Segredo Virtual escrita por Alehandro Duarte


Capítulo 24
Capítulo 24 Até Onde Chegamos


Notas iniciais do capítulo

Após quase 4 meses de espera, enfim o PENÚLTIMO CAPÍTULO DA 1 TEMPORADA DE SEGREDO VIRTUAL! E também o fim provisório da história de Sara.



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— Três Meses.- Resmungou Sara, provando seu vestido de madrinha no quarto de um apartamento luxuoso.- Como você pode agendar um casamento, com apenas três meses para preparar tudo?!
— Não conseguia esperar mais. Tanta coisa aconteceu...- Lídia segurava um par de luvas brancas e a entrega para Sara, quando seu vestido já estava totalmente colocado.- E não sei se esse realmente será o fim de tudo.
— Pelo menos é o fim do banho de sangue.- As duas balançam a cabeça, trocando sorrisos bobos. Bianca entra no quarto com uma bandeja de suco no colo e a oferece imediatamente para Lídia, que nega com a cabeça.
— É errado shippar isso?- Sara coloca suas luvas e senta-se na cadeira em frente ao computador, colocando seus longos cabelos negros para trás.
— Eu já sei o que é shipp, Sara. Você não vai me bugar!- Disse a noiva, apontando seu dedo para a madrinha, que levantava as mãos em um gesto de inocência.
— Como vocês lembram de coisa que aconteceram há quase três anos em uma festa na escola?- Indagou Bianca, levantando as sobrancelhas.- Só lembrei por reflexo, realmente não sei nem que horas fui dormir ontem.
— Aquela festa foi marcante para mim, como todos os eventos que aconteceram...- Ao olhar bem para o teclado, a ex-anêmica, retira de baixo dele uma nota de dinheiro, e a levantando alto.- Já vi pessoas guardarem dinheiro dentro de livros, agora embaixo de teclados é novidade.- Batidas são dadas na porta de entrada, e uma voz grossa chama por Lídia, que imediatamente se dirige até ela e a abre, sendo rapidamente abraçada por seu pai.
— É depois de amanhã seu grande dia.- Sua voz demonstrava entusiasmo e orgulho. Adentrou mais no local, e fez um breve aceno com a mão.
— Quer suco?- Bianca estende a mão para lhe oferecer.
— Aceito sim.- Sebastian pega o copo e o segura, observando o vestido branco com um laço vermelho em Sara.- Você está linda.
— Obrigada.- Sua bochecha cora um pouco, mas logo começa a pesquisar coisas no computador.
— Daniel está louco. Já me ligou oito vezes nessas três últimas horas.- Disse o mais velho.- Mas como estão? Tudo está saindo como o planejado?
— Sim, Pai. Está tudo sobre controle.- Um celular em cima da cama começa a tocar. Era uma musica da Beyoncé, e todos imediatamente olharam para o aparelho. Lídia o pegou antes que qual quer um pudesse encostar nele.- Isso já saiu de moda faz tempo.
— Devolve meu celular!- Exigiu Bianca, se esticando para tomá-lo de volta.- Sua vagabunda!
— Ora, Ora. " Helena ". Bom saber o nome da sua namorada.- A prima devolve o aparelho, enquanto a outra, simplesmente o desligou.- Sorry.
— Eu sei que acabei de chegar, mas...Querem que eu vá embora?- O homem parado na porta, perguntou.
— Fique à vontade. Somos apenas garotas se divertindo.- Respondeu a cadeirante. Dessa vez outro aparelhou apitou, como o barulho de uma mensagem recebida. Sara logo fez o favor de se levantar e tirar o celular de dentro da calça jeans jogada no chão.- É pedir demais para dizer de quem é?
— É, mas não me importo. Jason quer me encontrar daqui a algumas horas.- Ela se levanta da cadeira, pega algumas roupas jogadas no chão e sai do quarto para ir ao banheiro.- Tenho que ir.
— Não era daqui a algumas horas?- Pergunta Lídia.
— É outra parada...- Após alguns minutos, sua calça jeans amassada, e sua blusa preta colante saem do lugar, indo até a porta de entrada.- Até depois.

