Kidou Senshi VP Gundam - Os Vigilantes escrita por Moonlight Butterfly


Capítulo 11
Louis Anaheim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/681539/chapter/11

Depois da palestra, Yan Soreil permaneceu em Arcadia; montou um grupo de estudos para pesquisar as alterações na energia Newtype causadas pelas tensões das sucessivas guerras. Tinha a hipótese de que tanta energia de conflito emanada estava causando distorções no campo energético universal, e isso causava efeitos colaterais peculiares, como se o Universo procurasse defender-se de toda essa emanação de tristeza, ganância, fúria, desespero e morte. Zaina Addill juntou-se a este grupo de estudos; sempre sentira que havia algo errado com seus pressentimentos, pois sempre ocorria o contrário do que pressentia. Por essa razão, não se considerava uma Newtype.

— Espero que neste grupo da Princesa Yan a Zaina consiga se conhecer melhor – comentou Estel para Keisha e Daiya, quando estavam somente os três na sala da cobertura – ela nunca se entendeu muito bem com os poderes dela.

— Bom, você nunca foi muito fã de habilidades Newtype, dá pra ver por suas discussões com o Karma…

— Não é só por causa do Karma, Keisha, tem coisas bem antes disso. A própria Zaina é um desses motivos. Eu já a conheço faz um bom tempo… no tempo em que ela e o Edward eram namorados.

— QUÊ? Como assim? Como é que eu nunca senti isso na mente de nenhum dos dois? O Edward tem a gambiarra mental dele, mas a Zaina… bom, os pensamentos dela são um tanto nebulosos, realmente…

— Até que faz sentido – comentou Daiya – Zaina também é de Shangri-La, não é? Foi lá que os dois se conheceram?

— Sim, foi lá. E desde quase sempre, o Edward teve uma paixonite platônica pela princesa Arturia, de Neo Zeon. Então, cada vez mais… a Zaina começou a ter visões dos dois ficando juntos de verdade, ao ponto de começar a ficar insustentável. Ela tinha visões dos dois se casando, ficando juntos até morrerem… ao ponto disso conseguir destruir o relacionamento dela com o Edward. Como ela sempre teve um coração muito bom, acabou se afastando dele, pois achava que estava impedindo-o de ficar com quem realmente o faria feliz.

— Isso é tão… triste – murmurou a garota – que bom que hoje pelo menos os dois conseguem conviver.

— Pois é, e eu acompanhei tudo isso. E desde que eu testemunhei o término dos dois por causa dessas previsões idiotas, senti-me mais feliz do que nunca por estar livre desses poderes idiotas… e triste por ver meus amigos sofrendo com isso. Minhas brigas com o Karma são, na verdade, preocupação… angústia por me colocar no lugar dele, e pensar no quanto deveria ser horrível pra mim ver um monte de desgraças no meu futuro e sentir-se impotente para mudar isso. E, como sou um porra louca, acabo expressando isso na forma de raiva.

Os três fizeram silêncio por alguns instantes. Para “quebrar o gelo”, Keisha resolveu mudar de assunto:

— Vocês viram que o herdeiro da Anaheim Electronics está pra vir para cá?

— Louis Anaheim? O que ele vem fazer aqui, inaugurar outro simulador de Mobile Suits?

— Provavelmente procurar potenciais futuros trabalhadores da Anaheim, Estel – explicou Keisha. - A ideia é fazer um oferecimento de jogos de vários tipos: o desempenho e a personalidade das pessoas é avaliado. Quem tiver uma avaliação positiva tem chance de ser contratado futuramente.

— Deus me livre de trabalhar na Anaheim Electronics – resmungou o outro – isso é pra nerds malucos como você. Posso até participar desse evento de jogos, mas só pra me divertir, e mais nada.

— Dependendo de quando for, talvez o Siren ainda esteja aqui, e consiga participar – murmurou Daiya – seria uma despedida adequada para ele.

Os três respiraram fundo e afundaram no sofá, tristes e silenciosos.

