Cornucópia de Bolso [EM HIATO] escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 1
Arsenal


Notas iniciais do capítulo

Não sei quantos de vocês acompanham minha outra fic, mas àqueles que o fazem, vou lembrar mais uma vez de que as coisas aqui vão funcionar de maneira diferente quanto a atualizações. Acho importante falar isso, em especial porque estou meio que reservando a ideia também, visto que muitas coisas da fic ainda não foram planejadas.

No mais, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/682214/chapter/1

As hélices giravam, seu barulho característico fazendo com que Andrew se sentisse por demais incomodado. O ruído, no entanto, não era nada perto do turbilhão de emoções que tomava conta de sua mente. Especialmente pelo fato de que ele caminhava para sua sentença de morte.

Ele reconhecia ter grande parcela de culpa no processo. Sabia exatamente os riscos que corria quando tomou sua decisão, ainda aos onze anos de idade. Hoje, aos dezessete, pagava o preço pela intransigência, justamente quando já se considerava seguro. Fora na sua última colheita, também o último ano pelo qual teria um mínimo de liberdade; a sorte que lhe acompanhara por todo o período lhe deu a esperança de se safar. Ledo engano.

Analisando-se com mais calma, suas chances não eram tão reduzidas quanto pensava ser. Sete pontos por sua idade, mais trinta e cinco pontos pelo tesserae. Por mais que seus pais e irmãos protestassem, ele se dispusera a correr o risco sozinho, sem ter que estender a angústia a eles. Não após correr riscos maiores do que a necessidade de alimento.

Pois foi sua partida da vila de Cocona que fez com que a quantidade de nomes na colheita se multiplicassem. Eram dois pontos por seu primeiro Pokémon, mais quatro por cada captura adicional. Sua pequena equipe, composta apenas por Pichu, Kecleon e Chatot, lhe rendia dez pontos anuais, totalizando setenta. Tinha sorte de nenhum deles ter evoluído, lhe poupando pontos (sete por cada evolução), mas sua ganância lhe fez compensar tal economia através das insígnias.

Não havia outro motivo para ele ter saído em jornada senão conquistar as oito insígnias necessárias para se inscrever no desafio de KaloNova, o que ele o fez na última oportunidade possível. Tal convenção acontecia anualmente; suas inscrições eram convenientemente encerradas dias antes da colheita, por mais que a competição iniciasse somente depois dos Jogos. Somente agora Andrew entendia o porquê, ao levar em conta que as insígnias também davam a ele pontos na colheita.

Um pela primeira insígnia, dois pela segunda… oito pela oitava. Trinta e seis pontos, multiplicados pelos sete anos de jornada. Duzentos e tantos pontos ao todo, uma necessidade para quem almejava o sucesso em sua melhor oportunidade para escapar do rigor que a Capital lhe proporcionava em Oblivia.

Sua mente ociosa lhe permitiu completar a conta. Trezentos e sessenta e quatro pontos, perfazendo o mesmo número de vezes que seu nome estava no pote a ser sorteado para a colheita. Entre dezenas de milhares, pensou ele, tendo uma noção de quantos almejavam o mesmo que ele.

Havia apenas duas maneiras de evitar o trabalho semiescravo ao qual eram submetidos os adultos que viviam em Oblivia: A mais segura delas era sendo um dos oito selecionados no desafio de KaloNova, um teste de capacidade de batalhas realizado entre os oito subcontinentes orientais subjugados à Capital. Andrew pouco conhecia sobre os outros além de seu nome, mas supunha que todos passavam por situação semelhante. Era ao menos o que havia aprendido quando criança.

Tudo começou a cerca de três milênios atrás, quando os dois feudos mais poderosos do continente se uniram em um acordo de paz, cessando a guerra implícita entre eles antes que ela começasse de fato. Unova e Kalos viviam em relativa prosperidade, tornando-se um verdadeiro império após a união de seus exércitos. Em resposta ao seu domínio comercial, os outros feudos do continente se uniram, formando o Domínio do Leste. Os dois reinos então formados conviveram em paz até cerca de cento e vinte anos atrás, no qual o primeiro-ministro oriental declarou guerra ao império de KaloNova pelo domínio das ilhas de Orre, até então território neutro. As forças ocidentais se mostraram muito superiores, subjugando os exércitos orientais. Juntamente com a vitória, o reino ocidental impôs uma série de restrições comerciais, como forma de retaliação pelo ataque militar.

Descontente, o exército formado pelo Domínio do Leste se reagrupou em uma nova investida militar, talvez o maior erro que pudessem ter cometido. Não somente os exércitos foram dizimados dessa vez, como toda a sua população acabou sob o controle de KaloNova tendo seu território por fim anexado, o que tornou as sanções aos subcontinentes do oriente ainda mais severa, limitando até mesmo a posse de Pokémon por maiores de idade.

