— Então Percy – Kate sorriu com um sorriso simpático e acolhedor. Annabeth nunca vira um sorriso daqueles, parecia emanar calor e compaixão onde quer que fosse. Ela podia jurar que a avó de Percy era de facto uma das melhores pessoas naquela sala. – Como você conheceu a Annabeth?

Ela sentiu os olhos verdes de Percy se fixarem nela. Como se um misto de duvida e certeza se fizesse soar.

Conto? Não conto? Ela vai compreender. Ela vai me chamar de doente.

Ela não estava preparada para aquilo. Ela era só uma adolescente apaixonada pelo professor que agora precisava ter certeza que ela iria em frente.

Mas… foi então que ela se tocou de uma coisa.

Os avós, a irmã, a família dele era o mais importante para si. Ele estava confiando nela ao ponto de apresentar para eles. E nesse segundo, ela entendeu. Percy queria.

E ela queria também.

— A gente se conheceu num pub umas semanas depois de eu me ter mudado. – ele sorriu – E depois aconteceu.

— Só isso? – Nikki sorriu. – Me cheira que tem mais coisa por aí.

Annabeth corou, e Percy estreitou os olhos para a mais nova.

— E você que não se metesse não é mesmo? – ele resmungou.

— Percy – censurou Annabeth – Não tem mal, conte para eles.

— Tem certeza? – ele disse a olhando.

— Contar oque? – Kate fez uma expressão confusa. Annabeth podia jurar que ela e Percy tinham mais semelhanças do que se fazia notar. – Está tudo bem Percy? Querido o que se passa?

— Vó na verdade… a Annabeth e eu temos muita história por trás.

— Ui – Nikki se recompôs no sofá – Me cheira que vem aí bomba.

— Nikki - Terry censurou. 

— Cala a boca pirralha – Percy contrapôs agarrando na mão da loira que sorria nervosa – Annabeth tem 18 anos… e bem ela é minha aluna.

Se seguiu um silêncio constrangedor. Annabeth podia ouvir os seus batimentos pulsarem dentro do peito. Estava com medo da reação dos avós de Percy, as pessoas mais importantes para ele.

Como ele ficaria se não concordassem? Os avós de Percy eram tudo para ele... ele precisava do seu apoio. 

— Nossa – Nikki foi a primeira a se manifestar – Isso é a puta de um cliché!

— Nikki Jackson! - Kate se pronunciou - Modere a língua!

— Mas você ainda está falando? - O moreno contrapôs. 

— Ué quer que eu diga oque? Gosto da garota, não vejo mal nenhum. - Nikki sorriu. 

— Percy – seu avô sorriu – Sua avó e eu temos 6 anos de diferença, sabemos que é complicado mas se vocês estão bem juntos nós não vamos obrigar você a nada, você tem 27 anos sabe aquilo que quer, e confiamos em você.

— Avó?

— Percy… eu quero que você seja feliz… - ela sorriu preocupado – Mas tenham cuidado.

Ambos assentiram.

— Annabeth – chamou a mais velha – Você foi uma das poucas garotas que Percy me apresentou e-

— Avó! – censurou Percy.

— Shiu menino eu estou falando com a moça – ele advertiu. Annabeth deu uma risada baixa – Só tenha cuidado para não o magoar… eu não quero nenhum de vocês saindo mal nessa hitória.

— Pode deixar Srª. Jackson… Nós tamos indo com calma… achando uma solução.

— Sues pais sabem?

— Não... não sabem, só inha amiga. Eu estou esperando a graduação para lhes contar. Achamos que é o melhor. 

— Que bonitinho maninho – a voz da morena acompanhou na poltrona ao seu lado  – Pegando sua aluna!

Percy pegou na almofada jogando contra a cara da garota. Ela gargalhou, jogando de volta.

— Parem com isso, vocês parecem duas crianças!

— Hey Annabeth – Nikki sorriu atenciosamente para ela – Das poucas garotas que esse gay aqui namorou, você é a única que eu simpatizei viu?

— Obrigada? – ela sorriu confusa.

— Gay?

— Ah você é sentimental demais.

