que levava à porta da loja, se perguntando o que faria se Zeus a visse comprando roupas no meio de uma missão que ele considerava questão de vida ou morte (o que ele estava certo em pensar). Seu pai provavelmente teria um ataque antes mesmo que Atena pudesse explicar o que estava acontecendo, mas depois que ela explicasse, o ataque só pioraria. Se em seus piores pesadelos Zeus imaginasse que Atena estava no palácio de Poseidon, iria à uma festa com ele e havia feito... Bem, tudo o que ela havia feito com ele, seria bem provável que ele ameaçasse o deus dos mares com infinitas tempestades de raios.

Atena foi distraída de seus pensamentos de morte por uma vendedora muito bem vestida que se aproximou dela com um pequeno sorriso no rosto.

— Bom dia, senhorita - a mulher desejou. - Em que posso ajudá-la?

— Bom dia - Atena olhou um pouco ao redor antes de responder. - Eu gostaria de um vestido para festa.

— Claro - a vendedora expadiu o sorriso e começou a caminhar, fazendo sinal para que Atena a seguisse. - Que tipo de festa seria?

— Digamos que seja uma festa de gala - disse Atena, correndo o olhar por todos os vestidos pelos quais passavam.

A deusa havia encontrado muitos modelos bonitos, mas a vendedora sequer olhara para os lados enquanto caminhava, mirando determinadamente um ponto à sua frente.

— Hum... Sei exatamente do que você precisa - a vendedora garantiu, misteriosa.

Atena continuou a segui-la por um labirinto de corredores até que chegassem à uma ala com menos vestidos do que as outras; os modelos dali, todos compridos e elaborados, estavam pendurados nas paredes, e Atena teve um vislumbre da peça escolhida antes mesmo que a vendedora estendesse para ela. E não tinha como negar, era uma ótima escolha.

Por sua longa experiência em tecelagem, Atena reconhecia perfeitamente os tecidos utilizados: cetim de cor esmeralda, mesclado à seda francesa branca e costurado com fios de ouro muito finos que só eram visíveis a quem olhasse de perto. Toda a costura milimetricamente pensada fazia a peça parecer leve e maleável, e somada às pequenas pedras - diamantes, afirmou a vendedora - costuradas na região do busto, davam a roupa ideal que Atena queria encontrar. Ela agradeceu a vendedora e garantiu que levaria aquele vestido mesmo. Não muito tempo depois, saía da loja com um vestido lindo em mãos e uma estranha satisfação dentro de si, rumando novamente para o Palácio de Atlântida.

                           ∆∆∆

Atena decidiu se transportar direto para o seu quarto - não o que dividia com Poseidon - sabendo da correria geral no palácio para organizar a festa à tempo, e das enormes chances que tinha de encontrar Helena ou Poseidon vagando pelos corredores. A deusa percebeu, tardiamente, que não fazia ideia de que horas começaria a festa, mas na dúvida, decidiu que já começaria a se arrumar, e em todo caso, estaria pronta quando necessário.

Atena fez tudo o que precisava sem pressa alguma - tomou um banho longo, hidratou seu cabelo, fez o penteado mais bonito que sabia, colocou seu vestido impecável e repetiu a maquiagem feita por Afrodite da última vez que se viram - a deusa fez questão de prestar atenção a tudo para que pudesse fazer sozinha depois. Selecionou um sapato confortável entre os poucos que trouxera para a viagem e colocou brincos não muito chamativos; ao final de tudo (pelo menos duas horas depois de começar a se arrumar), Atena se olhou no espelho e se percebeu linda de um modo que não enxergava há séculos. De repente, conseguia ver cada uma de suas curvas sob o tecido leve do vestido; o loiro de seus cabelos ondulados caindo por suas costas parte desnudas; o tom esverdeado do vestido que contrastava com o azul de seus olhos, ainda mais marcados pela maquiagem simples. Tudo parecia harmonizar perfeitamente, e Atena apreciava um trabalho bem feito mais do que a qualquer coisa. Bem... Quase bem feito. Apenas as costas de seu vestido ainda estavam abertas (haviam botões de mais e paciência de menos no momento em que a deusa o vestiu), e ela resolveu que deixaria aquela parte complexa por último. No entanto, quando estava prestes a começar a longa batalha contra todos aqueles botões, duas batidas rápidas na porta a interromperam.

