Três Desejos escrita por Kayra Callidora


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoaaaaaaaal!

Então, só queria dizer que não vou ter uma dia específico da semana pra postar, nem um tempo determinado - tipo, de 15 em 15 dias ou coisa assim -, porque tenho uns períodos bem estranhos, mas garanto que não vou fazer intervalos longos.

Espero que gostem!



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Capítulo Um

Atena quase exultou as leis do livre-arbítrio quando finalmente se livrou de Apolo. O deus do sol parecia ter tirado aquele dia inteiro para desperdiçar seu tempo com atividades inúteis, como saraus de poesia onde só ele se apresentava, competições de arco e flecha onde definitivamente só ele era capaz de acertar os alvos a cem metros de distância e mesmo um passeio para ver o pôr do sol do Central Park – o que, na opinião de Atena, foi a mais inútil das atividades, já que ela poderia ter ido a qualquer lugar do mundo em um segundo para ver o pôr do sol com menos poluição.

E ainda, para terminar, quando perguntou para Apolo qual era o motivo daquilo tudo, ele se negou a responder e disse que se sentia ofendido em saber que não podia tirar um dia na companhia de sua irmã sem que fosse suspeito. Atena sabia que estava longe de ser verdade, e que realmente Apolo era suspeito, até porque ele não gastaria sua sexta-feira com uma deusa casta que nem lhe daria chance se não houvesse uma intenção oculta, mas resolveu que deixaria aquela passar. Não fora tão ruim assim, afinal; pelo menos conseguiu que Apolo pagasse um cappuccino para ela.

Quando avistou seu palácio branco se erguendo majestoso à luz do luar, foi como se o ar lhe voltasse inteiramente aos pulmões. Lar, sua mente registrou – não que Nova York não fosse agradabilíssima. Abriu as enormes portas de ouro que guardavam o lugar, e se deparou com o mesmo ambiente de quando saíra: quieto, calmo e organizado. Assim que se colocou a subir as escadas para seu quarto, tencionando tomar um banho de pelo menos uma hora, ouviu batidas na porta. Apertando os olhos, caminhou até lá e abriu, encontrando ninguém mais, ninguém menos que Zeus encostado no batente, parecendo muito nervoso.

— Oi papai – Atena saudou, desanimada. – Em que posso ajudar?

Zeus correu as mãos pelo cabelo como sempre fazia quando estava nervoso, antes de responder, ignorando qualquer lei que a educação impusesse:

— Preciso falar com você.

Sem dizer mais nada, Atena se afastou para que Zeus pudesse entrar. Ele sentou em uma poltrona da sala de estar, logo depois do hall de entrada, enquanto Atena ocupou o lugar a sua frente.

— Aconteceu alguma coisa?

— Ainda não – Zeus respondeu. – Mas vai acontecer se não tomarmos as providências necessárias. Por isso vim falar com você.

— Oh – Atena fez, mais de cansaço do que de surpresa. – Vá em frente.

Zeus respirou fundo, o que fez jus ao discurso que proclamou a seguir:

— Estivemos mantendo isso em segredo dos outros deuses, mas a guerra contra Gaia e seus aliados não acabou ainda – ele confidenciou. – Alguns dos titãs não se juntaram a ela na luta com os Acampamentos, e agora que estão soltos pelo mundo mortal, estão aproveitando para agir. Hades tem recebido informações dos mortos recém-chegados de atividades que só podem ter vindo de entidades divinas. Estamos tentando encobrir tudo até agora, mas a situação chegou a um nível em que precisamos de ajuda. É aí que você entra.

Zeus fez uma pausa e Atena acenou com a cabeça, como quem diz que está ouvindo.

— Estamos abrindo missões para impedir esses titãs de continuar em atividade – ele disse. – Me reuni com Hades e Poseidon e selecionamos alguns dos deuses e semideuses para isso.

— Eu sou uma selecionada – Atena adivinhou, o que não era difícil, a julgar pelo semblante carregado de Zeus.

Mesmo que temesse admitir para si mesma, Atena estava meio que estava esperando por aquilo. Sabia que nem todos os titãs que escaparam do Tártaro haviam lutado com Gaia, e que uma nova batalha chegaria para os deuses em breve - sempre havia uma batalha para ser lutada, fosse ela pequena ou grande. Não era surpresa nenhuma Zeus ter aparecido à sua porta de noite para anunciar uma guerra justo quando seu dia parecia ter sido tão bom. Era previsível, e talvez só um pouquinho... desapontante.

— Com certeza – concordou Zeus. – Imagino que você tenha previsto algo como isso. Mas tem mais uma coisa...

— Sim?

— Os deuses não podem sair sozinhos em missão, é perigoso demais. O padrão são três pessoas, tanto para nós quanto para os semideuses, mas isso desfalcaria drasticamente as estruturas do Olimpo. Precisamos de todos os deuses que trabalham aqui. Por isso estamos enviando duplas. Você...