— Meu neto é maricas mesmo – Terry sorriu.

— Brigadão avô, sério – Percy sorriu.

— Vocês se lembram daquele dia em que ele-

— Já chega moçinha – ele se levantou indo atrás dela – você vai sair agora!

***

— Você e meu irmão estão juntos á quanto tempo? – Nikki sorriu observando o irmão que conversava com a avó enquanto a ajudava a limpeza da loiça suja. Annabeth e Nikki haviam se sentado no sofá havia poucos minutos por ordem de Percy que prometera acompanhá-las logo em seguida. 

— Uns 4 meses – Annabeth respondeu um pouco apreensiva.

— Hey garota – Nikki se sentou adequadamente no sofá – Eu sei o que se passou entre vocês e o Grover. Fique de boas, eu não vou falar nada viu? Como falei, você é a única das namoradas dele que gostei.

Annabeth sorriu. Talvez Nikki e ela se tornassem amigas mesmo.

— Obrigada.

— Acredite, eu sei o que aquele hippie ás vezes passa dos limites. Devia ter visto a treta que foi entre mim e ele.

— Você sabia?

— Eu moro com os meus pais ainda. Eu tive que adiar a faculdade e começarei ano que vem. Estou esperando abrir candidaturas e sair daquela casa mesmo… tal como ele fez.

— Eh – e de novo aquela curiosidade sobre o passado de Percy lhe invadiu.

— Ele contou para você? – ela questionou, olhando-a fixamente.

Ela não queria mentir.

Não queria.

Mas ela precisava saber, ela precisava de conhecer Percy. Era errado mentir, mas ela precisava de respostas, ela queria conhecer aquele outro lado que Percy tentava esconder.

— Em parte – respondeu.

— Ele tinha 18 anos – ela sorriu nostálgica – Sabe pode parecer que eu gosto de encher o saco dele mas… Percy significa muiti para mim. Desde de sempre ele me protegia de tudo, sempre se preocupava comigo, sempre tentava fazer o melhor para mim, para mim para o Tyson.

— O vosso irmão?

— Tyson era o quanto… desleixado – ela riu baixinho – Quando criança ele era um menino pré-obeso e estrabista. Percy tinha 17 anos e era o nosso herói. Sempre protegendo a gente, sempre connosco. Tyson sofria bulling na escola, e o Percy era o único que parecia notar. Havia dias que ele chegou ameçando os meninos que batiam no Tyson só por ele ser como era…

— Percy é desse jeito mesmo – Annabeth murmurou.

— Costumava ser – corrigiu ela – Pelo menos connosco. Maldito o dia em que ele chegou a casa naquele dia.

— Naquele dia?

— Percy não te contou o que aconteceu? – ela questionou espantada.

— Ele contou que havia se passado algo entre ele e os pais, mas não adiantou muito, disse que tinha ido a casa e viu bem… – murmurou, sentindo o peso da culpa esmagando o seu estômago. Ela não queria mentir… mas a curiosidade era imensa.

— Ele havia terminado as aulas mais cedo, afinal era a ultima semana de aulas e ele estava eufórico por iniciar a faculdade. A relação entre ele e os meus pais sempre foi meio tensa, especialmente depois da Samantha.

— Samantha?

— Samantha William – ela a incarou – Ele nunca te falou sobre ela?

— Ah… sim ela. – o estomago voltou a contrair.

— Ele amava aquela garota – ela disse – Samantha e ele tinham tudo para dar certo sabe? Eles se conheceram na escola, eram da mesma sala. Começaram a namorar e logo não paravam de planear tudo juntos, a faculdade, a vida a dois.

— Ele gostava assim tanto dela? – Annabeth engoliu em seco.

— Me desculpe se estou sendo inconveniente.

— Não está… eu sabia que ele já havia namorado antes…

— Ele amava ela – Nikki respondeu – E ela também. Ela era aquele tipo de garota ligada á terra. Queria ser fotografa, queria viajar, queria ir além dos limites. Eu me lembro dela vagamente, tinha cabelos curtos, um sorriso simpático, e aquele aura que fazia qualquer um se sentir bem…

— Entendo.