— Quem é? - ela perguntou, embora já soubesse.

— Sou eu - a voz de Poseidon veio abafada do outro lado da porta.

A deusa se encaminhou até lá, levantando o vestido com a ponta dos dedos para não pisar em sua barra, e a visão que teve quando abriu a porta foi de tirar o fôlego. Poseidon estava parado em sua soleira, vestindo um smoking preto que encaixava perfeitamente em seu corpo, sobre uma camisa social branca atada à uma gravata azul marinho. Seus cabelos estavam penteados (há quanto tempo Atena não os via assim?), e todos esses elementos combinados o faziam parecer... Bem, um deus grego. No mais alto ponto que essa definição pudesse abranger.

— Uau - ela soltou antes mesmo que pudesse segurar. - Você está...

Ela não conseguiu terminar, mas Poseidon sorriu mesmo assim, sabendo o que ela queria dizer.

— Obrigado, amor. Mas nada comparado a você, com certeza - ele respondeu, já adentrando seu quarto sem qualquer pedido. - Atena, você está uma visão.

A deusa sentiu um calor agradável subir às suas bochechas, e ela sabia que corava enquanto sorria timidamente.

— Obrigada - ela respondeu.

E então, se lembrando da batalha que estava prestes a enfrentar, aproveitou a presença de Poseidon ali e virou as costas para ele.

— Já que está aqui, pode me ajudar com isso?

Ela viu pelo reflexo do espelho que o deus franzia as sobrancelhas para a quantidade enorme de botões nas costas do vestido, mas não podia julgá-lo - sua reação havia sido muito parecida ao reparar naquele "detalhe" que ela não havia enxergado na loja. Assentindo silenciosamente, o deus se aproximou e começou a fechá-los um por um, pacientemente.

— Bom, esse é com certeza um jeito de garantir que o vestido não vai sair de você - ele comentou.

Atena riu.

— Essa é a intenção.

— Mesmo? - Poseidon perguntou, um sorriso malicioso em seus lábios. - Mas assim dificulta tudo para mim.

— Tudo o que? - Atena perguntou, com curiosidade.

— Quando eu for tirá-lo - o deus respondeu, fechando por fim o último botão e abraçando a cintura de Atena.

Atena balançou a cabeça negativamente, mas tinha um pequeno sorriso nos lábios.

— Você não tem jeito mesmo.

— É impossível ter jeito quando você é tão linda assim - ele respondeu, virando o corpo da deusa para que ela ficasse frente a frente com ele.

Ela ergueu o rosto para encará-lo, e quando seus olhos se encontraram, Atena sentiu aquele choque delicioso de todas as vezes em que olhava para ele, como se os dois compartilhassem algo que só existia entre eles. Bastava um olhar de Poseidon, e de repente todas as borboletas adormecidas em seu estômago começavam a voar loucamente, como se quisessem sair dali e se encontrar com ele.

Atena sorriu brevemente antes de escorregar as mãos por sobre os ombros de Poseidon e ficar na ponta dos pés para alcançar sua boca. Mesmo de olhos fechados, ela sentia a surpresa dele por ela ter tomado a iniciativa pela primeira vez quando seus lábios se encontraram, mas logo ele também se abaixava um pouco para alcançá-la e reforçava o aperto em sua cintura. E se Atena pensava que as borboletas se aquietariam quando o beijasse, estava muito enganada; elas se agitaram ainda mais, e seu estômago parecia despencar por estar conectada com Poseidon por meio daquele ato tão simples em um momento breve. Antes que o ar começasse a lhe faltar, a deusa se afastou, ainda apoiando as mãos nos braços dele, e sorriu.

— O que você veio fazer aqui, afinal? - ela perguntou.

— Não sei, você me distraiu - Poseidon depositou um selinho rápido em sua boca antes de se afastar e segurar sua mão. - Mas acho que vim te chamar para descer; a festa já começou há algum tempo, mas eles não podem começar oficialmente sem mim por questões de protocolo e tudo mais. Você está pronta?

Atena assentiu.

— Estou sim. Vamos?

Poseidon simplesmente estendeu o braço em resposta, e Atena encaixou o seu próprio braço junto ao dele enquanto caminhavam para fora do quarto e pelos corredores.

— Estou um pouco nervosa - Atena se viu admitindo antes que percebesse.

Poseidon a encarou com surpresa.

