Andava a passos largos pelo longo corredor do hospital, parara com a mão maçaneta do quarto 228 levemente hesitante, todo o dia vinha visita-lo, mas pensar que esta poderia ser a última vez que entraria e o veria com vida lhe assustava. Não, Neji não era uma pessoa grudada na família, mesmo porque seus pais estavam sempre trabalhando e quando estavam em casa o menor geralmente estava no computador. Mas isso não significava que ele não os amasse, ninguém podia dizer que ele não falava com eles ou não saísse com eles,  ele os amava a sua maneira e eles com certeza tinham consciência disso.

Abrira a porta lentamente, fechando-a assim que passou por ela. Aproximara-se do leito, a pele pálida, os lábios ressecados e as olheiras fundas davam aparência cadavérica ao homem, mas hoje ele aparentava uma feição melhor, embora estivesse dormindo isso fora perceptível ao Hyuuga.

Puxara a cadeira presente ali para mais perto da maca, sentando-se e segurando uma de suas mãos.

- Você sabia? Otousan. –o Hyuuga começara – Quem seu próprio irmão pretende tirar sua vida?

O moreno quase nunca conversava com o pai durante as visitas, só o fato de estar ali já era o suficiente, o mais velho sempre soube que o filho não era bom com as palavras e que ele preferia estar apenas ao lado. O mais novo sabia que o pai lhe sentia e que com certeza seu apoio estava sendo de grande ajuda.

- Você vai sair dessa...eu tenho certeza.

Inveja. Era isso que o moreno sentia no momento, inveja do amigo loiro que sempre lhe dizia essa frase com tanta convicção e certeza, a confiança que o menor exalava era palpável e o Hyuuga daria tudo no mundo para sentir metade daquilo.

Flash back on

- Ele vai sair dessa Neji, eu tenho certeza. – Naruto falara sorrindo

- Como pode ter tanta certeza Uzumaki? Ele está em coma.

- Há pessoas torcendo por ele, há você torcendo por ele e isso já o faz mais forte.

Flash back off

Naruto tinha o dom de conseguir lhe dar lição de moral, o pensamento sempre era positivo, ele sempre acreditava nos outros e principalmente em si mesmo, ah Neji realmente adoraria ser assim. E foi lembrando-se de toda a força que o amigo já lhe dera que em sua mente, como um estalo ele se lembrara da desconfiança do amigo no dia do enterro de sua mãe.

“– Quero dizer que quem mandou matar a sua mãe, só pode ser algum Hyuuga.”

Não, aquilo era demais para sua mente. Ele possuía a metade da empresa, por que teria de mandar alguém mata-los? O Hyuuga sabia que não era para nem ele nem seu pai estarem vivos, estavam no olhar do homens que ele tinham ordens para mata-lo também, mas seu tio? Irmão gemêo de seu pai? Não, realmente não, Naruto com certeza estava deixando-o louco.

Sentira um leve aperto em sua mão e se assustara, olhara para o homem antes desacordado e percebera o esforço que este fazia para abrir os olhos perolados.

- Otousan? Você pode me ouvir? – e como se o outro estivesse lhe respondendo, apertara novamente sua mão, finalmente Hyuuga Hizashi saíra do coma.

OoO

O coração da Hyuuga acelerara levemente ao ver o pai passar pela porta da sala, já passavam das 22:30 e nada do primo aparecer ou ao menos ligar avisando onde estava. Apertara a mão da Haruno ao seu lado ao perceber que este chegara só.

- Otousan. – Chamara e vendo que este a encarava, prosseguiu – O Neji-niisan não está com o senhor?

O mais velho arqueara levemente a sobrancelha ao se deparar com a presença da rosada e da Mitsashi em sua casa a essa hora e revirara os olhos ao ouvir a voz escandalosa e estridente do Uzumaki juntamente com a reclamona do Uchiha no andar superior.

- Ele não chegou ainda? – Perguntara vendo a filha negar dera de ombros, o sobrinho sabia o que fazia, não tinha nada com isso.

As três garotas retornaram para o quarto de Hinata, onde Naruto e Sasuke encontravam-se esparramados na cama de casal da Hyuuga, procurando o número do hospital no notebook.

- Blaaa, não é mais fácil nó irmos até lá? – O Uzumaki disse cansado

- E quem garante que ele está lá? Dobe.

A morena dos orbes perolados apenas acompanhava a tudo calada e pensativa, não tinha ideia de onde o primo poderia estar. Fora tirada de seus devaneios ao sentir a mão suave de Sakura ser pousada em seu ombro.

- Hinata, seu pai não pareceu se importar muito com o sumiço dele.

- Ele e o otousan nunca se deram bem.

OoO

O moreno agora se encontrava fora do quarto, andava de um lado para o outro mostrando claramente seu nervosismo, haviam se passado apenas alguns minutos desde a entrada do médico no quarto, mas para ele pareciam horas.

