Cornucópia de Bolso [EM HIATO] escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 5
Ampulheta


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais do que eu queria, mas eu voltei para matar as saudades de vocês. (principalmente por eu ter batido tanta cabeça com a outra fic, mas as coisas estão se desenrolando ao ponto de que tirei um dia pra reescrever esse capítulo; até que deu pra aproveitar bastante coisa)
Principalmente porque eu sei que querem ver um pouco mais de drama por aqui (querem?)

Agora a ação volta para o Andrew.
E quem me conhece ao menos vagamente sabe o que isso significa para o conteúdo do capítulo...



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Mais de meia hora havia se passado sem que Andrew tivesse notícia de Gecko, o que lhe deu motivos o bastante para se preocupar. O camaleão saberia se virar sozinho muito melhor que seu treinador, por mais adversas que fossem as condições; mesmo assim a falta de resposta dele era angustiante para o garoto.

Ele tornou a assoviar, cada vez mais descrente que pudesse ter resultado. Arrependeu-se no momento seguinte por conta do barulho que ouviu. Uma ligeira movimentação de folhas foi percebida, o que não seria notado por Andrew não fosse o fato de ele estar completamente atento. Seguindo-se a ele, no entanto, um assovio muito parecido com o seu ecoou partindo da mesma direção do movimento.

O jovem tentou permanecer imóvel sobre o galho da árvore, tentando chamar o mínimo de atenção possível. Uma repetição de seu sinal não era o que esperava ouvir de Gecko. Pelo contrário, o som emitido pelo Kecleon era por deveras característico, o que indicava que outro tributo percebera sua tentativa de se comunicar e o imitava.

Os minutos de tensão se arrastaram ainda mais lentamente quando o rapaz surgiu. Alto e com os músculos definidos, era o típico padrão de um carreirista, por mais que seus traços fossem muito mais característicos da região insular, localizada ao sul, a qual não possuía tradição de tributos voluntários. Além disso, o fato de ele carregar consigo um cutelo tornava a situação mais perigosa do que já seria. Se a arma não tinha o poder intimidador pelo formato pouco prático, sua lâmina afiada não precisaria de muito esforço para ceifar a vida do primeiro que aparecesse.

Mais perigoso que o rapaz, contudo, era seu Pokémon, por mais que tivesse pouco mais da metade do tamanho do treinador. Era uma espécie de dinossauro bípede e esverdeado, com uma longa cauda repleta de esferas rígidas em sua ponta, provavelmente capaz de destroçar as árvores ali presentes se tivesse vontade. A cabeça dele era coberta por um chapéu em formato de cogumelo, o qual só depois foi reconhecido como parte de sua cabeça.

— Quieto, Funky! — sussurrou o rapaz para o Breloom que o acompanhava — ele pode estar em qualquer lugar por aqui.

Os minutos se passaram; Andrew até mesmo respirava devagar, com medo de ser ouvido pelo Pokémon, desconhecendo sua capacidade auditiva. Não queria correr nenhum risco, estando indefeso sentado sobre um galho de árvore, a qual poderia ser derrubada com um único golpe do fungo.

Olhou mais uma vez para a mochila em seu colo. A lama que a cobria havia secado, adquirindo uma consistência sólida o bastante para que seu plano desse certo. Só haveria uma chance. Juntando-a com as mãos e tomando cuidado para não deixar cair nem um pedaço, o rapaz fez uma pequena esfera com o material, atirando-a com toda a força que conseguiu para a direção oposta, tentando chamar a atenção da dupla que estava no chão de modo que eles se distanciassem.

Para lá. O tributo ao solo pronunciou apontando para a área atingida pela lama, tão baixo que seu Pokémon teria que ter entendido pelos gestos ou pela leitura labial se o fosse capaz. Os dois rumaram silenciosamente na direção do som, perdendo-se da vista de Andrew para seu alívio.

A sensação não durou muito tempo, no entanto. O incômodo do garoto era inevitável, não pelo retorno do outro tributo, mas pela ausência de seu Pokémon. Percebendo que os sinais sonoros que utilizava não eram exatamente seguros, seria ainda mais difícil entrar em contato com Gecko.

Os pensamentos eram negativos, como podia se imaginar da situação. Os minutos se passaram sem que houvesse nenhuma movimentação na floresta, nem mesmo do outro tributo que passou por ali.

Talvez pela angústia, talvez pelo medo de que o Kecleon estivesse ferido e precisando de ajuda, Andrew decidiu por sair atrás dele. Não mais importaria se ele sobreviveria, preferiria até mesmo morrer do que conviver com a morte de Gecko.

Descendo da árvore, caminhou em direção oposta ao rapaz que passara pelo local antes, tornando a assobiar. Ele não teria ido tão longe, pelo pouco que o treinador o conhecia.

Passaram-se talvez uns vinte minutos com Andrew vasculhando o local sem encontrar nenhum sinal de vida, o que não era de todo ruim. Ele estava prestes a retornar para a cornucópia, já acreditando que o Pokémon pudesse ter sido atacado antes que chegasse na floresta, quando ouviu uma resposta positiva.

O som era fraco, porém claramente de Gecko. Era possível que estivesse ferido, preso em uma armadilha, ou mesmo ambos. Mas estava vivo.

Somente isso importava para o garoto.