— Você? Nervosa? - ele perguntou, como se não acreditasse. - Por que?

Atena não podia responder exatamente o que pensava: estava nervosa por ser reconhecida como o "par" de Poseidon em meio à todas as pessoas da festa, que provavelmente estavam acostumadas com Anfitrite há milênios. Mas a deusa não podia dizer isso, porque aí estaria confirmando, com todas as palavras, que se considerava algo como o par de Poseidon, e ainda se comparava, de alguma forma, com a posição de Anfitrite. E isso era algo que ela sabia que não era, e muito menos as pessoas deveriam supôr que ela fosse.

— Eu não conheço ninguém nessa festa - ela mentiu.

Poseidon riu e beijou o topo de sua cabeça.

— Ah, amor. Você me conhece - ele pontuou. - E conhece Helena também.

— Helena vai estar rodando pela festa - Atena apontou. - E você também. Você conhece todo mundo.

— Você vem comigo - disse Poseidon. - Não se preocupe, eu não vou te deixar sozinha.

Ficar do lado dele o tempo todo era justamente o medo de Atena, mas como ela contaria isso agora? Então só o que a deusa fez foi assentir e segurar com mais força o braço de Poseidon.

Os deuses por fim adentraram o salão de baile, que já estava abarrotado do mais diverso tipo de gente. Haviam sereianos, nereidas, ninfas, deuses menores (Atena sabia reconhecê-los só de olhar), pessoas de aparência humana e muito mais. O salão também estava lindo, enfeitado com cores vibrantes e mesas cheias de comida, e tudo o que estava ali lembrava completamente Helena.

Em questão de segundos, a aniversariante em pessoa apareceu na frente dos deuses, usando um vestido curto brilhante que fazia com que ela se destacasse no meio da multidão. Ela apenas abriu um sorriso para Poseidon e então se adiantou para abraçar Atena.

— Atena! Me perdoe, eu esqueci completamente de te avisar sobre a festa - ela se desculpou. - Mas estou tão feliz que você tenha vindo! E você está absolutamente deslumbrante!

Helena vomitou as palavras em uma velocidade extraordinária, consumida pela empolgação, e Atena, depois de conseguir entender tudo o que ela havia dito, só fez abrir um sorriso largo para a garota.

— Obrigada, Helena - disse ela. - Você também está linda. Feliz aniversário!

— Muito obrigada! - os olhos de Helena brilharam, e em seguida ela se afastou e olhou para Poseidon. - Já posso anunciar o começo da festa agora?

O deus deu de ombros.

— Quando você quiser, querida.

— Certo - ela começou a andar de costas na direção da multidão. - Eu preciso ir. Divirtam-se!

E com isso, a garota se enfiou em meio ao amontoado de gente no centro do salão e sumiu. Ao seu lado, Poseidon cutucou de leve o seu braço.

— Pronta para ir?

Atena assentiu.

— Vamos nessa.

A deusa perdeu a conta de quantas pessoas conheceu depois daquele momento. Poseidon a apresentou a pelo menos duzentas criaturas, que a cumprimentavam formalmente no início, e depois muito mais formalmente ao descobrirem quem ela era. A maioria a enchia de perguntas cheias de admiração, mas, na altura do meio da festa, a deusa já respondia a tudo no modo automático, e as pessoas nada mais eram do que borrões de sorrisos e reverências aos seus olhos. Isso era, até que a deusa viu ela. Ela estava de costas, um vestido amarelo até os joelhos e os longos cabelos pretos ondulando suavemente, mas mesmo que não fosse possível ver seu rosto, Atena reconheceria a silhueta de Anfitrite a quilômetros de distância.

Seu coração gelou um pouquinho ao processar aquela cena. Não era como se Anfitrite fosse sua rival ou qualquer coisa parecida, mas Atena sabia da imagem que a nereida tinha dela - uma imagem nada boa, revestida de ódio -, e querendo ou não, aquela mulher tinha uma baita história com Poseidon. E, na cabeça dela, Atena também tinha uma história com Poseidon. E no momento, Atena estava com Poseidon. Em suma, nada operava ao seu favor naquele instante.

— É uma das irmãs dela - Poseidon murmurou em seu ouvido, certamente reparando que ela havia congelado repentinamente.

O ar pareceu voltar aos pulmões de Atena, e por algum motivo ela se encheu de alívio após aquela declaração.