 

Com uma fantasia de fada, Rose corre pela casa, segurando uma varinha de condão rosa com uma estrela na ponta:
— Ela é mais veloz que uma águia! Enfrenta todas as provas de matemática! E mais fofa que uma boneca!- Grita Jessica com um sorriso no rosto, e começa a persegui-la.
— Eu, a Rose-fortona !- A pequena se senta na cadeira em frente a mesa, e começa a se deliciar com o copo de suco e a torrada no prato.- Falta quantos dias pro casamento da tia Lídia?
— Depois de amanhã.- Jessica se senta à mesa, segurando um livro na mão.
— Ainda?! Ela podia ter adiantado pra hoje...Podemos ir ao cinema, então?
— Podemos.- Um sorriso amarelo se abre no rosto de Rose. O rádio que estava sobre a mesa, começa uma matéria sobre um jovem cantor encontrado morto em sua casa, os motivos parecem ser overdose de drogas. Jessica rapidamente desliga o rádio e dá um suspiro.- Chega de morte, por um bom tempo.
— Ei, você não disse que ia soltar Lícia hoje?
— Conversei com ela. Ela disse que queria ficar...Não algemada, é claro. Já que não tem lugar pra onde ir, Lícia vai morar com a gente por um tempo.
— Como amiga?
— Como amiga.- A mãe acaricia o rosto da pequena, e volta a olhar para o livro que segura.- Vá se arrumar para a gente sair.
— Tá, mas posso ir ver Miguel?
— Quem é...Ah, havia esquecido que o casal morre-e-beija escolheu um nome pro filho. Mas só depois de se arrumar.-
— Está bem!- Ela se levanta pulando e corre desengonçada até o quarto.

 

A ex-anêmica encara duas lápides, e as lágrimas caem copiosamente de seus olhos fardos de tanto sofrimento e dor." Sara Menezes 1993 - 2014 ", " Célia Menezes 1964 - 2014 ". Já fazia dois ano...morte seguida de morte, pesadelos seguidos de pesadelos. A culpa recai sobre seus ombros, e se ajoelha diante do túmulo da mãe, recapitulando tudo o que a fez chegar até aquele momento, pela terceira vez no dia. Engole a seco. Olha para o céu e então derrama mais lágrimas, enquanto lamenta o quão idiota foi nesses últimos três anos.
— Me perdoa...Eu apenas...- Ela para, pensando se devia conversar com quem nunca mais a ouvirá. Se recompõem. Deve isso a si mesma.- Apenas queria encontrar meu lugar no mundo. Esquecer os problemas e viver intensamente com uma pessoa que amava e que daria a vida por mim...Bem, acho que errei essa pessoa.- Ela leva a mão até suas bochechas, onde pequenas gotas de sofrimento lhe faziam cócegas.- Sempre te amei, e sempre vou continuar te amando. Mesmo com seus defeitos e mentiras. Eu te amo, mãe. E agora que tudo acabou...- Ela dá uma pausa, refletindo entre palavras.- Acho que posso ser feliz.- Seu olhar é desviado para o túmulo. O seu túmulo. "O lugar onde deveria estar desde o começo", diz-se para si mesma em pensamentos.- E você pequena Sara? Amadurecemos muito, não?- Ela suspira. Estava envolvida em uma teia de lembranças e arrependimentos.- Eu me odeio por tudo o que houve, toda a dor que passamos por minha culpa! Não mereço estar viva depois das coisas que fiz...Mas estou aqui. Respirando e chorando como qualquer humano. Talvez seja idiota falar com o " nada ", mesmo assim preciso me desculpar. Sinto muito, mãe. E Sara...Obrigada. Obrigada por me dar uma emoção que nunca senti, e obrigada por me dar o prazer de conhecer pessoas tão maravilhosas.- Ela se levanta, retira o celular do bolso e derrama uma última lágrima.- Acho que isso é um Adeus.

 

Marina pairava sobre o espelho do banheiro, analisando cada parte de seu rosto. Estava pensativa, perdida em pensamentos. Voltou-se para a porta e caminhou de volta para o quarto. Abriu a porta lentamente e adentrou, mas o que viu em sua cama, a fez dar um grito abafado. Alguém estava debaixo de suas cobertas. Lentamente ela estica seu braço para pegar um livro que estava em sua cômoda, enquanto dá paços sigilosos. Enfim coloca sua mão direita sobre a coberta com estampa de estrelas, e a levanta:
— Hello, Sister.- Oscar a encarava com um sorriso diabólico no rosto. Ele possuía um revolve entre as duas mãos, a ocultando embaixo do lençol.
— Puta merda...- O Livro cai de sua mão.
— Lave sua boca com sabão.- Marina começa a dar passos para trás. Percebendo a distanciação, Oscar mostra a arma para ela, mirando em sua direção.- Isso é um acerto de contas.
— Não sei o que você tem que acertar.
— Você me deve muitas coisas.- Um sorriso malicioso surge em seus lábios.
— Foi você que arruinou nossas vidas, não eu. Devemos acabar logo com tudo isso e seguirmos em paz.- As mãos de Marina tremiam. Oscar se levanta levemente da cama, se aproximando da irmã.
— Sim, devemos viver em paz. E eu vou estar totalmente em paz quando tiver em um caixão.
— Nós somos irmãos, Oscar. Mesmo depois de tudo eu...- Ela volta a caminhar para trás, enquanto o irmão a acompanha.
— Não minta. Nunca fomos realmente íntimos...bom, talvez uma vez.
— Você está doente, está cego. Deixa eu te ajudar.- Ele mira a arma novamente para ela.- Bons sonhos no inferno.
— Pra você também.- Marina olha para fora e em seguida Diogo entra no quarto pulando em cima de Oscar e jogando o revolver para longe. Socos seguidos de socos. O rosto de Oscar começava a se deformar.

