Aquela Tarde de Inverno escrita por Matt Tavares, Alex Nascimento Stlith


Capítulo 1
Capítulo Único - Tarde de Inverno


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, aqui é o Matt o/
Escrevi esse texto junto com meu amigo A. Stlith, nada para declarar além disso, somente, que amamos nossos queridos amigos.



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O garoto se aproximou lentamente da única arvore do quintal. Fazia frio, e por esse motivo o rapaz teve que colocar a contragosto um casaco que ganhara no mês passado. Os passos ficavam cada vez menores à medida que se aproximava da arvore. Um vento frio fez o rapaz tremer e esfregar as mãos.

Finalmente chegou lá. Uma arvore alta, que nem mesmo o rapaz sabia da idade dela. Sentou-se encostado à árvore, que por infantilidade chamava de “Catarine”. Pousou a mão direita sobre a areia que havia ali e deslizou-a. Suspirou novamente e começou a falar.

― Sinto sua falta, amigo. ― Ele olhou para o chão, sem parar de deslizar a mão sobre a terra. ― Até agora não entendi por que aqueles que amamos se vão tão cedo... Está difícil sem você. Acordava logo com você latindo ao lado do despertador, era engraçado e me deixava feliz. Depois a gente ia correr na pracinha. Bons tempos aqueles, não? Acho que o Ted não diria o mesmo, muito menos a gata dele... ― O rapaz sorriu levemente. ― Depois voltávamos para casa e eu ia trabalhar. Enquanto todos falavam de como vida estava ridiculamente chata, eu ria e contava das coisas que aprontávamos. Eles nunca iriam entender as nossas brigas pela salsicha do cachorro-quente.

O rapaz colocou a mão no bolso e tirou uma foto de lá. Sorriu quando a observou.

― Lembro-me de quando te encontrei na rua... Você estava tão sujo, naquele lugar deplorável. Mas ainda assim, os seus olhos me chamaram a atenção. De alguma forma, eu sentia que você queria falar comigo. Seu olhar... Assustado e curioso, mas ao mesmo tempo gritava por ajuda. Eu te trouxe para casa. É... – Ele jogou a cabeça de um lado para o outro. – Não é lá uma história digna de um livro, mas é importante para mim. Para nós.

O rapaz sorriu e olhou para o céu, concluiu que logo, logo aquelas nuvens carregadas iriam despejar água na cidade.

― Eu não sei mais o que dizer aqui para você. Mas eu só queria te dizer que nós ainda somos amigos. Você foi muito importante e soube ensinar o que significa amar. Você sempre esteve lá quando precisei. Não me abandou. Nunca.

Alguns pingos de chuva atingiram o rapaz, mas ele nada fez. Ele apenas continuou encostado à árvore.

― Me lembro de quando você e eu cantávamos na sala. Na verdade, eu não sei se você estava cantando mesmo ou simplesmente uivava para abafar o som da minha voz, que segundo a Karol, é horrível. Mas nós nos divertíamos, não é mesmo?

O sereno fraco começou, o rapaz fechou os olhos e sorriu novamente.

― Você sabia me entender. Era o único que me via chorando ou com raiva e nada fazia, apenas vinha e sentava ao meu lado, e esperava a dor passar, sem perguntar nada. Era você quem me ouvia bancar o louco com minhas desilusões amorosas. Você é o melhor ouvinte que alguém poderia imaginar. Nós éramos uma dupla infalível de conquistadores, em minha opinião... Qual é? Você pensa que eu não notava que você fazia charme para as cadelas da cidade enquanto eu paquerava as garotas? Fazíamos tudo juntos! Você foi o melhor! ― Ele riu novamente, mas voltou a ficar sério.

― E os filmes que víamos? Falta de internet dá nisso. Era engraçado você olhando para a tela quando tinha alguma música no filme. No fim, a gente sempre dormia antes de o filme acabar. Mas não deixava de ser legal. Todos os momentos que passamos juntos valeram a pena. Não me arrependo de nada e sabe de uma coisa? Se você não tivesse ido... Bem... ― Ele coçou a nuca, procurando palavras para continuar. ―Eu faria tudo de novo...

O rapaz passou as mãos no cabelo castanho e suspirou.

― Agora é diferente. Tudo. Não acordo mais com você latindo, isso dói. As caminhadas na praça não são mais as mesmas. Não faz sentido comer cachorro-quente sem você do lado para brigar pela salsicha. É estranho entrar em casa, cansado e com a cabeça cheia das coisas do trabalho e não ver você lá, pulando de alegria porque eu cheguei. Agora eu apenas ligo as luzes e vejo sua coleira no cabide... Não tem graça cantar sem você uivando ao meu lado. Não faz sentido assistir filmes sem você. Às vezes minha mente não raciocina direito... Ainda me pego colando água no seu pratinho ou pegando sua coleira e indo até o quarto para te chamar para correr na praça. Foram bons tempos, e eu nunca vou me esquecer do bem que você me fez. O tempo que nós passamos juntos foi o melhor. Sei que fisicamente você está aqui, debaixo desse monte de terra. Mas ainda sinto você lá, me esperando dentro da casa, pronto para cantar comigo... Eu nunca terei palavras para dizer um adeus digno para você, amigo. Mas, novamente, eu queria dizer que você foi, é, e sempre será o melhor cachorro e melhor amigo que já tive. Eu sei que isso é bobo de minha parte, mas eu queria te dar um último adeus para você... Faz uma semana, mas para mim tem sido um tempo mais longo e duro de aguentar... ― Ele enxugou algumas lágrimas de seu rosto e fungou algumas vezes. ― Eu sei que você não gostaria de me ver triste, principalmente se o motivo fosse você, mas... Não tem como. Você faz falta.

― Tantas coisas que nós poderíamos fazer... Sei que você estava velhinho, mas você foi forte até os últimos momentos. Algumas horas antes de dormir, você e eu cantamos a nossa música favorita... E até combina um pouco com a gente. Depois, eu enrolei você na sua cama e você lambeu minha mão... Pela ultima vez. No outro dia, eu acordei, mas você não... Eu queria acariciar seu pelo outra vez... Assistir filme com você outra vez... Voltar do trabalho e ver você lá... Sair para a praça outra vez... Mas... ― Fungou outra vez, interrompendo a frase. ― Você sabe...

O rapaz levantou-se e antes de ir, tirou uma bolinha do bolso da calça, e colocou perto da árvore.

― E aqui, a nossa bolinha de ir à praia, sei lá... Quem sabe você sente falta não é? ― Ele olhou para o lado. ― Adeus... Fique bem... Amigo... ― O rapaz foi se afastando aos poucos. Antes de entrar na casa, ele deu uma ultima olhada para a bolinha que deixou no chão e sorriu, enquanto as lágrimas se misturavam com as gotas da chuva daquela tarde de inverno.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado e se possível deixem um comentário :3
Aliás, esperamos também que tenham entendido algumas coisas que deixamos "implícitas" na história...



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