— Eu também as confundia no começo - Poseidon comentou. - Não me lembro de quantas vezes conversei com a irmã errada, jurando que era Anfitrite. Mesmo depois que nos casamos, era difícil discernir. Elas são muito parecidas.

— E como você aprendeu a diferenciar? - Atena perguntou, mais para se distrair do que qualquer outra coisa.

— Geralmente, ela era a que dizia "majestade" com mais repulsa - Poseidon respondeu, um sorriso amargo no rosto.

Por algum motivo que nem ela mesma entendia, Atena achou graça naquilo.

— Ela te chamava de majestade?

— Todos nesse reino me chamam de majestade - ele respondeu, dando de ombros. - Menos Helena e você, é claro.

— Mesmo a sua esposa?

— Era uma coisa da época em que nos casamos, eu acho - Poseidon esclareceu. - E depois virou um hábito mesmo.

Atena abriu a boca para responder, mas paralisou no momento em que percebeu que a tal irmã de Anfitrite caminhava diretamente na direção deles. Conforme ela se aproximava, Atena só percebia mais e mais o quanto ela era assombrosamente parecida com a ex-mulher de Poseidon, e a deusa tentou não se sentir nervosa quando a nereida parou bem à frente deles, mas talvez seu nervosismo estivesse tão exposto que até Poseidon reparou; o deus escorregou a mão para junto da sua e entrelaçou seus dedos, segurando firme a mão de Atena.

A nereida fez uma reverência comprida para Poseidon, e quando se virou para Atena, era perceptível que ela sabia exatamente quem a deusa era, pelo modo como correu os olhos de cima a baixo dela, mesmo que nenhuma apresentação houvesse sido feita.

— Minha senhora - a nereida se curvou também para ela, e o modo como até sua voz era idêntica à de Anfitrite a lembrou da cena quase traumática do casamento de Poseidon, quando ela havia se curvado para Atena exatamente daquele jeito e dito as mesmas palavras logo após sair do altar, ainda de mãos dadas com seu novo marido.

Atena afastou aquela memória de sua mente e apenas balançou a cabeça em resposta. A nereida voltou a olhar para Poseidon e disse, muito baixo:

— Majestade, será que eu poderia conversar a sós com o senhor por um instante?

Poseidon se virou para Atena antes de responder, quase como se pedisse sua permissão, e depois de um leve aceno de cabeça da deusa, voltou-se para a mulher e respondeu:

— É claro.

Os dois então caminharam juntos em outra direção, deixando Atena sozinha próxima da mesa de bebidas. Mal se passou um minuto que Poseidon estava longe, Atena foi abordada pela figura que mais a irritava recentemente: o próprio general Dolfim. Ele estava sem armadura naquela ocasião, e os trajes formais o faziam parecer ainda maior do que ele era. Atena sentia que olhava para um gigante de Gaia quando o homem se aproximou para falar com ela, devido ao barulho do salão.

— Boa noite, Atena - ele cumprimentou em sua voz de golfinho.

— Senhora - a deusa o corrigiu, porque sentiu que aquele era o máximo do limite que o general podia cruzar. - Boa noite, general.

— Senhora - ele também se corrigiu. - Perdão por isso. Se não for atrevimento da minha parte, me permita dizer que a senhora está maravilhosa nesta noite - ele observou, e apesar de se sentir um pouco incomodada com aquilo, Atena percebeu que o general precisava aprender a variar em seus elogios.

— Obrigada - ela respondeu, educadamente.

— Se importa se eu lhe fizer companhia por enquanto? - ele perguntou.

Embora fosse a resposta que queria dar, como Atena responderia um "sim" educadamente?

— Não - ela disse, a contragosto.

O general parou ao seu lado e levou aos lábios uma taça cheia de bebida escura que segurava.

— O que a senhora está achando da festa? - ele perguntou.

— Muito boa - Atena respondeu com honestidade. - Os amigos de Helena são adoráveis.

— De fato - Dolfim concordou. - E sem dúvidas a senhora é a mulher mais bonita de toda essa festa.

Por mais que sentisse vontade quebrar a taça na cara de Dolfim, Atena tinha que admirar sua persistência ao insistir nela mesmo depois de negações tão claras. Aquela, no entanto, havia sido a gota d'água.

— Depois da sua esposa, é claro - Atena corrigiu, e nenhum ser vivente seria louco o suficiente para contradizê-la no que era quase uma ordem sua.

