Eu te odeio, Midorima Shintarou escrita por Aquarius


Capítulo 3
Arco-íris e martelos


Notas iniciais do capítulo

Hey hey, galerinha! Capítulo saindo do forno, e esse é bem grandinho. Particularmente, meu preferido até agora hsuahaus espero que gostem. Boa leitura! ♥



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O mundo parecia uma mistura borrada de cores e sons para Takao. Uma música alta ribombava em seu peito, e ele lutava para se manter de pé enquanto vários corpos o empurravam e se esfregavam nele por toda parte. Um deles, o borrão amarelo, aparentemente estava tentando dizer alguma coisa, mas ele não conseguiria distinguir as palavras nem que fosse para salvar sua vida.

Takao não sabia como ele havia chegado àquela situação. Tinha a consciência de que estava totalmente bêbado, mas não se lembrava de ter bebido tanto assim. As últimas coisas de que ele lembrava eram de seu encontro com Kise numa boate escolhida pelo loiro, da qual ele definitivamente não saberia o nome na manhã seguinte. Kise estava muito bem arrumado, o que não era o seu caso (ele ainda estava de uniforme, pelo amor de Deus). Ryouta disse alguma coisa ao segurança e eles entraram sem problemas, atraindo olhares venenosos das dezenas de pessoas na fila. Os dois haviam conversado e rido bastante, Kise pagou algumas bebidas, mas nada muito pesado. E então o amigo havia lhe dado um copo... rosa? Vermelho? Ele já não lembrava. Subitamente, o salão se coloriu, as pessoas se misturaram de uma forma caótica e tudo parecia simplesmente tão... vibrante. Takao não sabia o que tinha naquele copo, mas até então ele não havia pensado nem uma vez em... quem é que ele estava tentando esquecer mesmo?

—...kaocchi! Takaocchi!

Takao se virou groguemente para o lado. Oh, o borrão amarelo estava falando com ele de novo.

Ele tentou dizer que não conseguia ouvi-lo, mas as palavras morreram em sua boca, e o que saiu foi um conjunto de sons débeis e incoerentes. Sua língua parecia tão pesada... uau, aquelas coisas ligadas aos seus braços eram suas mãos?! Por que seus dedos estavam tão longos? Takao riu, mas sua língua embolou-se e sua risada soou como um engasgo.

Ele olhou em volta, mas não sabia bem se sua cabeça havia se movido ou o mundo estava girando sozinho. O borrão amarelo havia sumido. Ele riu. Amarelo. Que cor engraçada. Takao não conseguia parar de rir. Um borrão preto entrou em seu campo de visão e emitiu alguns sons. Então o borrão preto se alongou e se transformou num martelo. Takao gargalhou.

— Você é um martelo! - tentou dizer, mas pelo que ele ouviu de sua voz, havia saído algo como "womomimomelu".

Um outro borrão verde se juntou ao Sr. Martelo, que ele resolveu chamar de Shin-chan, embora não soubesse de onde diabos ele havia tirado esse nome.

— Shin-chan! Esse cara é um martelo! - disse, mas provavelmente soou como "xinjan!jujamimomelu!".

O borrão verde se afastou, o que deixou Takao muito desapontado.

— Shin-chaaaan!

Takao saiu em busca do borrão verde, mas estava tudo tão vibrante, agitado e confuso... Achei ele! O moreno se atirou para cima do borrão verde, abraçando-o.

— Shin-chan...

De repente, Takao viu a coisa mais bizarra de todas: um unicórnio estava indo em sua direção, cavalgando rápido, mais rápido, mais rápido... e então as cores minguaram e se dissiparam, deixando-o num vácuo escuro silencioso.

 

Takao acordou com uma luz insuportavelmente brilhante em seu rosto, e sua garganta parecia ter sido vítima de ataques terroristas durante os últimos cem anos. Ao tentar se levantar, sua cabeça pareceu ainda pior. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele desmaiou, ouvindo vagamente a voz de Kise antes de apagar.

 

Na segunda vez em que acordou, já não estava claro. O moreno abriu os olhos lentamente, mas dessa vez não se moveu. Ryouta estava sentado em uma cadeira, de frente para ele, com uma expressão preocupada. Quando viu que Takao havia acordado, suas rugas sumiram e seu rosto se iluminou.

— Takaocchi!!

Takao se encolheu, o volume da voz do amigo piorando sua enxaqueca. Kise tapou a própria boca.

— Desculpe, Takaocchi, eu sou um idiota. - sussurou - Você está bem?

Takao abriu a boca para responder, mas sua garganta arranhada doeu. Ele fez uma careta e balançou a cabeça negativamente.

— O que... teceu? - ele tentou forçar as palavras, sem muito sucesso.

Kise enrugou o nariz.

— Você realmente quer saber?

— Esse imbecil te drogou, é isso o que aconteceu. - soou uma voz feminia, do outro lado do quarto. Takao se virou em sua direção. Era Momoi Satsuki, recostada em uma parede, os braços cruzados e uma carranca no lugar do costumeiro sorriso.

