- PORRA, ESTAMOS ATRASADAS SAI DESSA MERDA DE BANHEIRO AGORA CARALHO! NATALIA! PORRAAAAA! - gritei batendo na porta desesperada gritando feito louca e ficando descabelada de tanto pular.

É que o desespero era muito grande... quer dizer, estou atrasada. Pra peça, que EU ESTOU DIRIGINDO. Demais pra minha sanidade mental.

- Calma, 'tô arrumando meu cabelo!

- AHHHHHH VAI APANHAR! - berrei.
Depois de uns 3 minutos de pura gritaria, ela saiu de lá. E O CABELO DELA ESTAVA DO MESMO JEITO DE QUANDO ELA ENTRO! tipo ?????
Fomos correndo até o carro e na velocidade máxima até a escola. TODOS já estavam lá.
Tive que entrar correndo pela entrada dos fundos e colocar ordem nas galinhas, digo... alunos.
Que mais parecem animais, mas ok.
Todos estavam nervosos e ansiosos, e eu estava a ponto de dar dorgas pra eles ficarem calmos. Não que eu tenha dorgas, não mesmo.
Cof.
Cof, cof.
Enfim...
Quando faltava apenas 10 minutos  nos juntamos em uma roda e ficamos de cabeça baixa respirando fundo e rezando.
A voz do locutor começou com o prologo que eu já conhecia de cor.
Na bela Verona, onde situamos nossa cena, duas família iguais na dignidade, levadas por antigos rancores, desescadeiam novos distúrbios, nos quais o sangue civil tinge mãos cidadãs.
Da entrada fatal desses dois inimigos ganharam vida, sob adversa estrela, dois amantes, cuja desventura e lastimoso fim enterram, com sua morte, a constante sonha de seus pais.
Os terríveis momentos de seu amor mortal e a obstinação do ódio das famílias, que somente a morte de seus filhos pôde acalmar, serão, durante duas horas, o assunto de nossa representação.
Se a escutardes com atenção benévola, procuraremos remir-nos com nosso zelo das faltas que houver.
Se estão se perguntando ''Oh me Deus, quem recitou essa parte tão linda''?
MATT MANO!
É, ele aceito participar assim que eu disse ''Você vai estar lá atrás, seu rosto não vai aparecer e vai comandar um monte de aparelhos maneiros''.
É aquele momento onde eu tenho certeza de que a Natalia falaria ‘‘nada como nerdizes para conquistar o nerd’’.

Fui nos bastidores ver como todos estavam enquanto se arrumavam, Freddie estava lindo, comos sempre e pá. Odeio confessar, mas Seth também estava lindo, aff.
-Eu disse que acabaria sendo Romeo - ele disse quando me viu.
-Eu só não vou desejar que você caia do palco porque isso iria arruinar a peça - disse de braços cruzados.
Ainda estava olhando pra ele com cara de cú quando ouvi alguém gritando.
Alguém=a única patricinha idiota que gritaria porque tá com uma espinha. Ou seja, Michelli.
Ela começou a berrar que não ia mais participar porque o seu rosto estava arruinado, que isso era o final do mundo, que ela iria se matar e blá blá blá.
Eu como diretora devia fazer algo, mas eu não gosto dela, então ela que vá embora.
Só quando ela saiu chorando pela porque que eu percebi que tinha que achar alguém pra ficar no lugar dela, e com urgência.
Pensei em enfiar a Mandy, mas ela saiu correndo pela porta atrás da Michelli falando que ela continuava linda apesar do monstro na cara.  E convenhamos aquilo era realmente um monstro. Não era mais uma espinha no rosto dela, era o rosto dela em uma espinha, saco?
Olhei ao redor e a única outra pessoa ali que sabia as falas era o Adam. Dei um sorriso ao pensar nisso e ele me olhou assustado.
- ’Tá falando sério? - ele perguntou.
- O que? Você lê mentes agora? - perguntei com medo -Enfim, você sabe as falas, e eu acredito em você.
- Mas eu não ensaiei - ele argumentou.
- Você é um artista nato, não precisa ensaiar - disse sorrindo e indo até ele.
Vi um sorriso nascendo no seu rosto ao ouvir isso.
- Tudo bem, eu faço - ele disse.