— Sim, claro, foi o que eu quis dizer - o general concordou, embaraçado. - Hum... Está meio barulhento aqui, não?

Atena assentiu, e pela primeira vez concordava de verdade com ele.

— A senhora não quer sair daqui e ir para um lugar mais calmo?

Aquele era oficialmente o limite da educação de Atena, e ela se virou para Dolfim, pronta para dar o discurso de sua vida.

— Francamente, será que você ainda não percebeu que...

— Voltei, amor - a voz de Poseidon soou em seu ouvido, e seu braço circundou o quadril de Atena.

Sua presença era como um calmante imediato, e embora Atena sentisse vontade de dizer umas poucas e boas para o general na frente da festa toda, aquela havia sido sua brecha de pensamento lógico para perceber que aquela dificilmente era a melhor escolha. A deusa então respirou fundo e se virou para Poseidon, sorrindo. Ela esperou apenas um segundo para perguntar:

— Ele já foi?

Poseidon assentiu com a cabeça, e parecia à beira do riso.

— Ele praticamente correu para longe - o deus afirmou.

— Até que enfim - Atena resmungou.

— Achei melhor intervir antes que você sacasse o Aegis e deformasse o rosto dele - disse Poseidon. - Você parecia prestes a fazer isso.

Atena alisou a roupa, determinada.

— Talvez eu estivesse. Você não acreditaria na ousadia dele...

— Eu sei - disse Poseidon. - Eu estava ouvindo a conversa de vocês.

Quando Atena olhou para ele com olhar questionador, Poseidon apenas deu de ombros.

— Vantagens de ser um deus, amor - ele falou. - Mas pode deixar, eu vou ter uma conversa com ele. Garanto que ele nunca mais vai te incomodar de novo.

— Obrigada - disse Atena com sinceridade.

Depois de seu quase surto, ela duvidava que fosse necessário Poseidon dizer qualquer coisa para que Dolfim entendesse que, se voltasse a incomodá-la, não sobreviveria para contar a história, mas prevenir nunca era demais.

O próprio Poseidon interrompeu seus pensamentos de assassinato ao apertar um pouco sua cintura e beijar discretamente sua nuca.

— Eu já disse o quanto você está linda com esse vestido? - ele perguntou, bem junto ao seu ouvido, a barba rala tocando o ombro descoberto de Atena.

— Uhum - a deusa respondeu, inclinando suas costas junto ao peito dele e aproximando seus corpos.

— Mas aposto que ficaria ainda mais linda sem ele - o deus murmurou, e Atena riria se não tivesse corado tanto ao ouvir aquilo.

— Poseidon! - ela exclamou, e ele apenas gargalhou em resposta à sua indignação.

— Não se preocupe, amor. Você tem uns duzentos botões de vantagem contra mim.

— É uma ótima vantagem - Atena apontou.

— Não o suficiente - respondeu Poseidon.

— Oh, eu não acho - rebateu a deusa. - Eu consigo fugir muito mais rápido do que você consegue abrir todos esses botões.

— Isso é um desafio? - Poseidon perguntou, sorrindo maléfico. - Porque se eu conseguir...

— Se você conseguir? - Atena indagou, em tom provocativo.

— Ah, amor, as coisas que eu vou fazer com você... - ele disse, a voz grossa, e subitamente Atena sentiu suas pernas bambearem.

Lá no fundo da sua mente, em algum lugar, uma voz gritava um aviso. Um aviso claro demais de "afaste-se, ou você sabe o que vai acontecer". Mas bem... A voz de Poseidon estava muito mais próxima, e era muito mais atrativa que a da sua consciência.

— Vamos ver - Atena disse, apenas, mas não era como se todas as células do seu corpo não quisessem descobrir de que coisas ele estava falando.

Depois disso, a festa pareceu se estender infinitamente. Atena conheceu mais algumas pessoas, ouviu convidados bêbados gritarem coisas sem sentido, e depois do que pareceu uma eternidade, ela já não aguentava mais.

— Eu vou subir - ela avisou para Poseidon. - Estou cansada, e acho que essa festa não vai acabar tão cedo.

— Eu vou com você - ele disse imediatamente.

— Não precisa ir só por causa de mim - Atena respondeu. - Fique e aproveite a festa.

— Também estou cansado - Poseidon respondeu. - E não tem mais nada para fazer aqui. Vamos?