— Momocchi! Você faz parecer que eu sou um vilão! - choramingou Kise, tentando manter o tom de voz baixo.

Momoi caminhou até ele e deu um belo tapa na nuca do loiro, que se encolheu e guinchou de dor.

— Idiota. Você é o vilão.

Takao olhou de um para outro, esperando que lhe dessem mais explicações.

Felizmente, Momoi notou sua confusão, e se sentou ao seu lado na cama, tomando cuidado para não perturbá-lo. Takao a agradeceu mentalmente.

— Takao-kun, eu sinto muitíssimo pelo que esse idiota fez. - sua voz era suave, quase o fazia querer dormir. - Deram pra ele uma amostra de uma substância que, aparentemente, muitos famosos estão usando. O nome popular é Arco-íris, imagino que você tenha uma ideia do porquê.

Takao fez outra careta e acenou.

— Bom, acontece que o idiota aqui quis te animar e jogou um tablete de Arco-íris na sua bebida. Geralmente, a droga é muito mais inofensiva e sutil, fazendo apenas com que o usuário veja tudo de forma mais vibrante, o que provoca uma reação no cérebro que o deixa mais animado e acordado. Porém, nosso amigo Kise aqui misturou a amostra com Vodka, e bom, os efeitos trágicos disso você mesmo presenciou.

Takao quis dilacerar seu amigo. Ele o encarou com a fúria de mil sóis, e Kise se encolheu ainda mais na cadeira, corando.

— Takaocchi, eu realmente sinto muito. Você não faz ideia do quanto eu fiquei preocupado quando... eu não queria que... - o loiro parecia tão desamparado que Takao quase teve pena. Quase.

Ele respirou fundo e tentou falar novamente.

— Vocês po...em pe..o m... os con... ar vo...ar ...em?

Deus, ele soava como o Smeagol. Sua voz falhava e dava a sensação de perfurar sua garganta. Pelo olhar nos rostos de seus amigos, eles não haviam entendido absolutamente nada.

— Takao-kun, por favor não tente falar. Isso pode prejudicar seriamente suas cordas vocais. Não sei bem o porquê desse efeito colateral, mas sua garganta parece ter sido consideravelmente ferida.

A garota lhe passou um bloco de papel e um lápis. Takao agradeceu com um aceno e escreveu: "Vocês podem pelo menos me contar se eu vou ficar bem?"

Momoi parou um pouco, franzindo as sobrancelhas e pensando.

— Bom, eu não posso dizer com certeza absoluta, mas pelo meu raciocínio você deve ser capaz de falar novamente em dois dias. - Takao suspirou aliviado. Pelo menos na segunda-feira ninguém de sua escola notaria nada. - Recomendo que beba muito, muito líquido. Quanto à dor de cabeça, é consequência da ressaca, então você ficaria bem com um pouco de repouso, comprimidos e água. Mas esqueça os comprimidos por hora, tenho medo de que eles reajam com a droga que ainda pode estar em seu organismo.

Takao engoliu em seco e assentiu.

— Espero que você melhore logo, Takao-kun. Me desculpe, mas eu tenho que ir. Combinei de me encontrar com Dai-chan em dez minutos. Boa sorte! - ela fuzilou Kise com os olhos - e quanto a você, fique bem longe dele e nunca mais use essas coisas sem pesquisar primeiro, entendido?

Kise acenou freneticamente, cruzando os dedos sobre o peito num juramento. Momoi bufou e jogou os cabelos, dando um último aceno para Takao e fechando a porta atrás de si.

Takao respirou fundo e encarou Kise. O garoto ainda estava encolhido e não o olhava nos olhos. O moreno sentiu uma pontada de compaixão. Afinal, fora ele quem chamara Kise, e ele só estava tentando fazê-lo se divertir. Takao relaxou e escreveu em seu caderninho, passando-o para o loiro.

— "Não pense que você vai reconquistar minha confiança assim tão fácil, Ryouta. Mas não faça essa cara. Você é um imbecil, eu é que deveria ter sido mais responsável e ficado bem longe de você". Takaocchi! Isso quer dizer que você me perdoa?? - sussurou o loiro (mas para Takao, soou mais como um grito).

Ele não fez gesto algum, mas Kise tomou como consentimento e o abraçou. Takao não conseguiu ficar muito bravo com ele. Pegando seu caderninho, ele escreveu: "Me conte todas os absurdos que eu fiz drogado".

 

Quando Kise terminou de falar, Takao desejou profundamente que a Terra abrisse um buraco no chão e o engolisse. Segundo seu amigo, ele havia gritado sons sem sentido para dezenas de pessoas, que o evitaram, assustadas; depois, havia vomitado em cima das bebidas de um grupo de caras que estavam prestes a espancá-lo, quando ele chamou um deles de "mimumelo" e aí sim o homem ficou enfurecido. E então um travesti de peruca verde havia o salvado.

— Eu juro, Takaocchi, foi a cena mais engraçada que eu já vi - disse Kise, lutando contra uma crise de riso - ele era enorme e cheio de músculos e usava um vestido rosa. Derrubou os três outros caras com uns cinco chutes e depois bateu neles com um dos saltos. - nesse ponto, Kise cedeu e soltou risinhos - e então...

