Coffee Breaks escrita por Kira Queens


Capítulo 1
Coffee and Books


Notas iniciais do capítulo

Hello, amiguinhos!
Então, eu não sei se alguém aqui vai lembrar de mim até porque eu fiquei dois anos quase sem dar as caras aqui no Nyah e agora que eu voltei eu descobri que muita gente também parou de escrever e tudo mais. Masss dessa vez eu to bem animada em voltar a postar.
Provavelmente a fic vai ter entre 10 e 20 capítulos, porque eu não consigo escrever fic grande mesmo, é sério, eu não sei como eu consegui fazer LWGU durar 60 capítulos. Mas é isso, espero que vocês gostem!!!



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Coloquei o chantilly no cappuccino, tomando cuidado para que não transbordasse. Levei a xícara até Harold, um senhor idoso que frequentava nosso café todas as manhãs, no mesmo horário, exceto pelos domingos.

— Obrigado, Annie — ele me respondeu com seu habitual sorriso desanimado, deixando-me uma gorjeta. Eu não o conhecia bem. Não sabia muito sobre sua vida pessoal, se tinha família, filhos ou ao menos um cachorro. O que eu sabia era que ele parecia sempre triste, mas se esforçava para sorrir para mim quando eu lhe entregava seu cappuccino.

— Eu que agradeço, Sr. Harold — respondi-lhe, gentilmente.

Voltei para trás do balcão, onde Katniss lavava a louça. Dei uma olhada pelo ambiente para me certificar de que não faltava entregar nenhum pedido, mas não, estavam todos servidos. Verifiquei então o relógio, descobrindo que acabara de passar das oito horas.

— Annie ­— virei-me para Katniss, notando que seus fios castanhos escapavam do coque despojado que ela sempre fazia para vir trabalhar. Pelo tom da sua voz eu sabia o que ela iria me perguntar — Como vai o livro?

Ela enxaguou o último prato e o secou, guardando-o em seguida. Pensei por um momento no que diria a ela, ciente de que eu sempre lhe dava as mesmas desculpas.

— Na verdade, estou considerando desistir e virar atriz — dei-lhe um sorriso divertido, mas ela não sorriu de volta, como eu já esperava. Na verdade, além de não sorrir, minha melhor amiga exigente colocou uma mão na cintura e me lançou seu melhor olhar de desaprovação. — Eu sei, eu sei, não precisa dizer! Mas é que eu não tenho inspiração alguma pra continuar escrevendo.

Eu não gostava de falar sobre o meu livro. Talvez porquê ele fosse muito discutido, mas, na realidade, fosse praticamente hipotético, já que eu quase não escrevia mais. Só que era difícil verbalizar ou até mesmo ponderar a ideia de que eu talvez nunca o publicasse.

A questão é que se eu nunca o publicar, eu terei falhado. E eu não podia falhar, porque aos dezessete anos eu consegui meu diploma escolar, peguei parte das economias de toda uma adolescência que eu passei escrevendo discursos de formatura que eu vendia para o pessoal mais velho, e comprei uma passagem de avião. Prometi à minha doce mãe que eu conseguiria a vida dos meus sonhos morando na cidade grande. Eu era uma garota sonhadora, que queria desesperadamente deixar sua cidade natal e desvendar novos horizontes. Mas agora, aos dezenove anos, eu só queria trabalhar no meu adorado café e conseguir o dinheiro necessário para sobreviver.

E é verdade, sem ironia alguma, que esse café era realmente adorado por mim. Eu passava as minhas manhãs e tardes trabalhando com um sorriso estampado no rosto. Se alguém melhor sucedido me visse, poderia até sentir pena da jovem garçonete, pensar que eu podia ter tido um futuro diferente. Mas eu simplesmente adorava. Talvez fosse um pensamento ingênuo, mas, para mim, havia certa mágica naquele lugar. Era maravilhoso ver diversas pessoas todos os dias sentarem naquelas mesas, com tantas histórias diferentes. Algumas pessoas inspiravam-me a escrever, outras mantinham-me entretida enquanto eu lhes servia seus cafés.

Era Katniss quem fazia questão de lembrar-me de que eu não estava ali para preparar cafés a vida toda. O plano era trabalhar, juntar dinheiro, escrever, fazer faculdade, publicar o livro, conseguir o diploma do curso de jornalismo e continuar escrevendo. Foi para isso que eu saí de casa e foi com essa história que eu encantei minha, até então, colega de trabalho, quando eu comecei a trabalhar ali. Agora já fazia dois anos e nada de faculdade, nada de livro e muito menos diploma. A única diferença é que agora Katniss era minha melhor amiga e não só a garota com quem eu trabalhava.