Atena aceitou a mão que ele estendia e subiu a escada com a sua ajuda, levantando o vestido para não tropeçar. Durante o caminho, ela ficou em dúvida se iria para o seu quarto (onde deveria ir) ou para o quarto de Poseidon (onde queria ir), mas o deus não deixou dúvida alguma em sua cabeça ao abrir a porta de seu próprio quarto e puxar a deusa para dentro consigo. Ela sequer se lembrava da conversa inapropriada com Poseidon na festa, até que chegou a hora de se trocar para dormir e ela tocou um dos botões de seu vestido. Antes mesmo que pudesse despistá-lo ou começar a se despir sozinha, Poseidon estava à sua frente, um sorriso no rosto e as mãos nas costas dela.

— Sabe que eu quis fazer isso a noite inteira? - ele perguntou, enquanto começava a abrir os botões quase sem que Atena percebesse, e falava com a boca perigosamente próxima da sua. - Fiquei pensando em como eliminaria todos esses botões do caminho.

— E o que você concluiu? - ela perguntou, já afastando as mãos das costas do vestido.

— Primeiro pensei em rasgar todo o vestido de vez - disse ele, beijando brevemente os lábios da deusa, que permanecia sem saber o que fazer. - Mas acho que isso seria um crime. Você pareceu gostar dele.

— Que bom que você reparou - Atena comentou, fazendo o mínimo possível para que Poseidon parasse de desabotoar sua roupa; sabia que ele já estava na metade, e não se importava nem um pouco.

— Eu sabia que não conseguiria lutar contra o tempo - ele continuou. - São botões de mais. Então só me sobrou uma opção... - o deus se abaixou e dessa vez beijou Atena ardentemente, seguindo os movimentos de sua língua e mordendo seu lábio inferior ao final. - A forma mais antiga de trapaça.

Quando o deus terminou de falar, todos os botões do vestido de Atena estavam inegavelmente abertos, e o tecido escorregou sem dificuldades do seu corpo para o chão, deixando-a apenas com suas roupas íntimas. Atena percebia vagamente que estava seminua na presença de Poseidon (e pensar que ela havia brigado tanto com ele pelo contrário), mas as mãos do deus em sua cintura sequer permitiam que ela se sentisse desconfortável com isso.

— Deuses, você é bom nisso - ela admitiu.

— Isso é só o começo - ele respondeu, e começou a realmente fazer o que havia dito.

Suas mãos escorregaram mais para baixo do corpo de Atena até chegarem em suas coxas, onde ele levantou suas pernas e fez com que a deusa as enrolasse em torno de seu tronco. Enquanto se inclinava para encontrar a boca dela, caminhava na direção da cama, à qual não demorou muito a chegar. Ele depositou o corpo de Atena sobre o colchão e engatinhou até estar exatamente em cima dela.

— Seu penteado está lindo - Poseidon comentou. - Você vai ficar muito brava se eu desmanchar ele?

Atena riu e balançou a cabeça negativamente, enquanto enrolava as mãos em seu pescoço até prender os dedos no cabelo de sua nuca e o puxava para um beijo. Ela acabou por descobrir que Poseidon era multitarefas quando se tratava daquilo, e enquanto ainda atacava sua boca, ele tratou de remover a própria camisa, junto da gravata. Agora a deusa tinha contato com toda a pele de seu tronco, e a sensação do peitoral de Poseidon pressionando o seu era uma das melhores que ela conhecia.

Atena começou a escorregar as mãos para as costas de Poseidon, mas o deus rapidamente as segurou e as prendeu sobre a cabeça da deusa.

— Quero te mostrar uma coisa nova - ele disse, e Atena só conseguiu assentir com a cabeça, se perguntando o que aconteceria a seguir.

Diante de sua permissão, Poseidon soltou suas mãos, mas algum tipo de magia continuou a mantê-las bem presas sobre a cabeça de Atena, já quase tocando a cabeceira da cama. O deus então a beijou, a começar pelos lábios; mas os beijos ali foram mais breves, porque ele seguiu para o pescoço, onde mordia e beijava, e muita lentamente descia uma trilha de mordidas pela região. Atena ainda se remexia inquieta sob as algemas invisíveis, mas só conseguiu entender o apelo de estar presa quando Poseidon finalmente alcançou a área de seus seios.

— Posso? - ele pediu, e Atena sabia exatamente do que ele estava falando.