— Ela era engraçada, meio hippie na verdade. Usava colares estranhos, fazia yoga e falava algo sobre energias e chacras  - ela gargalhou – Meu irmão era feliz com ela.

— O… O que aconteceu?

— Você sabe… - Não sei menina, estou mentindo para você – Meus pais sempre foram meio rígidos, e quando descobriram que estava mais que apaixonado por ela, exigiram que ele se afastasse. Que ela não garota para ele, que ele devia pensar mais nele, e que ele estava se desviando por causa dela.

É por isso? É por isso que ele não fala com os pais? Por causa dela?

— Obviamente meu irmão não deu ouvidos, ele só via a Samantha á frente. E ela o mesmo… então foi quando se iniciou o ultimo mês de aulas. A garota sumiu…

— Sumiu?

— Meus pais haviam pagado para ela ir embora – Nikki disse num tom enojado – Haviam feito a cabeça dela para nunca mais procurar meu irmão e que se ela continuasse com ele, Percy nunca seria feliz o suficiente.

— E resultou – Annabeth completou – Ela foi embora.

— Pois foi…Meu irmão ficou tão diferente depois disso. Não sorriu durante semanas, tentava procurar ela em tudo o que é lugar, ficava ligando e ligando para o numero que sabia que nunca iria entender. Todo o mundo dele desabou nesse mês.

— Ele foi embora logo a seguir a isso?

— Não… minha mãe lhe disse que se a garota gostasse tanto dele como havia dito antes, ela não teria ido embora… mamãe só havia comprovado isso. Passaram semanas, e Percy parecia estar melhorando, ele só queria ir para a faculdade e recomeçar, esquecer a garota. Mas, um amor não se esquece assim… ele ainda a amava tanto.

— E depois?

— Você deve saber certo? Na ultima semana de aulas ele chegou a casa mais cedo, eu estava em casa de uma amiga e Tyson ainda na escola. Eu tinha 10 anos, mas já entendia o que estava acontecendo. Ele subiu para o quarto e viu que estava alguém no quarto dos nossos pais… Minha mãe estava deitada na cama com outro homem… um dos amigos da família.

Annabeth se conteu para disfarçar o quanto surpreendida estava.

Era por isso… Essa é a razão desse ódio todo.

— Percy foi a correr contar pro meu pai… e sabe o que ele disse? Para não contar para ninguém o que viu e que calasse a boca.

— Vosso pai sabia?

— Sabia, e ele também tinha as suas amantes por aí… Naquele dia Percy não aguentou mais. Haviam afastado a garota que ele amava pelas aparências, para que ninguém descobrisse que o herdeiro á Impressa de Engenharia Naval estava perdido de amores por uma garota mundana... fizeram tudo isso enquanto que na verdade, eram eles quem mais sujavam o nome da família.

— Ele se revoltou – Annabeth sugeriu – Foi embora.

— Exato… houve discussão grande lá em casa… Percy e meu pai discutiram tanto que até os vizinhos ligaram para nós perguntando se estava tudo bem. Tyson tinha 7 anos já entendia tudo o que se passava, chorava nos meus braços enquanto Percy arrumava as malas e ligando para minha avó. Ele se despediu da gente e foi embora… e nunca mais meteu os pés naquela casa.

— Nunca mais se viram?

— Víamos, ele vinha me visitar a mim e ao Tyson, ligava sempre… Mas Tyson ficou mudado também, ele e Percy nunca mais se falaram como antes. Tyson guardou rancor por Percy ter ido embora e nos deixar… eu entendia já, eu sabia o quanto a menina significava para ele. Mas Tyson… Tyson precisava de Percy como eu precisei… mas ele foi embora.

Se seguiu um silêncio estranho.

A mente de Annabeth tentava juntar todas as peças que conseguia.

Samantha.

Namoro.

Pais protetores.

… Percy nunca havia esquecido o que haviam feito com ele.

Annabeth começou se perguntando como Samantha estaria, como ela havia conseguido ir embora mesmo sabendo que Percy a amava tanto.