Tivemos que de ultima hora arranjar uma roupa de Ama pra ele colocar, e colocamos um tipo de lenço na sua cabeça para disfarçar o fato de ele não ter cabelo. Quer dizer, ele tinha, mas era curto.
Passei um pouco de pó dele, e de blush. E ele estava pronto.
Não era perfeito, mas era melhor do que a Michelli, de qualquer jeito.
Sai de perto dele pra ir até o Gabe que precisava de ajuda para colocar a sua roupa porque não sabia onde enfiar a cabeça. EU MEREÇO VIU.
TIVE QUE VER O MOLEQUE DE CUECA VERMELHA COM BOLAS BRANCAS E AJUDAR ELE A SE VESTIR. Até uma galinha é mais esperta.
O fato de ele atuar muito bem era meio contraditório, pelo fato desse ser uma anta
Estou fazendo muitas referencias á animais, melhor parar antes que o Ibama me procure.
Depois quando fui voltar e ver como o Adam estava vi ele e o Freddie juntos.
Não devia mas fiquei olhando os dois juntos escondida, Natalia apareceu por ali cantando alguma musica do McFly então eu tampei a boca dela e apontei pros dois. Ficamos ali, duas bobonas ouvindo o Freddie falar.
- Relaxa meu amor, você vai ir muito bem. Eu confio em você, a Ana confia em você, só falta você mesmo confiar. - Freddie passava a mal pelo rosto do Adam de um jeito meio... romântico?
É ISSO SENHOR DIRETOR?
É ~gritos ao fundo~
- Tudo bem, eu vou fazer o meu melhor - Adam disse sorrindo.
- É mais do que o suficiente - Freddie disse e deu um selinho no Adam.
GENTEEEEEEE???????????????????????????
Ok, 1 minuto de silencio pra nossa descoberta.
Depois me sentiria mal de ter visto isso, quer dizer, é obvio que eles estão saindo em segredo. E isso é tão fucking cute.
Eu amo gays, e ai? (N/A: Se o Senhor é preconceituoso, pode ir ler outra fic, RUM)
Saímos de lá logo depois e eu e a Natalia ficamos nos encarando em puro choque. Até que a uma das suas falas chegou e eu tive que praticamente jogar ela no palco.
Enquanto cada ator ia entrando na sua parte e fazendo o seu papel, eu passava por aquela sensação de realização materna. Sabe como é, né? Estava com aqueles fones de ouvido de diretora, e uma prancheta linda e roxa e diva.
Ryan apareceu com meu lado como se estivesse com orgulho também.
-Só pode estar brincando - disse balançando a cabeça negativamente e cruzando os braços.
Ele segurava uma prancheta azul de merda como se fosse gente.
- O que foi? - ele perguntou com cara de inocente.
- VOCÊ NEM AO  MENOS FOI AOS ENSAIOS, NÃO FOI NO TESTE PRINCIPAL E AINDA TEM A CARA DE PAU DE VIR AQUI HOJE? - perguntei quase batendo nele.
- Relaxa. Estou aqui pra tudo que você quiser hoje - ele disse sorrindo.
- Ótimo - disse com um sorriso dumal.
E claro que eu pedi tudo pra ele, né. Desde uns 10 copos de água ‘‘porque estava muito quente nos bastidores’’. A que ele coçasse as minhas costas, fizesse massagem no meu pé, e imitasse uma galinha.
Só que ele só fez os dois primeiros, depois me xingou e foi embora. Bom, pelo menos eu tentei.
Já no quase final da peça eu fiquei vendo com total atenção.
Não é porque fui eu que dirigi, mas com certeza aquilo não parecia peça de escola, daquelas zoadas onde os ‘’atores’’ escreviam suas falas no braço e tinham que parar para ler. Todos ali tinham levado essa peça muito a sério. E no final de tanto trabalho duro, tinha ficado perfeito.
Quando acabou o ultimo ato eu respirei fundo e tive que entrar no palco e ficar no meio deles. Seth me deu um sorriso que eu até fiquei meio assustada porque pareceu verdadeiro, e a Natalia já estava com lágrimas nos olhos. E vamos fingir que eu não estava também, ok?