Após alguns segundo a enfermeira saíra acompanhada do médico, o Hyuuga assim que os avistara fora rapidamente em sua direção, perguntando-lhe:

- Como ele está?

- Bom, o quadro evoluiu bastante, embora ele ainda esteja fraco não há mais riscos, apenas evite movimentos bruscos com ele.

O coração do adolescente disparara e ele não pudera deixar de sorrir com a notícia, a ideia de que seu pai ficaria bem aliviara o peso e a culpa que sentia em seus ombros.

Virara as costas para o médico e adentrara novamente o quarto, o sorriso alegre dificilmente visto ainda desenhava-se em seus lábios, os orbes perolados geralmente sarcásticos demonstravam um brilho a muito não visto.

O mais velho sorrira discreta e fracamente ao ver o filho passar pela porta emanando alegria incomum para um Hyuuga, mesmo porque se tratando de Neji, qualquer um poderia dizer apenas de olha-lo que ele nunca fora o sr. sorrisos.

- Otousan. Sussurrara segurando a mão do homem, ele não precisava dizer nada, durante o coma o mais velho sentira todos o carinho e apoio que lhe dera, e para ele, apenas aquele olhar do menor já era suficiente.

OoO

O Uzumaki se encontrava ao lado de fora da mansão dos Hyuugas, estava encostado na parede abraçado com a garota que demonstrava-se preocupada com o sumiço do primo e com a hora que o namorado, juntamente com o Uchiha e a Haruno retornariam para suas respectivas casas. A culpa da hora era dos dois garotos, que não quiseram desistir da “busca a Neji” tão facilmente, diferente de Sakura, que embora tivesse o mesmo pensamento tinha consciência de que precisava retornar para casa, coisa que Sasuke não deixara, dizendo que ele não deixaria sair sem ele.

O loiro mantinha os lábios em seu pescoço, dando leves mordiscadas, deixando-a além de arrepiada, extremamente corada. Abandonara aquela região e unira seus lábios aos dela, iniciando um beijo calmo na tentativa de acalma-la, pois por mais que ela negasse ele podia sentir a tensão em seus músculos.

O Uchiha segurava a mão da Haruno e com a outra, brincava com suas madeixas róseas, os ônix a encaravam fixamente deixando-a completamente constrangida, arrancando meio sorrisos do namorado.

A rosada parecera cansar de se constranger com as atitudes do moreno e encaixara a cabeça na curva do pescoço dele, aspirando seu perfume e em seguida beijando a pele do local delicadamente percebendo os pelos se eriçarem.

Sasuke já iria retrucar e arranjar um jeito de arrepia-la também quando ouvira o loiro soltar um palavrão, virara a cabeça em sua direção e pudera vê-lo largar a namorada e correr em direção a algo ou alguém. A pessoa não parecia estar esperando essa reação do Uzumaki, que prensou o ser na parede o que tornou possível o reconhecimento para o outro definindo a figura de Neji, agora com feições severas pela violência do outro.

- VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUANTO PREOCUPOU SUA PRIMA, HYUUGA?! - O loiro gritara segurando a gola do moreno.

- Só a minha prima, Uzumaki? – o outro falou sarcástico soltando-se do menor

- Onde esteve Hyuuga? Sasuke pronunciou-se – Já passa da meia noite.

O Uchiha se sentia levemente incomodado, não gostava de se meter na vida dos outros e sabia o quanto o amigo odiava que o fizessem, mas não podia fazer nada agora, ele já havia passado horas buscando pelo outro. O maior o olhou de forma inexpressiva chocando as pérolas com os ônix frios do outro que se mostrou surpreso com esta reação, estava claro que ele não gostara dessa invasão deles, mas não era muito comum o outro não demonstrar emoção com os orbes, esse era o papel de Sasuke, Neji normalmente tinha um olhar sarcástico. O seu espanto durara pouco, pois logo ele já colocara um mínimo sorriso nos lábios e um brilho incomum aparecera em seus olhos.

- Otousan acordou.

OoO 2 semanas depois

Faltavam apenas alguns dias para o Natal, Hizashi já se encontrava em casa, mas ainda necessitava de certo repouso e atenção, as férias haviam chegado e o Natal estava próximo. Dos três apenas Naruto tivera dificuldade de passar de ano, assim como nas séries anteriores. Os Uchihas não eram mais os principais suspeitos, mas ainda não foram declarados inocentes.

Neji dirigia-se ao quarto do pai que o chamara por intermédio de Hinata, batera levemente na porta e assim que ouvira a confirmação do outro, adentrara o recinto, vendo o homem sentado na cama com um livro em mãos.

O menor não sentara, sabia muito bem o porque de ser chamado ali, andara até a janela e começara a encarar o céu estrelado.