 

— Chega disso. Você deveria estar feliz.- Diz Jason para Daniel, enquanto se debruça na mesa de madeira do restaurante.
— Eu estou.
— Então demonstre!- Jason leva seus dedos até o resto do amigo, forçando-lhe um sorriso.- Agora sim.
— Seu idiota.- Ele volta para sua posição, e o sorriso se desfaz.- Agora só falta pensarem que somos um casal gay.
— Até que não é tão mal, a gente combina. Qual seria o nome do Shipp?- Um sorriso de " pelo amor de Deus " surge no rosto dos dois.- Janiel é uma boa...Danise!- Daniel fica calado por um alguns segundos, e de repente risos eufóricos começam a sair de sua boca.- O que foi?
— Descobri a melhor coisa do dia.- Pausa para mais risadas.- Adivinha o nome do shipp da Sara com a Lídia? Sadia.
— Sério que você queria que eu risse disso? Nosso gosto para comédia é totalmente diferente.
— Nossos somos diferentes em tudo. Pode tentar.- Ele desafia.
— Pop?
— Rock.
— Serie?
— Filme.
— Doce?
— Salgado.
— Vermelho?
— Verde.
— Hambúrguer?
— Pizza.
— Mulheres.
— Ho...Mulheres.
— Você estava forçando.- Acusa Jason, apontando o dedo. Daniel puxa o dedo com força.- Ai ai ai ai, solta!- Ele solta o dedo e o olha com cara emburrada.- Você era menos chato.
— E você menos idiota.- Os dois suspiram, e sorriem um para o outro.- Vai atrás da sua esposa.- Jason se levanta.
— Me deseje boa sorte.
— Que você tenha um encontro horrível.
— Muito obrigado.- Ao sair do restaurante, Jason esbarra em Sara que estava a entrar.
— Estava procurando você. Para o nosso encontro de " verdade " que você me prometeu e está devendo.
— Quando eu prometi isso?
— Na segunda semana em que estive na cidade...Pelo menos eu acho.- Ela caminha para dentro do restaurante, mas ele a segura.- O que foi?
— Não vamos ter um encontro aqui. Pensei em ir pro penhasco, mas parecia muito clichê...
— Posso lidar com alguns clichês.- Diz ela dando um sorriso totalmente aberto, mas tendo sua atenção desviada para o braço sendo acenado de Daniel.
— Usem preservativos!- Grita ele, envergonhando os dois.

 

Bianca mexe em caixas de mudança, que retirou da mansão com suas coisas e as de sua mãe. Lídia carrega com sigo um Notebook cheio de adesivos de estrelas e bichinhos. Ela repousa o objeto em cima de uma caixa fechada e vai para perto da prima:
— Precisa de ajuda?- Pergunta Lídia, sendo atenciosa. Bianca a fuzila com o olhar.- Não quer se sentir inútil, né? Tá bem.
— Você está parecendo com Dylan, levando o Notebook para todo o lugar.
— É verdade...Sabe aonde está o dele? Ele vivia gravando vídeos naquilo.
— Desapareceu quando ele sumiu...Devia ter informações sobre o Cold Blood.- Ela retira um livro de capa vermelha da caixa, e o coloca sobre o colo.- Não quero revirar o passado agora.
— Mas é o que está fazendo...Esse livro, é aquele que a Sofia lia pra gente antes de dormir? Estou me sentindo velha.
— Talvez...- Bianca o folheia aleatoriamente, e dele cai um pedaço de papel dobrado. As duas se encaram.- Devemos abrir?
— Se você não abrir, eu abro.- Os dedos da cadeirante abrem o papel delicadamente. Lídia o arranca de sua mão e começa a lê-lo rapidamente.- Leia em voz alta!
— Meu Deus...
— O que foi?
— Dylan está vivo!- Ela entrega para Bianca que começa a ler desesperadamente.
— Essa não é a letra de Dylan, eu conheço.
— Então porque alguém se passaria por ele?
— Eu não sei, mas não é a letra dele.
— Isso deve ter algo haver com o sumiço da Sofia.
— Ela fugiu, não foi atrás de Dylan.- Bianca começa a rasga o papel, e Lídia tenta tirá-lo de sua mão, mas em vão.
— Não faz isso!
— Que utilidade teremos com isto?
— Podemos tentar descobrir algo...
— E começar outro jogo? Ferrar com a vida de todo mundo envolvido? Se depender de mim ninguém se machuca mais por causa de Dylan. E coloque a cabeça em seu casamento.