 

O evento de jogos da Anaheim Electronics disponibilizava, para os estudantes em férias, jogos de variados tipos: de tabuleiro, cartas, dados, eletrônicos, esportivos, RPGs de mesa, e todos poderiam escolher os que mais lhe agradassem. O próprio Louis Anaheim, apesar da empresa produzir diversos jogos eletrônicos, considerava como seu jogo favorito o clássico e milenar xadrez. Pessoas que se considerassem boas o suficiente poderiam desafiá-lo para uma partida no evento. O xadrez entre Newtypes era algo muito interessante, pois além de desenvolver estratégias para vencer e defender-se, o que estava em jogo também era o quanto o jogador conseguia detectar dos pensamentos do adversário. O grande desafio era se concentrar em ambos ao mesmo tempo.

Na noite antes do evento, Siren sonhou com a princesa Yan. Ela lhe dizia: “Lembre-se, o seu verdadeiro poder está em tudo aquilo que você cria, que é gerado a partir de você. Não se sinta inferior por ser desta forma; é apenas uma forma diferente de manifestar o enorme potencial que você tem. Não desperdice”. O rapaz de cabelos pretos tentou não dar importância; achou que eram apenas seus sentimentos idiotas tentando se colocar no caminho do dever de salvar sua família de ficar sem casa.

Kaori foi contratada para abrir o evento com um pocket show; a abertura seria na Wonderland. Nix percebeu que havia uma enorme angústia nela enquanto se apresentava, angústia que ninguém mais parecia perceber. No final do evento, Louis foi cumprimentá-la, dizendo:

— Parabéns pela performance; está cumprindo muito bem o nosso trato. Continue assim.

Quando a rápida apresentação terminou, o rapaz de cabelos longos foi até ela, preocupado. Recebeu como retribuição um tapa no rosto.

— Se preocupa-se tanto assim comigo, não me trate como uma inútil e não se meta no que não lhe diz respeito. Agora volte para o seu lugar e não me incomode mais.

Após o show, Louis Anaheim, um homem de cabelos pretos lisos, levemente armados, e um pouco de barba embaixo do queixo, foi para o palco e disse algumas palavras.

— Boa noite a todos os privilegiados e privilegiadas estudantes da colônia de Arcadia. É com grande prazer que executo novamente mais um Anaheim Free Play, um evento em que todos podem se divertir e descobrir seu verdadeiro potencial! Como grandes defensores da livre expressão e livre mercado, permitimos todos os tipos de ideias e estilos de jogo, e desejamos que o acesso aos jogos seja cada vez mais fácil para todos sem interferências do Estado limitando o acesso a este tipo de entretenimento. Não se renda ao espírito politicamente correto, não se deixe limitar por nada: seja empreendedor, lute para vencer, deixe sua alma fluir. Não tenha medo dos invejosos que querem limitar seu verdadeiro poder; só assim você pode fazer a diferença!

Um estrondoso aplauso ressoou pela plateia. Após esta introdução, Louis mostrou vários slides com a localização de cada tipo de jogo; orientou os Newtypes presentes a não olhar os slides, para tentarem localizar na colônia os jogos que desejavam com sua intuição. Os jogos clássicos de tabuleiro, como o xadrez, seriam jogados na própria Wonderland; assim que a maioria do público procurou os outros jogos pela colônia, foram arrumados rapidamente os tabuleiros de xadrez, damas, trilha, gamão, batalha naval, entre outros jogos rudimentares. Muitos amantes do xadrez se prontificaram a desafiar Louis, mesmo tendo quase certeza de que iriam perder, para aprender novas estratégias. Ilya estava os que ficavam apenas observando os jogos de Louis, pelo mesmo motivo. Ao ver o homem, Daiya lembrou-se do episódio que a fez se afastar de sua cidade natal quando criança, e pensou em ir para outro lugar de jogos; tinha medo de que ele detectasse algo em sua mente sobre seu terrível segredo. Não fez isso porque lembrou-se de que era mais difícil detectar algo quando uma pessoa estava em um grupo de pessoas conhecidas; ajudava a dispersar a intuição. Ficou então junto com o grupo maior, na própria Wonderland, sempre procurando ocultar-se fisicamente o mais que pudesse, para que eventualmente não fosse reconhecida por Louis. Kaori também ficou com o grupo, ocultando-se; sua expressão, ao olhar para o homem, era de asco.