Não foi muito difícil encontrá-lo, mesmo ao se considerar que o Kecleon se camuflava com facilidade por entre a folhagem escura das árvores que os rodeavam. O que se mostrava visível com mais facilidade eram as manchas de sangue em dois troncos, assim como uma pedra um pouco maior no solo que se apresentava completamente avermelhada.

— Estou aqui, Gecko! Me deixe te ajudar!

O Pokémon se movimentou sem sair do lugar, revelando sua localização exata para o treinador, que correu até ele. Mesmo estando teoricamente invisível, era fácil de perceber que o Kecleon se encontrava gravemente ferido, talvez incapaz de andar.

— Quem te deixou assim?

Era uma pergunta idiota da parte dele, claro. Seu Pokémon apontou para cima, tentando dizer a ele a resposta que Andrew jamais entenderia. Nem mesmo era possível dizer se tratava-se de um tributo com um companheiro que pudesse voar, ou apenas uma das espécies modificadas pela capital, um experimento genético que havia sido nomeado pelos leigos com um apelido genérico. Bestante.

O sentimento do garoto ao ver Gecko tão machucado era de raiva. Não da capital, por ter colocado todos em perigo daquela fora, nem dos outros tributos, tão injustiçados como ele. A raiva que sentia era de si mesmo, incapaz de evitar que situações como essa ocorressem.

— Me deixe eu te ajudar…

O Kecleon foi obrigado a recusar a ajuda de seu treinador, por um motivo que o jovem não conseguiu entender em um primeiro momento. O Pokémon camaleão tinha uma capacidade regenerativa um pouco rudimentar, pela qual ele deveria permanecer em repouso para que pudesse se recuperar.

Andrew mentalizou seu erro grosseiro, meio que compreendendo o que acontecia. Em um mundo aberto, aonde o uso de poções era um hábito e enfermarias ilegais existiam nos mais variados locais (os Centros Pokémon haviam sido abolidos após a guerra), a capacidade de recuperação natural de Gecko nunca fora estimulada pelo garoto.

— Quer que eu fique aqui com você?

O som emitido pelo Kecleon confirmou que a presença do treinador era bem-vinda. Não que ele tivesse como saber, mas provavelmente levaria mais do que aquela noite para o Pokémon se recuperar.

Andrew não o abandonaria mesmo que a resposta fosse contrária. Seria muito bom se ele pudesse entender o que se passava com seu Pokémon; mesmo não conseguindo, não iria abandoná-lo.

Se eu tivesse trazido a mochila vermelha…

A culpa pela falha em seu plano terminou por acertá-lo. Sabia ser impossível trazer o kit de primeiros socorros consigo sem ser atingido pelo Ice Beam daquele Omastar, porém era impossível não pensar no quanto ele seria útil naquele momento.

Tudo por conta dos jogos. Era a sentença de morte dele, como por tantas vezes pensara antes de entrar na arena. Mas precisava ser tão dolorido?

Ele se pegou pensando no perigo que corria ficando por ali. Ver seu Pokémon naquelas condições sem poder ajudá-lo lhe doía tanto que Andrew preferia morrer. Não que tivesse a coragem de fazê-lo, mas os terríveis sentimentos lhe incomodavam ao ponto de ele pensar na possibilidade.

Não demorou muito até que a noite caísse, talvez cedo demais pelas contas do rapaz. O hino de KaloNova começou a soar por toda a arena, um prenúncio das mortes que seriam mostradas no céu. Nenhum canhão fora soado desde o banho de sangue na cornucópia, de modo que ele tinha certeza de que apenas três mortes haviam ocorrido.

As faces logo foram mostradas. Linnéa, de Johto. Jillian, de Hoenn, Antopia, de Ransei. Três jovens garotas, tão belas nas fotos que eram projetadas no céu. Três pessoas que tiveram as vidas ceifadas de maneira brutal na arena.

Será que eu tenho capacidade de sobreviver?

Era besteira pensar nisso. Ele sabia que não tinha muitas chances na arena. Também sabia que não estava disposto a matar. Ao mesmo tempo, não pretendia facilitar as coisas para seus oponentes. Sempre havia a chance de conseguir sobreviver enquanto os outros definhavam. Nisso, talvez, ele fosse bom.

— Vai ficar tudo bem, Gecko. Vou ficar com você até o fim.

Ele sentou-se ao lado de seu Pokémon, disposto a protegê-lo caso algo ou alguém aparecesse por ali. Era uma esperança boba, verdade, mas ainda existente.

Pois cedo ou tarde a matança iria acabar. Provavelmente com os dois mortos. E por mais estranho que possa parecer, não era uma preocupação que ecoava pela mente de Andrew quando ele foi vencido pelo cansaço.

Sobreviver… mas de que isso importa, afinal?


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Notas finais do capítulo

Com esse capítulo, posso dizer que encerro o primeiro dia na arena...
Mentira, não encerro não! Ou acha que nada vai acontecer durante a noite?
Ainda tem cinco personagens que não apareceram na fic nem por menção... Nem sei quando citarei todos, mas eu prometo que eu faço. Por mais que meu dedo esteja coçando para um bônus...

Lista de tributos atualizada para quem não se importa com não-exatamente-spoilers: http://pastebin.com/raw/V0S7Xq2A
(ela revela quem é de qual continente, o que não necessariamente é revelado na fic. E isso pode ou não indicar certos alinhamentos... ops, acho que estou falando mais do que devia)

p.s> nas estatísticas do word esse capítulo tinha 2 palavras a mais, arredondando 1500... entenda como quiser