 

— Bem vinda ao Zoológico de Sanru!- Anuncia Jason, entrando juntamente com Sara no Zoológico.
— Eu já te contei do meu trauma?
— Já, mas não me importo.- Ele segura sua mão e a puxa.- Sou fascinado por esse ambiente.- Seus olhos começam a brilhar.
— Por animais presos em jaulas?- Seus olhos são frustrados, e ele retribui a falta de consideração com um olhar fuzilante.- Pela natureza e o jeito de viver de cada ser vivo aqui visto!
— Exatamente.
— Seus olhos são idênticos aos da sua irmã.- Ela menciona, enquanto observa o rosto do amado.
— E seus lábios são idênticos aos meus, é só chegar bem perto que você vai ver.
— Engraçadinho.- Sara aponta na direção de uma girafa.- Adoro girafas.
— Algum motivo específico?
— Elas veem o que outros não. Pelo menos foi o que li na internet.
— Vantagens de ter um pescoço longo. Deve espiar a vida das vizinhas.- Ele retira um nota de dinheiro do bolso e compra algodão-doce. O abre e entrega para Sara.
— Ainda está me devendo um batom de nutella.- Diz ela arrancando um pedaço enorme.- Daqui a pouco fico grávida de doces...
— A barriga já está aparecendo.- Sara dá uma cotovelada na costela de Jason, que dá um grito abafado.- Sua...
— Te ver sofrer é tão prazeroso.- Um sorriso amostrado aparece em seu rosto.- Pena que seus parentes não estão aqui, mas se a gente procurar na rua vamos ver vários cãezinhos arrependidos.
— A sala dos seus familiares é logo ali, aonde fica os répteis. Adoro sua irmã jararaca, parece tanto com você.- Sara ameaça dar outra cotovelada, mas Jason se afasta.
— " Cotovelo do mau. Em breve nos cinemas ".- Sara olha para trás, sentindo-se vigiada.
— Aquele cara estava perto da cafeteria...Ele está seguindo a gente?- Indaga apontando o rosto discretamente para o homem a alguns metros de distância. Jason se vira para observá-lo e caminha até ele ao lado de Sara.
— Porque está nos seguindo? Temos um acordo.- Diz ele seriamente.
— Não é você que escolhe o que deve ser feito.- Responde o homem, pegando seu celular no bolso.- Deveriam se considerar com sorte pelo projeto deixá-los à solta.
— Jason!- Ela o lança um olhar, e o puxa para trás.- Vamos.

 

— Ele está vivo?- Marina olha para o irmão caído no chão. Seu rosto estava todo surrado, e o sangue escorria no chão.
— Está. Deu uma surra, mas não é pra tanto.- Responde Diogo.- Temos que escondê-lo em algum lugar.
— Aonde?
— Eu não sei.- A porta de entrada da casa se abre, fazendo um barulho ouvido pelos dois.- Ela chegou.- Diogo o pega pelos braços e o arrasta para perto da cama, o empurrando com os pés.
— Amores, cheguei!- Ruby abre a porta do quarto de Marina, e se depara com os dois em pé, e metade das pernas de Oscar para fora.- Meu Deus...É o...?
— É o Oscar.- Respondeu Diogo, tirando o corpo dele para fora.- Mas só está desmaiado.- Ela se aproxima do corpo e o coloca em cima da cama com a ajuda de Diogo. Ruby acaricia seus cabelos um pouco manchados de sangue, e em seguida pega um colar de pérolas ao lado da cama, e o coloca no pescoço de Oscar.
— Então acho devemos deixá-lo partir de vez.- Ela olhara para Marina antes de começar a enforcar o filho. Diogo caminhou até a irmã, e encaravam a ação da mãe. Lágrimas escorrem de seu rosto, mas a força não diminui.- Tragam o baú antigo. Agora!