Após jogarem alguns jogos do local, o grupo que ficou na Wonderland decidiu descansar um pouco observando as partidas de xadrez com Ilya. Estel perguntou a Karma:

— Por que você não desafia Louis também? Sempre gostou muito de xadrez…

— Não.

— Por que não?

— Porque vou perder.

O rapaz da terra teve que conter sua vontade de socar o amigo na frente de todas aquelas pessoas. Cerrou os punhos, respirou fundo e retrucou:

— E daí, cara? Pelo que eu vi, ele ganhou de todos os que jogaram com ele até agora, e mesmo assim foi instrutivo para eles.

— Não vejo nada de instrutivo na derrota. Só a vitória me interessa. Só entro em batalhas que sei que vou vencer.

Mais uma vez, Estel teve que conter um surto de raiva. Mas teve uma ideia melhor para retrucar o amigo:

— Cem dólares.

— O quê? Como assim?

— Aposto cem dólares que você ganha dele, Karma.

— Você nem tem esse dinheiro pra me dar, seu bobão.

— Não tenho agora… mas vou ter quando você ganhar dele. Claro, se eu perder a aposta dou um jeito de arranjar, mas não vou precisar.

— Você é louco, Estel.

— Sou sim… louco de vontade de te encher de pancada na frente de todo mundo por você ser tão determinista. Mas e aí, vai aceitar a minha aposta ou vai deixar um reles terráqueo Oldtype como eu duvidar da sua toda-poderosa intuição? Não me diga que está com medo, ou está?

O rapaz havia tocado no ponto fraco de Karma: o orgulho. Principalmente após os comentários negativos que Julius von Deikun proferira sobre o filho não passar de um fracassado e ter poderes medíocres, Karma não podia deixar que um não-Newtype ficasse acima de si e duvidasse da sua capacidade.

— Está bem… eu aceito a aposta. Mas lembre-se, você me deve cem dólares.

O rapaz loiro teve que anunciar seu desafio para Louis; por alguma razão, ele não o detectou imediatamente como havia ocorrido com os outros. Como não havia ninguém na fila de desafios no momento, o jogo de ambos foi o próximo. Quando sentou na frente do tabuleiro, do lado das peças brancas, e olhou nos olhos do adversário, o derrotismo abandonou sua mente, e veio-lhe um desejo incontrolável, quase um dever, de vencê-lo, como se a salvação do mundo dependesse disso. “Vou perder”, pensou, “mas não vou te deixar vencer facilmente; vou dar o meu melhor”.

Começou o jogo. Karma tinha que, além de concentrar-se na estratégia do jogo e tentar captar a estratégia do adversário, calar sua intuição derrotista mostrando a imagem do seu rei sendo cercado e derrotado pelas peças negras. O jogo estava relativamente equilibrado; Karma estava pressentindo uma armadilha, como se Louis quisesse que ele ganhasse confiança, para depois derrubá-lo do pedestal com um violento golpe. Todos os Vigilantes presentes assistiam ao jogo com grande interesse. Em um momento em que Karma parecia tenso e demorava a fazer seu próximo movimento por novamente ter sua mente atrapalhada pela visão do seu rei sendo cercado, Daiya, que também conhecia bem o xadrez, vislumbrou uma sequência de jogadas excelente, que poderia fazer um estrago enorme nas defesas de Louis, e até mesmo dar a vitória a Karma, se fosse usada a estratégia correta. A jogada estava ali, tão óbvia para a garota, mas seu amigo parecia não fazer ideia do potencial de sua formação de peças. Ela chegou a mexer os lábios, quase como se tentasse revelar o lance a Karma:

— Rainha em D-4.

Por um acaso, não através da intuição Newtype, o rapaz olhou para a amiga bem na hora; o grupo estava atrás de Louis. Quando viu que Karma percebeu, Daiya repetiu, mexendo novamente os lábios sem emitir som, desta vez articulando melhor as palavras:

— Rainha em D-4.