Vi que Ryan tinha saído dos bastidores e desde aquela hora filmava a peça com a sua camera-super-fodona-e-profissional. E eu tinha certeza que isso acabaria no site da escola, talvez mandasse pros meus pais. Quem sabe eles não acham que eu tenho talento e me mandam pra estudar teatro em Nova York ou Londres. Sonhar faz bem, né?
Tivemos aquele momento lindo onde todos os atores se curvam para a plateia e quando nos levantamos eu sabia que tinha acabado.
Natalia puxou um corro e eles começaram a bater palma pra mim, que fiquei toda boba e vermelha. A putaria no palco acabou naqueles grande abraços em grupo onde todos pulam e alguém sempre acaba caindo no chão no final.
O sortudo da vez foi o Freddie, todos começaram a pular em cima dele, virando um grande montinho. E eu tenho certeza de que na visão de alguns dos pais aquilo mais parecia uma suruba... porque olha...
Quando eu desci do palco mil pessoas vieram falar comigo. Jason brotou assim do chão falando que ia ter uma festa na sexta e que era pra eu ir, e blá blá e eu fiquei encarando ele com uma cara de ‘‘Porque tá falando comigo, mero mortal?’’  POW MANO, ELE POSTO UMA FOTO MINHA DE PIJAMA NA INTERNET. No me gusta.
Ryan se colocou na frente do Jason que falava sem parar me assustando e veio ao meu encontro com os braços abertos e um sorriso lindo.
- Parabéns baixinha - ele disse no meu ouvido - Fiquei muito orgulhoso de você. - ele soltou o abraço e disse - Apesar de ter tentado me fazer imitar uma galinha.
Dei uma gargalhada e disse que o amava, sendo recebida por um ‘‘Também te amo, pequena’’. E meu Deus, eu amava mesmo ter um irmão mais velho, isso ia ser uma das coisas que eu mais sentiria falta.
Os pais do Matt vieram me dar parabéns e eu estava sendo a pessoa mais fofa do mundo com todo mundo.
Depois foi a vez dos pais do Chaz e depois do nosso próprio pai que me deu um abraço (:O) e disse que tinha orgulho de mim também. CHOREI MESMO DEPOIS E AI?!
Quando terminei de falar com todos os pais animados com a ideia de seus filhos serem atores e blá blá blá. E fui correndo até fora do ginásio (ou anfiteatro, nem sofro com isso) e parei de frente pro Logan. Grande parte da minha animação foi embora quando eu vi a expressão dele.
- Que bom que veio - disse sorrindo.
- Não podia deixar de prestigiar a diretora do ano - ele disse sorrindo fraco.
- Logan... Eu... - tentei falar - Eu sinto muito.
- Por? - ele perguntou levantando a sobrancelha.
- Por ser uma idiota que só serve pra te fazer sofrer. Você não merece sofrer, nem um pouco. Você é a pessoa mais doce e fofa que eu já conheci - disse.
- Meio estranho dizer isso pra um gótico - ele riu.
- Você não é apenas o gótico rabugento - disse rindo - Tem muito mais por dentro.
- Mas não é o suficiente - ele disse sério - Eu não sou o Justin Bieber.
- Mais do que isso, você é o Logan, só o Logan. E isso já é o suficiente.
- Ana... - ele disse chegando perto de mim, e passando a mão pelo meu rosto.
- Sim?  - perguntei de olhos fechados.
Senti que ele aproximava o seu rosto do meu. Quando seu lábio tinha começado a tocar o meu ele disse: - Eu... Não posso. Ana, eu vou pra Londres.
Abri meus olhos assustada.

Estava embaixo da coberta, ela cobria tudo, até o meu rosto, me deixando em uma escuridão que antes me assustaria, mas ultimamente eu tinha mais medo de sair dali de baixo e encarar o mundo.
Minhas lágrimas finalmente tinham cessado, e minha cabeça parecia que ia explodir, não  tinha saído do quarto desde que o Logan me deu noticia.
Não tinha comido quase nada e ás vezes quando eu tinha que levantar da cama parecia que eu ia desmaiar.
Natalia tentava de todas as formas possíveis me animar, comprou o box de Pretty Litte Liars, baixou um monte de séries novas e de 2 em 2 minutos perguntava se eu queria chocolate quente.
E isso era ridículo, eu sabia que ela estava mal também.
