−O passarinho gosta de cantar muito, ele ainda chama a sua mãe através de uma canção. –uma voz suave e infantil cantarolava, seus cabelos longos e negros se mexiam de um lado para o outro conforme mexia a cabeça, olhava para o lado de fora da janela cheia de grades, havia um ninho cheio de ovos acima de uma grande arvore. –Pipipipipi chichichichichi pichikuripii.

A garota jogou seu corpo pequenino para trás, deixando-o tombar contra a cama macia e de lençóis negros, sua pele tão branca que parecia nunca ter pegado sol se destacava em meio aquele quarto quase que completamente decorado em preto, enrolou uma pequena mecha de cabelo entre seus dedos e fechou os belos e incomuns olhos prateados. Estava cansada, mas não conseguia dormir, havia tido um pesadelo. Tsuki, como a bela garota era chamada, encolheu seus ombros ao lembrar-se daquela terrível imagem. Tinha muito sangue, muito mais do que estava acostumada a ver, um corpo desmembrado no chão, tripas espalhadas pela sala e um aviso escrito com sangue na parede “eu o avisei, Takahashi”. Esperava não ter mais que falar com a sádica Bunko, mas em algum lugar dentro de si sabia que era uma vã esperança.

Não entendia o porquê de ficar trancada naquele quarto, havia prometido para Masashi que não iria embora do Templo Takahashi se ele permitisse que saísse daquele lugar tão feio e pouco vivo, não era sequer como se fosse capaz. Uma vez Yachiru, uma voz que costumava conversar consigo, lhe dissera que tinha um talento especial, e por isso eles não a deixavam ir embora, mas tal idéia lhe parecia estranha demais, não era nenhum dom conversar com aquelas vozes, era? Tsuki não via nenhum privilegio em ouvir gritos agoniados e vozes lhe implorando por uma ajuda que ela não sabia como fornecer.

Abriu seus olhos assustada ao ouvir um estrondo ensurdecedor de explosões, imaginou que fosse culpa de Haru, mas normalmente o barulho não era tão alto e nem vinha do andar de baixo. Alarmada com o barulho de coisas quebrando, Tsuki levantou-se da cama, queria ter alguma arma por perto, mas nunca deixavam nenhuma com ela e, mesmo que deixassem, não sabia manusear qualquer uma que fosse. O medo tomou conta de Tsu ao perceber que caso estivesse acontecendo uma invasão não teria a menor chance, mesmo com seu patético domínio de nen. A morena se concentrava em impor sua aura contra a grande porta do cômodo, tentava impedi-la de se abrir caso sofresse um impacto forte, mas suas tentativas eram em vão.

A porta se partiu ao meio em uma fração de segundos, um grito fino e surpreso escapou da garganta da menina ao ver o corpo de Hideki Takahashi jogado contra sua cama, sequer conseguia pensar em agradecer por ter se levantado da cama, correu na direção do grande corpo, sacudindo-o e chamando-o assustada.

−Hideki, me ajuda, por favor. –implorava chorando, nunca havia sido sequer próxima do filho de Masashi, mas lhe parecia mais seguro ter ele consigo. –Hideki, por favor, eu to com medo. –choramingava implorando, acertou um, dois, três tapas no rosto do moreno tentando acordá-lo, mas caiu em pânico ao ouvir uma rouca e gelada voz em sua mente.

−“Eu não estou mais ai, Tsuki.”—a voz lhe informava, não havia o menor tom de empatia ou preocupação. –“Nenhum de nos esta mais ai.”

−Parece que encontramos a garota da lua.