Kise gargalhou.

— E então você pulou em cima do travesti e ficou agarrando ele, chamando ele de "xinjan". O travesti se amarrou em você, Takaocchi!

Kise dobrou-se ao meio, segurando a barriga e limpando lágrimas de riso do canto do olho.

— E o melhor é que, quando ele pediu seu nome, você desmaiou e caiu com a cara nos peitos de silicone dele!

Kise parou de falar, engasgando com a própria risada e rindo ainda mais por causa disso.

Takao cobriu o rosto com as duas mãos, sem saber como reagir, tentando parar de corar. Ah meu Deus, pensou. Xinjan?! Eu fico drogado a ponto de esquecer meu próprio nome, mas consigo lembrar daquela maldita cenoura? Eu te odeio, Midorima Shintarou.

 

Pelo resto do dia, Kise ficou ao lado do moreno, contando e recontando as aventuras de Takao Chapado Kazunari, enquanto Takao tentava não cometer suicídio. Hora ou outra, Kise trazia para ele bandejas repletas dos mais variados sucos, que Takao engolia em segundos. No fim do dia, quando já estava anoitecendo, ele se sentia incrivelmente melhor. Não que conseguisse falar, mas pelo menos sua garganta não parecia corroída por soda cáustica. "Kise, nós estamos na sua casa, certo?" Escreveu ele.

— Ah sim, Takaocchi. Eu te trouxe pra cá. E também fiz Momoi vestir umas roupas minhas em você. - Takao ruborizou, imaginando a cena em que Momoi o teria despido. Não conseguiria mais olhá-la nos olhos por um tempo, agora. - Mas não se preocupe, eu falei com sua mãe e ela sabe onde você está.

Takao arregalou os olhos. Kise apressou-se em explicar:

— Não se preocupe, Takaocchi, eu não contei à sua mãe que eu te droguei, ou que você ficou a ponto de ser espancado, ou que quase foi pra cama com um travesti. Disse pra ela que você quis me fazer uma visita e dormiu aqui. Ah, e eu também disse que você pegou uma inflamação horrível na garganta e ficou mudinho.

O moreno suspirou aliviado. Quando olhou para Kise, viu que o loiro o fitava curioso. "O que foi?", rascunhou.

— Ah nada, Takaocchi. Só me perguntando o porquê de você ter chamado o cara de xinjan. Bem familiar, não acha?

Takao ruborizou. Tentou escrever algo, mas nenhuma resposta coerente lhe vinha à cabeça. 

Por que Kise tinha que reparar nos mínimos detalhes? 

"Eu não sei do que você está falando", escreveu. Kise soltou uma risadinha.

— Você realmente gosta dele, né Takaocchi?

Takao baixou os olhos, apertando as cobertas. Sim. Ele realmente gostava de Shin-chan.

— Ne, Takaocchi. Pode parecer da boca pra fora, mas eu te entendo.

O moreno ergueu o rosto, fitando Kise. O loiro suspirou.

— Nem sempre a gente consegue ficar com quem gosta né?

O rosto de Takao se fechou. Kise estendeu a mão e apertou seu joelho em um gesto confortador. Takao quis abraçá-lo. 

— Nós somos dois fracassados, não somos? - disse o loiro, rindo sem humor. Takao deu um sorriso forçado.

Kise era um bom amigo. Quase o matou, mas era o jeito dele de ser um bom amigo.

Passado alguns minutos, Takao olhou no relógio e arregalou os olhos. Eram 21h e fazia um dia inteiro que ele saíra de casa. Ele havia mesmo passado todo esse tempo ali? "Kise, eu preciso ir pra casa". O loiro pareceu relutante, mas concordou em levá-lo de volta.

Quando Takao pisou dentro de casa, sua mãe veio ao seu encontro à toda velocidade e quase o derrubou em um abraço de urso.

— Que bom que você chegou, Kazu. Estava com saudades.

Takao a abraçou, sem poder dizer oi a ela.

— O que você tinha na cabeça, filho? Saindo assim e ignorando minhas ligações! - exclamou Kanako, soltando-o e analisando-o de cima a baixo. - Você está bem?

Ah, é mesmo. Ele havia colocado o celular no silencioso. Takao pegou seu telefone para escrever uma mensagem para sua mãe dizendo que estava bem, quando congelou. Havia cinco chamadas perdidas de sua mãe, mas não era com isso que ele estava preocupado. Le leu e releu as palavras no visor para ter certeza de que não eram alucinações.

"Shin-chan: 21 chamadas perdidas e 10 mensagens não lidas."

Ah, ele estava tão ferrado.


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Notas finais do capítulo

The treta has been planted, fechem suas portas e janelas.
O que acharam de um Takao chapadão? hahaha não sei vocês, mas eu achei super divertido escrever isso. E sobre o amor platônico de Kise, algum palpite? (vou fingir que não é óbvio)
Por favor, me deixem saber o que vocês pensam e não sejam leitores fantasmas, oui? ^^
Vejo vocês no próximoo ~ ♥