— Nós deveríamos sair amanhã à noite — Katniss me disse ao final do expediente — Só eu e você, acho que faria bem a nós duas.

— Acho que sim — concordei com um sorriso simpático.

— É sério isso? — ela me perguntou em tom de surpresa. Eu não podia culpá-la, já que comumente eu negava seus convites. — Uau, alguém vai finalmente sair da toca.

— Bom, eu não estou conseguindo escrever nada já faz semanas mesmo — dei de ombros — E sair de casa vai ser bom, eu posso acabar arranjando uma inspiração pra escrever.

— Tomara que eu arranje uma inspiração também. E que essa inspiração tenha olhos azuis e beije muito bem — Katniss respondeu, fazendo com que eu gargalhasse.

Assim como eu, Kat não possuía muita sorte no amor. Só que, no meu caso, eu estava muito focada no esquema levantar-trabalhar-escrever-dormir pra pensar em me envolver romanticamente com alguém. Mas não que eu precisasse pensar sobre isso, não precisava mesmo, nem um pouco. Eu tive alguns poucos pretendentes na adolescência e perdi a virgindade pro meu par do baile de formatura na noite da formatura, mas, de forma geral, eu estava começando a acreditar que era incapaz de me relacionar com o sexo oposto.

Mas Katniss, por outro lado, era apenas sentimentalmente incapaz de se envolver. Ela se importava mesmo era com a parte física. Apesar de que eu a conhecia o bastante para saber que ela queria sim se apaixonar e que não era totalmente brincadeira quando ela falava que teria uma história de amor tão bonita que eu iria escrever sobre ela. No fundo, era isso o que ela queria, mas enquanto isso... Não tem uma frase sobre se divertir com os caras errados? Enfim, era isso o que ela fazia enquanto o tal cara certo não aparecia.

— Faz tanto tempo que eu não coloco um vestido de festa que eu nem sei se ainda tenho umas curvinhas — disse-lhe — Bem, acho que vamos descobrir, então.

Já havíamos limpado e guardado tudo quando Haymitch, o dono do lugar, anunciou que iríamos fechar. Nossos dias não eram muito movimentados, até porque nossa clientela era constituída pelos moradores do bairro. Mas não tinha problema, o dinheiro era suficiente para que nós nos sustentássemos e para que o Sr. Abernathy mantivesse o café funcionando, junto com sua esposa, Effie.

— Tem uma boate nova no centro que parece legal — Kat sugeriu enquanto combinávamos de sair no dia seguinte — Dar uma rebolada, uma chacoalhada no esqueleto... — eu ri enquanto ela movimentava os ombros como se estivesse dançando.

— Faz tanto tempo que eu não danço, vai ser ótimo — respondi no mesmo momento em que ela estacionava em frente ao prédio onde eu morava, que estava apenas a dois quarteirões do café, mas como a minha rua era caminho para a casa de Katniss, ela não se importava em me dar carona.  

Despedi-me dela e entrei, subindo os lances de escada até meu apartamento, já que não havia elevador. Eu costumava brincar que minha casa era meu hábitat natural, já que era onde eu passava todo o meu tempo quando não estava no trabalho. Não era grande coisa, era apenas o que meu salário e o pouco dinheiro que minha mãe fazia questão de me mandar mensalmente podiam bancar.

Alimentei minha gata, Mia, e imediatamente segui para o banho. A água quente trazia uma sensação tão gostosa que eu sentia que podia ficar ali para sempre. Eu gostava de cantar no chuveiro e gostava de usar pijamas com estampa de bichinhos. Era nesses momentos em que eu me sentia como se ainda fosse aquela Annie Cresta que entrou naquele avião há dois anos. Mas a verdade era que eu estava desiludida. Não que eu não fosse feliz, eu era, e não havia motivos para não ser, afinal, eu adorava meu trabalho, tinha a melhor amiga pela qual eu poderia pedir e morava na cidade com a qual eu sempre sonhei, vivendo a independência pela qual eu passei a vida toda clamando. Mas faltava alguma coisa. Falta o seu maldito livro, Katniss me diria se eu desabafasse isso a ela. Sorri imaginando a cena. Ela era bondosa e divertida, mas também possuía uma personalidade forte e sabia ser ameaçadora quando queria.

Entretanto, a verdade é que me faltava alguma coisa. Emocionalmente falando. Eu estava vivendo o meu sonho, apesar de não estar seguindo meus planos ainda. Não deveria ser mais emocionante? Não sei, acho que eu meio que esperava fogos de artifício e uma vida digna de filme. Só que a esse filme ninguém assistiria. E o motivo é óbvio: ele tem um roteiro péssimo. Eu acordo e eu sei exatamente como vai ser o meu dia. Só que é tão complicado pra mim, porque eu gosto da minha rotina, mas eu simplesmente cansei de ter uma rotina.  Ótimo. Além de tudo o filme da minha vida ainda é confuso.