Era um passo enorme, e ela sabia. Essa concessão era praticamente uma concessão para todo o resto, e cada pedacinho racional seu (e não eram poucos) gritava com todas as forças: NÃO!

Mas bastava Poseidon pedir, naquele tom de voz tão baixo e atraente, e de repente sua parte racional era reduzida à cinzas, e tudo o que havia era seu corpo, que gritava com todas as forças: SIM!

E foi exatamente o que Atena respondeu.

Poseidon sorriu para ela e a beijou uma última vez antes de alcançar com facilidade demais o fecho de seu sutiã e arrancar a peça sem cerimônias. Um instinto natural de autopreservação aflorou em Atena, e seu primeiro impulso foi esconder seus seios expostos; mas suas mãos estavam literalmente atadas, e agora já era tarde demais.

Poseidon se afastou um pouco para admirar seu corpo, e havia um traço inegável de desejo em seus olhos quando ele encarou Atena.

— Você é tão linda, amor - ele murmurou, se inclinando para beijar o alto de um de seus seios. - Tão linda. Sabe disso, não sabe?

Atena sabia. Porque Poseidon estava dizendo, e ele demonstrava um desejo tão profundo, algo que beirava a adoração por ela, que ela sabia que não poderia ser mentira. E de repente, todo e qualquer pensamento racional que ainda lhe restava desapareceu de si quando Poseidon alcançou a totalidade de seus seios, e ele começou a trabalhar com tanta habilidade no local - mordendo, beijando, sugando - que Atena seria incapaz de produzir uma frase coerente se sua vida dependesse disso. Tudo o que ela conseguia fazer era emitir ruídos de prazer e arquear o corpo para a frente, querendo desesperadamente se agarrar a ele, mas contida pela magia que ele colocara. O deus continuou a fazer qualquer que fosse o nome daquela coisa maravilhosa que ele fazia, enquanto Atena se contorcia sob ele. Até que chegou a um ponto em que a deusa simplesmente não aguentava mais não tocá-lo, e usou a própria magia para quebrar a magia de Poseidon e soltar suas mãos. Elas imediatamente se agarraram ao cabelo do deus, e o puxaram mais para si.

— Poseidon... - ela o chamou.

O deus ergueu o rosto para ela, parecendo irritado por ter que sair de onde estava.

— Você não podia se soltar, Atena - ele disse, subindo para beijar os lábios desesperados da deusa.

— Não dava mais - ela assumiu. - É impossível.

Poseidon riu e, atendendo ao seu pedido, beijou a boca de Atena, enquanto ela finalmente podia descer as mãos por suas costas, deixando arranhões por toda a sua pele onde encostava. Poseidon não parecia se importar com isso; apenas continuava a beijar sua boca como se não houvesse nada mais importante no mundo. Ele fazia menção de se afastar e voltar aos seus seios quando batidas violentas na porta os interromperam.

— Pai! Pai! - gritou uma voz do lado de fora.

Atena, ainda um pouco em transe, se perguntava quem poderia estar chamando Poseidon de pai, quando percebeu que aquela era a voz de Helena, nitidamente alterada, provavelmente por álcool. Sobre si, Poseidon revirou os olhos e se levantou, tomando o cuidado de embrulhar o corpo de Atena ao sair. Ainda sem camisa, ele abriu a porta com a cara fechada:

— O que foi, Helena?

— Preciso de você lá embaixo - Helena respondeu, quase sem dicção, o corpo tombando no encosto da porta. - Um problema com um deus menor.

Poseidon estalou a língua em reclamação e se virou para Atena, deitada na cama ainda um pouco perplexa.

— Eu volto daqui a pouco, amor - ele disse simplesmente antes de fazer aparecer uma camisa em seu corpo e sair, fechando a porta atrás de si.

O resultado inevitável da ausência de Poseidon depois de tudo o que havia acontecido ali era que Atena começou a se questionar: o que raios estava acontecendo? Quando foi que ela deixou que a coisa chegasse àquele ponto? Quando foi que Poseidon conquistou aquele direito único, e até então inexistente, de tocá-la daquela forma, de fazer aquelas coisas com ela?