 

Sebastian entra na sala de cinema segurando uma lata de refrigerante, sendo observado por Jessica, que estava na fileira de cima. Ela logo acenou para ele, que logo se propôs a subir até lá. Rose estava tão concentrada no filme que nem percebeu a aproximação do seu avô:
— Obrigado.- Agradeceu quase sussurrando ao se sentar. Jessica se inclina para chegar mais perto de seu ouvido.
— Não sabia que gostava de assistir " A fuga dos pôneis 3 ".- Brincou ela, oferendo a pipoca, que é rejeitada com a cabeça.
— Na verdade só vim pois era o que estava em cima da hora, e hoje está tão quente que faço qual quer coisa por esse ar-condicionado.
— Como está lídia? Rose está ansiosa para o casamento.- Rose se vira para os dois e faz sinal de silencio. Eles esboçam um sorriso.
— Está até normal demais.- Diz ele mais baixo do que antes.
— Vai dar tudo certo.
— Com certeza.- Rose arranca a pipoca da mão de Jessica.
— Você está sendo muito malcriada!- Reclama a criança, com cara emburrada.
— Mas vê se pode uma coisa dessas.
— Pelo jeito ela é a mãe aqui.- Brinca Sebastian. Os adultos começam a prestar atenção no filme, em posições agradáveis. Logo gargalhadas finas tomam conta do local.- O que aconteceu?
— Uma vaca soltou gases.- Sussurrou ela de volta.
— Que engraçado.

 

Lídia estava sentada na cama, segurando e encarando um véu brando e delicado. Foi usado por sua mãe no dia de seu casamento. Seu pai o havia lhe dado quando descobriu que iria se casar, e desde então o guardou com cuidado, como uma lembrança de sua figura materna que faleceu alguns meses, de depressão pós parto:
— Lídia!- Gritou Daniel do lado de fora do quarto.
— Você não pode entrar, dá azar ver...- Diz Bianca tentando barrá-lo de entrar, mas é interrompida.
— Ainda falta dois dias, e não acredito em superstições.
— Pois deveria!- Ela coloca a cadeira de rodas sobre a porta, o impedindo de ultrapassar.- Só passa por cima do meu cadáver.
— Deixe-o entrar, Bi.- Pede Lídia, colocando seu véu suavemente dentro de uma caixa preta.
— Já que a rainha de sabá permite...- Ela sai da porta e volta para sala, ainda olhando para trás. Daniel chega perto de Lídia que estava com o rosto abaixado e se senta ao seu lado.
— Desculpa, mas precisava te ver.
— Tudo bem...- Ele levanta seu queixo gentilmente, e a beija.- Falta tão pouco...
— Realmente parece muito pra mim.- Os dois se abraçam, enquanto trocam caricias.
— Para mim também.
— Minha casa não é motel!- Grita Bianca.- Eles riem.
— Somos como adolescentes quando conversamos sobre relacionamento.
— Digo o mesmo por mim e Jason. Certas coisas não se mudam...Seria isso uma qualidade ou um defeito?
— Talvez em parte os dois.- Ela descansa sua cabeça no ombro do amado, e cela seus olhos.- Que continuem assim.
— Continuaremos.

 

— Espero que aquilo não tenha estragado nosso encontro.- Disse Jason, sentado de frente para Sara em uma lanchonete no zoológico.
— Tá brincando? Um macaco tentou arremessar cocô em mim, e acha que vou ligar pra isso?- Os dois sorriem de lado, e voltam a comer seus lanches.
— Quer ir aonde agora?- Pergunta ele, bebendo seu suco.
— Para o quarto.
— Ótima escolha. Só não use algemas, Sofia me traumatizou com aquilo, sabe como é...
— Não com você. E que história é essa de algemas?
— Eu estava brincando. Você sabe que minha mãe me prendeu quando eu estava violento.- Jason coloca ketchup em seu hambúrguer e o morde, deixando um pouco de molho em sua bochecha.- Ainda sou um pouco temperamental, mas acho que consegui controlar até muito bem.
— Eu não vou limpar pra você, se é isso que quer.
— Do que você tá falando?- Sua cara de desentendido revelava sua inocência. Sara arfa, pega um papel e limpa sua bochecha.- Ah...
— De nada. Bem...Obrigada.
— O encontro ainda não terminou.- Ele vira a cabeça, olhando para os lados, se sentindo vigiado.- Pelo menos eu não quero que acabe agora...Gosto de passar meu tempo com você.
— Eu sei.- O rosto de Sara cora, e ela retribui a frase de afeição com um sorriso.- Também gosto de passar meu tempo com você, mesmo você sendo um baita idiota na maior parte do tempo.
— Mas eu te trato bem, sua masoquista!- Acusa ele, apontando tentando fazer uma cara de sério.
— Até de mais, seu lunático assassino!- Ela repete o mesmo ato. Após alguns segundos de silêncio, eles percebem a lanchonete inteira olhando para eles, e então se encaram novamente, caindo na gargalhada.- Devemos mencionar que vamos assaltar esse local?
— Só se quiser ir parar na polícia. Ficamo imaginando como é para as pessoas nos verem como o casal, quer dizer as pessoas que nos conhecem de verdade.
— Devem achar que somos perfeitos um para o outro.
— E não somos?