Na terça de manhã o Ryan invadiu o quarto perguntando o que tinha acontecido, Freddie também foi tentar saber. Me enconlhi mais fundo no cobertor e fingi dormir enquanto a Natalia explicava para os dois.
Depois dessa tanto insistir acabei aceitando e tomando um pouco de chocolate quente.
Matt e Hugo foram pra lá na terça á noite, falaram que estavam preocupados porque nenhuma de nós duas atendemos o telefone. Hugo acabou nós obrigando a ir pra casa dele, porque ele disse ter ‘’um modo de nós animar, nem que seja um pouco’’.
Tomei um banho rápido e gelado para ver se de algum jeito eu conseguia ‘’acordar’, Natalia escolheu uns jeans e uma blusa xadrez para eu usar. Coloquei eles e peguei uma toquinha que estava jogada por ali perto.
Me olhei no espelho. Meus olhos estavam mais inchados do que nunca e embaixo deles vinham duas enormes olheiras.  
Se fosse um dia normal eu teria ao menos me esforçado para esconder elas, mas hoje eu simplesmente não conseguia me importar com isso.
Eu estava usando o colar que o Justin me deu e ele tinha um peso diferente no meu pescoço.
Natalia foi falar com o nosso pai sobre onde íamos, não faço idéia da desculpa que ela deu mas ele deixou a gente dormir fora naquele noite na casa do Hugo. Acho que ele só deixou porque queria ver a gente finalmente saindo do quarto.
No carro onde antes estaríamos ouvindo alguma música animada ou mais provavél ainda, algum screamo, porém hoje, o rádio permanecia desligado. E as conversas animadas deram lugar ao silencio.
Era como se estivessemos todos de luto.  
E de certo modo, nós estavamos.
Hugo parou a carro na frente de um prédio, porém eu estava dispersa demais para notar o estilo dele, ou o número do andar em que a gente foi.
Entrando no apartamento, eu me sentei no chão na sala, onde foi recebida por uma garrafa de vodka  e um Hugo dizendo ‘’Isso é melhor que chocolate quente para depressão.’’
Acho que surpreendi á todos quando abri a garrafa e bebi ali mesmo na própria.
Só parei quando mais de ⅓ da garrafa tinha ido embora e a garganta estava começando a ficar anestesiada.  E é ai que mora o perigo, quando você não sente mais a vodka queimando enquanto desce pela sua garganta, então começa a beber mais e mais até que perde o controle.
Sempre é assim comigo. Se eu beber na média, fico normal.
Mas se eu beber muito, fico pior do que podem imaginar.
Por isso, só bebi mais alguns goles e logo a  garrafa tinha acabado e todos já estavam um pouco tontos.
Me deitei no chão com a barriga pra cima e tudo começou a girar aos poucos.
Logo começamos a conversar, falar sobre o que estávamos sentimos. Como se fosse um tratamento em grupo.
- Sabe - começou Matt que também estava deitado -eu gosto da mesma garota desde quando eu aprendi o que era o amor. Quando me falaram o significado dessa palavra no mesmo sentido eu soube que era isso que eu sentia por ela.
- Quem é ela? - Natalia perguntou olhando pra ele com carinho.
- Cassadee Evans- ele respondeu com um sorriso bobo e Natalia ficou com um sorriso parecido ao ouvir isso.
- Por que nunca falou com ela?  - perguntei.
- Não tenho coragem, tenho medo dela me rejeitar - ele disse fechando a boca com força depois, como se tivesse falado uma coisa que nunca pensou falar pra ninguém.
- Não acho que isso vá acontecer, divia tentar - Natalia disse tentando animar ele.
- Se você não disser, nunca vai saber como poderia ter sido se dissesse. - Hugo disse enquanto soltava fumaça de um cigarro que eu nem tinha visto ele acender.
- Mas onde? - Matt perguntou se levantando um pouco do chão e ficando apoiado em seus cotovelos -Não posso falar isso pra ela na escola.
- Vai ter uma festa - disse atraindo a atenção de todos -Na casa da Cassie e do Jason.
- Como sabe? - Natalia perguntou curiosa.
- Jason me convidou depois da peça. - disse indiferente -Ele disse que vão comemorar por terem ganhado o ultimo jogo, no qual a gente não foi porque estávamos no encontro de intercambistas.