Atena se levantou da cama, correndo as mãos pelos cabelos. Estava cometendo um grande erro, e ela sabia disso. Agora que seu lado racional voltara a reinar sobre si, percebia o significado de tudo o que estava ocorrendo entre ela e o deus dos mares. Ela estava deixando acontecer de novo, e se entregando tão facilmente quanto se aquilo não tivesse dado terrivelmente errado no passado.

Enquanto conjurava sobre si uma roupa de dormir, a deusa só conseguia se culpar e questionar o que faria a seguir. Afinal, parecia óbvio que a escolha estava completamente em suas mãos. Não era Poseidon quem tinha um bloqueio, um voto, uma restrição quando se tratava dela, e sim o contrário. Ela sabia que, se decidisse que aquilo podia continuar, seria exatamente o que aconteceria. A pergunta agora era essa: ela deixaria?

Atena voltou a se deitar na cama, ainda sem saber o que fazer. Definitivamente precisava conversar com Poseidon sobre aquilo depois. Ela não sabia quando, e não sabia como, mas não poderia deixar em branco. Mas apenas depois, ela pensou, com um bocejo. No momento, tudo o que precisava era de um bom sono para repôr suas energias e, quem sabe, sua sanidade, no dia seguinte. E com toda a tribulação dentro de sua mente, a deusa fechou os olhos e facilmente dormiu.

                              ∆∆∆

Atena teve a sensação de que havia apenas piscado quando sentiu a cama afundar ao seu lado, indicando que Poseidon havia se deitado. O deus se acomodou silenciosamente, sem perceber que ela estava acordada, e Atena, não querendo perder o sono, simplesmente se recostou nele e puxou o edredom mais para cima. O calor de Poseidon era sempre reconfortante, e quando ele descansou o braço sobre seu corpo e recostou o queixo em sua cabeça, Atena podia jurar que estava experimentando o paraíso.

— Você não me esperou - ele disse, acusatoriamente.

— Desculpe, não aguentei - respondeu Atena. - Estava com muito sono. Tudo bem lá embaixo?

— Tudo - a voz de Poseidon oscilava de cansaço. - Só um deus menor causando briga. Acontece todas as vezes.

— Hum - Atena respondeu simplesmente, com sono demais para dizer qualquer outra coisa.

Ela fechou os olhos outra vez, pronta para dormir, mas sua mente inquieta flutuou sozinha para um assunto quase esquecido: a irmã de Anfitrite. Aconteceram tantas coisas depois daquilo que Atena até se esqueceu do assunto. O que a nereida poderia querer conversar a sós com Poseidon? Compartilhavam algum tipo de segredo? Talvez Anfitrite conversasse com ele através da irmã?

— Você é sempre tão curiosa assim? - Poseidon perguntou, com um traço de diversão na voz.

— Não me lembro de ter deixado você entrar na minha mente - Atena se defendeu.

— Não precisei. Você está praticamente gritando.

Atena se fez um lembrete de controlar seus pensamentos naquele momento de vulnerabilidade tão grande.

— Nenhuma das duas, se você quer saber - o deus dos mares respondeu às perguntas que ela se fazia. - Ela queria saber se eu tinha notícias de Anfitrite. Disse que não a vê há semanas.

— Oh - Atena se sentiu envergonhada por ter sido pega sendo curiosa sobre algo tão pessoal.

— Eu já disse que você pode me perguntar essas coisas, Atena - disse Poseidon. - Não precisa deixar a dúvida martelando na sua cabeça. É bem pior.

Atena se remexeu, inquieta.

— Não achei que você fosse querer responder algo assim.

— Eu não me importo - Poseidon garantiu. - Mais alguma coisa que você queira saber?

Ah, havia tantas coisas. O cérebro de Atena conseguia pensar em mil e uma perguntas só naquele momento. No entanto, nenhuma que pudesse perguntar sem que o clima entre eles ficasse estranho; por isso, ela preferiu responder:

— Acho que não - ela respondeu. - Eu só quero dormir.

— Tudo bem - Poseidon puxou o cobertor sobre si e fechou os olhos. - Boa noite, amor.

Atena abriu um sorriso pequeno. Talvez nunca fosse se acostumar de verdade com aquele apelido; até porque ela sentia, depois de todo aquele tempo, que era muito mais do que um hábito britânico que ele a chamasse daquele jeito. Afinal, Atena não o via chamando outras pessoas assim, e definitivamente não com o mesmo intuito.

— Boa noite - respondeu, com a certeza de que não queria estar em qualquer outro lugar do universo que não ali.


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