 

Uma hora e meia após essa conversa muito esquisita, os pombinhos assassinos voltaram para a pousada, o centro da onde Sara sempre compartilhava de grandes emoções em sua vida. Ele a convidou para entrar em seu quarto, e após custo, ela enfim aceitou( Como se não quisesse isso há algum ):
— Até que pra homem, aqui é bem arrumado.- Diz fazendo uma observação geral pelo quarto, desdo chão até o teto.
— E homens não podem ter um lugar arrumado?- Pergunta ele, provocando. Ela inclina a cabeça para o lado.
— Você entendeu o que eu quis dizer.- Sara caminha até a cama e se senta nela, enquanto Jason ficava pensativo olhando para o nada.- Até onde chegamos?
— Como?
— Nos conhecemos na praia, meio que flertamos, namoramos...Se podemos chamar aquilo de namoro.- Os dois arfam em conjunto. Jason se aproxima dela e senta-se ao seu lado.- Até começarmos essa guerra de amor e ódio. Até chegar hoje, onde tivemos um encontro e...Talvez um final feliz?
— Será que realmente merecemos um final feliz?- Eles aproximam seus rostos, e ao mesmo tempo desviam seus olhares para relembrar sobre tudo.
— Bem, o fim do mundo acabou...- Sara força um sorriso.- As coisas estavam pegando fogo na mente de todo mundo, mas agora estamos livres. O jogo acabou, para sempre.
— Não acho que seja um final.
— E não é. É um novo começo para a gente.- Ela aproxima-se seu rosto do dele delicadamente e o beija, colocando os braços envolta de seus pescoço. Após o fim da troca de salivas, eles riem e se afastam.- A gente podia escrever um livro de romance.
— Com bastante gore!
— Seria meio que uma autobiografia.- Jason levanta-se da cama e caminha até o banheiro.- O que foi? Devo me retirar?
— Me espere!
— Tudo bem, então...- Sara pegou seu celular no bolso, e enviou uma mensagem para Lídia; " Estou no quarto dele ". Após alguns segundos ela retrucou; " Alguém vai ter a lua de mel adiantada, hein ". " Vai se catar ". " Eu estou inteirinha, não sei você ". Jason sai do banheiro, e para a surpresa dela, ele estava semi-nu, apenas com uma cueca branca e a máscara do Cold Blood.- Tá de brincadeira com a minha cara, né?- Ela coloca o celular de volta no bolso.
— Pode correr, pode se esconder, mas Jason vai pegar você.- Sara esbouça um sorriso de vergonha alheia.
— Quantas máscaras suas ainda terei que arrancar?- Suas mãos se levantaram até a máscara, e a tiraram delicadamente.
— Só estou brincando.
— Não, não está.- Sara se impulsiona contra ele, e inicia um novo beijo, enquanto o puxa para a cama.

 

Naomi esperava seu ex-marido, sentada em uma mesa na sala de visitas da prisão. Ela conseguiu enxergar pela janela do corredor ao lado o homem de roupas cinzas se aproximando, a porta então se abriu, e Roberto logo a encontrou. Ao percebê-lo sentar-se á sua frente, Naomi evita o contato visual:
— O que você quer?- Pergunta sem ânimo algum.
— Apenas queria saber como você estava.
— Agora já sabe.- Eles ficam em silêncio por quase um minuto, desviando suas vistas para o chão acinzentado e com algumas embalagens sujando-o.- Já encontraram Sofia?
— Desapareceu do mapa. Deve estar com a organização.- Cogita Naomi se ajeitando melhor na cadeira fria.
— A organização não tem motivos para encobri-la. O filho dela não tem grande porte para conseguir favores deles.
— Talvez ela tenha outro amante além de você.- Roberto coloca seus braços sobre a mesa e chega mais perto de sua ex-esposa, tentando passar uma impressão de fúria pelo comentário.
— Era para ela também estar presa, e não livre desse inferno.
— Cada um sofre as consequências que merece. Sofia sabe demais, se depender deles, já deve estar morta há meses. Só espero que as desgraças acabem logo.
— Que assim seja.- Ele olha para o lado, trocando olhares com um outro detento, Naomi percebe a intimidade entre os dois, e desfruta sua mente para novos comentários, mas decide ficar quieta.
— Fez aliados? Provavelmente uma fuga não funcionará, e se conseguir já sabe que uma bala te espera.
— Se ela for de você, não é?
— Claramente me conhece bem. Não preciso mais fingir ser a manipulada no jogo. Estou libertada desse sufoco, e realmente espero que o seu só esteja começando.- Roberto suspira. Ajeita sua postura na cadeira e abaixa sua cabeça.
— Mas bem, sobre a Ellen...
— Não pronuncie o nome dela enquanto eu estiver aqui. Irei embora se preferir.