- No próximo a gente vai - ela disse dando de ombros.
- É uma ótima oportunidade Matt - Hugo disse animado - Você vai ter provavelmente bebido então vai estar menos tímido.
- Eu posso tentar.  - ele disse dando um daqueles sorrisos nerds que conquistam á todos.
- Bom, quem é o próximo? -Nah perguntou brincando mas Hugo levou á sério porque suspirou fundo como se estivesse se preparando para falar.
- Meu pai é um grandissimo filho da puta, daqueles empresários pseudo psicopatas, tudo bem, ele me sustenta, mas nunca vai ser o suficiente para que eu o perdoe por tudo o que já fez para minha mãe, ou seus ridículos ataques mesquinhos quando... quando ela se foi.
Natalia segurou a mão dele como se já soubesse o que vinha á seguir, enquanto eu e Matt o olhávamos com uma cara de "wtf", com um suspiro, ele explicou: - Eu e o Logan tínhamos uma melhor amiga, ela se chamava Jane. Ela foi morta pelo seu padrasto quando só tipo 13 anos.  Foi quando eu comecei a me drogar e a beber mais do que devia, e também foi quando o Logan começou a se cortar e virou gótico.
- O Logan se corta? - Perguntei me sentando assustada.
- Uhum - Natalia concordou inquieta como se fosse um segredo que ela tivesse jurado nunca contar á ninguém e então Hugo continuou.
- Perder ela foi como perder um dos meus motivos para viver. Eu e Logan fizemos uma tatuagem em sua homenagem... - Hugo ficou um tempo em silencio e eu ainda estava tentando absorver toda aquela informação.
Meus olhos estavam lacrimejando e a Natalia que já chorava começou a chorar mais ainda quando ele passou a mão pelo seu rosto e disse calmamente: ‘’Ela me lembra você’’.
Ficamos ali, em silencio. Matt e Hugo já tinham compartilhado suas duas piores dores e dentro de mim eu sabia que era um momento perfeito para falar tudo que eu guardava.
- Minha mãe bebia, muito - disse de cabeça baixa. Naquele momento todos me escutavam com atenção - A ponto de sair de casa de manhã e voltar só de madrugada caindo pela casa.
‘’E o meu pai se preocupava demais com ela, por isso eles começavam a brigar e a cada dia mais e parecia que aquilo nunca ia acabar.
‘’Então comecei a andar com as pessoas erradas, e comecei a fazer coisas que antes nunca imaginaria fazer’’. - soltei tudo de uma vez.
Respirei fundo e continuei.
- A verdade é que quem me tirou dessa vida foi a Natalia - foi quando eu comecei a chorar  e notei que ela já chorava - Porque ela sempre estava do meu lado mesmo morando tão longe.
‘’Ela sempre escutava os meus desabafos, por mais que eles fossem ridículos que fossem. Quando meu coração foi quebrado, foi ela que me ajudou a pegar os pedaços e reconstrui-lo’’.
Tive que parar novamente porque não estava conseguindo falar direto em meio a uma crise de choro.
- Eu não sei se estaria aqui se não fosse por ela. Não sei se estaria vida se não fosse por ela.
Natalia, que estava sentada na minha frente pulou em cima de mim e me abraçou.
E ficamos ali, chorando até a dor que eu sentia em guardar aquelas palavras cessar.
Quando ela soltou o abraço e se sentou do meu lado eu vi o brinco de pirata do Logan com ela, e voltei a chorar enquanto dizia:
- Eu sempre tive esse dom de magoar as pessoas, mas o que eu fiz com o Logan, é algo que eu nunca vou me perdoar. - Sequei algumas mais lágrimas, mais elas não paravam de cair - E a cada minuto eu penso mais nele, a cada minuto eu preciso dele mais e mais perto de mim. E isso me assusta muito, me faz pensar se eu fiz a escolha certa ou não.
Natalia me abraçou com um braço só de um lado do meu corpo, e o Matt abraçou do outro e eu juro que vi uma lágrima descendo pelo seu rosto.
Enquanto eu tentava parar de chorar, o Hugo tentava secar algumas das minhas lágrimas.
Meus olhos deviam estar ainda mais inchados agora.