Mas essas coisas eu confidenciava apenas à minha gata quando eu cansava de guardar para mim mesma. Katniss não entenderia e eu simplesmente não podia contar essas coisas à minha mãe, porque ela sempre teve tantas esperanças em relação a mim que eu não seria capaz de tirar isso dela. Por isso, quando ela ligava, eu lhe dizia sempre a mesma coisa: que o livro estava indo bem e que eu só iria juntar um pouco mais de dinheiro para começar a ir para a faculdade, cuja matrícula eu tranquei.

Quando me perguntavam sobre a faculdade, eu dizia apenas que ainda não havia juntado dinheiro o bastante, mas isso era só uma meia verdade. A outra metade dessa verdade é que eu não sei mais o que eu quero pra mim. Ou talvez eu saiba, mas esteja fora do meu alcance. Porque se eu pudesse, se meu dinheiro permitisse e não houvesse pessoas que estivessem contando com o meu “sucesso iminente”, eu teria uma casa na praia. Simples assim. Eu acharia a praia mais bonita e deserta possível e construiria uma casa nela. Eu usaria biquíni o dia todo e escreveria ouvindo as ondas do mar. Talvez seja esse o meu novo sonho, mas eu nem sequer sei mais. Porque eu tinha um sonho e quando eu o concretizei, ele deixou de fazer sentido pra mim. Não pude deixar de me perguntar algumas vezes se seria sempre assim, se sempre que eu alcançasse algo que quisesse muito, tal coisa deixasse de ser o que me faria feliz. Devido a esse pensamento, eu tentei convencer a mim mesma de que me contentar com o que eu tenho e seguir os meus planos seria o melhor a se fazer, mas como eu poderia, se eu não deixo de sentir falta de qualquer coisa que pudesse fazer meu coração bater mais forte? Talvez se eu fosse assaltada esse problema se resolveria. Mas aí eu teria prejuízo financeiro, então melhor não, melhor continuar sonhando com a história da praia.

O som do meu celular tocando me tirou de meus devaneios. Coloquei a TV no mudo e tirei a mão do balde de pipoca para atendê-lo.

— É melhor ser importante, o Hagrid acabou de contar pro Harry que ele é um bruxo — eu disse brincando à minha mãe, fazendo referência ao filme que passava na televisão.

Do outro lado da linha, minha mãe riu. Sua risada era gostosa de ouvir e me deixava com saudade de casa.

— Você faz falta aqui, filha — ela me disse. Dei um sorriso triste, mesmo sabendo que ela não podia me ver.

— Eu vou te visitar no inverno — falei. Eu queria poder visitar com mais frequência, mas eu não podia e nem queria. Precisava me manter focada.

— Faltam quase seis meses para o inverno! — minha mãe exclamou — Mas eu sei, eu entendo. Você está ocupada aí. Eu não posso pedir a você que venha — o tom em sua voz mostrava sua frustração.

Eu odiava chateá-la. Minha mãe era uma pessoa maravilhosa. Ela teve que se desdobrar para me criar sozinha e eu valorizava muito isso. Eu não sei muita coisa sobre o meu pai porque ela fala muito pouco sobre ele, o que eu sei é que eles não puderam ficar juntos e ela optou por dar um rumo à sua vida a partir com ele. Mas então ela descobriu que estava grávida e não pôde realmente fazer muito do que ela pretendia. Ela jura que nunca se arrependeu e já me explicou várias vezes que achou que não valia a pena ir atrás do meu pai para contar-lhe sobre mim. Eu não argumento sobre as suas decisões e evito perguntar qualquer coisa que envolva o meu pai, porque sei que ela não gosta. Mas não importa, Courtney Cresta era a pessoa mais amorosa e gentil que alguém poderia conhecer e eu era muito grata por tudo o que ela sempre fizera por mim.

— Eu sinto sua falta, mãe — disse com um suspiro.

Conversamos mais um pouco e então desligamos, a tempo para que eu ainda pudesse assistir ao Harry indo para Hogwarts pela primeira vez. Eu terminei de comer a pipoca enquanto Mia ronronava ao meu lado e acabei adormecendo no sofá.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo o Finn já aparece, inclusive o capítulo já ta escrito, mas eu devo postar só no final da semana. Vou aproveitar o feriado pra escrever bastante e tentar postar um capítulo por semana, senão eu desanimo, vocês desanimam, aí não é legal. E é isso, gente, espero que vocês tenham gostado, eu senti muita falta disso aqui! Beijos.