 

O dia passou, e a manhã chegou. Novamente no apartamento de Bianca, as duas moças começam a conversar outra vez, sobre a noite de ontem:
— Eu não acredito!- Lídia segura fortemente a mão de Sara, no estado em que sua boca estava boquiaberta. Ela consegue soltar sua mão e volta a falar.- Conta mais, please!
— Foi meio estranho, mas foi maravilhoso ao mesmo tempo.- Um pequeno sorriso tímido começa a nascer em seus lábios.
— Só acho bastante estranho ficar com alguém que te estuprou...- Lídia a lança um olhar de ódio, sentindo seu shipp destruído.- Estou feliz por você.- Bianca surge na porta, segurando seu celular e digitando uma mensagem.
— E de manhã o que houve?- E novamente perguntou.
— Ele não estava mais lá quando acordei. Havia um cappuccino na cômoda ao lado. É um mal sinal?
— Como eu vou saber?!- Dizem as duas em conjunto. O celular de Bianca começa a tocar, e as duas logo a fazem o centro das atenções.
— Ora, Ora, não somos as únicas tendo relacionamentos.- Falou Lídia com um tom de voz mais engrossado.
— Parem com isso.- Bianca recusa a ligação e vai até o seu guarda-roupa, pega um pacote de biscoito e taca nelas.
— Pra quê agredir?- Voltou-se Sara enquanto pega o pacote e começa a comer, Lídia tenta pegar um biscoito, mas Sara dá um tapa em sua mão.- Não vamos tirar os holofotes de mim.
— Pensei que você estava desconfortável.- Bianca admitiu.
— É só atuação. Fiz aula de teatro por 2 anos. E modéstia a parte, eu era a melhor.
— Deve ser por isso que você é falsa.- Lídia arranca o pacote da mão dela.
— Deve ser por isso que você está gorda.
— Eu não sou gorda!- Ela puxa o cabelo de Sara levemente.- Quem é a gorda aqui?!- Bianca esconde sua risada, colocando a palma da mão sobre a boca.

 

Daniel caminhava tranquilamente pela calçada, observando uma família de pai e mãe com uma linda garotinha de cabelo robustos e honrosos passar na calçada oposta. Pensou o que aconteceria se tudo terminasse com um final feliz, imaginando se um dia teria a chance e o prazer de andar lado a lado com seu filho ou filha. Seus passos acompanhavam a linda família que parecia sair de uma propagando de imóveis, queria ver aquela cena o quanto pudesse, e até onde sua imaginação alcançasse. Distraio-se tanto sua visão para eles, que mal percebeu uma mulher loira de jaqueta preta correr em sua direção, com um sorriso tão brilhante que poderia ofuscar os olhos se o brilho aumenta-se um pouco mais. Ela o parou, fazendo-o recuperar o mundo real:
— Daniel!- Exclamou-se.- Se lembra de mim?- Ele busca em sua mente um rosto tão bem definido e glorioso como o dela, mas não se recorda de nada.
— Não...- Seu sorriso de euforia se desfaz, transformando-o em uma espécia de consolação para si mesma. A mulher retira seu celular de uma bolsa de couro, o desbloqueia e seleciona a foto de um álbum de fotografias aberto em uma página com a imagem de duas crianças brincando na lama.- Isabela?!- O sorriso rebrota em seu rosto, ficando um pouco risonha, com a expressão de surpresa de Daniel. Mas todo aquele momento é interrompido por gritos altos e palavras abafadas pela freada de um carro. Os dois viraram-se ao mesmo tempo para ver o ocorrido; A garotinha de longos cabelos castanhos estava agora estirada ao meio do asfalto, seus pais corriam para socorrê-la. Há alguns metros de distância, dentro de um carro de janelas pretas e celadas, um homem loiro e de barba recém feita, observava, pensativo, com a mão apoiada em seu queixo.

 

— O que você fará com aquilo?- Indaga Marina para sua mãe, olhando para o chão.
— Já fiz. Você não precisa saber aonde está.- Ruby dirige-se até a filha e a abraça, alisando seus longos cabelos.- Tudo vai ficar bem, tá?
— Não. Nada vai ficar bem, e você sabe disso. Não vamos continuar bancando a família que tenta resolver tudo, isso aqui não é um filme de drama, mãe!- Ela a empurra bruscamente, e então decide olhar em seus olhos q.
— É o melhor que podemos fazer nesse momento. Seu irmão está morto.
— Eu sei que ele está morto, não precisa me lembrar disso há cada 10 frases.
— Sinto muito.- Ruby pega uma fruta e sai da cozinha, passando por Diogo que usava sua máscara.
— Não precisa tratar ela assim, a minha mãe não tem culpa de nada.- Diz ele, enquanto se aproxima da irmã.
— Eu estou irritada.
— Todo mundo está. E não estamos descontando nossa raiva nos outros.- Marina desaba em lágrimas e parte para um longo abraço no irmão.- Acho que a gente...
— Não ache nada. Vamos superar isso. Sei que vamos.- Ela sorri para ele, e então se afasta.
— Isso não dói mais que um tiro, não é?
— Que bela pergunta, seria uma pena se eu não respondesse.- Os dois soltam uma gargalhada.
— Não precisa usar essa máscara aqui. Você está em casa.
— Me sinto melhor com ela. Irei me acostumar logo.- Logo eles decidem voltar aos seus quartos.