- Nunca gostei da brisa noturna. - Pronunciara-se o mais novo – Ela sempre me incomoda quando eu não tenho nada por perto para me cobrir. – Dera uma pausa, sentia o clima pesar, o assunto “okaasan” não havia entrado em jogo desde sua morte – Okaasan sempre dizia que a brisa cuida de nós, refrescando o dia e a noite e que um dia, ela seria como a brisa, cuidaria de mim mesmo que eu não pudesse vê-la e apenas a sentisse, mas acho que já passei da idade de acreditar nisso ou que ela virou uma estrela- Dera outra pausa, não queria prosseguir, mas precisava ser sincero – Então não perca seu tempo com isso, prefiro encarar a realidade.

O maior dera um meio sorriso, mas fora algo triste, na clara demonstração de sofrimento – Uma das coisas que a Aiki mais tentava mudar em você era essa sua ironia e sarcasmo...

- Quem foi irônico aqui?

- Me deixe terminar. – o maior falou levemente irritado – Essa sua maldita mania de enxergar tudo com deboche. - Parou e suspirou, sempre fora sincero com o filho e além de tudo,  conhecia muito bem suas manias e expressões e uma das mais típicas era a de frisar o cenho e virar o rosto levemente quando não gostava do rumo da conversa – Você debocha de tudo Neji, das crenças, opiniões e até mesmo da preocupação dos outros com você.

- Foi pra isso que me chamou?  - Cortou novamente

- Ainda não terminei.

Bufou alto, o que mais odiava na vida era obedecer e ouvir sermão apontando-lhes o s defeitos que ele sabia que tinha e fingia não enxergar.

- Você sempre comentou que o Sasuke encara a tudo com frieza e que odeia essa mania nele. – vira o filho revirar os orbes – Mas você não é diferente, a mesma frieza e sarcasmo que ele usa, você também usa, o que muda é que você não é tão frio quanto ele.

- E o que quer que eu faça? – falara começando a perder a calma – Que eu chore rezando para uma estrela? Ah, me polpe!

- Quero que aceite a realidade, você tem maturidade para isso

- Eu aceito.

- Neji, você pode mentir para qualquer um, menos para você mesmo.

- Como é? – o menor agora demonstrava agora uma feição desconfiada, o homem não poderia saber daquilo

Hizashi sorrira, ele conhecia a inteligência do filho e sabia o quanto ele confiava nela, mas sabia que se tocasse em sua ferida ele se abalava facilmente, esse era seu ponto fraco – Você não se conforma pelo fato de sua mãe ter entrado em sua frente quando houve o disparo, você não se conforma dele ter avistado os homens antes de você, você não se conforma nem pelo fato de estar vivo por não se achar...

- CHEGA! – Neji gritou, não queria ouvir, não precisava ouvir nada daquilo – Para com esse jogo psicológico, não vai funcionar.

Inteligente. Fora o primeiro adjetivo que viera em sua mente, como ele esperava não seria fácil jogar com o filho considerado o gênio da família, mas não pensara que ele fosse perceber sua estratégia.

- Apenas quero que entenda meu lado como pai.

- Ah! Eu entendo agora entenda você o meu lado! – os orbes do moreno se encontravam levemente marejados e o maior não sabia se era tristeza ou raiva – NÃO FOI FÁCIL VER A MINHA OKAASAN SER ASSASSINADA, NÃO FOI FÁCIL VER MEU OTOUSAN EM COMA, ENTÃO NÃO FALE O QUE NÃO SABE SE VOCÊ NEM AO MENOS ESTAVA LÁ, PARE DE TORNAR TUDO MAIS DIFICÍL!

O mais velho suspirou pesadamente, Neji nunca fora uma pessoa fácil de lidar, embora ele geralmente ouvisse o que tinham para lhe falar ele nunca dera atenção, vivia com suas próprias crenças e pensamentos, mas havia momentos em que ele nem ao menos escutava o que tinham para lhe dizer, como o que acontecia no momento.

- Não está sendo fácil para mim também filho, mas eu preciso seguir em frente.

- Eu estou seguindo em frente. – falou entre dentes

- Posso ver a culpa em seus olhos, você não é de se arrepender do que faz.

O garoto o olhou de forma sarcástica, deixando um sorriso irônico surgir nos lábios finos e uma única lágrima solitária rolar pela face alva – Exatamente otousan, eu me arrependo do que não fiz, como salvar minha okaasan talvez.

Dito isso ele saíra do quarto, na típica reação de quem estava ficando sem argumentos, o mais novo era extremamente orgulhoso e jamais admitiria que estava errado. Algo que era de extrema raridade era o fato dele não ter o que responder, pois Neji sempre tinha algo pronto para responder e quando não tinha, jogava uma frase de efeito e saia, ignorando qualquer outra coisa que lhe falassem.