O jovem analisou o lance, e viu que de fato a jogada tinha potencial. Como Louis Anaheim pareceu não perceber, ou não ligar, pois a previsão da perda da partida continuava igual, o lance sugerido foi executado. Conforme os lances se seguiam (todos idealizados pelo próprio Karma; Daiya sugeriu apenas o movimento inicial da sequência), Louis começava a ficar perplexo, pois simplesmente não estava mais conseguindo prever os lances do adversário; a frustração em seus olhos era visível para um observador atento. O que o tranquilizava era o pressentimento intuitivo de que iria ganhar mais uma partida. Quando parecia estar quase perto de ganhar, Karma hesitou muito, como se executar aqueles lances que poderiam dar sua vitória no xadrez – mas a derrota de sua intuição – fossem algo extremamente penoso. Então, seus olhos cruzaram-se novamente com os do seu oponente, e mais uma vez, a certeza inexorável de que Louis precisava ser derrotado tomou conta de seu ser. Como se obedecesse a um lampejo de coragem que se sobrepunha aos seus conflitos mentais, efetuou os lances finais, sacrificando a rainha, e encurralando o rei negro com uma torre, um cavalo e um bispo, conseguindo promover um de seus peões dando xeque-mate conseguindo uma nova rainha.

Ambos os jogadores pareciam perplexos com o resultado, principalmente porque a previsão inicial do resultado do jogo continuou exatamente igual até o final… e não se realizou, simplesmente se desvanecendo da mente dos dois quando a partida acabou. Ficaram alguns minutos sentados, como se estivessem tentando processar em suas mentes o que aconteceu. Nix percebeu de relance que parecia haver em Louis um olhar assassino, de ódio profundo; mas o homem logo pareceu se controlar, e o rapaz de cabelos longos achou que tinha sido só uma impressão errada. Louis então finalmente levantou-se, e apertou a mão de Karma, que logo depois também se levantou.

— Meus parabéns, foi um excelente jogo. Parece-me ter um grande potencial… definitivamente, alguém com suas habilidades é digno de ser observado e admirado. Estou ansioso pelas grandes coisas que o futuro tem para lhe dar, Karma von Deikun. Ficarei feliz em ser parte delas.

Afastou-se a passos rápidos. Antes de sair, aproximou-se de Siren, e disse:

— Irei encontrá-lo na sua oficina amanhã, ao meio-dia. Tenho uma proposta irrecusável para lhe fazer, que irá salvar sua família se você aceitar.

— E aí, cara! - exclamou Estel, parecendo muito feliz pelo amigo ter vencido seus medos e até mesmo ganho a partida. - Arrasou! Viu só? Nem tudo na vida é intuição Newtype, é sempre bom cultivar a esperança, mesmo que tudo pareça dar errado! Com os cem dólares que você vai me dar, sou capaz até de comprar um monte de broas e comer em honra a você!

— Anotem em seus caderninhos, pessoal: nunca façam apostas com o Estel – brincou Ilya.

Nesse momento, o pessimismo voltou à mente de Karma:

— Muito obrigado por me lembrar que eu sou um fracassado e minha intuição Newtype é falha e inútil. E não foi uma vitória justa, por culpa sua – apontou para Daiya. - Você me fez trapacear, e ganhar com a sua trapaça. Graças a isso, eu me sinto mais inútil do que nunca, principalmente por ter aceitado a sugestão. Seria melhor ter perdido o jogo. Eu te odeio.

— Mas… mas eu só sugeri um lance… o resto foi tudo mérito seu – murmurou Daiya, parecendo triste por ter chateado o amigo.

— E, além de tudo isso… eu consegui ser idiota o suficiente para perder a rainha no final.

— Mas você fez outra rainha, e isso foi um sacrifício necessário para que você vencesse o jogo – argumentou Siren.

— É. Mas não era a mesma rainha que iniciou a sequência de lances que me levou à vitória, e fez um estrago enorme nas defesas do Louis. Aliás, de uma coisa eu tenho certeza: nunca mais quero saber de xadrez na minha vida.

— Não sabia que você era sentimental com peças de xadrez, Karma – comentou Ilya.

— Eu te entendo, cara – disse Estel, colocando a mão no ombro do rapaz loiro. - É como lutar toda uma guerra ao lado de um amigo, e no final perder esse amigo. Mesmo que haja a vitória final, essa vitória sempre terá um sabor amargo.