— Bem… você já devia saber da história da Samantha neh?

— Sim… Sim sabia. - não...

— Não pense nisso – ela sorriu afastando as memorias – Ele a esqueceu. Foi para Nova York e lá conheceu o Grover, a Hazel, o pessoa todo. Percy foi mais feliz que nunca lá… e agora conheceu você.

— Pois é..

— Ele gosta de você sabe? – ela disse a empurrando carinhosamente – Raramente ele apresentou as namoradas dele, mas nenhuma do jeito em que está apresentando você. Depois de Samantha ele esteve com outras garotas. Meio vadias na minha opinião. Acabava sempre por não dar certo. Ou se fartavam, ou queriam seguir carreiras longe. Percy sempre foi um cara sério. Ou era ou não era.

— Eu sei – Annabeth sorriu – Eu noto… ele é preocupado e carinhoso.

— Ele gosta bastante de você Annabeth, você o faz sorrir de uma forma que ninguém mais fez depois de Samantha… por isso não o magoe sim?

— Não o farei, prometo.

— Toma conta dele? – ela pediu baixinho – Ele meu maninho grande mas… ele não pode fazer tudo sozinho.

— Eu sei… eu tomo, não se preocupe.

— Gosto de você Annabeth – ela sorriu carinhosa – E acho que a gente se vai dar muito bem.

— Eu também acho – Annabeth respondendo com o mais sincero sorriso que conseguia.

— Como é? Você sabe… namorar escondido? – Nikki perguntou ao fim de uns tempos num gargalhada baixa – Seus pais não sabem, e suas amigas?

— Só uma amiga é que sabe… ela é minha melhor amiga.

— Sei o que é isso, tem coisas que só nossas amigas mais intimas sabem.

— E você namora?

— Ah claro, quer dizer é meio complicado. Tem pessoas que não aceitam as diferenças.

— Diferenças? – Annabeth perguntou com um sorriso.

— Ah eu sou bi – ela disse corada – e meu namorado, quer dizer… meu não-sei-do-que -chamar sente muitas duvidas quanto a isso.

— Você é bissexual?

— Semi Assumida, meus pais e tios não sabem, só Percy, meus amigos e nossos avós – ela gargalhou – gosto de pensar que sou uma Elen Degeneres mas mais bonita.

— Entendo, quer dizer, eu não conheço ninguém bissexual, mas admiro você falar abertamente sobre isso.

— É o que eu sou -ela disse encolhendo os ombros – Não posso sentir vergonha do que faz para de mim.

— Admiro sua coragem.

— Que estão conversando? – Percy apareceu se sentando ao lado de Annabeth pondo um braço a sua volta.

— Estava convidando Annabeth para um menáge  com uma amiga – ela sorriu.

— Como é? Nikki você-

— Tem calma cabeça de alga – ela sorriu – sua namorada é linda mas, não faz meu tipo.

— Deveria me sentir ofendida? – Annabeth sorriu pegando na mão de Nikki e sorrindo.

— Sei não, se meu irmãozinho não conseguir te fazer feliz me chame – ela gargalhou se levantando – Eu vou ajudar vovó.

— Nós já vamos – Percy sorriu vendo a garota se afastar. Olhou para a loira ao seu lado lhe dando um beijo –Ela é meio louca.

— É espontânea. 

— Nem sempre foi assim, quando descobriu que era "Diferente" foi muito abaixo, não queria ser daquele jeito... 

— Mas ela se orgulha.

— e tem que se orgulhar, faz parte dela, é o jeito que ela é, e precisamos respeitar. - ele sorriu olhando para a garota que sorria abertamente - Ainda assustada?

— Claro que não – ela sorriu. – Eles são muito legais.

— Eu amo você. – ele sorriu dando mais um beijo.

Samantha veio na sua mente.

Pensou o quanto Percy amava ela.

O quanto ele era feliz.

O quanto ela o fazia feliz e completo.

Do nada, sentiu seu coração apertar no peito.

— Que se passa?

— Nada – mentiu se levantando – Vamos, quero conversar com sua avó.

Percy sorriu acompanhando a garota até á cozinha.