 

Sara avistou Jason no topo do penhasco, olhando para baixo, enquanto o vento bagunçava seus cabelos encaracolados por tanto tempo sem cortá-lo. Ela se aproxima e o abraça por trás, o deixando assustado por um momento, mas ao observar os braços finos e brancos que o enlaçaram, apenas suspirou:
— Sabia que iria te encontrar aqui.- Ele se vira para ela, desmanchando o abraço, com o rosto um pouco deprimido.- Não consegui pensar direito se você estava arrependido ou feliz por estar comigo, já que não estava no quarto quando acordei.
— Eu não me arrependo disso.- Sara tenta beijá-lo, mas ele vira seu rosto.- Sara...Você sabe que nunca iremos puder ficar juntos, não é?
— Pelo amor de Deus, Jason. Para de tentar achar alguma barreira pra separar a gente. Enfim estamos juntos...
— Mas nunca realmente poderemos estar. Tudo o que eu fiz contigo, e tudo o que ainda vamos passar...Como não consegue pensar nisso?! Nos já sofremos demais juntos, e isso tem que acabar.
— Deixa de cu doce. Eu quero ser feliz com você, seu idiota!
— Nunca vamos viver felizes, sabe disso! Mas...- Ele volta a olhar para baixo.
— Mas o que?
— Talvez a gente possa terminar com isso...Juntos!- Jason puxa Sara para mais perto da ponta do penhasco.- Teremos um final feliz. Trágico e ao mesmo tempo romântico.
— Você está louco!
— Não, não estou. Esse é o melhor para nós dois.
— Sara!- Ele tenta segurá-la, mas ela se solta e caminha pela descida.

 

A multidão olhava para o sangue no meio pista. A ambulância já havia levado a garota para o hospital. Daniel e a suspeita mulher que o chamou também não estavam mais lá, mas algo permaneceu, ou alguém. O carro de janelas pretas continuava estacionado no mesmo local, e o homem ainda estava lá dentro, olhando impacientemente para o horário no celular. Alguém bateu no vidro do carro, e rapidamente a porta foi aberta do lado de fora. Sebastian entrou no automóvel, sentando-se ao lado da figura masculina que ocupava o banco:
— Fiz o que você pediu, Dylan.- Disse Sebastian, pegando seu celular e mostrando a foto de que havia colocado um papel em um livro, supostamente o que Bianca havia lido.- Quando enfim vai começar seu jogo?
— Darei um tempo. Preciso ir atrás de um velho amigo.
— Então não precisa mais de mim na cidade.
— Pelo contrário. Precisarei mais ainda.- Dylan tecla uma mensagem em seu celular.- Diga para Rose que vou sentir saudades.- Sebastian concorda com a cabeça.
— Vai comparecer ao casamento da minha filha?
— Estarei observando de longe.
— Planeja estragar tudo, não é?- Ele dá um sorriso. Envia a mensagem.
— Acho justo um final feliz, mesmo que seja provisório. Mas...Sinto como se alguém fosse arruinar tudo.- Lídia passa em frente ao carro, entrando em uma loja de doces.

 

E mais uma vez o dia passou, dessa vez tão rápido, não? Na verdade várias coisas aconteceram nesse pulo de tempo, mas nada relevante para o penúktimo capítulo da história de Sara. Mas bem, voltamos ao cemitério. Uma figura de capuz de preto arrastava uma marreta, passando pelos velhos túmulos que havia visto há um dia atrás. Parou em frente ao túmulo ao seu próprio túmulo, e o observou por longos segundos. Levantou a marreta e começou a quebrá-lo, enquanto lágrimas despencavam de seu rosto, assim como da última vez que esteve aqui. Sara retirou seu capuz e o jogou sobre os escombros do que era o local aonde se supostamente haviam lhe enterrado. E então a seguinte frase retornou a sua cabeça:
— " Até onde chegamos".


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Notas finais do capítulo

Que o coração de vocês aguentem o infarto e os tiros do último capítulo da primeira temporada de Segredo Virtual!



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