(Música – Tema de Kaori)

Os Vigilantes ficaram até o final do evento; Karma não quis jogar mais nada, ficando sentado, pedindo para ficar sozinho. Toda vez que seus olhos passavam por Daiya, fitava-a com ressentimento. Em um dado momento, Kaori aproximou-se da garota e chamou-a para conversar:

— Podemos ir lá fora um pouco? Quero falar com você.

Daiya estranhou, pois Kaori muito raramente lhe dirigia a palavra; sempre parecia ser indiferente, ou até mesmo contrária, à sua presença. A garota ruiva, que tinha uma expressão de enorme desgosto, perguntou imediatamente, assim que as duas pararam, sem que a outra pudesse sequer perguntar o que houve:

— Como você fez aquilo?

— Aquilo o quê, Kaori?

— Não se faça de sonsa – retrucou a ruiva, com ira na voz. - Você sabe do que estou falando. Se continuar fingindo que não sabe de nada, vou esclarecer: você enganou Louis Anaheim, trapaceando, dando uma dica de jogo para Karma.

— S-sim, eu fiz isso… sei que não foi uma conduta correta… d-desculpe, eu só queria vê-lo feliz, vê-lo vencer o jogo, queria ajudar a acabar com o pessimismo dele…

— Certo, certo, mas não é à sua honestidade que eu me refiro. Quero saber como você conseguiu esconder isso dele.

Conforme perguntava, Kaori colocou as duas mãos nos ombros de Daiya, cravando suas longas unhas na garota, em grande estado de tensão.

— Bom, eu não sei, não fiz nada pra esconder algo dele… será que não era porque eu estava junto com o grupo, e ele estava concentrado na partida, e não percebeu?

A ruiva gargalhou alto. Era uma risada cínica e nervosa. Quando parou de rir e finalmente falou, proferia cada palavra com grande raiva, sarcasmo e amargura.

— Minha cara, ou você é muito ingênua, ou muito cretina – retrucou. - É simplesmente impossível esconder algo de Louis Anaheim. Você acha que ele fez este evento de joguinhos porque é um cara legal e descolado, que pensa nos jovens? Não, de jeito nenhum. Louis é, acima de tudo, alguém que gosta de ter controle total e absoluto sobre tudo e todos. Estuda personalidades humanas como um maníaco, e criou o evento para monitorar a mente de cada participante presente. Pode ter certeza de que ele é poderoso o suficiente para analisar a mente de cada jogador do evento, analisando quem pode servir a seus propósitos, e quem poderá atrapalhá-lo no futuro. Assim, ele neutraliza qualquer coisa que contrarie seus planos. Jamais deixaria escapar algo tão descarado como o que você fez, tão próximo dele, ainda mais porque isso o fez perder o jogo, e quem o observou bem, como eu, viu que ele não ficou nem um pouco feliz com isso. Tome mais cuidado, Daiya Winter. Se você realmente for inocente nessa história, seria bom que parasse de brincar com fogo. Se Louis descobrir que você consegue esconder coisas dele… não medirá esforços até descobrir como você faz isso, e irá te destruir pedacinho por pedacinho, fazendo você sofrer bastante, até você morrer ou perder a sanidade.

Afastou-se alguns passos e pediu:

— Avise o pessoal que dormirei no hotel hoje. E quanto a você, mocinha… talvez realmente não saiba o que está fazendo… afinal você sempre foi meio… sei lá, “anormal”. E… tome mais cuidado.

Conforme se afastava para o hotel, Kaori teve alguns flashes de memória que não costumava lembrar na maior parte do tempo, e ninguém detectara antes… provavelmente porque já haviam se tornado zonas Void. Neles, Kaori tinha cerca de treze ou catorze anos, e Louis era mais novo.

“Então… você gosta de Alice no País das Maravilhas, mocinha? Sabia que a curiosidade matou o gato?”

“Seria uma pena desperdiçar seu enorme talento com tanta curiosidade”.