— Eu...?

— E Poseidon.

Atena sentiu como se reagisse em câmera lenta, embora tudo tenha acontecido em uma fração de segundo, em tempo real. Primeiro, pensou que era uma brincadeira. Alguma aposta que seu pai havia perdido, e estava apenas tomando seu tempo. Depois, a julgar pelo olhar intenso de Zeus sobre si, concluiu que não podia ser mentira. Então vieram as emoções reais: surpresa, raiva, confusão, desejo de vingança, todos de uma só vez. Ela se levantou.

— Você não pode estar falando sério!

— Atena, sente-se.

— Não – Atena respondeu em tom de desafio. – Agora você é quem vai me ouvir. Tudo bem ir numa missão atrás dos titãs libertados do Tártaro. Estou bem com isso. Continuo bem com o fato de que você me escondeu isso o tempo todo, sendo que se vocês tivessem me contado antes, nós todos sabemos que o problema jamais teria se alastrado nesse nível. Mas querer que eu lide com tudo isso e ainda aguente Poseidon do meu lado? Ah não, isso eu não posso aceitar.

— Eu não me lembro de ter te dado uma escolha.

Atena levantou uma sobrancelha para Zeus, que retribuiu o gesto, mas ambos sabiam que aquela ameaça não ia muito longe.

— Essa não funciona comigo, pai.

— Escute – Zeus suspirou, se colocando de pé à frente de Atena e olhando dentro de seus olhos. – Eu também não queria que você fosse, acredite. De todos os deuses do Olimpo, você é a mais essencial para a nossa estabilidade. Mas é também a melhor estrategista e guerreira. Eu não confiaria isso a mais ninguém.

— Eu sei – Atena sentou novamente, se acalmando. – Mas e quanto a Poseidon?

— Ouça bem, porque não vou repetir – Zeus trincou os dentes. – Ele é um dos deuses mais poderosos, junto de mim e de Hades, então é impossível não incluí-lo na missão. O domínio dele sobre os mares vai ser necessário, já que vocês vão estar cercados de água quase todo o tempo. Sinto muito que ele tenha que ir justamente com você, mas é inevitável.

Um sentimento muito parecido com desespero começou a tomar conta de Atena.

— Você já falou com ele sobre isso?

— Sim.

— E ele aceitou tão fácil assim?

— Atena, ele mesmo sugeriu que fosse com você.

Atena mal sabia como digerir aquela informação. Poseidon com certeza só tinha se oferecido porque sabia que sua presença aumentaria a tensão sobre ela em cem por cento, não havia outra explicação. Ainda assim, pensando em todos os fatores, a deusa já sabia a resposta que tinha que dar, apesar de todo o seu cérebro gritar que não queria aquilo.

Um minuto se passou sem que ninguém dissesse nada. Logo, se transformou em minutos. Poderiam ter sido horas, Atena não teria reparado, mas por fim, concordou e disse a Zeus que iria, enfatizando que fazia aquilo pelo bem da Civilização Ocidental, e não porque ele pedia.

— Muito obrigado, querida – Zeus entregou um envelope branco na mão de Atena. – Aí estão as instruções e mais algumas coisas que vocês vão precisar enquanto estiverem no mundo mortal.

Atena ficou de pé, acenando e demonstrando que a conversa estava encerrada.

— Me desculpe, estou realmente cansada – explicou. – Apolo me fez andar o dia inteiro hoje.

— Oh, ele está todo sentimental porque sai em missão com Ártemis amanhã também – Zeus comentou. – Acha que está em seus últimos dias de vida. Nem me pergunte, é uma longa história.

Atena sentiu só um pouquinho de remorso ao ouvir isso, finalmente entendendo porque Apolo fizera questão de passar o dia com ela - ele achava que estava próximo de morrer. Seria trágico se não fosse tão cômico.

Zeus caminhou para a porta, ousando dar um abraço contido em Atena antes de pisar para fora.

— Nos encontre na frente do palácio principal às nove – ele avisou, antes de desaparecer de vista.

Atena ficou paralisada na porta por alguns instantes antes de soltar um profundo suspiro e subir para seu quarto. Quando por fim terminou o banho – que durou um pouco mais do que o inicialmente planejado, talvez porque agora tinha um problema a mais para se livrar – a noite já atingia seu ponto alto. A luz do luar entrava pelas janelas de vidro, iluminando o quarto com seu branco pálido, o que dificultaria ainda mais o processo de cair no sono. Enquanto rolava na enorme cama de casal, olhando para o céu pontilhado de estrelas do lado de fora, Atena tinha apenas uma certeza: os próximos dias seriam um inferno definitivo.


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