Continuamos ali naquela posição por um bom tempo. Me senti tão segura, tão amada como se pudesse dividir todo o peso que ia carregava nas costas com eles.
- Essa seria minha vez né? - Natalia riu pelo nariz. - Meu vô sempre foi doente, desde que eu era pequena eu ouvia histórias de como ele tava mal, sempre por causa de bebida, por isso eu entendia como a Ana se sentia com relação a mãe dela, porque meu pai ‘tava indo pelo mesmo caminho, bebendo escondido e dando motivos pra minha mãe se divorciar. Tinha medo de que eles se fosse, porque já tinha perdido meu outro avô por causa de bebida e tinha sido o suficiente. E isso é irónico, porque não me impede de beber, nunca impediu.
“E eu me importava, quase nunca falava, mas me importava demais, sempre me importei demais com as pessoas, mas do que deveria, e isso sempre foi um problema para mim, colocar os outros antes de mim mesma. Incontáveis vezes eu já me fodi por isso, e agora tenho medo de me deixar levar, de me encantar, mas eu nunca fui boa nisso. - Com o queixo tremendo e o rosto empapado em lágrimas, pegou a outra garrafa de vodka (que eu também não tinha visto Hugo pegar) e deu um gole.
- O que me leva aos meus problemas atuais com meu maldito coração: eu gosto do Chris ainda. Não sei se é do mesmo jeito, quer dizer, sei que não é... porque eu simplesmente gosto de outro cara. Desculpa Ana, sem chances de voltar com o Chris.
- POR QUE VOCÊ NUNCA FALOU DO OUTRO CARA? - Matt se revoltou, e a Natália riu.
- Eu sempre falo dele. - ela deu um sorrisinho timído.
De certo modo eu já sabia o que ela iria dizer á seguir.
- A verdade é que eu gosto do Hugo, muito - olhou para os próprios dedos, que brincavam com a caixa de cigarros, fingindo que ele não estava na sala.- mas eu simplesmente cansei de brincar de campo minado e sempre pisar no lugar errado. E ainda, sei que ele nunca iria querer ter algo comigo. E não sei se devo tentar, coisa que também já cansei de fazer,e nunca vou saber o porquê de estar falando isso.
Hugo a encarava com a boca aberta como se não soubesse como agir naquele momento, Natalia estava com o rosto abaixado e o Hugo o levantou devagar fazendo ela olhar pra ele. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas.
Hugo disse bem devagar de um jeito que qualquer um naquela sala conseguiu sentir que era verdade: ‘’Eu te amo’’.
Dei um sorriso ao ver aquela cena e me virei pro Matt que também estava sorrindo.
Só que eu acho que tudo que é realmente bom dura pouco, porque logo depois ele disse: ‘’Mas eu não posso ter nada com você, não agora, é muito cedo e eu não quero te magoar como os outros fizeram. Não sou muito bom em relacionamentos. Me desculpa’’.
Natalia balançou a cabeça e limpou a única lágrima que insistiu em cair.
E nós ficamos lá, os 4 na maioria do tempo em silencio, cada um com o seus pensamentos. Até que já era muito tarde e eu já tinha decidido que não iria na aula amanhã.
Natalia acabou dormindo no sofá e o Hugo levou ela pra cama dele, o coitado do Matt dormiu no outro sofá e ninguém foi tirar ele de lá.
Perguntei pro Hugo onde poderia dormir.
- Vai achar muito estranho dormir na cama do Logan? - ele perguntou coçando a cabeça com uma expressão insegura sobre a minha resposta.
- Sim, - disse e depois completei - Mas tudo bem.
Fui até o quarto onde o Hugo me apontou e fiquei encarando cada detalhe, tudo ali lembrava tanto ele.
Não consegui me segurar e peguei uma blusa que estava jogada em cima de uma mesa ali. Tinha o cheiro dele.
Me deitei na cama e abri botão por botão da minha blusa xadrez, tirando ela logo em seguida, dobrei e coloquei do lado da cama, colocando a minha touquinha do lado, depois abri o zíper da minha calça, chutando ela com os meus pés e depois de conseguir tirar, dobrando e colocando do lado da cama também.
Me deitei e me encolhi me cobrindo com uma coberta que tinha ali.
Naquele quarto eu quase conseguia sentir a presença dele.