“Posso realizar seu sonho. Fazer você ser uma artista renomada, refinar seu potencial. Tudo o que eu peço em troca é… parar de ficar vendo coisas que existem só na sua cabeça; saia do País das Maravilhas e venha para o mundo real. E mesmo que isso fosse verdade, não poderia fazer nada a respeito, não é? Então, por que se importar com essas visões sem sentido que só você vê?”.

(música – Tema melancólico de Daiya)

Quando foi conversar com Kaori, Daiya avisou a todos que provavelmente iria para a Watchtower sozinha, e pediu para que ninguém a esperasse. Quando o grupo chegou no prédio, Karma não quis subir de imediato; disse que precisava de um tempo sozinho, tomando um pouco o ar da noite. Quando Daiya foi se aproximando, viu o amigo ali, em pé, encostado na parede do prédio. Ficou observando-o por um bom tempo, sem coragem de perguntar o que houve; não queria incomodar. Avançava alguns passos, e parava novamente. Ia em direção à porta, mas ao mesmo tempo não tinha coragem de deixá-lo ali, sozinho, apesar de saber que não poderia me ajudar em nada. Quando ele finalmente a viu, perguntou:

— Está aí desde quando? Só consegui te perceber agora. Pra variar.

— Já… faz algum tempo… desculpe, eu… posso te ajudar em algo? Sei que provavelmente não, mas só pra saber.

— É, provavelmente não mesmo. Pode subir, Daiya, quero ficar sozinho um pouco, só isso.

A garota respirou fundo, indo em direção à porta. Então, viu naquele momento a oportunidade perfeita de perguntar algo que sempre quisera, mas nunca teve coragem.

— Karma, eu… eu só faço mal a você, não é? Por algum motivo… você não se sente confortável com a minha presença.

“Com a sua FALTA de presença, seria mais adequado”, pensou ele, sem dizer. Por fim, falou:

— Daiya, já que você questionou sobre isso, acho que é hora de abrir o jogo. Pra eu conseguir me dar bem com alguém, sentir-me confortável, ter qualquer tipo de relacionamento com alguém, eu preciso conseguir visualizar um futuro com essa pessoa. Só que eu olho para você e… e...

— … e não vê nada? - completou ela.

O rapaz balançou a cabeça negativamente, pesaroso.

— Nada. Absolutamente nada. É quase como se você não existisse, como se cada encontro fosse também uma despedida. Ah, desculpe, sei que provavelmente estou sendo babaca dizendo isso.

— Continue – pediu Daiya, não tirando os olhos dele.

— E provavelmente, com o tempo, eu me afaste de você. É, acho que é isso.

Karma respirou fundo, sentindo-se culpado por ter dito isso tão abertamente. Virou-se, e deu um leve soco na parede. Quando voltou-se e ficou Daiya novamente, ela estava na mesma posição de antes… e sorria. Continuava olhando para ele, e sorria serenamente. O rapaz a olhou com estranheza, não entendendo sua reação.

— Você… foi sincero comigo – disse ela, como se entendesse a pergunta no olhar do amigo. - Não tentou me enganar, como outros fizeram. E é a primeira vez que você se abre tanto assim comigo… e isso me deixa muito feliz. Seu gesto só mostra o quanto você é uma boa pessoa, e faz com que eu te admire ainda mais.

Karma ficou sem reação com este comentário. Os dois ficaram observando-se por um bom tempo, sem nada dizer um ao outro. E então… ele a abraçou forte e longamente. Fechou os olhos e tentou desesperadamente sentir algo, qualquer coisa que sua intuição Newtype pudesse detectar… mas novamente, só sentia o Vazio, como se estivesse abraçando um corpo sem vida de alguém desconhecido, que só estava quente porque havia morrido há poucos minutos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qual será a proposta que Louis Anaheim terá para fazer para Siren? Conseguirá ele realmente salvar sua família do desabrigo? A que preço?
Depois da "revelação" de Karma, como ficará a relação dele com Daiya, e de Daiya com os Vigilantes?
E quais serão as novas tramas políticas que serão desenvolvidas neste cenário diplomático cada vez mais tenso?
Não perca o próximo episódio de Kidou Senshi VP Gundam! A sombra do Caos está à espreita.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kidou Senshi VP Gundam - Os Vigilantes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.