Ser um dos escolhidos no Desafio de KaloNova lhe permitia ter assegurados direitos mínimos para si e sua família, visto que estes recebiam autorização do reinado para se mudarem para os territórios ocidentais, aonde não havia nenhuma sanção severa de liberdade. Porém, apesar de ser o mais sensato, não era o único meio para tal.

Além deles, ganhava direitos semelhantes o sobrevivente dos Jogos que aconteciam anualmente. Por sorteio, era selecionado um casal de jovens de cada subcontinente para um duelo mortal; uma maneira de punir os descendentes daqueles que se colocaram no caminho do reinado e, ao mesmo tempo, desincentivar os jovens de tentar a liberdade por meio do Desafio.

A grande diferença era o fato de neste apenas os Pokémon derrotados serem sacrificados. Na arena dos Jogos, no entanto, os treinadores derrotados também encontravam a morte.

Andrew era um deles. Sorteado na última colheita, teve frustrada sua tentativa de participar do Desafio de KaloNova, visto que somente poderia sair da arena caso fosse o vitorioso dentre os dezesseis tributos, caso em que o torneio para o qual se preparara se tornaria obsoleto.

Mas o garoto tinha consciência de que estava a caminho da morte.

Na arena dos Jogos a única regra era que o último humano sobrevivente (caso houvesse um) seria o vitorioso. Dito isso, humanos e Pokémon deveriam estar preparados para matar seus semelhantes caso houvesse oportunidade para tal. Andrew não era um desses.

Ele não só mantinha seu senso de moral inabalado, incapaz de causar danos permanentes a um oponente como jamais pôde se preparar para a inusitada situação que se aproximava. Nos mais de oitenta anos nos quais os Jogos ocorreram o subcontinente de Oblivia teve apenas uma vencedora; ela falecera cerca de três anos antes, vítima da idade e do álcool. Tida como heroína pela população da ilha, ela era a única pessoa que poderia ensinar algo a Andrew depois que seu nome foi retirado da urna no dia da colheita.

O rapaz tremia; lembrando-se de que sua situação era em muito melhor que de sua conterrânea. Scarlet Shillito, o tributo feminino de Oblivia, era colega de infância dele; Letty, como Andrew a chamava, era uma menina doce e ingênua, demais para se preparar para os jogos. Considerava-se tão incapaz que sequer saiu de casa para tentar uma vida melhor. Aos seus quatorze anos e sem nenhum talento que pudesse ser útil na arena, sua maior sorte provavelmente seria uma morte rápida e indolor.

Andrew esperava que os carreiristas de Sinnoh pudessem fazer a ela esse favor. O gélido arquipélago era responsável pelo maior número de vencedores nas últimas décadas. Sendo a região designada por KaloNova para a produção tecnológica, os jovens lá nascidos possuíam inúmeras vantagens no treinamento de seus Pokémon; talvez devido a isso fosse a única região na qual havia uma seletiva interna para designar os participantes habilitados para o Desafio de KaloNova. E considerando a grande concorrência, não era incomum que alguns deles treinassem com o intuito de participar dos Jogos, mesmo sabendo ser uma opção mais arriscada.

Era essa a diferença entre eles e Andrew. O garoto podia ter escapado da morte por treinadores inescrupulosos em Oblivia, derrotando-os em combate porém incapaz de mata-los.

Mesmo que agora fosse a única opção que lhe restasse.

Na arena, só se podia matar ou morrer.

Andrew esperava por uma terceira opção: sobreviver. Assim que a sirene soasse, ele correria o mais longe possível da Cornucópia. Seu plano era se esconder, esperando que os outros tributos morressem pelas mãos dos outros combatentes, pela fome ou pelos desastres planejados pelos organizadores dos Jogos. Fora esse o motivo que o fez escolher Gecko como parceiro para a provável última batalha de sua vida. O Kecleon não era tão bem treinado para o combate quanto seus outros dois Pokémon, mas seus poderes de camuflagem seriam por demais úteis e necessários para que seu plano pudesse se concretizar.

O barulho das hélices do helicóptero se reduziam, sinalizando que a aeronave pousava para que ele se encaminhasse até a arena.

Nela, ele acabaria por jogar pela janela todos os planos que fez assim que visse o desafio que lhe aguardava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A aqueles que gostaram da leitura deste "prólogo": por favor, me indiquem, seja por comentário ou MP. A não-responsividade deve me levar ao abandono deste projeto.

A aqueles que tiverem alguma sugestão ou crítica: aceito MPs sobre a fic de bom grado. Mais ainda, caso queira discutir algo sobre o tema, estou aceitando o que vier, até mesmo ficha de personagem (mas por favor, se o fizer faça por MP e não por comentário). Mesmo que a fic não seja interativa, se você gostou a esse ponto posso abrir uma exceção.

A aqueles que não gostaram da fic por algum motivo: sejam francos. Não vou morder ou xingar ninguém, muito pelo contrário. Se você tiver um bom argumento pra me convencer de que está ruim, me disponho a fazer qualquer ajuste necessário.